Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

23 de maio de 2018

O Tesoureiro e a Tesouraria


...Editado pela Comissão Editorial do Blogue.., decidi apresentar-vos uma prancha sobre o cargo com que me honrastes neste último ano. O cargo de Tesoureiro da RLSA.
O Tesouro da Loja é o conjunto dos seus recursos financeiros, considerados independentemente do Tronco da Viúva e das obras de Solidariedade.
O cargo de Tesoureiro é frequentemente encarado como tendo um cunho essencialmente profano e administrativo, longe de considerações filosóficas ou de abordagens esotéricas.
No entanto, uma leitura atenta da nossa... Editado pela Comissão Editorial do Blogue..., permitem-nos compreender que a atividade do Tesoureiro está intimamente ligada à garantia da própria existência das Oficinas e, com elas, da nossa Augusta Ordem.
De facto,... Editado pela Comissão Editorial do Blogue... é uma das obrigações da Loja “Pagar as contribuições ordinárias e extraordinárias estabelecidas por lei” e, Editado pela Comissão Editorial do Blogue, como uma das obrigações dos obreiros “Satisfazer pontualmente todos os encargos materiais a que forem obrigados por lei e aqueles que assumirem voluntariamente”.
Por seu turno,... Editado pela Comissão Editorial do Blogue... estabelece que “os obreiros são responsáveis pelo pagamento de todas as contribuições aprovadas” e que “as capitações mensais [...] são devidas no primeiro dia do mês a que disserem respeito”, e define Editado pela Comissão Editorial do Blogue que são funções do Tesoureiro:
a) o recebimento das quantias devidas a qualquer título e a guarda dos fundos, valores e títulos pertencentes à Oficina;
b) o pagamento das despesas da Oficina;
c) o registo atualizado da contabilidade da Oficina e o pagamento em dia ao Grande Tesouro das contribuições por esta devidas.

Ao Tesoureiro cabe pois garantir que a Loja de que faz parte se mantém viva e atuante, mediante o zelo pela arrecadação dos recursos devidos pelos Irmãos à Loja e pelo pagamento das contribuições a que a Loja está sujeita, de forma que sejam atendidas as obrigações maçónicas e profanas da Loja.
É por esse motivo que muitos definem o Tesoureiro como sendo ‘o guardador dos metais da Loja’, ou seja, aquele que dispõe dos recursos e dos meios necessários para o cumprimento das obrigações financeiras desta.
Assim procedendo, o Tesoureiro cumpre com suas funções para com a Loja, contribuindo para que os trabalhos decorram de modo justo e perfeito.
 Nicola Aslan no seu livro “Comentários ao Ritual do Aprendiz”, citando Oswald Wirth, refere que sendo a “chave mestra das Lojas modernas, o Tesoureiro recebe os metais sem os quais as Oficinas não teriam meios para se reunirem. Desconhecido outrora, o Tesoureiro tende a ser o primeiro em importância de todos os Oficiais. Não poderia ser diferente neste nosso tempo de culto ao bezerro de ouro” (sic). Osvald Wirth ajuda-nos a situar a dimensão do seu papel em Loja, mas francamente não concordo com tamanha importância, nem dela tive experiência enquanto Tesoureiro. Aliás, citando Béresniak, “a hierarquia das funções é um termo que não corresponde de nenhuma maneira ao seu sentido profano”, pois “em Loja não existem funções subalternas e os ofícios são todos indispensáveis”.
A Joia do Cargo
Gueburáh (rigor), segundo a relação estabelecida por Jules Boucher com a “árvore sefirótica”, o Tesoureiro integra a Comissão Administrativa da Oficina, juntamente com o Venerável Mestre e o Orador, é o intermediário da Loja com o Grande Tesouro e o 7º Oficial na cadeia hierárquica das Lojas Azuis, sendo a sua Joia representada por duas Chaves Cruzadas.
A Beleza da Loja e a Tolerância na nossa convivência
A terminar, permitam que me afaste um pouco do tema, para uma breve referência a duas questões que têm estreita ligação com a vida da nossa Loja e que sinto como estando subjacentes às preocupações por nós partilhadas em muitas sessões.
A primeira, relativa à beleza da nossa Loja.
Aprendi convosco que a beleza da Loja está na nossa vontade de aperfeiçoar e mudar o nosso “Eu”, como primeiro passo para a construção de um mundo melhor.
Na “Enciclopédia da Franco-maçonaria” de Albert G. Mackey, pode ler-se que os maçons devem “observar as abelhas e aprender como são laboriosas e que notável trabalho elas produzem, prevalecendo os valores da sabedoria, apesar de serem frágeis e pequenas”.
E a nossa Oficina é uma colmeia, em que não nos completamos por sermos metades, mas por sermos pessoas inteiras, dispostas a partilhar objetivos comuns! Sendo poucos ou muitos, ricos ou pobres, cultos ou sábios (o que não é a mesma coisa!), o importante é que sejamos honrados e estejamos sempre unidos, apesar das diferenças, dos obstáculos e dos momentos de dificuldade.
E (voltando ao tema para “puxar a brasa à minha sardinha), embora o essencial para o verdadeiro maçom seja o seu crescimento espiritual, a sua regeneração, a sua vitória sobre a vaidade e os vícios, a aceitação da humildade e o bem que possa fazer aos seus semelhantes, seremos sempre Obreiros deficientes se, enquanto Aprendizes, Companheiros ou Mestres, não entendermos que a Loja necessita que as mensalidades estejam rigorosamente em dia, para que possamos fazer frente às despesas que são inevitáveis. Não cumprir esta obrigação é não nos respeitarmos a nós próprios, não respeitarmos os outros e não respeitarmos o Grande Oriente.
A segunda e última questão, respeita à Tolerância.
Porque vale a pena destacar a importância da tolerância como virtude e como ideal da vida em comum.  Porque, por sermos humanos, e sendo a natureza humana contraditória e imperfeita, por vezes podemos ser tomados de comportamentos egoístas ou sermos atraídos pela chama da fogueira das vaidades.


Historicamente vários foram os significados dados à palavra tolerância, que teve seu sentido identificado com a caridade, a igualdade e afirmação da liberdade de crenças e de costumes do outro. O conceito que se afirma como o mais preponderante é o da predisposição para acolher o diferente.
Em 1899, Cândido de Figueiredo registava-o com um sentido tradicional de "indulgência" e de "consentir tacitamente", acrescentando inclusive como inovação a palavra "tolerantismo", para significar a tolerância por parte do Estado a todas as manifestações políticas e religiosas.
Mas já 200 anos antes John Locke refletia sobre a sua importância e, pouco depois, em 1763, Voltaire definia no seu Tratado a tolerância desta forma: "É o apanágio da humanidade. Nós somos feitos de fraquezas e erros; a primeira lei da natureza é perdoarmo-nos reciprocamente as nossas loucuras".
A construção de uma sociedade fundada em valores que fortaleçam a tolerância mútua é um objetivo que uniu milhões de pessoas ao longo dos séculos, fazendo dessa uma questão social, económica, política e de classe. E o facto de, hoje, os nossos códigos de direito definirem e condenarem vários tipos de intolerância, racial, política, religiosa, constitui o resultado da sua luta.
Importa por isso compreender e praticar a virtude da tolerância como um imperativo essencial e o único caminho possível para suplantar os obstáculos e alcançar a plena solidariedade e o espírito fraterno que nos caracteriza como maçons.
Concluo, com um “bem hajam” pela tolerância que tiveram com as falhas deste vosso Tesoureiro e com um triplo abraço de gratidão... Editado pela Comissão Editorial do Blogue...

Cândido, M:.M:.
21.05.2018 (e:.v:.)


        Bibliografia:
- Constituição e Regulamento Geral do GOL
- D. Béresniak – “Os Ofícios e os Oficiais da Loja”
- Oswald Wirth – “O livro do Aprendiz”
- Cândido de Figueiredo – “Dicionário da Língua Portuguesa”

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