Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

4 de junho de 2022

VINHO E MAÇONARIA: UMA ANALOGIA ALÉM DO SIMBOLISMO


Com a devida vénia, e respectiva autorização, se transcreve esta notável reflexão:

VINHO E MAÇONARIA: UMA ANALOGIA ALÉM DO SIMBOLISMO

Carlyle Rosemond Freire

M.I. CIM 307.07 – A.R.L.S. Terceiro Milênio nº7 - GOAL

Membro da Academia Maçônica de Ciências, Letras e Artes – AMCLA/COMAB

Resumo

O artigo pretende abrir caminho para novas discussões, pois sugere ensinar maçonaria através de analogias para com elementos que estão a nossa volta, e não apenas com os instrumentos maçônicos. A idéia é poder facilitar o diálogo entre pessoas com outros conhecimentos, como em questão, o vinho. Apesar do vinho dever estar presente em alguns rituais maçônicos e nos ágapes, e de muitos irmãos não tem o devido conhecimento simbólico do seu uso, a proposta é ampliar a discussão, criando analogias entre as uvas, o vinho e a maçonaria.

Palavras-chaves: Vinho. Uva. Maçonaria. Simbolismo.

Abstract

The article intends to make way for new discussions, it suggests teach masonry through analogies to with elements that are around us, not just with the Masonic instruments. The idea is to facilitate dialogue between people with other knowledge, as concerned wine. Despite the wine must be present in some Masonic rituals and banquets, and many brothers does not have the proper symbolic knowledge of its use, the proposal is to expand the discussion, creating analogies between the grapes, wine and masonry.

Keywords: Wine. Grape. Masonry. Symbolism.

1 – INTRODUÇÃO

É curioso falar sobre vinho para Maçons, principalmente porque a conhecida “pólvora negra” é essencial nos banquetes ritualísticos e ágapes maçons, e caberia aos irmãos saberem isso, mas, muitos desconhecem ou preferem não pesquisar.

Como tudo na Maçonaria, o vinho tem um valor simbólico e pode significar tanto a alegria que deve reinar entre os irmãos, durante a sagração de um Templo, como o espírito humano, em um ágape, além disso os brindes maçônicos são sempre feitos com vinho tinto e de pé. Se para os irmãos o vinho é conhecido como “pólvora”, os copos ou taças são seus canhões pronto para atirar.


Na realidade, o objetivo não é explicar aos irmãos o que eles já deveriam ter conhecimento, mas viajar um pouco na história e processos de obtenção dessa maravilhosa bebida, para, se permitem o termo, “viajar pela maionese” através de algumas analogias com a Maçonaria e, aprender um pouco sobre vinhos, ou seja, um processo conhecido na contemporaneidade como interdisciplinar.

O vinho é tão antigo quanto às primeiras Ordens Secretas da humanidade e remonta de 6 mil anos a.C., nos territórios que viria a ser a Bulgária, Grécia e Turquia. Pode-se até dizer que nasceram e cresceram juntos, pois tanto para a sociedade quanto para as várias religiões e cultos, o vinho tem um papel de grande importância, pois evoluiu com a humanidade ao longo do tempo, igual as antigas sociedades secretas, e como a Maçonaria, trouxe em sua essência inúmeros segredos em seu processo de fabricação.

Os cristãos acreditam que foi Noé quem produziu o primeiro vinho do mundo, atravéz do plantio de um vinhedo (“E começou Noé a cultivar a terra e plantou uma vinha.” Gên. 9:20), já os gregos consideravam uma dádiva dos deuses. Culturas como os hititas, babilônicos, sumérios entre outras, adaptaram a história de origem de acordo com a tradição e crença de seu povo. O vinho, como bebida alcóolica, era proibido pelo Islã, mas químicos muçulmanos passaram a utilizá-lo de forma medicinal antes do século X.

A fabricação do vinho melhorou, de forma considerável, durante o período do Império Romano, pois já eram conhecidas muitas variedades de uvas e de técnicas de cultivo, além de serem criados os barris para a armazenagem e transporte do vinho.

Depois veio a Igreja Católica, a partir do século VI como proprietária de grandes vinhedos para justificar o simbolismo na liturgia católica: o vinho era o sangue de Cristo. No século XVIII, com a Revolução Industrial, o vinho veio perdeu muito em qualidade, devido a ser fabricado com a intenção de possibilitar sua produção em massa e venda barata, mesmo com toda evolução tecnológica percorrida até a atualidade. Com a Maçonaria não é diferente, evoluiu tanto que perdeu em qualidade, pois em um mundo de tantos atrativos tecnológicos e profanos, poucos são os escolhidos e, menos ainda podem ser considerados como verdadeiros Maçons.

O ato cultivar uvas e de apreciar vinho é muito antigo e prazeroso para que o conhece e se assemelha as boas ações que o Maçom deve praticar ao logo de sua vida, pois as mesmas devem proporcionar prazer, não para causa própria, mas pela honra de ser um escolhido.

Não conheço bebida mais misteriosa que o vinho. Não conheço homem mais enigmático que o maçom. Não há bebida mais nobre que o vinho. Não há homem de retidão mais implacável que o maçom. Por isso a sua união é harmoniosamente perfeita. A sabedoria conhece o que é Sagrado, e sabe que não deve ser profanado. Há segredos que a Natureza e algumas mentes humanas luminosas, no seu imenso poder, jamais revelarão. (VENDRELL, 2015)

2 – VITIS VINIFERA X MAÇONS X CARGOS

Podemos comparar as pessoas como se fossem uvas, cada cacho uma família, cada videira uma cidade, cada parreira um pais, assim sendo, e mantendo as analogias, os Maçons seriam as Vitis vinifera, as únicas castas de uvas capazes de produzirem bons vinhos. Mas para que isso possa acontecer é necessário passar por um longo processo.

O processo é composto de três fases, curiosamente o número de graus simbólicos na Maçonaria. Tudo começa com o Período de Repouso, fase onde ocorre a hibernação e pode ser realizado a poda e o plantio das mudas, é quando o profano é iniciado na Ordem e precisa ser podado para que venha a florecer. O segundo, é o Período de Crescimento; para a videira é o período da poda verde e onde ocorre o brotamento das folhas, a floração e a produção. Para o Maçom é a passagem de Aprendiz a Companheiro, onde o aprendizado deve ser aprimorado e as dúvidas sanadas para que algo de bom venha surgir no futuro. O Terceiro, e último, Período é o amadurecimento dos frutos e a colheita, é quando a uva está pronta para ser transformada em vinho e quando o Maçom alcança sua plenitude como Mestre, pronto para buscar crescimento filosófico nos altos graus.

O mais interessante é que existem mais de vinte tipos de Vitis vinifera, cada uma com uma característica própria e que pode produzir bons vinhos e, de acordo com Gilmar Kuhn et al. (1996), só no Brasil são utilizadas em torno de dez dessas variedades. Assim, indo um pouco mais longe nas comparações e tomando como referência o Rito Escocês Antigo e Aceito, pode-se chegar aos cargos de uma Loja Maçônica e suas principais características, onde dez das melhores Vitis vinifera, em relação ao rito referenciado, foram escolhidas para compor essa maravilhosa adega, que é a Loja. É importante lembrar que as características de cada oficial é muito particular a cada região ou potência, assim como para aquele que assume a posição e, apesar de Cardeal (2011) descrever algumas caracteríscas básicas dos cargos, a prática também contribui para uma leitura interpretativa desses cargos. No que diz respeito as Vitis vinifera, enófilos e enólogos como Rudge & Gomide e Ripardo (2013) chegaram a enumerar diversas caracteríscas dos muitos tipos de uvas em suas publicações on-line, as quais serviram como base para tecer as analogias do trabalho.

2.1 – Pinot Noir: o Venerável Mestre

A francesa pinot noir é de difícil cultivo e não se adapta a qualquer lugar, sendo, na Borgonha, magestosa, insuperável e soberba, pois floresce e amadurece de forma equilibrada, é a uva rei. A pinot noir se compara ao Venerável Mestre, pois não se encontra em qualquer lugar e, apesar de estar sentado no Trono de Salomão, em posição magestosa, insuperável e de soberba, precisa lutar diariamente contra esses vícios para manter o seu equilíbrio.

2.2 – Cabernet Sauvignon: o Primeiro Vigilante

A francesa cabernet sauvignon é considerada a rainha das uvas e se adapta bem aos mais diferentes solos e climas. Seus vinhos podem ser estruturados, complexos, elegantes e excelentes para maturação em barris de carvalho. O Primeiro Vigilante, como a rainha, é o segundo em comando na Loja, e sucessor do Venerável Mestre, por isso precisa ter boa estrutura e elegância, sempre, enquanto amadurece o seu conhecimento na Ordem.

2.3 – Tempranillo: o Segundo Vigilante

A espanhola tempranillo é uma uva fácil de cultivar e versátil, pode-se dizer que os aromas da tempranillo se encontram no meio do caminho entre os aromas da cabernet sauvignon e da pinot noir e é comum que envelheça em carvalho. A posição do Segundo Vigilante, em Loja, encontra-se entre o Venerável Mestre e o Primeiro Vigilante, além disso, ele precisa ser versátil ao conduzir Companheiros e Mestres em sua Coluna.

2.4 – Grenache: o Orador

A espanhola grenache é uma uva muito versátil, mas precisa ser podada várias vezes para que produza um bom vinho, sendo este considerado bastante sociável. Estas são as principais características do Orador, sociabilidade, versatilidade e polidez com as palavras.


2.5 – Riesling: o Secretário

A alemã riesling é uma uva branca eclética, podendo produzir desde formidáveis vinhos secos até os extremamente doces sem perder a qualidade, e mesmo quando atacada pelo fungo “Botrytis cinerea” ou colhida congelada, pode originar otimos vinhos de sobremesa. O papel do Secretário é buscar o conhecimento, do mais simples ao mais complexo, para que, mesmo sendo considerando falho, possa desempenhar suas funções com maestria.

2.6 – Syrah ou Shiraz: o Chanceler

A francesa syrah é, talvez, uma das uvas mais antigas que se conheça. Com uma origem controvérsa e cercada de lendas, acredita-se que tenha vindo de um desses lugares: Grécia, Egito, Chipre ou da antiga Pérsia. Assim como é antiga a função do guarda do selo, o Chanceler, cuja origem se perde no tempo e, tal como a França acolheu a uva Syrah, também batizou o cargo de “Chancelier”.

2.7 – Touriga: o Tesoureiro

A uva portuguesa touriga, apesar de muito fértil e de se adaptar a diversos terrenos, tem baixa produtividade e seu cultivo exige cuidados especiais, mas obtém uvas de altíssima qualidade. Por menor que seja o valor, é de grande importância, esse é o lema do Tesoureiro, já que não é fácil, pois precisa, muitas vezes, administrar baixos valores para que grandes obras sejam realizadas.

2.8 – Malbec: o Mestre de Cerimônias

A uva malbec, francesa, produz um vinho forte e bem encorpado, mas nunca agressivo, em geral, é amável e sedoso. Ela se adapta melhor na Argentina. É a melhor representação de um Mestre de Cerimônias, forte para circular pela Loja e sempre amável com os irmãos, do Oriente e Ocidente.

2.9 – Merlot: o Experto

A uva francesa Mertot sofre de crise de identidade por ser uma uva controversa sobre o cultivo, tempo de maturação e de colheita. Seus vinhos são complexos e elegantes com bom potencial de guarda. É certo que o Experto não sofre dessa crise, mas também é correto afirmar que o irmão sacrificador também é um irmão cuidador nas iniciações, com sua postura e enclausuramento nas vestes.


2.10 – Chardonnay: o Cobridor

A francesa Chardonnay é considerada a rainha das uvas brancas e produz diferentes tipos de vinhos, dos leves até os encorpados e complexos, e nos Champagnes concede fineza e elegância. Nenhuma outra uva absorve tantas características como ela, e talvez explique porque é amada por muitos e desprezada por tantos. A função do Cobridor do Templo não é agradável aos olhos de quem está do lado de fora, mas é admirável ao que ele protege. Ele consegue manter a Guarda do Templo de forma elente e fina, absorvendo apenas o que lhe fortalece.

Apesar do que foi apresentado até o momento e sabendo que as Vitis viniferas são as melhores uvas para a fabricação de vinhos, não significa que dará um bom vinho, da mesma forma é um Maçom, pois mesmo que seja aceito não que dizer que ele será cheio de virtudes. Tudo vai depender, para ambos, do cuidado inicial e de como é conduzido até o fim.

3 – LAPIDANDO UM MAÇOM

A melhor analogia com a preparação dos vinhos é com a ritualística, independente dos graus ou ritos a que venha pertencer ou praticar, pois, assim como acontece um ritual que deve ser seguido na elaboração dos vinhos, para que o mesmo possa ter a chance de completar o processo com êxito e com excelência no sabor, assim é a ritualística maçônica, que busca lapidar o maçom para a sociedade, partindo da escolha do candidato, passando pela iniciação até sua partida ao Oriente Eterno.

3.1 – Seleção: A Escolha do Futuro Maçom

A escolha de um profano candidato a ingressar na Ordem é cercada por uma ritualística de grande mistério, onde, essa escolha pode fazer muita diferença no futuro de uma Loja. No passado a maçonaria se tornou uma sociedade de homens de posses e/ou de altos cargos de poder na sociedade, o que, aos poucos, vem mudando e retornando às origens operativas, onde o conhecimento era mais importante e o homem deveria ser apenas livre e de bons costumes. Um vinho Varietal, o que é produzido a partir de uma única cepa, não quer dizer que seja melhor que um Assemblage, que é produzido com combinações de cepas, um exemplo claro é o clássico francês Bordeaux, feito com as uvas Valpolicella e Chianti. Então, a mistura de classes sociais não forma uma maçonaria fraca, pelo contrário, pensamento e desejos diferentes podem fortalecer ainda mais suas bases, assim como o vinho, é preciso apenas escolher bem as uvas.

3.2 – Recepção: O Convite Aceito

Hora de receber o candidato. Nesse momento muitos não compreendem o ritual de preparação do profano à Iniciação, que deve ser algo mais filosófico que amedrontador, como o assim fazem em sua maioria. Se tudo na maçonaria é simbólico e filosófico, não há objetivo em incutir o medo em mentes não preparadas, pois isso pode aumentar a desistência, a função deveria ser de orientar o profano para uma jornada que lhe trará uma nova vida. Não é muito diferente com o vinho, pois, com as uvas já escolhidas, o que precisa é apenas colocá-las na esteira e conduzi-las até o desengaçamento.


3.3 – Desengaçamento e Esmagamento: Iniciação ou Passagem de Grau

Na fabricação do vinho, a etapa do desengaçamento é quando as uvas são separadas dos seus cachos para serem esmagadas logo após. A iniciação, ou qualquer outra passagem de grau de um maçom, pode ser comparada ao desengaçamento, se for levado em consideração que um profano deve ser separado dos demais ou do materialismo que os prende. Todo o processo é realizado para que, tanto a uva como o profano, venha se tornar algo melhor do que já é.

3.4 – Fermentação: O Rito para Receber o Grau

O processo de fermentação nada mais é que uma reação química que transforma o açúcar da uva em álcool. A melhor analogia a ser aplicada para o simbolismo maçônico é quando um profano é iniciado ou um maçom muda de grau, pois a passagem pelas provas é um rito de transformação, onde o indivíduo é imerso em um novo universo de conhecimento aguardando sua fermentação.

3.5 – Estabilização: Praticando o Ritual

Após a fermentação, o vinho vai para tonéis de carvalho ou recipientes de inox, por um período mínimo de três meses, onde busca uma estabilização através de sucessivas trocas de recipientes. Essa estabilização, para o maçom em nível simbólico e filosófico, só pode ocorrer com a prática do ritual e seus ensinamentos, pois é preciso uma constância de ações para se chegar a um equilíbrio desejável.

3.6 – Amadurecimento, Clarificação e Filtração: As Instruções

Qualquer vinho precisa amadurecer para que seu sabor se torne agradável, para isso, precisa passar por um período de amadurecimento, de meses a anos, em tonéis de carvalho, para adquirir as propriedades necessárias para ser degustado. A clarificação é uma forma de aglutinar as impurezas para a decantação e a filtração é a etapa final desse processo, onde o vinho, sem impurezas, está pronto para ser engarrafado. As instruções fazem parte dos estudos simbólicos e filosóficos do maçom, é quando o maçom começa a amadurecer na Ordem, ao contrário que muitos pensam ao acreditarem que apenas o bater de malhete em Loja faz de um homem um verdadeiro maçom. Além disso, é preciso juntar tudo de impuro que ainda venha existir no maçom para retirá-lo totalmente, deixando-o pronto para assumir algum cargo em Loja.

3.7 – Engarrafamento: Assumindo Cargos em Loja

No momento do engarrafamento do vinho ele recebe o rótulo, sua principal identificação, onde, a partir desse momento, todos passarão a conhecer as qualidades do seu conteúdo. A maçonaria compartilha esse mesmo conceito, não muito distante, já que o maçom precisa receber um rótulo, estar pronto, para poder assumir algum cargo dentro da Loja, caso contrário, os trabalhos acontecerão de forma precária e irregular, independente do cargo assumido.

3.8 – Envelhecimento na Garrafa: A Vida Maçônica

Para o vinho, a duração do envelhecimento pode variar de um mês a vários anos, a depender do tipo de vinho que se deseja envelhecer. Analogicamente, para o maçom, seria a vida maçônica, onde ele aguardaria trabalhando até ser posto à prova, ou até mesmo ganhando a experiência necessária para apresentar no momento certo.

4 – UMA ADEGA DE OBREIROS

Uma adega é o lugar criado especialmente para a guarda e a maturação do vinho, podendo ser, esta, climatizada com temperatura e umidade controladas por sistemas eletrônicos ou de forma tradicional, sob a terra, em local cuidadosamente escolhido. Assim como as adegas nossas Lojas, Simbólicas e Filosóficas, também tem sua relação, desde as antigas até as mais modernas, onde, independente do modelo e tamanho e ostentação, é o lugar onde o verdadeiro maçom deve amadurecer o seu conhecimento e sua experiencia ao longo do tempo, contribuindo para o crescimento da sociedade.

Assim como o vinho, que pode perecer se deixado exposto ao calor, luz, vibrações ou flutuações de temperatura e umidade, são os irmãos maçons sem uma Loja para trabalhar. Os maçons, quando em Loja, podem aprimorar seus conhecimentos, vencer suas paixões e crescer espiritualmente, pois se encontra em um ambiente propício para esse fim, da mesma forma, quando devidamente armazenado, o vinho mantém suas qualidades, melhorando e crescendo em aroma, sabor e complexidade.

Dessa forma, pode-se dizer que o vinho está para a adega tanto quanto o Maçom deve estar para a sua Loja Simbólica. Além disso, após o período de maturação, o vinho entra em outra etapa, a de consumo, e para isso torna-se necessário ser conhecedor de outras artes, o serviço, a degustação e o brinde, do mesmo modo que um maçom precisa galgar três degraus para alcançar sua plenitude, como Aprendiz, Companheiro e por fim, como Mestre.


4.1 – O Serviço

Abrir um vinho não é apenas o ato de remover a rolha. Alguns rótulos de vinhos alertam para que ele seja aberto algumas horas antes para que ele possa “respirar” enquanto outros exigem ser bebidos imediatamente. A mesma coisa pode se dizer de um neófito, pois ser Aprendiz não é apenas ser iniciado na maçonaria, é preciso aprender a ser um verdadeiro maçom. A realidade é que enquanto uns precisam de mais tempo para se adaptarem, outros evoluem mais rápido.

Caso o vinho tenha borras ou sedimentos é necessário que se faça a decantação, ou seja, despejá-lo delicadamente em novo recipiente, a fim de permitir a remoção dessas borras. Para a maçonaria é um caso delicado, principalmente quando se fala de maçons, mas, como o homem é falho em sua essência é algo que pode ser previsto, assim, é importante que o Aprendiz aceite que suas nódoas profanas sejam removidas.

4.2 – A Degustação

A degustação é o ato de examinar e avaliar o vinho, identificando as características de uma uva específica como também os sabores que resultaram da fabricação e maturação do vinho, seja intencional ou não. Essa segunda etapa pode ser comparada ao 2º Grau simbólico, pois norna-se necessário provar se um Companheiro já está pronto para tal responsabilidade ou para galgar a plenitude. Pelo desejo de ser Mestre, muitos se acham prontos, mas é preciso saber esperar o momento certo, como o vinho quando passa de um lado para o outro da boca.

4.3 – O Brinde

É o costume de bater levemente os copos uns nos outros antes de beber. Diz a lenda que essa prática começou para “misturar” o conteúdo dos copos antes de bebê-lo, para diminuir os efeitos se algum deles estivesse com veneno. O brinde pode se comparar ao Mestre Maçom, que precisa estar sempre junto de outros irmãos para compartilhar seus conhecimentos através de uma mistura saudável.

Assim, com o conhecimento básico dessa etapa, é importante compreender que o consumo é algo comedido e nunca exagerado, não apenas para evitar a embriagues, mas sua consequência, a ressaca. É o que acontece com alguns “maçons” em diversos círculos, que deixam de ser comedidos e exageram, tornando-se um “porre” à vista dos demais. O ato de beber socialmente e saber degustar um bom vinho, se assemelha a um maçom que não esnoba o seu grau ou cargo aos demais, mas que compartilha o seu conhecimento com todos, assim como se compartilha uma boa garrafa de vinho.

5 – CONCLUSÃO

Apesar de tantas palavras para falar de uvas, vinho e maçonaria, a grande lição que se pode tirar disso tudo é que, a partir que qualquer ponto pode se criar uma reta, um círculo ou qualquer outra forma, assim como através de qualquer idéia, por mais absurda que possa parecer, pode-se alcançar um material como bom nível de estudo filosófico para a maçonaria.

A idéia pode até ser original e dar início a novas pesquisas, através de novas analogias, o que pode melhorar as instruções para os maçons neste novo século, mas não significa que devem ser esquecidos os antigos métodos. Torna-se necessário que os irmãos maçons possam exercitar o conhecimento aprendido nas instruções, criando possibilidades e novos pontos de vistas, desde que de acordo com os ensinamentos da Ordem.


Assim como o vinho, a maçonaria não existe para que seus mistérios sejam desvendados e apresentados a todos, ela existe para ser apreciada e degustada por poucos conhecedores.

6 – BIBLIOGRAFIA

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2 comentários:

  1. Bela publicação desse belíssimo exercício cultural do irmão Carlyle , escritor, cronista, Grão Mestre Adjunto do Grande Oriente de Alagoas-Brasil, editor do jornal "Cavaleiros da Virtude" do GOAL...

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