Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

22 de março de 2017

O Que Eu Aprendi



Esta prancha que vos vou ler, e que deixo à Vossa consideração, resulta deste ainda curto mas intenso tempo de vivência dos trabalhos maçónicos , e da aprendizagem que nela fiz, como aprendiz primeiro e como companheiro depois, no sentido de deixar a ganga profana e buscar a Luz, aprendendo a polir a pedra bruta e a conhecer-me, a conhecer os outros e o mundo.
Confesso que não me foi fácil começar a escrita.
A dúvida quanto ao tema a abordar e a qualidade dos trabalhos de arquitetura que aqui vi serem apresentados e que muito me estimularam, fizeram-me hesitar e adiar a sua elaboração e foram motivo para a delonga na sua conclusão.

Neste tempo, aprendi convosco a conhecer-me melhor, passando, na perspectiva maçónica, da infância à juventude, despojado de metais também causa de vícios e erros, numa viagem de Ocidente a Oriente e de Norte a Sul, saindo da escuridão da ignorância para a verdadeira Luz da razão, do progresso e do conhecimento.
Com a morte simbólica perante o mundo profano, pude iniciar o caminho para uma vida moral e espiritual mais elevada.
Com os ensinamentos recebidos de Vós, dentro e fora do Templo, aprendi a melhor dominar a imperfeição dos meus conhecimentos e costumes, compreendendo o significado profundo dos símbolos do Ternário e a necessidade de trabalhar mais e mais para que o espírito se sobrepusesse à matéria e o triângulo da minha abeta pudesse sobrepor-se ao seu quadrado.
Quando me considerastes apto para o aumento de salário, com a passagem da perpendicular ao nível, fui por Vós convocado para fazer cinco viagens.

PEDRA BRUTA




Irmão: palavra tão simples quanto complexa na sua essência e alcance. Palavra e essência que está para lá da mera semântica. Naquilo que temos, ou não, escolhendo-o no nosso livre arbítrio de pessoa. Aquele com quem, nos piores e nos melhores momentos, partilhamos o sucesso e o insucesso.
Irmão: expressão infinitamente distinta no livre arbítrio de cada ser humano enquanto conceito sobre o qual fundamos o objectivo da liberdade.
Irmão: o que não tendo me permite escolher na construção da família, trabalhando a pedra bruta que somos todos nós.
Irmão: aquele de quem se espera o reconhecimento do direito à diferença, partilhando-a com todos.
Irmãos: aqueles a quem me dirijo após dois anos de reflexão sobre os princípios fundacionais do ser da razão do ser humano.
Para esta cerimónia, pensei muito seriamente sobre a nossa simbologia instrumental, traduzida em ferramentas simples e incontornáveis do pedreiro livre, na construção da sua obra e na essência do conhecimento que determina a técnica da sua utilização mais primária, assente nas colunas dos  valores.

Valores que nos interpelam sobre a história da obra mas, que se não pode esgotar no trabalho realizado, pois, a plasticidade dos materiais e a perda das suas simples referências ancestrais, determina novas abordagens da respectiva utilização na construção do templo colectivo, sem o que este se vai esgotando na história, não lhe dando continuidade.
Escolhi a pedra bruta porque, de facto, ela é a expressão e objectivo máximo da obra.
Com ela se constrói e dá forma ao templo. Com ela se mobilizam todas as ferramentas e arte do saber na construção da obra.
Ela é, com o saber, o testamento e testemunho geracional e intemporal da obra. Mas, também é ela que nos interpela sobre a mesma obra, na construção do templo individual e colectivo.

9 de março de 2017

Inteligência Artificial




Propus-me tratar aqui uma pequena reflexão sobre qual o papel e eficácia da N:.A:.O:. num Mundo muito diferente daquele em que os nossos antepassados criaram esta  congregação de esforços com o objectivo de lutar pelo bem comum.
Muitos dos saltos civilizacionais dos últimos 300 Anos tiveram na sua origem IIr:. Maçons. O contexto em que se moviam era o de um Mundo Novo, em que o equilíbrio de poderes fora totalmente alterado graças à evolução da Tecnologia e ao estabelecimento do livre pensamento, após muitos Séculos de imposição de todo o tipo de dogmas castrantes.
Não valerá a pena detalhar demasiado, mas se tomarmos como exemplo a Bíblia, um livro que bem conhecemos e cujas histórias que revela, em muitos casos, nos enquadram ritos e alegorias, era proibida a sua leitura até ao início do Século XVII, em Portugal, se não se tratasse da Vulgata Católica, tradução da Bíblia Grega para Latim, feita por S. Gerónimo no século IV.  Inclusive, a partir do Século XV, quem cometesse essa heresia, estaria entregue aos poderes do Santo Ofício.
Este exemplo, e muitos outros que poderiam ser aqui descritos, são o contexto em que tudo terá começado por acção de homens livres e pensadores influentes. A História da Humanidade mudou radicalmente com este grito de revolta construtiva, que assentou a sua acção em princípios e valores que ainda hoje nos são caros e sustentam o nosso comportamento. Mas retomemos o exemplo da Bíblia e a obrigatoriedade de a consultar apenas na tradução censurada de S.Gerónimo. Esta imposição, tinha como objectivo não deixar ao livre arbítrio, interpretações perturbadoras dos textos Bíblicos, que afectassem toda uma lógica de poder alicerçada em verdades que não o eram. A riqueza interpretativa, possível, de textos tão belos, feita numa perspectiva de rigor e livre apreciação, pode levar-nos a conclusões, ou estabelecer dúvidas, que muito poderiam lesar a consistência da verdade estabelecida.Ou seja, opiniões que não se coadunassem com a Ordem estabelecida, pura e simplesmente, eram banidas.E tudo isto era dirigido por Homens que acreditavam ter o direito de decidir o que é bom, e o que é mau, para a maioria dos outros Homens.

Percebemos o contexto, e entendemos toda a mecânica desta decisão, porque somos humanos, e julgamos conseguir perceber o que está por trás destes comportamentos tão lesivos para a liberdade e felicidade de muitos.
Felizmente que hoje tudo é diferente, dizemos o que pensamos, embora por vezes não pensemos suficientemente o que dizemos, e até escrevemos e publicamos de forma compulsiva todos os passos que damos, no trabalho, em família, com os amigos. Hoje temos a felicidade de ficar tudo registado, já ninguém nos limita e podemos partilhar com os nossos amigos, milhões de amigos, tudo aquilo que fazemos, como vivemos, onde estamos em cada momento, no fundo, como agimos e pensamos, no contexto do dia a dia das nossas vidas. E como já não há Santo Ofício já não temos que temer dizer tudo aquilo que nos vai na alma. Fazemos comentários sarcásticos, falamos do melhor que há em nós, do pior que há em nós, falamos de banalidades, falamos de coisas importantes e outras nada importantes.
Fantástico, nunca a Humanidade teve tantas condições de Liberdade e de esperança de felicidade como hoje e, sendo assim, talvez a nossa intervenção em prol das Liberdades de acção e pensamento não faça tanto sentido como nos fins do Sec. XVII e inícios do Sec. XVIII. Só que há um pequeno problema que nos poderá estar a escapar nesta voragem da comunicação Global e da interligação permanente. E não é a nossa sonhada comunidade de homens livres em todos os Continentes, como foi pensada por aqueles com quem partilhamos a nossa Cad:. de Un:. que nos une com o passado e nos leva para o futuro.

É que, infelizmente, pode acontecer que o futuro, e o contexto em que nos moveremos, seja muito diferente daquele que congregava os perigos do dogma e a sua obrigatória aceitação. A luta que se avizinha vai ser mais difícil, porque aqueles com os quais nos confrontamos poderão vir a ser mais capazes e inteligentes do que nós.
Vencer pela convicção, pela imposição da verdade e pela inteligência é muito mais fácil quando combatemos a ignorância, a arrogância e a estupidez. Será que os próximos alvos das nossas preocupações serão tão estúpidos assim?! Infelizmente não, poderão ser mais inteligentes e não sofrerem enfermidades humanas.