Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

23 de dezembro de 2017

Procura Iniciática, Transmissão e Ritual - reflexões


I – Introdução

O caminho que nos é proposto no dia da nossa Iniciação tem por fim  fazer-nos passar  dum estado considerado "inferior" a um estado "superior “ de consciência, lançando a ponte para o contínuo aperfeiçoamento interior, a caminho do Conhecimento e da Luz,  que deve guiar todos os Maçons. Isto é verdade para todos os Ritos, por forma a  admitir e elevar os seus adeptos a um grau de conhecimento de certos  mistérios, pela entrega das chaves que dão acesso aos  dados fundamentais,  traçando o caminho a seguir para alcançar as  etapas   progressivas  desse mesmo  conhecimento.
Este  percurso exige um caminho  que desce  até o fundo de nós mesmos,   via do Conhecimento,  indo de " nós mesmos para nós mesmos”.  Daí a importância dos Ritos  de Iniciação e dos Mitos, que representam  os perigos,  as armadilhas  a evitar para alcançar a visão salvadora do Ser, mas não a do Ter.   Daí os perigos dum caminho iniciático, de cariz marcadamente pessoal , caracterizado pelo acesso individual e único, aliado à  compreensão dos símbolos,  fora  de todo o método ou "escolas" tradicionais…
Segundo D. Béresniak (7) : “Enfrentar o medo é uma constante de todos os Ritos Iniciáticos de todos os tempos sendo a sua abolição a primeira etapa para o Despertar. Moral, conhecimento e amor são indissociáveis deste processo”…. “A reflexão sobre os símbolos é o trabalho mais importante que se efectua na Maçonaria não esquecendo que a leitura e a escrita são formas superficiais de uma conversação”.
No desenvolvimento da procura iniciática, o Ritual desempenha um papel primordial,  mas apesar da sua inquestionável importância, não será o único vector a ter em conta, já que apesar de representar o guia e o fio condutor do trabalho maçónico em Loja, o objectivo da procura iniciática não se restringe estritamente a ele.
O trabalho que procurámos estruturar é um tributo a dois reconhecidos autores e estudiosos maçónicos, I. Mainguy e Victor Guerra (felizmente ainda vivos) para além do (para nós) sempre presente D. Béresniak, (conforme indicado na bibliografia). Representa uma ligação entre perspetivas independentes, mas que se complementam, construindo o fio condutor do caminho que perspectivamos. Deste modo os erros ou inconsistências que possam existir, serão por certo da nossa inteira responsabilidade.

Atenda-se (e entenda-se) que o Simbolismo maçónico é o elemento  fundamental do pensamento  iniciático,   de que não se pode fazer  uma intelectualização redutora.  Deve ser acima de tudo um processo de conhecimento e o instrumento da transformação interior do homem.   Enquanto que a linguagem da razão é necessáriamente limitada, "o Simbolismo,  enquanto suporte da  intuição transcendente, abre possibilidades verdadeiramente ilimitadas" (René Guénon, «Perspectivas sobre a Iniciação») (2).
Face ao papel primordial do simbolismo maçónico, recordamos (de novo)  D. Béresniak (5), ao afirmar : “A Iniciação ao pensamento simbólico não é mais que um utensílio intelectual que ajuda a indagar por que razão tais representações gráficas podem estar associadas a determinadas reflexões. 
Os símbolos que o Maçom usa fazem parte de um fundo comum à humanidade mas a maneira particular de os combinar, essa, é específica da Maçonaria” (“L’Apprentissage Maçonnique - Une École de L’éveil»).

II – A Procura iniciática
A procura iniciática está directamente subjacente a várias questões que se interligam ao nosso compromisso para com a Maçonaria e que nos levam a questionar:
-Porque entramos?       - O que procuramos?       - Por que permanecemos?
Estas perguntas aparentemente simples, são contudo essenciais e devem estar constantemente no centro de nosso pensamento, se pretendermos abrir progressivamente a nossa consciência e compreensão.

Da Instrução do Ritual de Aprendiz (3) recordamos:
P.: - Desde quando és M∴?      R.:  – desde que recebi a Luz.
P.: - Que significa essa resposta?      R.:  – Que não nos tornamos realmente maçons senão desde o dia em que o espírito começa a compreender os mistérios maçónicos.
Uma análise e reflexão regular sobre o conteúdo dos rituais e das respectivas instruções é um dos meios de abrir a nossa consciência ao Essencial. Sendo uma prática prolongada, é muitas vezes difícil e desafiadora, já que de grande exigência,  onde segundo I. Mainguy (1):  "o esquadro deve regular as nossas acções e o compasso traçar os justos limites que devemos observar na nossa conduta para com nossos semelhantes".
Ainda segundo I. Mainguy (1):  “Desde a primeira parte da instrução, o aprendiz admitido pode perceber  que entra numa fase irreversível da sua vida, que o levará a repensar e considerar a existência de um ponto, não de vista, mas de ser diferente. Este início de pesquisa pode ser já chamado de procura. Aos poucos, vai percepcionando  que está situado num novo espaço activo estruturado, no qual será capaz de reconstruir a existência, com as ferramentas e elementos de instrução que são dados”.
A procura iniciática é antes e acima de tudo "uma pesquisa do essencial", pois qualquer outra viagem de pesquisa não podendo ser qualificada de iniciática, não será mais do que turismo espiritual. 
Por este motivo, impõe-se-nos o caminho da iniciação, como um passo necessário, para não dizer essencial. 
Para ter alguma chance de ser eficaz, esta abordagem requer préviamente morrer para o mundo profano, pelo necessário despojamento dos metais.  Trata-se para o iniciado duma regressão temporária aos estados inferiores do ser, uma recapitulação necessária para o esgotamento das possibilidades de realização inferior, o que consiste apesar de tudo, uma armadilha que precisa conhecer para melhor saber como evitar. Tal é "o ponto de partida dos ritos de iniciação, que iniciam a viagem ao centro de si mesmo."
"Nascer, crescer e produzir" são as três funções necessárias para cumprir o melhor possível a nossa passagem na Terra, com o objectivo de nos preparar para a hora da nossa partida para o Oriente eterno. Estas três fases correspondem aos graus de: Aprendizagem, Companheirismo, Mestria.
O objectivo de nossa procura iniciática mostra que a nossa vida está directamente ligada à acção que exercemos sobre nós próprios, à nossa própria transformação, antes de passar à fase de transmissão.  Todo o Mestre Maçom que alcança a meta de “reunir o que está disperso”, tem por objectivo  transmitir a sua aquisição com discernimento.

Transmitir tem origem no latim «transmitere» significando: fazer passar, fazer  divulgar, comunicar. Reflectir sobre a transmissão maçónica é como tentar decifrar o conjunto dos meios e a metodologia através da qual se perpetua o ensino da nossa tradição. É por isso que três pontos devem ser abordados para levar mais adiante a nossa reflexão:
1) A utilidade e a necessidade de transmitir;    2) As ferramentas da transmissão;    3) O dever de transmissão do Maçom
1) -  O Mestre e necessidade de transmitir
A  Maçonaria deve permanecer fiel às suas fontes tradicionais para transmitir correctamente. Contudo ela própria também é adicionalmente influenciada pelas mudanças que ocorrem no mundo exterior.  Ao longo da sua existência foram-se definindo diferentes correntes, que por vezes rivalizam fortemente, reivindicando  todas representar a pureza do ideal maçónico. De um modo geral estas  divisões internas exacerbam-se tanto ou mais, quanto mais perturbações significativas sacodem a sociedade.
O mundo está em crise, as referências e os marcadores alteram-se e movem-se, as referências mais tradicionais vacilam, as mentes duvidam e muitas vezes deixam-se corromper. Teria sido um milagre que a Maçonaria tivesse conseguido  proteger-se das desordens que persistentemente assolam o mundo profano.
A transmissão sendo antes de tudo um acto de comunicação e intercâmbio entre as pessoas, é também um acto de amor.   Cada um de nós começando por receber primeiro, aprende pouco a pouco, tal como uma esponja que absorve o líquido do conhecimento. Depois, enriquecido pelas contribuições dos seus IIr:.  e IIra:., em conjugação com o seu trabalho pessoal, o maçom  ao alcançar a Mestria deve considerar transmitir por sua vez o que recebeu às novas gerações, frutos da sua pesquisa, da sua experiência, da sua vivência. É por isso que fazemos perdurar a cadeia de transmissão, em que cada um de nós é um “elo”, esculpindo e burilando a sua pedra em loja,  no sentido da progressão individual, que não pode ser confundida com qualquer tipo de «carreirismo maçónico». 
Para a transmissão, a raça humana tenta desafiar o tempo e a morte através de sucessivas gerações, é a sua forma de querer viver para sempre sobre a terra. Durante o tempo de vida que nos é reservado, nunca paramos de aprender com os outros, para nos aperfeiçoarmos, e depois transmitirmos.
Assim, logo que tivermos desaparecido, outros irão perpetuar este ciclo infinito,  transportando todos a sua pedra para trabalhar no aperfeiçoamento da humanidade. Pode-se considerar que a Humanidade é em parte responsável pelo seu destino, que sente na obrigação de transmitir,  ao longo da sua existência.
Podemos acumular riqueza,  títulos e prestígio, mas de que nos servirão quando passarmos ao Oriente Eterno? O que irá realmente perdurar é o que tivermos conseguido transmitir: os valores, conhecimento, ética, filosofia de vida, um exemplo de comportamento, frutos esses que a geração seguinte colherá.
Transmitir, é igualmente aperfeiçoar, aperfeiçoar e restituir o que recebemos, enriquecido naquilo em que se tornou. É como deixar a marca numa herança. O homem dotado de razão tem a capacidade de reflectir, analisar, discernir.
Só os fundamentalistas desejam que o mundo permanecesse congelado nos valores, costumes, até mesmo erros ou impasses. O verdadeiro homem, livre e esclarecido, é um agente de mudança para quem a transmissão é uma ferramenta básica, uma vez que qualquer parte do que foi recebido é apreendido.
2) As ferramentas da  transmissão
É básicamente o ritual que nos permite tornar viva essa tradição. É também o mesmo ritual que participa e  finalmente organiza a criação da Loja. Estabelece uma ordem que nos permite transcender o espaço e o tempo. É portador duma linguagem que nos relaciona com o sagrado (independentemente da visão ou entendimento que tivermos acerca dele). É sempre o mesmo, devendo ser transmitido com seriedade e rigor, o que não significa rigidez, é um guia que cada um pode animar. É transportado e vivido pelos membros da Loja,  ocupando cada um uma função diferente. Uma vez que, no nosso caso, os actores levantam-se e substituem-se anualmente, evita-se a esclerose  personalizada.
O elemento fundamental da transmissão é a incorporação na cadeia iniciática, na qual cada um tem o seu papel a desempenhar para assegurar a continuação da obra. Pode-se considerar que é comparável com um despertar gradual da consciência.  Esta transmissão é feita através da palavra, já que se trata antes de tudo de uma transmissão oral.
Sem o ritual, a Maçonaria seria um mero clube, uma associação de pessoas que gostam de conviver e que têm prazer em reunir-se duas vezes por mês. O ritual é o suporte, o veículo de  transmissão e, por extensão um elo e um cimento que une os maçons entre eles.
Todos poderão progredir na sua procura iniciática desde que a transmissão seja efectuada numa loja regularmente constituída, com os trabalhos ritualmente abertos. O Venerável Mestre  que confere a iniciação, assistido pelos Oficiais, tem na verdade uma função de transmissão. Ele não age enquanto indivíduo, em seu nome próprio, mas cumpre uma função de catalisador duma força que o ultrapassa.
Outro factor da transmissão é a linguagem simbólica a que apela a Maçonaria, associada à linguagem analógica. Não foi a Maçonaria que inventou o simbolismo. Ela herdou-o de várias tradições antigas, por  vezes desaparecidas. As representações simbólicas são menos estreitamente limitadas do que a linguagem vulgar.
O simbolismo é visto como uma linguagem universal, um conjunto de sinais e códigos que cada um apercebe de acordo com seu entendimento, a sua capacidade de raciocínio analógico e o estado de vigilância da sua consciência. Coloca a ênfase em algo que não é nem representado nem do domínio sensível, mas que está acima do que o simbolismo representa.
Se pretender definir um símbolo, percebe-se muito rapidamente que isso é práticamente impossível, porque as palavras não podem expressar o seu conteúdo, nem eles podem exprimir toda a arte pictórica ou até a  arte musical, por exemplo. Definir um símbolo, é limitá-lo e dar-lhe um significado redutor.
Para I. Mainguy (6) “Um símbolo está para além de qualquer definição. Revela escondendo e esconde revelando”. A percepção do símbolo tem uma parte subjectiva, pois depende do conhecimento que se tem de alguma coisa, com uma compreensível tendência para se não querer polarizar numa das suas interpretações.
O símbolo não impõe nada, é uma janela aberta sobre o universo oferecendo um aspecto pluridimensional sobre a realidade. É uma combinação de imagens, cada um vê o que as suas capacidades visuais e de entendimento lhe permite perceber.
Assim, ritos e símbolos constituem os elementos essenciais de qualquer transmissão iniciática. Todo o rito tem um significado simbólico e todo o símbolo produz efeitos comparáveis aos do rito. Os ritos são símbolos em acção e todo gesto ritual é um símbolo actuante. Eles não são, no fundo,  mais do que dois aspectos duma mesma realidade.
3) - O dever de transmissão do Mestre Maçom
Ressalta do dever Maçónico não guardar egoisticamente o que recebemos, mas compartilhá-lo com aqueles que estão aptos a recebê-lo.  Recusar transmitir o que foi recebido é uma forma de egoísmo.
Daí o dever de cada Maçon em transmitir segundo as regras requeridas, os ritos e símbolos da tradição maçónica com tudo o que ela  implica de dinâmica, nas suas múltiplas facetas, permitindo a cada Ir:. e  Ira:. dizer como St. Exupery (6): «Se diferes de mim  meu Ir:. longe de me prejudicares enriqueces-me».
Portanto, devemos trabalhar para garantir e manter a transmissão do método ritualístico a salvo de contaminações ou variações, e isso requer e exige a lealdade de cada Maçom  para com a integridade e a riqueza do "tesouro” maçónico recebido, ou seja: mantendo os mitos, símbolos, rituais, costumes e as virtudes morais e intelectuais sobre as quais tradicionalmente se baseia a nossa tradição maçónica. 
Podemos considerar que transmitir é a essência da vida.

III – O Ritual como Método de Transmissão
Podemos caracterizar o Ritual como um conjunto de cerimónias veiculando uma linguagem, gestos, um ritmo e ordenamento simbólicos, desenvolvidos em torno de um mito, permitindo aos participantes consciente ou inconscientemente,  progredir na sua busca espiritual e fazer avançá-los no caminho da Sabedoria e do Conhecimento.
Trabalhamos pois com a especulação como ferramenta para alcançar a "melhoria material e moral e o aperfeiçoamento intelectual e social" em torno de nós, e que esta posição e conceptualização obriga-nos a reflectir, de acordo com o sentido etimológico da palavra “especulim”: espelho. Olhar-se "reflectido" no espelho é "reflectir-se”, como fazemos quando na nossa iniciação somos confrontados com a nossa própria imagem no espelho. Com ele começa um acto de "reflectir-se", de repensar-se.
O nosso trabalho em Loja é um método de relação pessoal entre homens livres que colaboram para que a loja se converta num centro de união entre pessoas de diferentes idades, biografias,  horizontes espirituais, ideológicos e filosóficos, que se reconhecem entre si,  no seu grau e qualidade, que cooperam e se unem também entre si na chamada Cadeia de União, que pretende chegar a ser o Centro da União  Universal.
Por isso falamos de um método maçónico que foi construindo e reelaborando, enquanto preservado ao longo do tempo, mediante uma tradição, transmitida de geração em geração, que é o nosso maior e melhor tesouro.
A compreensão deste método supõe a aquisição e a interiorização de uma série de conhecimentos que temos de ir incorporando gradualmente à nossa prática maçónica dentro da Loja, e que obtemos em complemento à via ritualista praticada em Loja, através de estudo, trabalho e pesquisa, que conduzem e potenciam o desenvolvimento individual.
A união e a intensidade da relação fraterna que deve existir numa  Loja,  funda-se na participação de todos os irmãos na linguagem comum dos símbolos, e do rito como símbolo dramatizado que deve ser interiorizado por todos os membros, já que ele nos permite a todos comunicar, apesar das nossas diferenças, espirituais, geracionais ou filosóficas; e não podemos nem devemos fugir dele, por banal que nos pareça, ou por  interessantes que nos possam parecer  outros debates ou âmbitos conceptuais.
Recordando António Arnauth (4): “o Rito maçónico é, do mesmo modo, um conjunto de signos apenas compreensível para os iniciados, conforme os graus. Tem um significado histórico-moral e constituiu um instrumento de acesso à sabedoria, pois é o fio condutor da verdade inicial e dos valores eternos. Compreende um acervo e sinais, toques , palavras, símbolos e elementos decorativos de grande riqueza alegórica. Remonta aos arcanos do tempo, embora tenha estabilizado a partir do século XVIII”.
O Rito cria o momento da unidade e estabelece além do mais, a distância justa entre os Irmãos para poder sentir o calor do outro, sem invadir ou violentar o seu espaço vital.
Hoje este discurso é que o que corresponde a "este tempo", porque essa é a linguagem actual, aquela que podem compreender os homens e as mulheres da actualidade, podendo-se afirmar que  "o espírito permanece, mas a letra altera sem atraiçoar o espírito". Esse deve ser o nosso caminho como projecto que caminha em direcção à Universalidade.
O ritual deve ser realizado por via da transmissão oral, e isso deve garantir a sua autenticidade, devendo repousar nessa oralidade como um meio de comunicação pessoal por excelência, e como garantia do contacto humano e do segredo maçónico.
A palavra ritualizada tem uma força e um calor que multiplica a sua eficácia de comunicação, portanto as nossas pranchas devem cingir-se ao conceito de ajuda, de superação, dando à transmissão maçónica a intensidade que lhe corresponde, no sentido do consenso,  não só como aquisição de Conhecimento, mas também como incorporação duma cadeia de Irmãos numa Tradição, de que fazemos parte como mais um anel em aprendizagem contínua.

IV – Em resumo
Para respeitar e garantir o melhor retorno dos valores da Maçonaria, é necessário trabalhar em consciência, com confiança e firmeza, continuando o trabalho como construtores de hoje e arquitectos do futuro, o que requer reagrupar-nos  em torno dos nossos princípios e regras que nos conectam ao universal, os iniciados do futuro, que enriquecerão a nossa cadeia de união espiritual e fraternal.
Contudo para adquirir essa Consciência para agir, é preciso dedicação, estudo e compreensão dos ensinamentos contidos na Simbologia e na prática Ritualística  que a maçonaria nos fornece, enquanto base da aprendizagem. É sobretudo responsabilidade da Loja, para além de Iniciar o Homem ou Mulher,  instruí-los e prepará-los para a nova etapa na sua vida.
A procura iniciática pode ser definida segundo I. Mainguy (6), como “o estado itinerante dum «pesquisador». É pelo desejo de sair da escravatura do poder, do ter, das limitações mentais de toda a espécie, que a nossa procura nos levou a seguir a via da realização maçónica,  que leva progressivamente e à medida dos anos, a superar outras provas simbólicas, com a esperança de saber conciliar as nossas oposições internas o mais harmoniosamente possível.
É essencial saber que apesar dos grandes avanços tecnológicos, não se pode ainda (ou por enquanto) transmitir o nosso peculiar método maçónico à  distância,  porque não representa apenas um conhecimento intelectual, mas uma vivência num âmbito  espacial muito particular, donde esse "Tesouro" nos diz muito sobre o ser e a essência,  convidando-nos a um determinado comportamento.
O trabalho maçónico que praticamos e que deixaremos como legado – transmitindo - aos nossos Irmãos mais novos, actuais e futuros,  teve muitas reelaborações antes, durante e depois de 1717. O resultado chega às nossas mãos através de muitos autores,  em que  estiveram envolvidos muitos actores e muitas estruturas até aos nossos dias, mas apesar de tudo o núcleo, a espinha dorsal da tradição maçónica continua a ser a transmissão oral, directa,  de pessoa a pessoa,  através dum Ritual.  Mas não é única, como vimos ….
Só a participação consciente no ritual do Rito nos pode fornecer a profundidade comunicativa que permite fazer Maçonaria. Sem essa profundidade dificilmente existe trabalho maçónico.
Recordando D. Béresniak (7) “A Franco-Maçonaria tem sido entrelaçada por ortodoxias exotéricas que juntam ao seu tesouro bibelots de pacotilha para que se esqueçam os conhecimentos que permitem distinguir as pedras preciosas da quinquilharia”.
Contudo se o trabalho iniciático se suporta no Rito, o trabalho maçónico apoia-se, mas não se esgota  nele, com a prosseguimento das investigações e aquisição progressiva de Conhecimento, essenciais ao desenvolvimento consistente do percurso maçónico,  que só ao Iniciado e à sua vontade diz respeito. Para tal devemo-nos suportar em primeira mão,  no micro-universo do quadro da Loja e nos ensinamentos de Irmãos mais sábios  e experientes, em complementaridade ao estudo individual de obras e textos de autores consagrados.
Termino citando novamente o mestre D. Béresniak (5) : “Se quem procura a Luz não está preparado, arrisca-se a encontrar o contrário daquilo que procura acreditando que não. Aprende-se melhor pela crítica sistemática do que pela confiança beata ou pela aprendizagem efémera”. ….. “Não se reconhecem os verdadeiros Mestres pela sua Obediência, Graus ou Funções mas apenas pelo facto de não estarem ávidos de considerações, pelos sorrisos tranquilos, pelo que não julgam nem intrigam, pelo falar sem atropelar ninguém e por não procurarem honrarias. O verdadeiro Mestre (que nunca deixa de ser Aprendiz) é aquele que deseja ser ultrapassado pelos seus alunos”.

Salvador Allen:.   M:. M:.
Dez.2017 (e:. v:.)

Bibliografia
1 – Mainguy, Irène - “Procura Iniciática e Transmissão” - (Conferência realizada em 2011 - Aniversário da Loj:. Acácia / tradução do original por  «Jakim & Boaz»)
2 – Guerra, Victor - “O Ritual como método de Transmissão” –  (“victorguerra.net”, Abril.2013)
3 – “Ritual do Grau de Aprendiz” (N:. A:. O:.)
4 – Arnauth, António - “Introdução à Maçonaria” – Coimbra Editora, 2006
5 – Béresniak, Daniel – “L’Apprentissage Maçonnique - Une École de L’éveil», Éditions Detrad – 2009, Paris
6 – Mainguy,  Irène - “La Symbolique Maçonnique du Troisième Millénaire”– Éditions Dervy, 2006, Paris
7 – Dógenes de Sínope, M:. M:. – “Coluna Norte – Tributo a Daniel Béresniak” (Blog “Jakim & Boaz”)

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