Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

10 de janeiro de 2023

MAÇONARIA ACTUAL FACE ÀS GUERRAS, TOTALITARISMOS E DESIGUALDADES SOCIAIS CESCENTES – O IMPULSO DA EXTREMA DIREITA. QUE FUTURO PARA AS DEMOCRACIAS E O PAPEL DOS MAÇONS E DAS OBEDIÊNCIAS


 MAÇONARIA ACTUAL FACE ÀS GUERRAS, TOTALITARISMOS E DESIGUALDADES SOCIAIS CESCENTES – O IMPULSO DA EXTREMA DIREITA. QUE FUTURO PARA AS DEMOCRACIAS E O PAPEL DOS MAÇONS E DAS OBEDIÊNCIAS

Desafio proposto e Aceito (embora não desconhecendo que cada uma das partes do título contenha matéria para 4 ou 5 pranchas, logo, apenas vos vou transmitir a minha opinião que, espero bem, seja bem diferente da vossa por só assim, na diversidade,…o mundo pula e avança como bola colorida nas mãos de uma criança…,como escreveu o poeta António Gedeão). E que Espaço/Tempo apropriado é este, onde nos encontramos sentados à procura da Luz (leia-se Conhecimento) que nos transforma, tornando-nos melhores e mais aptos para derrotar os vícios (Guerras, Totalitarismos, Desigualdades Sociais, Impulso da Extrema Direita e Falência da Democracia) e elevar as Virtudes (Maçonaria Actual e respectivos Maçons e Obediências).

Primeiro paradoxo: não é a Maçonaria eterna, ou melhor, acima do Tempo/Espaço? A actualidade não é tão só o produto do que fomos e somos para expressarmos a extraordinária capacidade de adaptação que caracteriza os Iniciados na N∴A∴O∴? Segundo paradoxo: como se atrevem as guerras, totalitarismos e desigualdades sociais e etc., a medrar no meio de seres humanos cada vez mais conhecedores, mais esclarecidos e, sobretudo, mais tolerantes, justos e fraternos?

Detalhemos: tem sido a Franco-Maçonaria, ao longo das Eras, uma plataforma de diálogo internacional (mesmo universal) enfrentando as complexas realidades geopolíticas, e tem-no feito com uma rigorosa reflexão (adogmática e dogmática) em que o exercício intelectual e a respectiva acção prática se equiparam pois, não é demais afirmar que, a matriz do pensamento moderno ocidental foi consubstanciada nos princípios que herdámos, absorvemos e transmitimos. Sem dúvida (há centenas de documentos escritos que poderão consultar) que, desde a revolução reformista da igreja, iluminismo, consciência laboral, republicanismo, enciclopedistas, movimentos anticolonialistas e a prática da globalização estiveram por detrás maçons agrupados, em todas as suas etapas, no que é hoje a Ordem Universal que se chama Maçonaria. É de registar que toda esta progressão foi feita com audácia e enfrentando abusivas repressões, quer da igreja, quer da monarquia e ainda de outros regimes déspotas e ferozes.


Com efeito, todo o universo maçónico, nos seus trabalhos em Loja, se comprometeu, compromete e comprometerá na luta a favor do enriquecimento intelectual, na promoção da paz, justiça, tolerância e da fraternidade, e isto, apesar de um diálogo interno em que a espiritualidade e as guerras dos ritos e obediências, por vezes, tenham tomado proporções nada condizentes com a Iniciação Maçónica.

Perguntamos então, com este arcaboiço demonstrado estaremos preparados para as actuais guerras, totalitarismos, assimetrias sociais e etc.? Temos assistido a uma tentativa de perverter (no sentido freudiano do termo) um princípio crucial, a saber: a Iniciação maçónica só pode ser vivida e nunca propalada, intelectualizada ou divulgada. A N∴A∴O∴ não pode, de maneira nenhuma, ser um sucedâneo da religião nem um galvanizador de massas.

Então, como devemos incorporar a vivência Iniciática para combater os vícios? A resposta certa é: está em cada um de nós a descoberta de tal desiderato, contudo, não podemos descurar que a desumanização (e consequente impulso da extrema direita) que nos impõem tem sido uma luta, quase, perdida, pois, ao respondermos com o mesmo modelo à propaganda pró-guerra, pró-totalitária, pró-desigualdades sociais e etc., estamos a dar um tiro nos nossos próprios pés. A nossa resposta não pode estar perfumada de sensacionalismo, exibicionismo, ignorância ou alinhamento cego, antes, deve penetrar com segurança, solidez e inteligência no que, hoje, caracteriza a sociedade actual plena de desumanismo e inchada de valores monetários.

Mostrar e comunicar (nos instrumentos actuais como são os computadores pessoais, Tablets e Smartphones) que a sociedade aculturada é o primordial motor das guerras, totalitarismos, desigualdades sociais e etc.

Não, não há Obediências ou Federações exemplares, mas, há Obreiros exemplares que, através do estudo rigoroso e do trabalho quotidiano, conseguem contrariar os primados estabelecidos pelas elites económicas, políticas e sociais. A progressão individual de cada um, no interior das Lojas, deve ser colocada ao serviço de inúmeras e boas causas em prol da humanidade. Saindo de nós em direcção à multiculturalidade proporcionar-nos-á novas espiritualidades e novas formas de pensamento para que, Indignados (como sugeriram S. Hessel e Edgar Morin), tenhamos vontade de mudar através dos nossos actos.

Conflitos armados, regimes únicos e desigualdades de oportunidades sociais nascem (em todas as Eras com as respectivas modificações geoculturais) da ambição, vaidade e ignorância, coisas que estamos habituados a dar luta, não com os mesmos modelos com que as sociedades o fazem, mas à nossa maneira, isto é, no caminho da Luz que derrota as trevas.

Utopia, dirão os que usam avental para esconder o quão profanos são, impossível, os que mais próximos estão de um carbonarismo latente, ou, não vale a pena lutar, como dirão os que, embora iniciados, nunca vão perceber o que isso significa. 

Reconciliar a sorte com a ciência tem sido a tarefa inglória durante o tempo que separou Aristóteles de Claude Bernard. Está na altura de nos dedicarmos à análise das correlações para que o acaso deixe de ser uma desculpa, mas sim um instrumento que neutralize os desígnios, sejam eles quais forem. É, a enfâse na não-acção é a base do acreditar. Pois que se reverta este conceito e passemos a agir para que o acreditar, nas soluções aparentemente impossíveis, se torne um guia para cada um dos Obreiros da Franco-Maçonaria.

Conservar a vida e aprisionar a morte, como disse R. Dachez na sua obra sobre a História da Medicina! Colhamos este exemplo e sejamos Maçons (combater o obscurantismo), pois só assim aprisionaremos as ditas guerras, totalitarismos, desigualdades sociais e etc., que são os digníssimos representantes da morte. Lembremos a lenda de Hiram que simboliza bem que o triunfo da vida sobre a morte é possível, desejável e recompensador. Comuniquemos sem nos perdermos em detalhes irrelevantes, mas sim com a candura genuína do pensamento (enriquecido pelo Trabalho em Loja) que aparenta ser invisível, mas que possui o ritmo e o padrão do que é ser Iniciado na Franco-Maçonaria. Sim, não queremos, como escreveu Rémy Boyer, e cito…que a operatividade deserte os Templos…, pois, com efeito, e do mesmo Autor…, A verdadeira tradição está na vanguarda e, reciprocamente, as verdadeiras vanguardas são tradicionais…

Termino lembrando-vos Blaise Pascal que escreveu: …não importa o quão pequena é a probabilidade da existência de deus pois a recompensa é infinita; aproveitemos este pensamento e por mais pequena que seja a chance de modificarmos o mundo, transformando-nos, os resultados serão imensos e compensadores.

Diógenes de Sínope M∴M∴

Resp.'. L,', Salvador Allende (GOL)


Bibliographia

-Mainguy, Irène – “La Symbolique Maçonnique du Troisième Millénaire”, Dervy Éditions-2003

-Keghel, Alain de – “La Masonería-una perspectiva geopolítica”, Ediciones del Arte Real-Masonica.es-2013

-Béresniak, Daniel – « L’Apprentissage Maçonnique-Une École de L’éveil », Éditions Detard aVs- 2009

-Béresniak, Daniel – « Le Gai Savoir des Bâtisseurs », Éditions Detard aVs- 2011

-Alain Subrebost – “Petit Manuel D’Éveil et de Pratique Maçonnique”, Dervy Éditions-2017

-Boyer, Rémy. – “Vinte e Dois Breves Tratados Incoeristas”, Ed. Zéfiro e Arcano Zero-2016

-Hamill, J. – « Teorias Acerca das Origens da Maçonaria »

-Feyerabend, Paul – “Against Method”, Verso, New Left Books-2010

-Gigerenzer, G e Colaboradores. – « The Empire of Chance », Cambridge University Press-1989

-Dachez, R. – “Histoire de la Médicine”, Éditions Tallandier-2012

-Feynman, R. – “The Character of Physical Law”, Penguin Books-1992



P.S. a grafia do Traçado não segue o Acordo Ortográfico proposto, mas ainda não ratificado pela totalidade dos Países Lusófonos


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