Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

20 de outubro de 2022

Mulheres na Tradição do Rito Escocês Antigo e Aceito


Mulheres na Tradição do Rito Escocês Antigo e Aceito

O Templo e o Rito 

É com apreensão e introspecção que me vejo obrigado a traçar esta prancha, sobre um tema que desde a Revolução Francesa nos tem ocupado os tempos de ‘Recreio’ e que hoje assume um lugar tão impertinente como a discussão sobre a identidade de género entre as crianças e adolescentes, e sobre a indústria da mudança de sexo.

A comparação não é para ser tomada à linha, já que se tratam de assuntos de natureza diferentes: um de natureza iniciática e o outro de natureza profana; ainda assim, ambos com um impacto tão grande capazes de transformarem as estruturas sociais a ponto de ficarem irreconhecíveis.

Primeiro que tudo sinto-me compelido a esclarecer sobre o simbolismo da Construção do Templo de Salomão, pois é exactamente disso que se trata, quando e sempre que nos encontramos em Sessão de L:.

A Construção do Templo de Salomão é uma metáfora iniciática, psíquica e espiritual que significa a construção diária das virtudes e qualidades do Homem. E claro que aqui significamos o Homem antropológico, quero dizer, homem e mulher. Mas esta reconhecida dualidade zigótica nem sempre foi tomada como tal. Desde a antiguidade Pré-clássica até à segunda metade do séc. XVIII, a Construção do Templo de Salomão significava a construção do homem macho, e é por isso que as plantas destes templos representavam nas suas plantas o homem perfeito (levantado), com os pés para ocidente e a cabeça para oriente, os braços para norte e sul respectivamente.

É este mesmo homem que se vê desenhado nos resquícios medievais, renascentistas e barrocos. Foi assim que Vitrúvio e Da Vinci o desenharam, foi assim que os grandes arquitectos dos templos hindus e budistas o desenharam igualmente, como os arménios e os bizantinos. Porque era o homem macho que esses templos representavam, porque eram as virtudes masculinas e a virilidade que se quis enaltecer, como força pujante da construção social, política e religiosa.

Nunca se escreveu ou pensou na “Construção do Templo de Salomona”, e nunca os Ritos foram construídos para desenvolver e ampliar à perfeição a psique feminina, mas antes a masculina, porque a sociedade era inteiramente patriarcal.

O que a Revolução Francesa veio trazer ao mundo, através da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) foi a igualdade entre os homens (machos), e porque nela as mulheres não estavam consignadas, Marie Gouze escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã (1791). Estava lança então a confusão e a discussão. A separação do Estado e da Igreja trouxe consigo a entropia para dentro da M:., e temos que entender que a partir daqui, os Templos levantados aos homens virtuosos começariam a ter de ser retificados no futuro, para que recebessem as irmãs mulheres.

Os Templos profanos como os Templos iniciáticos maçónicos, na sua maioria, são Templos masculinos e os femininos representam uma minoria no mundo, mesmo depois da expansão dos santuários marianos e do levantamento de colunas de LL:. femininas ou mistas. O que podemos ver evidentemente é que os Ritos, sejam eles de cariz religioso e profano, ou iniciáticos e psíquicos, têm diferenças essenciais importantes, pois têm marcado nos seus rituais a masculinidade ou a feminidade. Esta característica designa fundamentalmente o grupo e o sexo ao qual se destinam, e quanto a isso não há enganos. Cada Rito foi feito para “construir” um templo às virtudes de cada sexo, e por isso desenvolveu ao longo de gerações uma interpretação semiótica do psiquismo próprio a cada sexo. Não nos confundamos com o sexo e o psiquismo, pois na evolução espiritual de cada ser humano a natureza sexual é a polaridade que a natureza nos atribuiu para chegarmos à perfeição, e ela não é um mero simbolismo decorativo na lapela do Balandrau.

Os templos profanos construídos de raiz à Mãe ou à deusa feminina, têm características próprias, muitas vezes subtis, mas as invocações (orações) que lá se repetem seguem o Rito próprio da feminidade, e muitas vezes tentam simular o útero materno.

A discussão sobre a admissão das mulheres na Maçonaria de Rito Escocês Antigo e Aceito, não é nova. As LL:. Tolerância e Fraternidade e o Direito Humano Internacional, são um exemplo de como IIra:. e IIr:. tentaram resolver o impasse sem quebrar colunas e reescrever Ritos e Rituais.

A questão da energia psíquica, que é trabalhada em todas as sessões maçónicas ao longo de cada ano, é tão pertinente como a discussão de género e de mudança de sexo no mundo profano. Temos de ter atenção a estas mudanças e de como a moda da “cirurgia de redesignação sexual” pode afectar a nossa Aug:. Ord:. A Maçonaria está a sofrer do mesmo mal que as religiões institucionalizadas, não está a ser capaz de se reformar à mesma velocidade que as ciências, e não está a ser capaz de liderar a transformação do homem contemporâneo, no sentido de defender e esclarecer a opinião pública sobre os perigos da alteração de sexo em idades prematuras, como o significado a médio e a longo prazo que estas mudanças irão trazer no processo ético, moral e reprodutivo da humanidade.

A responsabilidade da Maçonaria é trazer a mulher para a construção de uma L:. comum, enaltecendo as virtudes e qualidades femininas, mas para que isso aconteça, o plano do Templo terá de ser outro, que não o de Salomão, pois o psiquismo a trabalhar em L:. será dual e o Rito terá de reflectir essa mudança fundamental.

Estão os meus QQ:. IIr:. dispostos a mudar de Rito, e com isso cortarem com a Tradição Escocesa Antiga e Aceita?                                        

Roman M:.M:.

Resp.'.L.'. Salvador Allende


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