IMPRESSÕES SOBRE O AUMENTO DE SALÁRIO

Quando finalmente, depois de esperar com expectativa para entrar em loja, me abriram as portas do templo, revivi, de algum modo, impressões muito semelhantes às que vivenciei no meu processo iniciático.
Com efeito, as questões que me foram colocadas e o ritual que contextualiza esta cerimónia de passagem, produziram em mim sentimentos ambivalentes. Por um lado, a expectativa e o receio de não conseguir corresponder às provas a que fui sujeito e, por outro lado, um sentimento antecipado de inclusão e, até, de uma certa euforia.
No que respeita ao ritual de passagem propriamente dito, importa referir que a primeira das perguntas a que tive de responder ao (Editado pela Comissão Editorial do Blogue), embora com a ajuda de um auxiliar de memória que me foi generosamente fornecido pelo (Editado pela Comissão Editorial do Blogue), implicou uma resposta que jamais esquecerei e que, de certa forma, já havia assimilado ao longo das sessões em que estive presente.
De facto, parece-me indiscutível reconhecer a Maçonaria como uma sociedade de Homens esclarecidos para trabalhar em comum com vista ao aperfeiçoamento intelectual e moral da humanidade.

A segunda questão com que fui confrontado, dizia respeito à relação conceptual que se pode estabelecer entre Maçonaria e a religião. Foi com especial satisfação e até com algum orgulho que demonstrei sentir-me integrado numa sociedade que, embora não se reconheça, em sentido estrito, como uma religião, tem como um dos seus principais objectivos “ligar os Homens entre si”, ou seja, um dos principais Objectivos dos irmãos maçons é, ou deve ser, a religação da humanidade, e nesse sentido poder-se-á reconhecer uma dimensão espiritual à Maçonaria, ou seja é uma religião no sentido mais lato do termo.
Um dos actos mais simbólicos que representa e formaliza essa espiritualidade é a constituição da «cadeia de União» habitualmente efectuada antes do final de cada Sessão.

A Maçonaria não «liga» «ab initio» todos os homens, mas procura essencialmente «religar» primeiramente os «livres e de bons costumes», para que se entreajudem e evoluam, de modo a propiciarem a construção de um Mundo melhor, onde reinem a Liberdade, Fraternidade e a Igualdade, combatendo a tirania, a injustiça, os dogmas, a ignorância e o ódio. Em última análise, os maçons devem orientar-se na busca permanente da verdade, para que a doutrina e os princípios maçónicos difundidos dentro dos Templos, transcenda o limite estrito da Loja e floresçam no quotidiano profano.

Quanto à pergunta directa e, de certa forma, implacável, através da qual (Editado pela Comissão Editorial do Blogue) e os restantes presentes pretendiam saber se eu sou efectivamente Maçon, reagi com firmeza e profunda convicção. Esta pergunta fez-me responder com um sentimento profundo de reconhecimento e de pertença. Senti a religação supramencionada, quando afirmei que os meus irmãos me reconhecem como tal.
Por outro lado, a maçonaria não deve ser considerada como finalidade única em si mesma. Pelo contrário, a Ordem Maçónica deve procurar transformar os seus obreiros em verdadeiros construtores do edifício social. Foi isso que, interiormente e orgulhosamente senti, reforçando com vigor as repostas ao questionário que me foi dirigido.
É, ainda, de sublinhar a definição de Maçon que me foi pedida pelo Venerável, sendo que a resposta que formulei, embora baseado no meu auxiliar, foi autêntica e proferida com total convicção. Sem dúvida que um dos motivos que me fez procurar a maçonaria está relacionada com o facto de me reconhecer com “um homem de bons costumes, igualmente amigo do rico e do pobre contando que sejam virtuosos”.
Este autorreconhecimento está, de algum modo, relacionado com a génese ideológica com que o meu avô anarquista me inspirou, tendo sido esse o motivo pelo qual escolhi o meu nome simbólico.
Recordo que, embora não me reconheça como anarquista, sempre admirei a tenacidade, a coragem, a generosidade e o desprendimento com que o meu avô lutou pelos seus nobres ideias que passavam, inevitavelmente, pelos conceitos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Recordo, também, que não incorporei o caminho estratégico e morfologicamente proposto pelo Anarquismo, nomeadamente pela falta de uma disciplina organizacional que continuo a descobrir, com satisfação crescente, no universo “mágico” da maçonaria.

Foi um ritual de passagem que, à semelhança do ritual iniciático descrito em traçado anterior, reforçou a convicção de que estou, neste contexto da maçonaria, essencialmente rodeado de gente de bem. O pensamento dominante continua a ser, “das trevas onde ainda me encontro à luz que vislumbro em momentos tão especiais como este que acabo de descrever”!

Meridional Júnior, C:.