Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

12 de março de 2022

Tradição e Modernidade na Maçonaria

 


Tradição e Modernidade na Maçonaria

A Evolução & Interpretação dos Rituais

A antiguidade da Maçonaria como irmandade perde-se na ancestralidade humana e não é errado afirmar-se que ela foi forjada nas longas noites do Inverno glaciar de Wϋrm, há 12M anos, ou mais, se considerarmos que os mitos antediluvianos são mais do que meros mitos urbanos.

Esta reclamada antiguidade pode reconhecer-se como tal, nas mãos e nos dedos pintados parietalmente no fundo das cavernas, nas manadas de animais (constelações) e de caçadores (estações do ano), tal como os Maçons se reconhecem através de sinais e graus, na decoração dos Templos, do Oriente, do Ocidente e da abóboda celeste. Tudo estava lá, dado a priori. A irmandade, a iniciação, e a Luz.

Do mito da Caverna atribuído a Platão à filosofia aristotélica, encontramos a arquitectura da Maçonaria moderna. Nesta última lá se encontram as nossas definições dos diálogos possíveis, "exotérico” e “esotérico”, a dialéctica e as sete artes librais, o globo terrestre e o celeste, as virtudes e os vícios. É como se os Gregos tivessem desenhado com esquadro e prumo a Maçonaria sem-lhe terem reconhecido a existência. E é aqui que o Aristóteles clássico fica um pouco estranho, pois a matriz maçónica ou se forjou nos princípios aristotélicos (como se diz), ou o Aristóteles que nos foi dado a conhecer foi uma recriação do senador romano Anicius Manlius Severinus Boethius (477-524 EC), no final do império. Seja como for, a maçonaria moderna, tal como emerge no século XVIII, é profundamente filosófica e política e nada deve à construção das catedrais e dos templos. As lojas de construtores (pedreiros e arquitectos) continuaram e continuam a existir, em França e na Bélgica (pelo menos). Há, por tanto, uma dicotomia epistémica entre as duas Maçonarias, mas ao mesmo tempo um tradição clerical estranhamente mais próxima da estrutura piramidal da Maçonaria Simbólica e Filosófica do que da Maçonaria dos Construtores, que serviram a Igreja. Um clérigo podia (e pode) ser Ir:. numa loja Simbólica, mas não o pode ser numa Loja de Construtores, porque as Artes são diferentes, o síndico também.


O aproveitamento da filosofia aristotélica para a Maçonaria Simbólica é, obviamente, muito posterior aos Gregos e até aos Romanos do final do império. Os rituais mitraicos abundavam entre as fileiras dos soldados romanos, os rituais greco-egípcios eram praticados pelas elites da sociedade romana, mas rituais propriamente maçónicos ali não ainda não tinham existência. 

Eles surgem sim no final do Imperio, quando os primeiros cristãos e judeus começam a formar o tecido social da Roma Imperial e Itálica, e quando a migração forçada de judeus e cristão se espalha pelas províncias romanas do Mediterrâneo.

Uma coisa não nos deve confundir: sinais maçónicos e simbologia com Egrégora Maçónica. Todos os sinais e o próprio corpo simbólico são universais, de natureza inconsciente, forjados pela volição e impulsos do inconsciente colectivo a partir de uma matriz comum à humanidade. Estes emergem iguais a si mesmos no decorrer da história comum dos homens, das civilizações. São interpretados e adaptados no processo da construção social, religiosa e política. Mas eles são imortais, só as instituições definham e se mumificam, servindo para a arqueologia dos saberes tentar reconstruir a memória dos homens e das Irmandades. É isso que fazemos aqui. Procuramos a palavra perdida, a tradição original, porque simplesmente nenhum de nós sabe como foi, ninguém viveu tanto tempo para contar como era.

A Maçonaria Moderna é, portanto, isso mesmo, Moderna. Uma síntese da cultura judaico-cristã que construiu a sociedade Europeia com o frémito do Milagre Grego, que hoje é uma dor de cabeça para os cidadãos em geral, e para nós tremendamente. Da evolução a partir da pertença tradição egípcia, caldaica e judaica e da especulação que praticamos para nos revermos nestas civilizações (que falharam), mais próximo de nós e mais útil será visitarmos o Renascimento, onde lá se forjaram as ideias de modernidade, os sinais e os símbolos foram sintetizados para uma nova civilização, a nossa, que está a dar sinais de se findar.

A simbologia das lojas e das Augustas Ordens, Regulares ou não Regulares, é o que sempre foi e será. O inconsciente colectivo prevalecerá enquanto a humanidade existir. Mas o que é discutido em Loja mudará sempre com os ventos da história, com a pertinência e as luzes dos Maçons, sempre que for necessário mudar o rumo da civilização. E nós encontramo-nos hoje neste impasse, não podemos, portanto, ausentarmo-nos desta responsabilidade histórica. A decisão em Loja é importante, para nós e para o país em que vivemos. A Maçonaria que trás renovação social, económica, científica e espiritual, é uma Maçonaria revolucionária, não é, portanto, conformista. E este é o nosso enorme desafio hoje: conformarmo-nos com o fim da civilização ou prepararmos um novo recomeço. O que fazer?

Roman M:.M:.

Resp.'.L.'. Salvador Allende



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