Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

8 de dezembro de 2020

MAÇONARIA 4.0? A MAÇONARIA DO AMANHÃ

 


Com a devida vénia se transcreve a seleção  do «Informativo CHICO DA BOTICA» - Edição 148 – 31 Out 2020”

MAÇONARIA 4.0? A MAÇONARIA DO AMANHÃ

“É necessário que o Maçom seja capaz de partir e de chegar. Muito importante é o partir como muito importante é o chegar, mas muito mais importante é o que será semeado ao longo dessa caminhada: sementes se converterão em frutos que haverão de alimentar a inteligência daqueles que os colherem”. (Raimundo Rodrigues)

“O futuro tem muitos nomes. Para os fracos é o inalcançável, para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes é a oportunidade” (Victor Hugo)

Sem dúvidas estamos vivendo num mundo em permanente evolução, nas áreas de tecnologias e comunicações. O que é agora pode não ser daqui a pouco e temos que estar preparados para continuarmos a viver neste mundo. Muito lemos e ouvimos sobre a Indústria 4.0, que é um novo conceito de evolução, com bases em modernas e sempre actualizadas tecnologias, que tem na união de máquinas e sistemas inteligentes que possibilitam a criação de redes capazes de controlar módulos específicos de forma autónoma, ou seja, fábricas autónomas que irão possibilitar a redução da mão de obra, minimizar riscos por falhas humanas e proporcionar maior exactidão nos resultados esperados, e em especial em operações de maiores complexidades. Em suma, estamos falando de fábricas inteligentes, com a capacidade de operarem sozinhas, agendarem e realizarem manutenções, preverem falhas de processos, realizarem tomadas de decisão e adaptarem-se a imprevistos dentro duma cadeia produtiva.  Por certo isto não se aplica na Maçonaria, mas toda a evolução que estamos passando afecta o seu desenvolvimento e teremos que nos adaptar unindo homem a tecnologia. Tanto no conceito de Economia 4.0 e Indústria 4.0 esta é a era do conhecimento e da inovação. Na Ordem o conhecimento sempre foi nossa meta agora temos que nos adaptar às inovações. Agora perguntamo-nos,  o que tem a ver a Maçonaria com o que está a apresentar no mundo profano?  Demos um crédito de visão de futuro aos participantes do encontro realizado em Londrina – PR, quando, em outubro de 2019 escolheram o tema “Maçonaria do Amanhã”, bem antes de termos pleno conhecimento da expansão da COVID-19 e actualmente pensar no amanhã sem incluir como uma das causas a actual situação de saúde pública mundial seria ilógico.

 Como será a maçonaria do amanhã é sem dúvidas, um questionamento que muitos de nós, membros da Ordem, vêem-se fazendo para tratar de um problema que víamos um tanto como distante e que foi bruscamente antecipado com a pandemia causada pela COVID-19. A pandemia, pela rapidez e violência de sua transmissibilidade, está trazendo, para todos nós, uma situação muito preocupante para o nosso futuro, tanto em termos económicos como sociais, onde está difícil vislumbrar como estaremos no curto espaço de tempo em relação ao convívio, empregos, educação, saúde e segurança.  O dia seguinte dessa situação que estamos passando, por certo vai-nos trazer algumas novidades em relação às pessoas, no exercício da cidadania, na educação e no trabalho. Vivemos num tempo em que a velocidade das comunicações praticamente nos coloca em tempo real no centro dos acontecimentos. Precisamos ficar atentos, pois para acompanhar é-nos exigido o conhecimento e a manipulação de tecnologias, que muitas vezes por comodidades ou conservadorismo, não acompanhamos. A cada dia acordamos com uma novidade tecnológica. A humanidade está em plena e voraz transformação, com mudanças cuja amplitude, actualmente, é de difícil mensuração. As actividades terão que ser revistas e a maçonaria faz parte deste processo. Estamos num momento da humanidade sem precedentes, com um enorme potencial de transformar a forma como vivemos até agora.  Vamos ter que nos readaptar ao novo momento e repensar nosso modo de agir para com tudo e todos. Como está se afirmando, teremos um novo normal, mas não vejo que devam ocorrer mudanças muito bruscas, pois o ser humano tem uma grande capacidade de adaptação a cada uma nova realidade que se lhe apresenta.  Com estas perspectivas, por certo teremos mudanças a fazer na Ordem. Positivamente temos que, com esta situação de pandemia, nos antecipou, por necessidade, a utilização de plataformas virtuais para que se continuasse a realizarem reuniões de negócios e, no caso da Maçonaria, encontros virtuais com Irmãos de nossas Potencias e Lojas, mantendo um congraçamento nunca antes experimentado, mesmo que a distância, mas com grandes conteúdos culturais, fraternos e de novas e brilhantes ideias para a maçonaria. Não vamos considerar aqui a desculpa de que os Irmãos não estão adaptados às tecnologias, WhatsApp, Meet, Zoom, Teams, Cisco etc., pois, com certeza, a imensa maioria dos Irmãos que têm participado dos encontros (Lives), tem demonstrado, apesar de estarem com idades que os colocam no chamado grupo de risco, que estão em amplas condições de operarem essas tecnologias com tranquilidade. A verdade é que alguns Irmãos se acomodaram ou entendem que maçonaria só se faz dentro dos nossos Templos.  Temos sido bombardeados por inúmeras manifestações de preocupações de como será a nossa Ordem ao sair desta pandemia e no futuro, umas pessimistas e outras optimistas, colocando-nos a pensar muito seriamente em achar uma resposta para o questionamento de como vamos retornar como maçonaria e preservá-la?  Por certo o nosso retorno a normalidade, ou quase normalidade, vai ser lento e gradual, mas acredito que na medida em que todos passam a ter maior confiança no desenvolvimento de recursos para a solução dos problemas, das adaptações tecnológicas, culturais e nas providencias que forem adotadas pelos nossos dirigentes. Sem dúvidas vamos enfrentar um período de difícil readaptações, mas somos uma Ordem tricentenária e que já passou por muitas e até piores crises nesse período e está ai de Pé e à Ordem, superando todas as agruras que abalaram o mundo. 


Sempre emergimos do caos e nunca nos dobramos aos inimigos. Já fomos provados e sobrevivemos aos mais diversos tipos de mudanças, partindo de um mundo artesanal para o mundo virtual de alta tecnologia em todas as actividades e não será agora que vamos render-nos, sem lutar, a uma onda de transformações cujas ações partirão de cada uma das nossas Lojas, com o apoio individual de cada maçom. As tecnologias com suas ferramentas manter-nos-ão em união convivendo, dialogando e aproximando-nos, com Irmãos que jamais imaginávamos ter contacto há poucos meses atrás, trazendo um grande cabedal de cultura e conhecimentos para todos que estão se disponibilizando a participar nos eventos amplamente divulgados. O contato virtual positivamente aproximou-nos mais. Vislumbramos algumas soluções simples que podem-nos ajudar a termos uma pronta acção para o que possa vir a surgir de novidades e de alterações nos procedimentos, em especial, nas Lojas. Entendo que temos que pensar em pelo menos dois pontos que julgo importantes e que merecem nossas ações, uma é o formato das nossas Sessões Ritualísticas, tornando-as mais motivadoras e efectivamente de estudos e pesquisas (quarto de hora de Estudos?), os assuntos administrativos devem ser tratados em reuniões virtuais da Gestão da Loja, sem interferir nas Sessões Ritualísticas. As sessões necessitam ser motivadoras para mantermos em nossos quadros as gerações Z e Y, que apresentam um nível de exigência muito maior de conhecimentos e, principalmente, de ações objectivas e de resultados. Passou o tempo em que benemerência é o que muitos entendem e fazem, colocando valores, sempre reduzidos, no Tronco de Beneficência ou de Solidariedade. Estas gerações querem envolvimento, acções e resultados positivos.  O segundo ponto é que temos que alterar as estatísticas sobre nossos Membros e promover uma renovação dos nossos quadros, buscando indicar profanos preparados para a Ordem que se dediquem à leitura, ao estudo, à pesquisa e que venham a diminuir a nossa média de idade, hoje rondando aos 60 anos. Aqui devemos contar com a responsabilidade do indicante e dos sindicantes, que munidos de um questionário que realmente leve a conhecer as características e qualidades do indicado, em beneficio do progresso da Loja e não para agradar ao indicante (QI) ou outros membros da Oficina. Precisamos de sindicantes e sindicâncias responsáveis. É necessário que todos entendam as suas reais responsabilidades na realização de uma sindicância e da importância que o seu resultado representa para o futuro de cada Loja. Para contribuir com uma reflexão repito o questionamento do Irmão Dario Ângelo Baggieri, Membro da Academia Maçônica de Letras do Espírito Santo, que nos coloca a pensar, pós-pandemia, nas seguintes questões: 

1 - Qual será o meu comprometimento com um projecto de reconstrução de minha Oficina, da minha Potência e da Maçonaria Brasileira? 

2 - Como posso ajudar a directoria da minha loja na implantação de um plano local de acção? 

As nossas respostas às questões acima, serão fundamentais para definirmos quanto tempo teremos de trabalhar na Pedra Bruta, para que a nossa Ordem tenha o crescimento que merece e as adaptações às novas realidades, mantendo sempre presentes a evolução das suas acções e as actividades profícuas na evolução humana nas nossas Lojas e em consequência na Ordem. O Irmão Paulo Quiroga, no seu artigo “A Maçonaria e a revisão de seu papel histórico”, provoca-nos uma reflexão sobre o nosso comportamento e atitudes, fora de nossos Templos e junto à sociedade. Irmão Paulo Queiroga, no texto que reproduzimos, manifesta-se sobre a relevância e a necessidade de termos os rituais, como forma de garantir a perpetuidade dos princípios e valores maçónicos: “A Maçonaria tem suas colunas calcadas na tradição. E, hoje, por razões conjunturais, ela está de certa forma, distanciada dos principais actores do poder e da História. Assim é natural e compreensivo que, para sua própria sobrevivência, ela recorra aos rituais e às suas conquistas históricas, ainda que remotas, para manter viva a chama de seus propósitos fundamentais e fazer valer a sábia sentença judaica: ”Oh! como é bom e agradável ver unidos os Irmãos”. Precisamos estar alertas e prontos para a todo o momento, revermos o papel da nossa Ordem nas mudanças que estão ocorrendo e adaptar-nos a estas mudanças para não perdermos o rumo da história.  Temos um bordão em voga que diz “tudo que acontece de ruim é para melhorar” e acrescentamos todo o mal tem seu lado bom e para nós Maçons é o que está acontecendo, o moderno e o antigo estão andando connosco de mãos dadas. Vamos aproveitar esta oportunidade, pois só vamos resolver os problemas superando seus desafios. Como afirma nosso Irmão Sergio Quirino, “não há Lockdown Maçónico”, então vamos arregaçar as mangas e pôr o nosso cérebro a pensar e, assim em união, ajudar a encontrarmos as soluções viáveis para que continuemos a trabalhar proficuamente para o bem da humanidade e do progresso humano. “Temos de ter os pés na concretude do presente e os olhos nas perspectivas do futuro para não perdermos as bases construídas no passado”.  Que o Grande Arquiteto do Universo nos ilumine os pensamentos, projectos e atitudes que venham ao encontro das necessidades da Ordem para que Ela se perenize e mantenha nossos trabalhos ritualísticos e ao congraçamento fraterno dos Irmãos, dentro e fora de nossos Templos. Só vai depender de cada um de nós. Et Ploribus Unun. 

Marco Antonio Perottoni 

Porto Alegre 15 de setembro de 2020

Loja Cônego Antonio das Mercês Loja Francisco Xavier Ferreira de Pesquisas Maçônicas Grande Oriente do Rio Grande do Sul – GORGS Porto Alegre – RS 

XXVII Encontro – Salvador – Bahia – outubro de 2020 - MAÇONARIA DO AMANHÃ

Referências Bibliográficas: 

BAGGIERI, Dario Ângelo - CORONAVÍRUS – Suas implicações sobre a maçonaria – O Malhete, Pag. 4 – Ano XII - nº 133 – maio de 2020 

RODRIGUES, Raimundo – A Filosofia da Maçonaria Simbólica – Volume 4 – Londrina – A Trolha - 

QUIRINO, Sérgio - Ano 13 - Artigo 48 - Número Sequencial 749 - 01 dezembro 2019 

QUIRINO, Sérgio - Ano 14 - Artigo 21 - Número Sequencial 774 - 24 Maio 2020 

QUIROGA, Paulo A. P. – A Maçonaria e a revisão de seu papel histórico - JB News nº 0378 - 13-09-2011.


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