Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

13 de novembro de 2018

Viriato: razões do nome simbólico adotado


Viriato: razões do nome simbólico adotado

Editado pela Comissão Editorial do Blogue

A razão de ser dos nomes simbólicos.
Duas ideias-chave estarão na origem da adoção dos nomes simbólicos em algumas obediências  aquando da iniciação na Ordem Maçónica: 1-por um lado visa marcar a transformação em Irmão do candidato profano ao iniciar-se na aprendizagem dos segredos da Maçonaria, renascendo deste modo num mundo onde se busca a luz visando “o aperfeiçoamento da Humanidade através da elevação moral e espiritual do indivíduo” ; por outro lado constitui uma forma de defesa e sobrevivência nas situações em que a Maçonaria era/é perseguida, ocultando assim a identidade civil dos seus membros .
Como se trata de abraçar um mundo novo constituído por “homens livres e de bons costumes, de todas as raças, nacionalidades e crenças” , em regra a escolha dos nomes simbólicos recai sobre “figuras que honraram a história pátria ou universal pelos seus feitos, qualidades e virtudes” .
A escolha de “Viriato” pelo signatário como nome simbólico assenta nos pressupostos acabados de referir.
A escolha de “Viriato”.
O signatário é oriundo do distrito de Viseu, local onde se terá posicionado “Viriato” no século II antes de Cristo para combater as legiões de romanos que invadiam a península ibérica visando subjugar os respetivos povos. Por isso, conservo com orgulho desde a infância o nome deste valoroso cidadão, sobretudo desde o ensino primário, cujos livros referiam positivamente a luta travada por “Viriato” para combater a invasão da península pelos romanos.

“Viriato” nasceu no ano de 179 a.C., não sendo pacífica a designação do local do seu nascimento: para uns nasceu em Loriga (Seia), para outros nasceu em Folgosinho (Gouveia), para outros ainda nasceu em Cabanas de Viriato (Carregal do Sal/Viseu) , sendo também este último lugar aquele onde nasceu outro ilustre visiense em 19/07/1885: Aristides de Sousa Mendes.
O nome de “Viriato” está associado à imposição de vírias (argolas de metal, muitas vezes de ouro) com que era agraciado nos altares propositadamente levantados em honra dos Deuses da guerra, em reconhecimento da sua bravura e dos seus atos de heroísmo na luta contra as invasões levadas a cabo por Roma. No dizer de Aquilino Ribeiro, tais vírias colocadas no braço ou nas pernas constituíam não apenas distinções de comando, mas também amparos contra a lança e a espada .
Constitui um momento de destaque na ascensão de “Viriato” como dirigente militar o massacre ocorrido no ano de 150 a.C. por ordem do pretor romano Sérvio Sulpício Galba, que a pretexto de pretender assinar um tratado de paz e de distribuir terras às populações lusitanas as mandou reunir para o efeito, impondo-lhes a entrega prévia de todas as armas e, depois de desarmadas e reunidas as mandou chacinar, constando que tenham sido massacradas cerca de 20 mil pessoas. “Viriato”, porém, conseguiu escapar ao massacre sendo entretanto eleito como Chefe militar e, nessa qualidade, infringe seguidamente várias derrotas militares aos romanos (que tratavam as gentes deste território como Lusitanos selvagens), criando assim condições para o estabelecimento de um acordo de paz com Roma, que no entanto esta não veio a honrar, corrompendo três capitães lusitanos para que assassinassem “Viriato”, o que veio a acontecer no ano de 139 a.C, então com 40 anos .
“Viriato” é descrito na literatura como um proto-guerreiro e nessa qualidade é destacado como o “fundador de uma consciência de insubmissão aos invasores, defensor da independência territorial”, um inspirador na luta pela justiça e pela dignidade humana. Camões refere-se a “Viriato” nos Cantos III e VIII dos “Lusíadas” assim:
"Esta é a ditosa pátria minha amada,
……..
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso, ou Lisa, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela então os Íncolas primeiros.
"Desta o pastor nasceu, que no seu nome
Se vê que de homem forte os feitos teve;
Cuja fama ninguém virá que dome,
Pois a grande de Roma não se atreve .
"Este que vês, pastor já foi de gado;
Viriato sabemos que se chama,
Destro na lança mais que no cajado;
Injuriada tem de Roma a fama,
Vencedor invencível afamado;
………….
"Com força, não; com manha vergonhosa,
A vida lhe tiraram …” .
Também Fernando Pessoa se refere a “Viriato” na sua “Mensagem” apresentando-o como símbolo da Lusitânia ao ligá-lo à raça e memória lusas e ao identificá-lo como precursor da alma da nação e símbolo do povo e de Portugal, mas também como um herói que transporta a luz que precede a madrugada, de que é exemplo o seguinte excerto do referido poema:
“………………
Vivemos, raça, porque houvesse
Memoria em nós do instinto teu.

Nação porque reincarnaste,
Povo porque ressuscitou
Ou tu, ou o de que eras a haste –
Assim se Portugal formou.

Teu ser é como aquela fria
Luz que precede a madrugada,
…………..”

No dizer de João Inês Vaz, “Viriato foi, quer para os seus homens, quer para os Romanos um exemplo de lutador, de homem justo, um defensor permanente dos valores humanos e da igualdade entre todos, da paz e da liberdade por que lutou toda a vida e por que deu a própria vida” .
Atento o descrito, é para mim uma honra a escolha de tão nobre nome simbólico.

Viriato, Apr:.

Bibliografia:
  - (cfr. artº 3º da Constituição Maçónica);
  - (cfr. Introdução à Maçonaria, de António Arnaut, Edição Imprensa da Universidade de Coimbra/2017, pg. 33);
  - (cfr. artº 1º da Constituição Maçónica);
  - (cfr. Introdução à Maçonaria, de António Arnaut, Edição Imprensa da Universidade de Coimbra/2017, pg. 33);
  - (cfr. “Viriato: Mito e Quotidiano”, monografia da Universidade de Aveiro elaborada por Maria Arminda J. Lopes e coordenada pela Prof. Doutora Maria Manuel Baptista);
 
  - (cfr. “Viriato: Mito e Quotidiano”, monografia da Universidade de Aveiro elaborada por Maria Arminda J. Lopes e coordenada pela Prof. Doutora Maria Manuel Baptista);
  - (cfr. “Viriato: Mito e Quotidiano”, monografia da Universidade de Aveiro elaborada por Maria Arminda J. Lopes e coordenada pela Prof. Doutora Maria Manuel Baptista);
  - “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, Canto III, estrofes 21 e 22;
  - “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, Canto VIII, estrofes 6 e 7;
  - “Mensagem”, de Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972);
  - (cfr. “Viriato: Mito e Quotidiano”, monografia da Universidade de Aveiro elaborada por Maria Arminda J. Lopes e coordenada pela Prof. Doutora Maria Manu

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