Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

27 de fevereiro de 2012

O Maçom, a Sociedade e a Informação


Ilustração_Constantin Veluda - Roménia


Portugal tem cerca de 6.600 jornalistas profissionais, ou seja cerca de de 1 jornalista para 1.500 habitantes. Entendendo-se por jornalista, e para simplificar, um profissional, devidamente acreditado e em posse da sua carteira profissional. A profissão de jornalista tem vindo a sofrer uma forte exposição e consequentemente uma verdadeira erosão.As enxurradas da chamada comunicação, entendida no seu senso mais largo, inundaram a sociedade e, de algum modo, afogam a profissão.Este verdadeiro dilúvio de comunicação não tem, no entanto, um carácter estruturado e estruturante da informação, tão pouco respeita as regras éticas mais elementares.Este fluxo de comunicação é possível graças às capacidades incríveis dos novos canais electrónicos de transmissão de dados.Mas entre comunicação e informação existe um mundo.É um espaço de conceitos, regras e ética.Só o jornalista tem a obrigação de respeitar estes três dados, e pode vir a ser responsabilizado civil e penalmente, em caso de falta grave.
Por isso é necessário perguntar:
Assim sendo, quem é o jornalista?
Vejamos a definição dada pelo sindicato:
“Jornalista é o profissional de informação com responsabilidade editorial, que trabalha factos, acontecimentos e conhecimentos com vista à divulgação em órgãos de comunicação social sob forma de mensagem objectiva”.


Mas esta não é a única definição de jornalista.
No estatuto do jornalista, o artigo 1º diz:
“São considerados jornalistas, aqueles que como actividade principal, permanente e remunerada, exercem funções de pesquisa, recolha, selecção e tratamento de factos, notícias ou opiniões através de texto, imagens ou som, destinados à divulgação informativa pela imprensa, por agência noticiosa, rádio, televisão ou outra forma de difusão electrónica”.
Posta esta ou estas definições, já é possível verificar que só na definição do estatuto do jornalista são referidas claramente as tarefas de recolha, selecção e tratamento de factos.
Estes 3 elementos são primordiais e sobre eles repousa todo o edifício do jornalismo.
Recolha, selecção e tratamento dos factos.
E porque motivo são estes os três elementos primordiais?
Porque só estas três áreas marcam a verdadeira autonomia do profissional.
Aqui há uns tempos, lembro-me da hora: era meio dia em ponto, quando fiz a mim próprio a seguinte pergunta:
O que é que a Maçonaria tem a ver com o jornalismo?
Como é óbvio, em mim há um Maçon e um jornalista.
E, evidentemente, o primeiro a responder foi o jornalista e disse: É simples, jornalismo e Maçonaria não só não têm nada a ver, como se encontram exactamente nos extremos opostos.
Um bom conselho: pega na pergunta, faz um buraco e põe uma pedra em cima.
Bom, lá vou eu fazer o buraco para me ver livre desta pergunta.
Uma vez o buraco feito, com a pergunta já lá dentro, procurei uma pedra para pôr por cima, tal como o EU jornalista me tinha dito.
E lá achei uma pedra, enfim, um calhau grande, sem forma definida e com a superfície bem rugosa.
Deito a mão ao calhau, mas de repente o Maçon que há em mim acordou e disse: Mestre o que estás a fazer? Enterras a pergunta em vez de tentar encontrar a resposta? jornalismo e Maçonaria estão em extremos opostos? talvez seja um preconceito… e os preconceitos são para combater.
Olha, vou dar-te uma dica: lembra-te do Zenit e do Nadir, também eles estão nos extremos. A pedra na tua mão é a pergunta, e não te esqueças que toda pedra bruta pode e deve ser polida.
Para dizer a verdade, não estava à espera desta.
Estes pensamentos soaram em mim como um bom golpe de malhete, no altar da minha consciência de Maçom.
Com o Zenit bem no alto, acima da cabeça, e o Nadir bem debaixo dos pés, decidi pôr mãos à obra.
Vou tentar unir jornalismo e Maçonaria, ou se os meus irmãos preferirem, unir o Zenit e o Nadir.
Aí, o jornalista diz: se assim é, o melhor é procurar as tuas fontes e recolher a informação.
Mas afinal quem vai trabalhar, o Maçon ou o Jornalista?
Resolvi então pegar nas minhas ferramentas, não de jornalista, mas sim de Maçom.
E quais são essas ferramentas?
Reunem-se em 3 grupos:
As 3 de formatação: o machado, o malhete e o escopro.
As 2 de assentamento ou instalação: a alavanca e a trolha (apesar desta não estar presente no nosso rito) mas posso explicar porquê: no REAA, a pedra facetada tem de ser perfeita, por isso não precisa de argamassa para assentar, nem da trolha.
Restam os instrumentos de traçado e controlo: como nós sabemos são 5:
A régua, o esquadro, o fio de prumo, o compasso e o nível ou perpendicular.
Com os instrumentos em punho, pus mãos à obra.
Ora bem, o jornalista tem uma regra a respeitar imperativamente ao elaborar uma notícia.
É a chamada regra dos 5 W, em inglês: What, Where, When, Who e Why.
Ou seja: O Quê, Onde, Quando, Quem e Porquê.
Estes dados devem, imperativamente, estar presentes na notícia. São a regra de ouro do jornalismo.
Ora, o número 5 tem a sua simbologia em Maçonaria, representa entre outras coisas a plenitude, a realização do ser e é a idade do companheiro.
É um número dito esférico e é também o resultado do 4+1, ou seja a matéria iluminada pelo espírito.
O jornalista tem o acontecimento, que é a sua pedra bruta, mas deve trabalhar sempre iluminado pelo espírito de justiça. E se for Maçon, pelo espírito Maçónico, evidentemente.
Número 5 em Maçonaria e número 5 em jornalismo não estão assim tão longe um do outro.
Entusiasmado com esta constatação, voltei ao trabalho.
Como disse, a primeira regra a respeitar é o tal What, em inglês, o Quê. Parece evidente, mas em jornalismo o tal “o Quê” nem sempre é o que parece.
E a minha obrigação é narrar o acontecimento na sua verdadeira dimensão, sem acrescentar ou omitir elementos relevantes.
Para esta primeira etapa escolhi o esquadro, porque o esquadro permite, como nós sabemos, que as bases de raciocínio sejam perfeitamente ordenadas, permite conter o que temos em nós de mais subjectivo e passional.
Tal como nenhum edificio terá equilibrio, e a verdade não será atingida, sem estas regras a notícia também estará desequilibrada.
Ora, a verdade é o objectivo número 1 do jornalista.
Simbolicamente, o esquadro permite verificar, ordenar e dar coerência ao raciocínio e à construção. Como vemos, tudo isto parece ser dirigido directamente ao jornalista.
Mas mais extraordinário ainda: a utilização do esquadro permite dar às palavras o seu verdadeiro sentido, permite ideias precisas e raciocínios estabelecidos sobre bases justas e sólidas, tal como deve ser perfeita a justaposição das pedras do templo.
Estas palavras parecem pertencer a uma aula de jornalismo.
E depois, há quem diga que a simbologia e os princípios Maçónicos não são universais.
Terminada esta tarefa de definir “o Quê”, graças ao esquadro, o jornalista e o Maçon atacam a segunda etapa: a tal regra do “Onde”.
Esta etapa, exige rigor e precisão para estabelecer a posição exacta do objecto no espaço.
Ou seja, o jornalista vê algo a acontecer na sua linha de horizonte, mas como dar a sua localização exacta?
Vai ser necessário cruzar dados, cruzar linhas, cruzar a horizontal com a vertical.
Ora, qual é o instrumento que dá duas informações em simultâneo, e que ainda por cima se cruzam? Só há um, e esse instrumento é o nível.
Mas atenção, não é o nível de bolha de ar, mas o nível na sua versão genuína, o único que interessa ao Maçom.
Este instrumento dá a horizontal, mas curiosamente graças à vertical , vertical essa determinada pelo prumo do seu fio.
Este é o instrumento ideal para determinar “Onde”.
E estou a ouvir uns pensamentos que dizem: essa é boa, para medir não seria melhor a régua? Mais lógico e eficaz?
NÃO, com a régua só posso dar a distância entre mim próprio e o acontecimento e ao fazer isso, estou a colocar o jornalista dentro da acção e como ponto de referência.
Ora, o profissional nunca deve fazer parte ou aparecer como elemento dessa mesma notícia. Por esse motivo e outros, a régua não serve.
Com o nível em mão vou poder encontrar o meio, exacto e justo, ou seja a igualdade entre as partes, indispensável à elaboração de uma notícia.
E vejam só: simbolicamente, ao cruzar a vertical com a horizontal, o nível incita o Maçon a eliminar o que o seu ego tem de nocivo, promovendo o dever de elevação espiritual.
Isto assenta como uma luva à prática do jornalismo.
Nada do ego do jornalista deve interferir ou transparecer na notícia.
Encerrada a fase do “Onde”, graças ao nível, passei à regra do “Quando”.
“O Quê”, “Onde” e “ Quando”.
Ora, sem saber “Quando”, a notícia fica incompleta.
Mais uma vez o jornalista e Maçon têm à sua disposição o instrumento certo.
Não é nenhum calendário, mas sim um relógio.
E qual é simbolicamente o relógio?
É a régua, a régua porque tem 24 polegadas, ou seja as divisões do ciclo solar.
O Maçon deve integrar-se na grande ordem cósmica.
O jornalista do mesmo modo, deve integrar-se no todo do mundo, renovando diariamente o seu ciclo.
Notícia dada é notícia morta e cada 24 horas dão início a um novo ciclo de trabalho.
Mais ainda, a régua simboliza a minúcia necessária a toda a construção e traça a linha recta que conduz à verdade, sem interferências.
Mais uma vez estas palavras que se dirigem aos Maçons, parecem escritas para os jornalistas.
Se fosse necessário provar o carácter universal da simbologia Maçónica, estas palavras seriam suficientes.
Só para terminar esta etapa, em manuscritos antigos está escrito:
Das 24 horas ou polegadas do ciclo solar, 6 são para trabalhar, 6 para servir Deus e a verdade, 6 para servir o irmão ou o amigo e 6 para descansar.
A régua é, pois, o instrumento de medida do espaço e do tempo, dois elementos chave no jornalismo.
Mas temos a 4º regra para observar: “Quem”.
O “Quê”, “Onde”, “Quando” e agora “Quem”:
Restam dois instrumentos: o fio de prumo e o compasso.
E é o compasso que me vai permitir determinar o “Quem”.
Ora, o compasso compara, conserva e reporta.
Reportar é o principal objectivo do jornalista.
O compasso, ao encontrar as medidas e as proporções dá as pistas.
É o único instrumento cuja forma varia graças às suas astes móveis. Com elas podem medir-se diferentes ângulos, traçar círculos e também definir o centro.
É o instrumento da avaliação dos gestos de cada um.
Na Idade Média, só o arquitecto-mor podia utilizar este instrumento.
O compasso, ao designar o centro designa o autor, ou seja, “Quem”.
Esse autor pode ser humano, mas pode ter outra natureza. Dos mortos de um tsunami, o “quem” é o sismo que deu origem às ondas.
Resta a última etapa: o “Porquê”.
Para saber “Porquê”, é preciso um trabalho em profundidade, mas é preciso fazê-lo com equilíbrio, com verticalidade para não lesar nenhuma das partes envolvidas, e o instrumento perfeito é o fio de prumo.
Simboliza a posição do mestre de pé, seguro de si e sem medo, tal como o jornalista o deve fazer ao dar a notícia.
Para além do trabalho em profundidade, a sua vertical significa a ligação entre todos os graus da existência, a ligação entre todos os passos que acabámos de dar: “o Quê”, “Onde”, “Quando”, “Quem” e “Porquê”.
Para terminar, oiçam bem, o nosso fio de prumo une simbólicamente o Zenit e o Nadir, os dois pontos opostos que deram início às minhas dúvidas e consequentemente a esta desta prancha.
Quando acabei este trabalho, já era quase meia noite.
De repente, ao olhar o firmamento avistei ao longe uma estrela flamejante, que parecia indicar que o objectivo foi cumprido.
Maçonaria e jornalismo, o Zenit e o Nadir, estariam finalmente reunidos?
E o jornalista que há em mim imaginou a notícia na primeira página do jornal Maçónico, evidentemente, com o título: Irmão Viriato consegue unir o Zenit e o Nadir.
Mas o Maçon que há em mim apareceu e disse: Ó jornalista, olha que já é meia-noite, os trabalhos estão encerrados.
Com os trabalhos encerrados não consegui confirmar a informação e sem confirmação não houve notícia.

Viriato M:. M:.
Outubro de 2009

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