Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

29 de abril de 2025

Porquê ser Maçom no Século XXI ?

 





Porquê ser Maçom no Século XXI ?


(publicado inicialmente no Blog «Comp&Esq» em 17:jul.2019 - actualizado e revisto à data desta republicação, em conformidade com a parceria mútua acordada entre as respectivas gestões)




I – Introdução – A Maçonaria, a Globalização e o estado do Mundo


A globalização suportada no avanço vertiginoso e implacável das novas tecnologias impôs mudanças aceleradas nas sociedades, novos padrões de vida, novos comportamentos, modos de vida e mentalidades. Sobretudo “programou” (via impacto das Redes Sociais «apoderadas» pelos novos oligarcas multimilionários, meios de comunicação não independentes, «fake news», etc,) as mentalidades da generalidade das pessoas, dos povos e nações, quase sempre em sentido oposto aos princípios que defendemos enquanto Maçons. Recentemente, podemos citar como exemplo, a última campanha de Trump como efeito paradigmático, para quem eventualmente tivesse dúvidas....

Generalizou-se o consumismo, a que poderosas campanhas de marketing (directo e indirecto) dão suporte, e até à ultima crise económica, a banca competia para ver quem dava mais credito e nas melhores condições  aos clientes (e mais uns extras...) e o resultado viu-se… , mas aí estão de novo, ganhando centenas de milhões por trimestre, parecendo que não aprenderam nada, após o Estado ter  desviado (durante e após a crise) cerca de 25 Mil Milhões de Eur. (à custa dos contribuintes….) para lhes «compensar» a  gestão irresponsável, os  desfalques e os golpes. 
De acordo com os princípios que assumimos e jurámos defender,   exige-se dos maçons em particular, como «cidadãos livres e de bons costumes», esclarecidos e cultos, uma posição simultâneamente crítica e construtiva, quanto a este estado de coisas (pagamento dos  desvarios e desfalques da alta finança, repúdio pelos sacrífícios feitos por quem não devia, etc,). Não se nos afigura  ter sido dada pela Augusta Ordem,  na devida altura, a atenção correspondente, quer no âmbito da ética (republicana ou genérica), dos costumes, da Igualdade e da Fraternidade, apesar de não nos organizarmos como  sindicato,  partido politico ou clube de intervenção, temos no entanto princípios que, para além de  sermos os primeiros a cumprir, nos obrigam a alertar a Sociedade e o País, se genericamente forem desrespeitados. 

As enormes mudanças decorrentes da globalização, a partir do início dos anos setenta do século passado, apesar de contribuírem  para tirar da miséria cerca de 700 Milhões de seres humanos (sobretudo graças à China, Índia e América do Sul), agravaram genéricamente, a nível mundial, as desigualdades entre ricos e pobres (cujo coeficiente indicador já era elevado) [7] . A luta pelas esferas de influência das grandes potências, em busca de fontes de matérias primas essenciais às novas tecnologias, a par do sempre presente petróleo, aliadas ao papel hegemónico da financeirização global da economia, criaram as condições propícias aos conflitos regionais, que têm descambado em guerras altamente destrutivas, impondo às populações enormes sacrifícios e perdas irreparáveis, que acabam por ser potenciadas pelo extremismo religioso (principalmente de raiz árabe sunita ou xiita),  sendo as guerras na Síria, Iraque, Libia , Iémen, Palestina, etc, os seus expoentes mais devastadores, para além da criminosa guerra da Ucrânia, desencadeada pela nova ambição imperialista de Putin e seus oligarcas, desejosos de adicionar ao seu já vasto portefólio  os minerais, petróleo e tecnologia da zonas orientais (já quase ocupadas pelos russos). Trump e os amigos também não se esqueceram  deste pormenor, pelo que querem  impor agora o acordo sobre «terras raras» ao martirizado estado ucraniano.


De um modo geral e em especial no Arábia, Médio-Oriente e Norte de África, o escape natural nos países e àreas mais atingidas por todas as inúmeras flagelações e sofrimento indescritíveis, traduziu-se no exacerbar dos extremismos contra os valores ditos ocidentais, na reforço da fuga para a prática de  religiões ou crenças totalitárias, cadinho em que floresceu e se desenvolveu a violência e o terrorismo sem pátria, que actualmente ameaça os valores e a segurança das sociedades mais livres e desenvolvidas do mundo ocidental, precisamente aquelas em que a Maçonaria históricamente mais se desenvolveu  (mas a que também não escapam a África e a Ásia).

Ao mesmo tempo e durante estes cerca de quarenta anos, a visão e a convicção que muitos de nós partilhámos na altura, duma Europa como polo agregador de crescente prosperidade,  de estabilidade entre os diferentes estados, a da Liberdade, Igualdade, e Fraternidade que tanto cultivamos,  desagregadora de visões nacionalistas exacerbadas e xenófobas e de racismos ou de totalitarismos mais ou menos disfarçados, em que se transformou?  No avanço significativo  da extrema-direita (ter em atenção os países do  Leste Europeu, onde após cerca de 50 anos de ditadura soviética,  parte significativa parece não se ter habituado a conviver com naturalidade com os conceitos e práticas da vivência democrática...). Assim reapareceram programas e objectivos racistas e xenófobos, desintegradores da versão europeia inicial, que para além de actualmente não fazerem qualquer sentido,  já julgávamos, desde o final da 2ª guerra mundial, definitivamente enterrados nos baús da trágica história da Europa, durante a negra primeira metade do século passado.

Importa analisar abertamente qual o papel que a Maçonaria desempenhou e pode  vir a desempenhar  na sociedade e no país, mas também no planeta global em que nos inserimos. Referimo-nos essencialmente (mas não só) à corrente «liberal / adogmática» em que nos inserimos e que entre nós  já leva mais de dois séculos de existência ininterrupta. Neste intervalo de tempo registaram-se  muitos avanços e adversidades, consequência dos regimes mais liberais ou mais  repressivos em que conseguimos afirmar-nos, crescer e/ou sobreviver,  em especial durante a Inquisição e mais recentemente a ditadura salazarista, especialmente caracterizados pela sua violência e duração.

Neste já longo percurso, devemos ter um imenso orgulho no facto do GOL ser a 2ª obediência mais antiga da Europa (logo a seguir ao GOdF), em funcionamento ininterrupto.  Por certo poderíamos ter feito mais e melhor, mas também somos contaminados  quer pela envolvente politico-geográfica local e internacional, quer por várias insuficiências internas, a que não podemos ser alheios e que nos têm envolvido ao longo da história, antes e principalmente depois da liberdade de Abril….


II – Porquê  continuar a ser Maçom no Século XXI ?

Ao termos comemorado há oito anos “oficialmente”,  o Tricentenário do nascimento da moderna maçonaria, dita especulativa, julgamos ser  imprescindível, face  aos avanços e recuos destes três séculos de história, que tenhamos a ousadia de afirmar porque nos mantemos Maçons no Século XXI e, se possível, tentar  perspectivar como será a Maçonaria no futuro, pelo menos a médio prazo, já que a longo prazo o exercício é ainda mais difícil, por falta de referências e variáveis orientadoras credíveis.

Roger Dachez, médico de profissão e um dos mais reconhecidos autor e investigador maçónico, afirma que relativamente cedo, para ele, “a Maçonaria pareceu-me constituir uma formidável oportunidade de desenvolvimento e de progresso sobre mim próprio. Tenho pensado nisso durante  anos – precisamente os dos meus estudos” [8].

Por exemplo no final dos anos 80 do século passado, a Internet ainda estava a começar a dar os primeiros passos e não existiam práticamente nenhumas   obras maçónicas, à disposição do publico, reduzindo-se as mais tradicionais, só à venda por encomenda ou nas livrarias das grandes cidades (como Paris, Bruxelas, Londres, Berlim, etc.). Nessa situação  a única solução para se «chegar» à Maçonaria era  encontrar um maçom, que colocasse o interessado em contacto com alguém duma Loja, para que após o pedido de acesso e as necessárias entrevistas e caucionamentos, fosse possível a sua admissão. Naquela altura era talvez a única (e por certo a mais eficaz) forma de «entrar» (significando aqui, estritamente,  a Iniciação e o início do conhecimento prático da também apelidada de «Nobre Arte Real»).

Porventura outros terão chegado  à mesma situação, através do estudo, investigação e pesquisa. A partir  do Século XIX,  foram encontrando escritores e filósofos maçons, que lhes foram despertando curiosidade… O que por certo cada vez mais os interrogou e questionou, predispondo-os progressivamente a ingressar na N:.A:.O:., foi o facto duma instituição com mais de trezentos anos, ter sobrevivido com tanta vitalidade até à nossa época, apesar de todas as perseguições suportadas.

Será que nos anos que se seguem à Iniciação,  os maçons sentem-se homens (ou mulheres) diferentes de anteriormente, é uma das primeiras questões que, normalmente, colocamos a nós próprios ou que nos endereçam frequentemente.

Dum modo geral pensávamos que, após a Iniciação,  tudo iria mudar rápidamente, tudo iria ficar mais claro, mas normalmente não será muitas vezes sempre assim. A Maçonaria traduz uma via de progressão, que vai funcionando como que por «impregnação, mais ou menos lenta», face à qual só ao fim de algum tempo vamos dando  conta dos resultados...
Sómente  através da  prática assídua e regular ao trabalho em Loja,  da auto-análise e do estudo, poderemos  tornar-nos progressiva e efectivamente Maçons.  Pode até demorar algum tempo,  quer no plano intelectual, quer no espiritual (em que até nos pode parecer que do título de maçons, só nos resta a «decoração do avental»). Isto significa que nos primeiros anos podemos ainda não alcançar a percepção da mudança, dependendo óbviamente de nós próprios, das características da Loja onde nos filiámos, do seu espírito de abertura (ou não), da abrangência dos temas tratados, grande parte dependente da qualidade e experiência dos IIr:. mais antigos…

Começa aí a incerteza se a Maçonaria terá (ou não) contribuido para fazer de nós homens ou mulheres melhores. Se alguma coisa  das sessões e trabalho em Loja tiver feito «eco» nas nossas mentes, por certo estaremos diferentes, embora não tenhamos ainda provávelmente consciência disso. A prova é que continuamos ligados à causa e à obra da A:. O:. Maç:., pesem embora as evoluções e percursos individuais que possam ter existido,   com talvez um pouco menos de idealismo do que no princípio, mas comprometidos honestamente com os princípios orientadores que fomos interiorizando.

Só alguns intelectualmente mais dotados  é que podem não pensar deste modo,   normalmente conseguindo atingir  os graus mais elevados,  em  espaço de tempo relativamente «curto». Aqui podem juntar-se um ou outro «espertalhão» encartado, mais interessado no  «carreirismo maçónico», (mas só  se convenientemente «apadrinhados», caso contrário vão ficando pelo caminho). Quanto a esta última espécie («carreirismo»),  nem vale a pena perder tempo, a não ser estar «vigilantes» para com aqueles que entretanto possam  tentar entrar ou reentrar, pela porta dos Templos.

Ao fim de vários anos, nesta já algo longa caminhada, muitas horas foram retiradas ao convívio familiar, aos amigos ou aos passatempos favoritos, para que pudéssemos participar nos trabalhos em Loja, ler vários textos fundamentais  (consoante a disponibilidade) e produzir algumas pranchas. Este ponto entronca directamente na optimização do binómio de como devemos viver a nossa participação e pertença à Maçonaria ao longo do  nosso quotidiano, sem sacrificar demasiado a nossa envolvente familiar e social?

Óbviamente existem diferentes graus de compromisso, mas em nossa opinião o facto de se pertencer à Maçonaria, não deve nem pode separar-se das concepções morais e éticas individuais, nem da identidade pessoal que nos corresponde.  Sem serem precisos eloquentes discursos  e/ou proclamações, o facto de sermos Maçons deve reflectir-se na nossa conduta diária, junto à Família,  aos amigos, na sociedade em geral e até no âmbito  profissional. Um Maçom deve ser, se quiser ser coerente,  um cidadão «exemplar».

Alguns não têm problemas em afirmar a sua pertença publicamente (sobretudo nos países de base protestante / anglo-saxónicos). Outros, como no nosso país,  têm mais dificuldade em fazê-lo, o que se compreende, já que o «anti-maçonismo» ainda continua bem vigente, graças sobretudo à  igreja católica, que desde a Inquisição, até ao seu passado recente de suporte doutrinal à ditadura,  tem feito da Maçonaria (ou do dito complot «maçónico-judaico-comunista») o principal inimigo.  Como inimigos do livre pensamento, temos também a maior parte dos «media», situação característica dos países do sul da Europa,  onde existiram regimes repressivos por longos anos e a mentalidade católica é, ainda, largamente dominante.  Trata-se sempre de uma decisão pessoal, que deve ser tomada com cuidado, medindo todas as implicações (familiares, profissionais e no círculo pessoal mais chegado).

Contudo convêm desde já clarificar e alertar que a condição de Maçom, só confere ao próprio uma quantidade de Deveres: o primeiro dos quais é trabalhar o seu eu interior, sem cessar,  para  renascer de novo (como lhe é proposto na Iniciação), levando-o a corrigir-se, de forma a construir o seu próprio edifício, para o que convêm que a «pedra» utilizada esteja o mais rectangular e polida possível.

Daqui resulta óbviamente que  o nosso  comportamento deva ser irrepreensível, preocupado com a ética, a dignidade humana, a Liberdade de espírito, a Fraternidade e a autonomia individual.

Por outro lado também não podemos ignorar  («vemos, ouvimos e lemos..») que um certo número de «Maçons», escolheram a entrada na A:.O:. com a intenção de acelerar a sua carreira (partidária, profissional, obtenção de rede de conhecimentos, influências,   negócios, etc…).

Esta é claramente a aproximação «carreirista» que infelizmente polui, em certos casos, a nossa Organização. Contudo temos de ter em linha de conta que a Maçonaria é estruturalmente uma «Rede» (aqui, sem sentido pejorativo), isto é um meio que coloca em contacto pessoas que  partilham valores  semelhantes, com perspectivas e opiniões diferentes,  podendo eventualmente uma pequena parte delas,  utilizá-la para fins opostos ao que deviam, sem que nos apercebamos imediatamente, quer na Loja, quer fora dela. Estes casos virão a público, mais cedo ou tarde,  e essas redes «pessoais» de promoção,  na maior parte dos  casos vêm a ser descobertas e os seus organizadores conhecidos e expulsos, o que talvez devesse (com os devidos cuidados)  ser de imediato divulgado por toda  a organização,  constituindo  alerta e  prevenindo ou evitando futuras  «reincidências».

No fundo trata-se de verificar se existem boas ou más «redes», sendo que a que propõe a nossa causa é a que é fundamentada e suportada sobre a Solidariedade e a Fraternidade, excluindo algumas perversões,  baseadas essencialmente no  «proveito», e que na generalidade são minoritárias. Por exemplo, se existir uma comissão, ou responsável pela Solidariedade que, por região, ou a nível nacional (como existe actualmente no GOL),  indique aos Irmãos e Irmãs que se encontrem em situação de desemprego ou em situação económica difícil,  ofertas de emprego, para que algum deles  possa concorrer, é por certo um objectivo partilhado e apoiado por todos. Precisamente o oposto às redes de «carreirismo», cujo único objectivo é de suporte à função de acelerador de carreiras profissionais ou políticas, ou até mesmo de aumentar os proveitos de determinado conjunto de pessoas e/ou empresas….

Outro ponto normalmente muito discutido, sobretudo na Sociedade e nos «media», é  o  referente à eventual (ou real)  influência política,  atribuída por muitas pessoas,  à Maçonaria. Podemos considerar que é um ponto importante e que ainda não estará completamente clarificado. Corresponde,  sobretudo em vários países mais ao  Sul da Europa, essencialmente a casos em que se registaram, ao longo da história,  situações de forte perseguição por parte da Inquisição,  e mais recentemente, a repressões periódicas, ou a regimes fascistas / ditatoriais  (Itália, Espanha e Portugal) ou  de implementação de Revoluções, involução para Império e depois implantação da República, como é o caso da França. Neste último caso, citando de novo R. Dachez [8], “até é usual dizer-se que durante a III República, as Lojas podiam ser encaradas como  a «República a coberto»”. Todavia todos estes países têm uma matriz comum, são latinos e de maioria católica….e não nos podemos esquecer que a Maçonaria é uma «invenção» protestante….

Actualmente, mesmo nestes países (onde, como afirmámos, a Maçonaria se desenvolveu), a influência política tem decaído. Mesmo na fase  aúrea da Maçonaria,  nos países anglo-saxónicos (a seguir à 2ª Guerra Mundial), curiosamente esta questão não se colocou com a mesma dimensão,  apesar das muitas saídas ocorridas nos últimos anos ( elevada média etária das Lojas) apesar de representarem ainda, quase cerca de 90 % da Maçonaria a nível mundial.

Também acontece ser frequentemente questionada a  forma como as diversas Lojas  (e portanto os respectivos Maçons) encaram a Simbologia e a Ritualística. Sendo em Portugal  os Ritos mais praticados -  o Rito Escocês Antigo e Aceito (R.E.A.A.) e o Rito Francês ou Moderno (R.F.), apresentam óbviamente diferenças ritualísticas entre eles, mais acentuadas a partir dos «graus complementares» (normalmente apelidados de «Altos Graus», que no R.E.A.A. são 30 e no Francês 5. Podemos desde já concluir,  que existe por parte deste último, uma lógica mais «racionalista». Tal lógica está directamente relacionada com a Revolução Francesa e suas consequências, sobretudo  a implantação da República. Esta representou o auge da corrente «positivista», aliada às graves turbulências sociais registadas  por toda  França durante essa época, e ainda mais fortemente  na região de Paris.

Historicamente,  não podemos esquecer  que,  a eliminação da imposição do «Grande Arquitecto do Universo (G.A.D.U.)», conseguida pelo  pastor Fréderic Desmons (G.M. em exercício), na sessão do Convénio do GOdF de 13 de Setembro de 1877, lhe  valeu, de seguida, o corte de relações por parte da Grande Loja Unida de Inglaterra (G.L.U.I.). Na  votação de 13.Set.1877, conseguiu  Desmons fazer aprovar, por larga maioria, o princípio do "agnosticismo" da Obediência,  uma premissa que iria suprimir do artigo 1º da Constituição do GOdF a afirmação (descrita mais tarde como dogmática), de "que a Maçonaria tinha por base a existência de Deus e a imortalidade da alma". O Convénio acrescentou ainda que a instituição "não exclui ninguém pelas suas crenças", reservas que não deviam, segundo ele,  impedir que as obediências Anglo-Saxónicas rompessem com o GOdF (vãs esperanças, como se viu….).

Actualmente,  proliferam por todo o planeta conflitos, terrorismo (ex. Médio Oriente, África), guerras (vidé a invasão da Ucrânia pela Rússia) e crimes e confrontos violentos de índole religiosa,  a pobreza extrema, a desigualdade e a miséria aumentam aceleradamente. Continua a crescer desmesuradamente a nível global,  sem qualquer  controlo democrático, um enorme poder financeiro  (resultante da globalização). Podemos  ser facilmente  levados a concluir que, nos casos referidos,  a  Maçonaria falhou as  suas ambições de mudar o homem, ao mesmo tempo que  tentava fazer evoluir as sociedades,  para que pelo menos, passasse a existir  maior Liberdade,  Humanismo e Fraternidade.

Estes  são pontos críticos, em nossa modesta opinião,  que deverão ser analisados com o cuidado e a cautela requeridos, uma vez que  a «nova» Maçonaria,  nascida há cerca de trezentos anos (enquanto tal), tendo origem europeia, estendeu-se posteriormente pelo Novo Mundo e só posteriormente pela América do Sul, mais tarde  pela África do Sul e sobretudo aos orientes indianos, graças essencialmente à influência inglesa (matriz anglo-saxónica).

Por outro lado, se atendermos a que as principais religiões monoteístas, hinduístas ou budistas não conseguiram a expansão atrás referida, pelo menos com  vinte séculos de avanço, porque o conseguiria a Maçonaria em três séculos, com muito menos adeptos, e perseguida por todos os regimes dogmáticos e totalitários? No entanto há que afirmar sem rodeios que,  apesar de todos os cataclismos, revoluções, ditaduras e despotismos que ocorreram ao longo da Europa,  no curto período de existência da Maçonaria (afinal o que são trezentos anos na história da Humanidade…), a mensagem de tolerância, da concórdia universal, da fraternidade, sobreviveu….

Como também salienta Roger Dachez [8]: “A Maçonaria não tem por objectivo dirigir os Estados nem conduzir os seus povos, mas sim iluminar as consciências dos Maçons e abrir os seus corações aos outros homens. O Seu único mistério é o da Palavra transmitida nos seus Templos, e a sua única arma a do ensino simbólico dos seus adeptos, através dos Rituais. Nunca cessou, ou quase, de  completar esta missão. É tudo o que podemos exigir dela”.

O Simbolismo e os Rituais são o fundamento essencial da Maçonaria, sem a qual ficaria quase equivalente a uma sociedade de pensamento, um clube filosófico, uma associação de amigos ou, no mínimo, a um vulgar clube de pessoas bem intencionadas. Contudo sendo um pouco de todos eles, segundo as épocas,  é o facto de ser uma Ordem Iniciática que torna a sua natureza específica e profunda. A frequência das Lojas, dos Ritos e dos Graus, representa sempre para os Maçons que sabem observar e comportar-se conscientemente,  uma ocasião para aprofundar algum conhecimento. Essa é a razão essencial para que por mais formação que tenha ou melhor preparado se julgue, quanto mais aprende e estuda,  mais o Maçom conclui o muito que ainda desconhece e que precisa de aprender. É esse o motivo porque afirmamos  que não passamos de eternos Aprendizes (mesmo os mais antigos, sábios e experientes).

Deste modo vale a pena entrar num mundo novo: o da imaginação criativa, lugar de meditações e de elementos reveladores que, afluindo ao mais profundo do nosso psiquismo, contribuem fortemente para modificar o nosso olhar sobre o mundo. E voltando a Roger Dachez [8]: “Porque o esoterismo, bem longe do ocultismo de pacotilha e do orientalismo de bazar, não é outra coisa: um olhar diferente sobre o mundo, concebido como uma rede de correspondência a «descriptar», um todo vivo que dialoga connosco, onde as imagens e os símbolos revelam analogias subtis e frutuosas, que nos levam a transformarmo-nos a nós próprios”…… “Kant ensinou-nos, há muito, que não temos de escolher entre simbolismo e realidade, mas sim  aproveitar o método simbólico como um instrumento de elucidação do mundo, que é oferecido ao nosso conhecimento e que, portanto, nos opõe irremediavelmente o seu enigma”.

Relativamente a este assunto, também  D. Bèresniak [9], afirma: “O Esoterismo é um sincretismo aberto, quer dizer, não escolhe entre o preto e o branco, apenas descobre o conjunto invisível que contém as contradições que são atributos da aparência. O Exoterismo (pode ler-se dogmatismo) escolhe entre o preto e o branco, construindo uma doutrina para decidir a escolha.” E ainda: 
A reflexão sobre os símbolos é o trabalho mais importante que se efectua na Franco-Maçonaria não esquecendo que a leitura e a escrita são formas superficiais de uma conversação.”……. 
Os trabalhos simbólicos tornam-se vãos se repousarem sobre uma compilação livresca ou se um programa da Loja impuser tal regra. Para se ter proveito do ensino iniciático é necessário trabalhar muito, para lá das imposições”.

A Maçonaria não representa verdadeiramente uma realidade intangível, já que todos os maçons, de todos os tempos e de todos os países não a conceberam sempre do mesmo modo. É um fenómeno cultural que sofreu, ao longo da sua já relativamente longa história, múltiplas inflexões. É indiscutivelmente  a dimensão iniciática (tal como Sócrates afirmava) «conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses»,  a primeira na instituição maçónica, daí resultando a progressiva revelação de si mesmo e portanto dos mistérios do mundo. Os Rituais autênticos (sejam quais forem)  que praticamos,  não deixam de afirmar outra coisa  que não seja esta

É evidente que frequentes vezes ouvimos, em Loja (ou fora dela), maçons  afirmar que  «a maçonaria nunca me desiludiu, mas alguns maçons sim». Não podemos esquecer que a Maçonaria é composta e homens e mulheres,  e se olharmos para o estado em que estão o Mundo e os Seres Humanos, apesar de algumas más escolhas que sempre conseguem penetrar nos Templos,  podemos afirmar seguramente que, se comparada com o estado geral da Humanidade e atendendo ao facto de que os Maçons não serem anjos ou querubins o panorama , mesmo assim, ainda nos é fortemente favorável, neste aspecto.

Permitam-me que volte  a citar D. Béresniak [9], que é elucidativo, quanto a este assunto: “Os homens, mesmo os de boa vontade, mesmo desejosos de aprenderem e se aperfeiçoarem, mesmo bons e generosos, não se tornam Iniciados pelo simples facto de usarem um avental sumptuosamente ornado. É que, no fundo, mantêm os seus preconceitos e as suas estruturas mentais modeladas pelo meio em que se inserem”. ……
“Os que adoram honrarias reduzem a maçonaria a querelas mundanas, ou seja, os profanos com avental vão a uma Loja como a um clube encontrando amigos e uma atmosfera particular, por vezes, enriquecedora. Projectam na Loja os seus fantasmas, obsessões e desejos,  mas sem se interrogarem sobre Si-mesmos,  levando a projectarem as suas frustrações sociais nos diversos graus.”

Desde a sua origem a Maçonaria e sobretudo a Sociedade evoluíram. Não nos podemos esquecer, que no início e naquela época da Escócia, Inglaterra e Irlanda,  as Lojas maçónicas eram o único espaço de liberdade onde se podiam exprimir  e discutir ideias diferentes. Actualmente pode-se fazer o mesmo em quase todo o lado, excepto nos países e sociedades ditatoriais ou dogmáticas, sobretudo através das omnipresentes e poderosas Redes Sociais. Face ao que acabámos de afirmar, como justificar a  existência da Maçonaria em pleno Século XXI, numa sociedade aberta (até ver….) como a nossa?

Por exemplo em países como a França, nos últimos dois a três decénios (contrariamente aos anglo-saxónicos, como já referido) a Augusta Ordem não tem parado de crescer, assim como o aparecimento de novas obediências. Após intensas e acesas discussões, o GOdF abriu finalmente as suas portas às mulheres, o que originou naturalmente muita interpelação e algumas dissenções, mas contribuiu  igualmente para um acréscimo de efectivos, de ambos os sexos. Acreditamos firmemente que a abertura progressiva à sociedade e ao Mundo (ao contrário da estagnação dos ingleses), tem contribuído para que a Maçonaria «anti-dogmática e liberal», tenha vindo a aumentar regularmente os seus efectivos  e a renovar-se, embora não consiga ainda compensar as saídas registadas nas áreas de influência britânica e americana.

Aparentemente, a actual  agitada vida social e empresarial, a evolução tecnológica  aliada à  perigosa crise ambiental, as crises financeiras, tudo consequência da ambição desmedida do homem, aliada e potenciada pelas omnipresença das redes sociais, actuando como veículo de transmissão permanente e universal  das pessoas e organizações, geraram incertezas cada vez mais adensadas quanto ao futuro. Contrariamente ao previsto, parece estarem a ser favoráveis ao escape via a auto-análise, à melhoria do progresso individual, à discussão e aprofundamento da simbologia que, em Loja,  os Ritos proporcionam.  Esta constitui-se no refúgio seguro para aqueles que, apesar dos problemas diários, não se deixam embalar pelos dogmas ou pela propaganda maioritariamente vigente,  e apostam no seu desenvolvimento individualde forma a protegerem-se duma sociedade que tudo tritura a um ritmo alucinante e a cuja resultante muito pouco conseguimos ainda antecipar (a par das trágicas consequências climáticas, económicas, financeiras e  industriais que já sentimos hoje, e de que maneira…).

Face a tudo isto, a actualidade tem evidenciado tragicamente a necessidade de voltar às referências culturais e filosóficas sobre as quais repousa o corpo simbólico e ritualístisco da Maçonaria, que remontam às fontes da tradição judaico-cristã,  objecto duma ignorância e duma incultura geral, cujo descrédito se tem agravado com as gerações mais recentes. Num país de base católica secularizada, como o nosso, esta mudança representa (embora em  menor escala do que em França) um  facto importante, que permite antever uma Maçonaria novamente confiante e plenamente consciente das suas potencialidades e capacidades. Compete-nos  persistir em trabalhar nesse sentido para alcançar  o sucesso requerido.

Por outro lado, a crescente aquisição de conhecimento por parte da antropologia cultural,  evidenciou a presença impressionante de um esquema iniciático em quase todas as sociedades ancestrais, constituindo talvez um dos invariantes mais marcantes da condição humana. Talvez seja esse o motivo pelo qual  crescentemente, embora em escala não muito ampla, se tenha verificado a necessidade das pessoas saírem da alienação e incultura do presente, para procurarem a verdadeira razão de ser da sua existência e de si próprias. Compreendem assim o muito que poderão fazer para contrariar as alienações que os meios de comunicação e as Redes Sociais, controladas por gigantescos impérios técnico-financeiros nos impingem diariamente, na tentativa de nos «automatizar», ou melhor, uniformizar a ignorância, os preconceitos, o «pensamento vazio» e os vícios, para aceitar tácitamente tudo o que nos pretendem impor. Este constitui provávelmente um dos combates actuais mais prementes da Maçonaria, já que com o previsto crescendo da Inteligência Artificial (IA), não é de esperar que a situação evolua para melhor,  se não estivermos atentos e vigilantes.

Chegamos pois à conclusão, como volta a salientar Roger Dachez [8]:  “que a iniciação esteve presente e apostou em  todas as etapas da civilização. Porque razão o nosso mundo «pós-moderno» seria dela desprovido? Porque razão não encontrará ela o seu lugar para responder aos questionamentos, eles também intemporais?”. É preciso resolutamente abandonar o hábito do divino que reveste, quase sempre, mais ou menos conscientemente, quem pretenda encontrar no presente uma pré-figuração do futuro. Reservamo-nos também de tomar como realidade prováveis os nossos desejos, tal como as nossas angústias. Resta então o eterno enigma da vida humana e da irreprimível interrogação sobre as suas origens, o sentido e o fim das coisas que, um dia ou outro, quase invariávelmente se apodera de todo ser humano. Os esforços combinados, quer solidários, quer contrários, da filosofia e da espiritualidade não podiam esgotar o segredo, em algumas dezenas de séculos de pensamento humano decifrável”.

A Maçonaria propaga que é necessário espalhar fora do Templo as verdades nele adquiridas. Este é também um outro dever fundamental  em que temos de persistir e continuar (ou até mesmo reforçar) o cumprimento  no Séc. XXI, sob pena da Sociedade e do País  não nos levarem a sério (ou pior do que isso, pouco ou nada se aperceberem da nossa existência...).

Para nós, e no essencial, a principal verdade adquirida é precisamente a de que não existe uma verdade absoluta. Como a dúvida é essencial, é preciso saber recuperar, confrontando as ideias próprias com as dos outros, pois para cada um a sua verdade. Como refere Cécile Révauger :“Todo o maçom deve saber fazer prova dum espírito crítico e autocrítico, e constantemente colocar o seu trabalho de volta ao trabalho, como costumamos dizer” [8].

Outro ponto que os Maçons distinguem inequivocamente é o de que  a preferência religiosa (ou não) pertence estritamente à esfera pessoal e privada. Todo o cidadão tem o direito de crer (ou não) e que tal não é um problema de Estado, pelo que  defesa da Laicidade tem de ser um dos deveres comuns que se nos impõe colocar sempre em prática. Independentemente da maioria religiosa que se constitui em cada nação,  – a separação da Igreja e do Estado – foi uma das maiores vitórias da 1ª República tendo, obviamente, uma inequívoca reposição no 25 de Abril, após os 48 anos de suporte do retrógrado catolicismo nacional à ditadura salazarenta.

Frequentemente, quer por desconhecimento, quer propositadamente,  a Maçonaria é acusada de ser uma Sociedade Secreta. Nós habituámo-nos a  afirmar, para quem quer realmente ouvir, que somos uma sociedade discreta, mas  não secreta,. Por esse facto  qualquer comparação a outras sociedades realmente «secretas» como a «Opus Dei» (além do mais dogmática, altamente reacionária, secreta e com um histórico amplamente comprovado de apoio militante a ditaduras – Franco,  Argentina, Pinochet - Chile/Salvador Allende, etc, etc,) representa para nós uma ofensa, que só pode ser fruto de desinformação,  desconhecimento ou de propósitos ínvios.

Não podemos esquecer que os maçons foram as vítimas eleitas de todos os regimes autoritários / ditatoriais (Inquisição, fascismo e comunismo),  daí que nesses países, como Portugal, ainda se justifiquem algumas reservas a uma  actuação mais aberta, o que por exemplo não acontece na Inglaterra e nos Estados Unidos. Segundo  recorda D. Bèresniak [9], (cito de cor): “O Maçom tem a capacidade, pela sua formação, de decompor e desestruturar todos os veículos da propaganda ditatorial e isso históricamente tem levado que se torne insuportável a esses regimes”, do mesmo modo que a todas as seitas e  todas as igrejas que têm um percurso e um  discurso fanático. Quanto ao secreto, cremos que não deve ser tolerado, porque pode preservar determinado número de pessoas de qualquer inquérito, venha ele donde vier.

Mais em França do que por cá, os Maçons são acusados de fomentarem a existência de demasiadas Obediências, umas de cariz mais  «racionalista» e outras mais «espiritualista» ou até de outras que se interessam mais pelo estudo do símbolos, dos mitos e dos Ritos.  A diversidade das Obediências (nomeadamente em França) e em menor escala também já no nosso país, pode ser abstracta e globalmente considerada como mais uma «riqueza», do que o contrário.

Qual a razão de propor unicamente um só modelo de Maçonaria para todos os cidadãos, como nos países anglo-saxões, que só reconhecem uma Obediência por país, a que consideram como «regular», desde que obedeça aos seus pré-requisitos e condicionantes prévios. Contudo a noção de "regularidade" é muito subjectiva, como já tivemos oportunidade de evidenciar em diversos traçados. Esta imposição serviu essencialmente de suporte à expansão do imperialismo inglês,  que aproveitou para ir formando e enquadrando os quadros coloniais de que precisava, antecipando o futuro….

Curiosamente e contráriamente a todos os nossos princípios, na pretensa àrea da «regularidade» maçónina, existe ainda o caso específico dos Americanos, que têm uma  Obediência Maçónica sómente constituída por negros (“Prince Hall”),  que durante quase toda a existência não foi reconhecida pelas obediências Estaduais Americanas (e ainda não o é actualmente por parte dalgumas, sobretudo dos estados sulistas), mas que tem uma Carta Patente emitida pela G.L.U.I (Grande Loja Unida de Inglaterra)… .
O essencial é que cada Obediência tenha uma identidade própria forjada ao longo do tempo (como é o caso do GOL), sendo que umas são mais viradas para uma abertura ao mundo e à sociedade, outras balanceiam entre o indíviduo e Sociedade,  outras mais ao indíviduo e outras a um percurso mais intimista. O essencial é que se respeitem e que mantenham, entre outros, o princípio da laicidade e do respeito pela Liberdade, pelos direitos humanos e sociais, dentro do espírito Fraterno que deve unir todos os maçons, de todas as Obediências, de  todos os Países, de todas as Raças e de todo o Mundo, do passado até ao presente, ou não fosse esse o objectivo essencial da Cadeia de União, com que simbólica e fraternalmente concluímos as nossas Sessões...



Salvador  Allende  M:.M:.

(Julho de 2019 (e:.v:.) - actualizado e revisto em Maio.2025 (e:.v:.))

R:.L:. Salvador Allende - G:.O:.L:. (Lisboa, Portugal)


Bibliografia
1) - Castells , Manuel - «A Sociedade em Rede» - Publicações Gulbenkian
2) - Castells , Manuel - «A Galáxia Internet – Reflexões sobre a Internet, Negócios e Sociedade» – Publicações Gulbenkian 
3) – Benamou, Georges-marc  - «La Franc-Maçonnerie est-Elle Internet Compatible?» 
4) – Spoladore, Hercule – “Avanços Tecnológicos e o Futuro da Maçonaria“ – Revista digital “ACML News” nr. 03 – Florianópolis (SC), 20.Ago.20175
5) -  Bauer, Alain - «Le Crépuscule des Fréres» - Éditions «Presses Univertaires»
6) – Revista “Cultura Masònica” Nº 10 -. Editorial Masónica
7) – Bonaglia, Frderico e Goldstein, A. - “Globalização e Desenvolvimento” – Editorial Presença (Jan.2006)
8) – Vebret, Joseph – “Causeries Maçonniques” – Éditions Dervy, Paris, 2018
9) - Berésniak, Daniel -“L' Aprentissage maçonnique une École de L'Éveil” – Editions Détrad, Paris 

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