Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

11 de abril de 2025

O Homem, o Maçom e a Maçonaria

 



O Homem, o Maçom e a Maçonaria


Autor: Hércule Spoladore 


Com a devida vénia e autorização do Blog «Comp&Esq» («Compasso e Esquadro»), com quem temos uma parceria activa e fraterna, tomamos a liberdade de publicar este interessante trabalho, para apreciação dos IIrs da NRL:. e dos nossos leitores


O Homem é um ser complexo, estranho e imperfeito. Às vezes se julga senhor do mundo e às vezes em depressão, ou quando algo na sua vida não está bem se sente muito pequeno inútil e destruído. Nos seus momentos de fantasia, aspira ser Deus, sendo que jamais poderá vir a sê-lo.

Quer ser imortal, pois não admite a morte, mas nunca se lembra que se perpetua através dos seus genes nos seus descendentes.

É um ser gregário, aliás, condição vital para sobreviver. Desde os tempos das cavernas ele aprendeu a viver em grupo. É curioso. Pergunta muito, muito embora não tenha respostas para causas maiores da sua existência. Isto traz-lhe um conflito existencial muito grande. Quer conhecer a todo custo o que se passou com as civilizações anteriores e quer entrar em contacto com seres inteligentes do Universo.

Explora o Cosmo como um todo e em particularidades, explora a própria Terra, em busca das suas raízes, das suas origens, sem tê-las conseguido até a presente data. Desconhece a razão da vida e da morte, e temeroso diante das forças telúricas e universais passou a respeitar venerar e até idolatrar o criador invisível de tudo. Ai reside o princípio religioso da maioria dos Homens, mais pelo temor da grandiosidade que o cerca, que pela sua inteligência, a qual é limitada.

É um ser vicissitudinário. Na sua mente existem milhões de fantasmas de ideias, de sonhos, de tal forma que ele muda sempre, para uma evolução maior ou menor, mas amanhã nunca será o mesmo de hoje. Nunca será o mesmo em todas as épocas da sua vida, embora mantenha as suas características de personalidade. Nos últimos séculos e especialmente no último, sofreu todas as influências possíveis e imagináveis quer pela evolução do próprio pensamento humano quer pelos verdadeiros saltos científicos dados pelas invenções e pelas tecnologias modernas. O meio intelectual e moral foi mergulhado e envolvido por estas descobertas. No último século o desenvolvimento científico da Humanidade foi maior que em toda a história da actual civilização e civilizações anteriores. As descobertas científicas aconteceram e acontecem sem qualquer antevisão do futuro

As suas consequências não previsíveis dão forma para a nossa actual civilização. Quer dizer, não há uma programação objectiva e directa direccionada a um ponto futuro para conduzir a Humanidade. A ciência empurra o homem. Às vezes ele não sabe aonde irá parar. Os cientistas não sabem para onde estão indo e nem aonde querem chegar. São guiados pelas suas descobertas, às vezes imprevistas e, grande parte por acaso. Cada um destes cientistas representa o seu próprio pensamento estabelece as suas próprias directrizes para si e para a sociedade Por analogia, o mesmo caso acontece com a Internet. Não sabemos o que irá acontecer. Teremos que “pagar” para ver.

O Homem estuda desesperadamente as leis da natureza, estas, deveriam só ter valor quando chegassem até ele directamente, não filtradas pelo véu intelectual repleto de costumes incorrectos e tendenciosos, chegando assim a sua mente sem preconceitos, consumismos, conformismos e distorções. Aí ocorrem os sofismas, especialmente dirigidos por interesses financeiros manipulados por grupos multinacionais.

O comportamento humano em função destes factores muda verticalmente de tempos em tempos, ao sabor de uma mídia controlada por estes grupos, que explora as invenções da maneira que mais lucro lhes dá, dando uma direcção equivocada à Humanidade em muitos sectores. E esta praga ataca o Homem na política, na religião, no comércio e em todos os segmentos da vida, e ainda no que é mais complexo, no seu relacionamento.

O Homem é um ser emocional, agressivo, intuitivo e faz pouco uso da razão para resolver os seus problemas. Age mais pela emoção.

Konrad Lorenz, prémio Nobel de 1973, zoologista austríaco admite que a agressividade do Homem seja uma herança genética do seu passado animal e que o Homem não seria fruto do meio em que vive. As guerras para ele serão inevitáveis por maiores que sejam as conquistas sociais e científicas da Humanidade. Apesar de ter sido combatido pela maioria dos psicólogos do mundo inteiro, ele parece ter razão. As guerras continuam existindo e a forma de destruição do próprio Homem cada vez mais sofisticada. A invenção mais moderna de autodestruição chama-se terrorismo.

Os Homens para se organizarem criaram regras disciplinares e entre elas a Ética e a Moral, que tanto se escreve a respeito e há autores que as consideram a mesma coisa. Anatole France no seu livro “Os deuses têm sede”, cita que o que chamamos de Moral não passa “de um empreendimento desesperado dos nossos semelhantes contra a ordem universal, que é a luta, a carnificina e jogo cego dos contra.

A Moral varia na cronicidade das épocas, pois o que serviu para os nossos pais, não serve para os nossos filhos” (Mazie Ebner Eschenbach)

A Moral seria, pois, para entendermos melhor, o estudo dos costumes da época e a Ética, a ciência que regula as regras pertinentes.

Os Homens ditos civilizados costumam afirmar que a Ética é um princípio sem fim. Mas o mesmo Homem que é um ser competitivo, agressivo, emocional e que seria capaz de destruir a si e ao mundo em determinadas situações, ele também é em outros momentos bom, caridoso, compreensivo, leal, capaz de gestos de desprendimento em favor dos seus semelhantes.

Dentro desta dualidade procura-se ainda que de forma muito superficial, traçar uma pálida silhueta do Homem, já que é impossível descrevê-lo profundamente como um todo. Todo Maçom é um Homem, pelo menos no sentido genérico e, como tal não escapa as especificações boas ou más citadas na descrição deste perfil traçado.

A Maçonaria traz a esperança de mudar os Iniciados para melhor. Isto até chega a acontecer verdadeiramente para poucos, e estes entenderão que a Ordem é antes de tudo uma tentativa de levar os adeptos ao seu autoconhecimento e ao estudo das causas maiores da vida e que também a sua função no mundo actual será político-social. Entenderão que a Maçonaria é para eles uma forma de evolução ética, moral e espiritual.

Outro grupo de Maçons vive nesta ilusão, mas não vai de encontro a elaÉ medíocre e conformado, aceita tudo, mas sabe muito bem a diferença. Apenas por uma questão de não duvidar, aceitar as coisas erradas passivamente, e por preguiça mental letárgica não luta e espera que as coisas aconteçam. Porem, a maior parte dos Maçons jamais entenderá o desiderato verdadeiro da Ordem. Jamais entenderá esta meta, mas acreditará equivocadamente de que a está conseguindo.

A maioria dos Maçons não lê, não estudam, criticam os que querem produzir algo de bom, querem saber quem será o próximo venerável, e querem que a sessão termine logo, para “demolirem os materiais” e sorverem o precioso líquido que traz eflúvios etílicos, das “pólvoras amarela e vermelha”, nos “fundões” das lojas, onde excelentes Irmãos cozinheiros preparam iguarias divinas. Até nem podemos condená-los, já que são Homens e como tal não são perfeitos.

Os Maçons de um modo geral trazem para dentro das Lojas, todas as transformações e influências que existem no mundo profano, e sem se aperceberem tentam impor as suas verdades como se fossem as verdades ditadas pela Ordem.

Está havendo um grande equívoco na Maçonaria actual, pois esta, tem nos seus princípios valores antigos tradicionais aparentemente conservados através dos rituais, costumes escritos, constituições etc., que muitos Maçons têm a pretensão de está-los seguindo, sem que isto seja verdade.

O que acontece em realidade é que a maioria destes valores acaba sendo letras mortas, pois o Maçom na sua condição de Homem que recebe todas as influências citadas do mundo profano, especialmente no terreno das comunicações, informações e do moderno relacionamento humano, traz para o seio da Maçonaria, tudo o que ele está sofrendo e se envolvendo fora das lojas, tais como a competitividade desleal, o consumismo exagerado, a agressividade incontida, a ganância pelo poder, a vaidade auto-idólatras, enfim uma série de situações que ele mais cedo ou mais tarde, quando fizer uma análise de consciência, se o fizer, pois a maioria nem isso faz, ele verá que não foi bem isso que ele pretendia da Ordem. Então vem a desilusão total, uma das causas de esvaziamento das nossas lojas

Fala-se em tradição na Maçonaria, mas em realidade esta foi-se distorcendo aos poucos, pois os tempos são outros e tudo muda, e as mudanças ocorrem sem se apercebê-las, pois muito embora aparentemente ligado ao passado, o Maçom vive o tumultuado mundo presente.  A Maçonaria a exemplo da nossa civilização actual foi, organizada sem o conhecimento da verdadeira natureza do Maçom. Embora feita só para Maçons não esteja ajustada ao real espaço que ela deveria ocupar.

O modernismo, como não podia deixar de ser também chegou à Ordem. Hoje, em muitas lojas não se usam mais as velas e sim lâmpadas eléctricas. Os rituais foram acrescidos de práticas que não existiam na Maçonaria primitiva. Os templos tornaram-se sumptuosos, e, ricas colunas os adornam. Acabou-se a simplicidade de outrora. Apareceram cerimónias enxertadas, inventadas, rebuscadas.

Constroem templos para todos os lados. Um templo às vezes fica ocioso por vários dias da semana, onde poderia ter uma loja funcionando a cada dia e os demais templos construídos com muito sacrifício de alguns, poderiam ser uma escola, um lar de velhinhos, ou qualquer outra modalidade de prestação de serviços enfim, uma obra que depois de construída seria doada a sociedade.

As pendengas políticas entre os lideres da Ordem, chegam a tal rivalidade que com frequência são levadas às barras dos tribunais na Justiça comum.

A ganância pelo poder é um fenómeno bastante frequente na mente de alguns Maçons. Um simples cargo de venerável, às vezes é disputado de forma bastante ignóbil, não maçónica, pelos oponentes. Imaginem então, o que ocorre quando de trata de eleição para o cargo de Grão-Mestre.

Não se concebe e não se justifica que este poder temporal maçónico que em realidade não significa coisa alguma em matéria do Conhecimento que a Ordem pode proporcionar, cause tanta cobiça, tantas situações anti-maçónicas, as quais observamos com frequência, sendo que a maioria dos Maçons fingem que não as estão vendo.

Sábio foi um juiz profano que não acatou uma acção de um líder maçónico contra outro, alegando que os problemas de Maçons fossem resolvidos dentro da própria Maçonaria já que a Justiça tinha coisas mais importantes a tratar. A Maçonaria foi exposta nesta situação, ao ridículo.

Como é triste, como é doloroso, como doe no fundo da alma quando um Irmão se torna falso, difama, conspira e tenta destruir outro. Às vezes o seu próprio Padrinho é o atingido ou um Irmão que tanto lhe queria. E isto sempre ocorre não pela Dialéctica que é adoptada pela Maçonaria que é a arte de poder se expressar e alguém contrariar ou contraditar uma opinião para se chegar a uma verdade, mas tão somente por inveja doentia ou vaidade.

Porem existe o reverso desta análise. Não podemos afirmar que o Maçom como o Homem em si seja totalmente mau. Ele é dual. Foi criado assim. Ele tem o seu lado mau, mas luta desesperadamente para ser bom, sendo que maioria das vezes não consegue. É a eterna luta do Homem. O ofendido altruísta costuma usar a qualidade cristã do perdão e ai volta a abraçar o Irmão que lhe ofendeu. E tudo acabam em fraternidade, às vezes sincera e às vezes falsa. “A mão que afaga é a mesma que apedreja”. (Augusto dos Anjos

Não podemos negar que nos causa tanta alegria, quando ficamos conhecendo um Irmão que nos é identificado como tal, onde quer que se esteja. Especialmente longe da cidade onde moramos. E comum este Irmão abrir o seu coração, a sua residência, a sua loja. Isto é realmente lindo na Ordem. É uma satisfação muito grande e uma realidade inconteste.

Outra situação boa que costuma acontecer na Ordem é a hospitalidade fraterna com que somos recebidos noutras lojas não importando a Obediência. Esta situação acontece nas lojas-base, não havendo mais actualmente a discriminação que havia outrora determinada pelos líderes das ditas Obediências. Foi um avanço social dentro da própria Ordem muito importante. Já não existem mais “primos”, agora somos irmãos de verdade, salvo algumas raras excepções.

O dualismo no Maçom continuará, ele é genético, mas a Maçonaria espera que os seus adeptos desenvolvam somente o lado bom. A sua doutrina é toda voltada para esse fim. Então, não culpemos a Ordem, por distorções ou digressões, estas são inerentes ao Maçom, ao Homem imperfeito.

Entretanto, a Ordem deveria mudar o esquema das suas sessões imediatamente. Gastamos ¾ de uma sessão com problemas administrativos.

Aí está o grande mal. É aí que reside a nossa grande falha. Se houvesse uma sessão administrativa mensal, onde uma directoria capaz resolvesse todos os problemas rotineiros, e as demais sessões fossem abertas e fechadas ritualisticamente, mas a sua sequência fosse tão somente de trabalhos apresentados, debates, instruções, doutrinação, têm certeza de que mesmo aqueles Maçons que não lêem, não estudam, aprenderiam muito e tomariam gosto pela leitura, pois seriam despertos de um sono que talvez a própria maneira actual de ser da Ordem seja responsável.

Ainda no quesito “Directoria ou Comissão”, vivenciamos constantemente perda de um precioso tempo debatendo metodologias sobre eventos, campanhas, e outros assuntos pertinentes as actividades da Loja no mundo profano, ora, porque não constituir várias “Comissões ou Directorias”, para que as mesmas tenham autonomias na organização, promoção e decisões sobre o assunto na qual a ou as mesmas está (ao) imbuída (as)? Assim, com certeza desafogaria a sobrecarga sobre a administração da Loja, a qual poderia focar mais o seu tempo nos trabalhos ritualísticos com os IIr.:, delegando a eles independentemente de Grau a responsabilidade do mesmo pesquisar, elaborar e apresentar em loja trabalhos referentes assuntos maçónicos, de forma que, o mesmo estaria enriquecendo o seu conhecimento, assim teríamos uma dinâmica mais atraente, desnecessária a participação constante de “Profanos” realizando palestras em loja, o que já é percebido o descontentamento da maioria.

Temos acreditar no Homem, no Maçom, mesmo ele não sendo um ser perfeitoEle desde que devidamente preparado poderá ainda a vir a ser o esteio da Humanidade. Estamos no momento mal doutrinado. Temos que nos rever e modernizar, o futuro já é hoje. Vivemos num mundo de informações. Estas não podem ser sonegadas ou deixar de serem assimiladas. Já estamos ficando para trás em muitos segmentos da sociedade. Não aguentaremos por muito tempo o modelo anacrónico que estamos seguindo se não nos actualizarmos. Isto qualquer Maçom poderá deduzir, se reflectir um pouco sobre a Ordem.

Acreditamos que a Maçonaria redespertará, e que num futuro bem mais próximo do que imaginamos tudo mudará para melhor. Porque, apesar de todas as influências negativas ou não, ela conservou a sua essência iniciática. E este factor manterá a sua unidade simbólica e espiritual perene.

Hércule Spoladore 

– Loja de Pesquisas Maçónicas Brasil – Londrina – Pr


(selecionado do Blog «Freemason.pt» de 21/09/2024, por Salvador Allen:. M:.M:. / Blog «Comp&Esq» / Blog «R:.L:. Salvador Allende» - GOL:. , Lisboa)


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