Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

25 de abril de 2023

As Trevas Andam a Esvoaçar por aí


As Trevas Andam a Esvoaçar por aí

Existem vários graus no Areópago em que nos seus atributos nucleares está claramente assumido o combate à perfídia, ao fanatismo, à violência, a toda a injustiça, a toda a opressão e a toda a tirania, uma conduta guiada pelas causas justas, a procura da luz da verdade, consagrar a espada à causa da Liberdade, bem como reservar a sua inteligência à construção da humanidade.

Ora, os ventos que hoje sopram em muitos locais do Planeta estão carregados de ameaças à liberdade, às democracias e aos direitos sociais.

A extrema direita na Europa vem crescendo progressivamente, aumentando o seu peso eleitoral na generalidade dos países e tomando pela via democrática governos na Hungria, Polónia, Itália, Áustria, Lituânia e Suécia.

Para bloquear o caminho às forças totalitárias e agressivas, torna-se inadiável iniciar processos de resolução de muitos problemas sociais, como, por exemplo, a fome, o desemprego, a exclusão social, bem como um enérgico combate à corrupção e à falta de transparência das democracias.

São muitos destes problemas que alimentam essas forças extremistas e antidemocráticas que visam instaurar novas ditaduras.

Por outro lado, no plano concreto da maçonaria, temos de ser intransigentes com comportamentos de alguns indivíduos que estando formalmente no seio de algumas obediências, são activos propagandistas e militantes dessas forças totalitárias.

Se no caso do Grande Oriente Lusitano a sua história está intimamente entrelaçada com as lutas pela liberdade, pela democracia e pela emancipação social e humana, é indispensável termos bem presente que noutros países e noutras obediências a situação é dramaticamente muito diferente.

Nos Estados Unidos, certos sectores de maçons brancos, em particular nas zonas do Sul do país têm mantido uma tradição secular imbuída de uma cultura esclavagista, que chega ao ponto de recusarem a admissão de cidadãos negros e de se relacionarem com estruturas maçónicas de negros.

Em 1775, um americano de raça negra com o nome de Prince Hall, (1735/1807), metodista e divulgador religioso, foi iniciado em Boston na companhia de mais 14 homens livres de raça negra, numa loja de constituição irlandesa.

Prince Hall criou a primeira loja de negros da América, a Loja Africana nº 1, em 1775, e foi-lhe conferida a Patente nº 495 pela Grande Loja dos Modernos de Inglaterra, dada a recusa da Grande Loja de Massachusetts.

Um dos casos pessoais mais chocantes é o conhecido Albert Pike (1809/1891), general sulista, esclavagista, que chegou ao topo da organização criminosa Ku Klux Klan (KKK) com o cargo de “Grande Dragão”.

Em simultâneo, ocupou cargos de grande destaque na maçonaria americana e continua a ser considerado uma figura de referência na teorização de certas abordagens do pensamento maçónico daquela época.

Num livro com o título ” História e evolução da Franco Maçonaria “ escrito em 1954 por um maçon de nome Delmar D. Darrah, é feita menção a uma carta escrita por Pike onde ele afirmou que: “tomo as minhas obrigações dos homens brancos e não as dos negros. Quando eu for obrigado a escolher entre aceitar negros como irmãos ou deixar a Maçonaria, eu deixá-la-ei”.

 E continuou esta abordagem, afirmando que “continuo dedicado a preservar e a proteger o Rito Antigo e Aceite da crescente contaminação pela lepra das associações negras pelo menos no nosso país”.

Também é conhecida a sua iniciativa de fundar uma sociedade secreta chamada “Cavaleiros do Círculo de Ouro”, que mais tarde se transformou no KKK.

Além de Pike, outro oficial sulista, Bedford Forrest, também maçon, foi um dos primeiros Grandes Magos do KKK.

Outro maçon, ainda, W. J. Simons, dirigiu a reorganização do KKK após uma interdição legal na sequência das suas actividades criminosas.

Gutzon Burglum, o famoso escultor que esculpiu as figuras monumentais de 4 presidentes americanos (George Washington, Tomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln) em Stone Mountain, uma montanha situada junto a Atlanta, a capital do velho Sul. Borglum nasceu em 1867,em Idaho, de pais dinamarqueses, sendo o pai um mormon. Era maçon e membro do KKK. De Stone Mountain ao monte Rushmore, a sua obra é dirigida por temas que exaltam o nacionalismo heróico. Era um defensor das teorias do Sul antiabolicionista. Em 1923, Burglum é um dos 6 cavaleiros do “Concilium Imperial”, o conselho dos mais altos dignitários do KKK. Apesar de todas as evidências, Burglum tentou negar a sua ligação a essa organização. Toda a sua obra mostra que foi um escultor da supremacia do homem branco.

O linguista , maçon, Renaud Jiesurpéi, classificou esta relação de alguns elementos como a “face obscura da maçonaria americana”.

A Grande Loja do Chile teve um comportamento vergonhoso no colaboracionismo com Pinochet e com o seu golpe fascista sanguinário.

Em França existem diversos membros de obediências maçónicas que apoiam a Frente Nacional de Marine Le Pen.

No Brasil, uma importante percentagem de maçons apoiam o Bolsonaro.

E por cá existem apoiantes do Chega infiltrados.

As actuais gerações de maçons em diversos países do mundo, num contexto tão adverso como aquele que estamos confrontados, não podem carregar “fardos “tão pesados e ensanguentados como os que foram referidos a título de exemplo.

Há poucas semanas, a Câmara dos Comuns do Reino Unido aprovou o projecto de lei da ordem pública por 276 votos contra 231, onde atribui à polícia e aos tribunais amplos poderes para impedir protestos e estabelecer a possibilidade de monitorar manifestantes com uma pulseira electrónica ainda antes de serem julgados em tribunal.

Quando estamos confrontados com estas vultuosas ameaças, os maçons têm de se colocar na primeira linha de defesa da liberdade e da democracia, tal como aconteceu durante décadas do século passado em que a nossa obediência foi um dos esteios no combate à ditadura no nosso país.

E esta intervenção tem de começar já!

As nossas sessões devem assumir-se com verdadeiros santuários do livre pensamento, da liberdade de opinião e formadoras de uma activa consciência cívica e republicana.

Contra o pensamento único, importa desenvolver uma abordagem libertária e emancipadora dos cidadãos.

Viva a LIBERDADE

José Marti, M.'.M.'.

Resp.'. L.'. Salvador Allende a Or.'. Lisboa

                                                        


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