Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

6 de janeiro de 2022

A Tradição Pagã na Maçonaria

 


Com a devida vénia se transcreve do “ Informativo CHICO DA BOTICA” - Edição 079, seleccionado por “Jakim & Boaz”) este Artigo do Ir:. Alberto Henrique da Cruz Feliciano

A Tradição Pagã na Maçonaria

Os ensinamentos maçónicos trazem a herança dos primórdios da civilização, preservando a tradição longínqua da evolução do espírito humano. 

A maioria de nós, ao ingressar na Ordem, ao mesmo tempo que sente um profundo respeito e admiração pelos trabalhos Maçónicos, também fica surpresa e embaraçada pela forma como a Maçonaria apresenta os seus ensinamentos. A começar pela recepção do candidato à Iniciação, depois, nos próprios trabalhos no Templo Maçónico, tudo parece estar encerrado em pesados véus de simbologia a desvendar. O próprio Ritual traduz pormenores e alegorias que, para os menos atentos, não passam de palavras estranhas, a representar algo não muito definido para seu entendimento.

Vamos tecer alguns comentários que poderão ser úteis para o entendimento do sistema de trabalho ritualístico Maçónico. Como sabemos, a Maçonaria remonta a idades sem conta, e traz nos seus ensinamentos a herança dos primórdios da civilização humana. O homem primitivo vivia e convivia directamente com a Natureza, dela participava e dela sofria as adversidades das suas intempéries. Fácil é concluir-se que os seus sentimentos e pensamentos achavam-se directamente relacionados com os fenómenos da Natureza. 

Da Natureza dependia sua sobrevivência, quer fosse das plantações como das criações e, paulatinamente, percebeu quão importante seria poder conhecer os seus mistérios, pois poderia melhor aproveitar dos seus benefícios e evitar as suas adversidades. Assim, ao mesmo tempo que surgiram sentimentos de grande respeito e adoração aos Espíritos que comandavam a Natureza e aos elementos que influenciavam sua vida, surgiram também indagações e consequentemente observações dos fenómenos da Natureza.

Esforços foram despendidos para minimizar-se os efeitos adversos. Dentre os diversos elementos da Natureza que o rodeava, um sem dúvida alguma, era o maior responsável pelas mutações naturais: o Sol. 

O Sol marcava sensivelmente a sua vida, já por ser o responsável pelos ciclos dos dias e das noites, da luz e das trevas, mas também pelo ciclo das estações que afectavam as suas culturas de sobrevivência. Com isto, seria de grande valia e importância que o homem soubesse quando os cicios iriam ocorrer, para poder rogar aos Espíritos directores da Natureza, a proteção e a fartura das suas culturas nos ciclos que se descortinassem.


Do Arquétipo dos Sábios à Alegoria da Construção 

Diversos cultos surgiram em adoração ao Sol e dos seus ciclos, decorrentes da observação do levantar e do pôr do Sol, bem como de suas posições de apogeu diário. Surgiram monumentais construções astronómicas na antiguidade para melhor compreensão dos mistérios celestes, como Stonehenge, a grande pirâmide de Gizeh, Chitzen Itza, Machu Pichu e outros. Os antigos tinham a Natureza como se fosse um grande templo onde habitava o Grande Regente, o Grande Espírito Director, que castigava ou premiava seus vassalos de acordo com seus méritos. 

Com a evolução da arte da construção, os homens passaram a representar a Natureza e seus fenómenos na sua arquitectura e nos seus ritos. As construções sagradas sempre procuraram exaltar e representar a Natureza com suas leis e princípios. Através da Geometria Sagrada, os construtores iniciados da antiguidade, procuravam nas suas obras manter a harmonia e a beleza que existe na Natureza, resultado da obra do Grande Arquitecto do Universo. Esses construtores constituíram um grupo especial dentro da sociedade comum, pois detinham os grandes conhecimentos das leis naturais e sabiam como aplicá-las em suas obras.

Sob o arquétipo dessa classe de sábios iluminados é que a Maçonaria fundamentou a sua doutrina, através da alegoria da construção do Templo de Jerusalém, idealizado por David e executado por seu filho Salomão, com a cooperação dos artífices fenícios, donde apareceram as figuras de Hiram, Rei de Tiro, e do arquitecto Hiram Abiff. Como consequência imediata, todos esses elementos vieram a ser agrupados na Maçonaria Especulativa, para simbolizar o grande trabalho que o Maçom, como construtor de si mesmo, deve realizar.

Vemos que a Maçonaria é uma das ordens rituais que preservou esta tradição da longínqua e trabalhosa evolução do espírito humano, desde seu primórdio na Terra.

A Simbologia do Sol na Arquitectura e nos Trabalhos 

O Templo Maçónico é a representação da Natureza, e seus rituais estão repletos da simbologia pagã dos fenómenos da Natureza. A orientação do Templo faz-se de acordo com os pontos cardeais, e em referência com o nascer, zênite e pôr do Sol. Os oficiais dirigentes duma Loja são denominados Luzes, como verdadeiros representantes do Sol nos seus diferentes pontos na evolução diária. Estão colocados nos pontos cardeais correspondentes ao nascer, no Oriente ou Leste; no ocaso, no Ocidente ou Oeste; e no seu apogeu ou zênite, no Sul. 

Cabe aqui uma explicação. Como a Maçonaria originalmente se desenvolveu no hemisfério norte do planeta, o Sol na sua caminhada diária pelo céu, levanta-se no leste, passando pelo Sul, de quem se acha no hemisfério norte, para ir se pôr no oeste. Por esta razão é que o Norte é considerado como região das trevas ou menos iluminada no Templo, e ai não se encontra nenhuma das luzes. 

Astronómicamente, a região menos iluminada para nós, que estamos no hemisfério austral, é o Sul. A Maçonaria no hemisfério Sul conserva o simbolismo como no hemisfério Norte, uma vez que de lá herdamos suas tradições.

Os antigos observaram também que o Sol não nascia todos os dias, durante o ano, no mesmo lugar. No transcorrer do ano nascia em posições diferentes, como que num bailado ou serpenteado em torno dum ponto central. 

Marcaram com colunas de pedra os pontos de maior afastamento que o Sol alcançava de um lado e de outro, resultando imediatamente o ponto central do bailado do nascer do orbe solar. Através destas colunas, podia o observador verificar as estações do ano e os pontos de solstícios e equinócios e, assim poder rogar aos deuses do período, a proteção às suas famílias e criações.

A tradição dessas duas colunas está também nos nossos Templos nas colunas J e B, que representam os pontos solsticiais. Por entre elas passam todos aqueles que, ansiosos pela Luz ou conhecimento solar, procuram, no espelho da natureza templária, identificar-se com os mais altos princípios do Universo. 

Os trabalhos Maçónicos começam ao meio dia e terminam à meia noite, sendo mais uma alusão ao princípio da Luz e Trevas que está sob a influência solar. Há uma antiga tradição que nos fala que Zoroastro utilizava este sistema de trabalho na sua escola, começando ao meio dia e, terminando à meia noite. Convém lembrar que Zoroastro, ou o Zero Astro é o mesmo Sol, que tem seu fulgor máximo ao meio dia e sua decrepitude máxima a meia noite.

Os antigos consideravam o período do meio dia à meia noite propício as coisas do espírito, enquanto que da meia noite ao meio dia, propício para as cousas da matéria. Isto porque da meia noite ao meio dia cresce a influência objectiva do Sol, enquanto que do meio dia à meia noite cresce a influência subjectiva do Sol, propiciando assim os estudos espirituais. 

O Sol está representado no nosso Templo e rituais sob muitas formas e maneiras, cada qual referindo-se a um dos seus aspectos. Temos o Sol no altar do Venerável Mestre, como no tecto da Loja, como está implicitamente, representado na circulação do Mestre de Cerimónias em Loja.

No altar do Venerável Mestre, acha-se o Sol acompanhado da sua parceira a Lua. Neste assunto existem muitas controvérsias sobre qual a posição correta de cada um dos luminares em relação ao trono.

A Ritualística Exalta a Grandiosidade da Natureza 

O Templo representa o Universo e também a própria figura humana. Como os dois luminares são representantes fidedignos da polaridade lateral dos hemisférios, tanto terrestre e celeste como do próprio homem e, tendo ainda por princípio que o Sol representa a Razão enquanto que a Lua a Emoção, notamos que na maioria dos Templos as posições dos dois luminares obrigam a que, o homem representado pelo Templo, esteja de bruços, posição negativa, ao invés de decúbito dorsal que é uma posição positiva. Por outro lado, a posição do Sol no lado do Sul está em correspondência com o simbolismo dos hemisférios, já descritos. De qualquer maneira, o importante é notar que o Sol, nesta posição, faz equilíbrio com a Lua na divisão dos hemisférios da Loja, e representam os princípios da polaridade universal. 

O Sol, no tecto da Loja, acha-se no Oriente, e está representando no cenário do sistema celeste do plano horizontal do tecto, o Rei da Evolução e comandante do nosso sistema. Geralmente está acima do Altar dos perfumes como a indicar que é ele que diariamente vem perfumar a natureza com seus fulgurantes raios. Representa também o poder de iluminar da sabedoria do Venerável Mestre, que comanda a luminosidade da Lua que está acima do Iº vigilante e da Estrela Flamejante do 2º vigilante.

A circulação do Mestre de Cerimónias em Loja, está a representar a translação aparente do Sol em relação à Terra, representando portanto o Mestre de Cerimónias, o próprio Sol nesses momentos, enquanto os demais obreiros possuem sua representação planetária própria. 

Como vemos, inúmeros são os exemplos que constam nos nossos rituais sobre a tradição simbólica pagã na natureza, e por demais extenso seria aqui relatar todos. A Maçonaria exalta na sua ritualística a grandiosidade da Natureza e seus elementos, e, mister se faz, que o obreiro se torne consciente desses princípios, para que trabalhe em harmonia com a Natureza Universal, alcançar a sabedoria, a Força e a Beleza dae sua natureza interior.

Dessa forma notamos que na Maçonaria fundem-se a tradição pagã com a Arte Construtora Sagrada e a tradição hebraica, aliado à  lenda do construtor na figura de Hiram. Assim, nossa ritualística, toma um caráter judaico-hiramítico-pagão. 

Deve o Maçom especulativo, iluminado pelas leis judaicas expressas no Livro da Lei, sob o modelo da alegoria do Construtor Sagrado e auxiliado pelos conhecimentos pagãos da antiguidade, erguer o Templo Interno de sua personalidade, a fim de abrigar a Individualidade Superior para a Glória do Grande Arquitecto do Universo.

Ir:. Alberto Henrique da Cruz Feliciano

(seleccionado do “ Informativo CHICO DA BOTICA” - Edição 079, por “Jakim & Boaz”)


1 comentário: