Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

12 de dezembro de 2019

Irmãos da MAÇONARIA e Bons Primos da CARBONÁRIA


Irmãos da MAÇONARIA e
Bons Primos da CARBONÁRIA
(ou a Revolução de 5 de Outubro de 1910, em PORTUGAL)

Abreviaturas
Barr’.’ – Barraca
C’.’ P’.’ – CARBONÁRIA Portuguesa
Carv’.’ – Carvoeiro
Cant.’ – Canteiro
Ch’.’ – Choça
Gr’.’ Firm’.’ – Grande Firmamento
Mes’.’ – Mestre
Mes Subl’.’ – Mestre Sublime
Rach’.’ – Rachador

Sinais utilizados
Sinal n.1
“…<  >, entre parênteses angulares <estão> palavras subentendida, mas não explícitas, no texto original…” 
Sinal n.1 FREDERICO LOURENÇO, “BÌBLIA, Vol. I - NOVO TESTAMENTO – Os Quatro Evangelhos”, QUETZAL, 1ª Edição-2016, 5ª Reimpressão-2017: p 49

Sinal n.2
“…em ITÁLICO…”
Sinal n.2 textos de outros Autores


1. Abordagem Histórica do movimento  CARBONÁRIO e seus Ascendentes

Os Historiadores ensinaram-nos que, no século XVI, “…os lenhadores se terão introduzido em ITÁLIA com os exércitos de FRANCISCO I, em 1515, organizando-se em grupos de 20 Homens, as chamadas Vendas, submetidos a uma Venda Suprema…” (1).
Esta práctica foi, muito mais tarde, reproduzida pelos “…carbonari <que se reorganizaram> como sociedade secreta em Nápoles <(ITÁLIA)> tendo como fim a luta contra a ocupação “Napoleónica”…” (2) e, como nos explica JOÃO MEDINA, dando suporte aos “…partidários de FERNANDO de BOURBON que combatiam as tropas do rei de Nápoles, cunhado de NAPOLEÃO. Viviam refugiados nos Abruzos e na Calábria estes carbonari ou “carvoeiros” italianos…” (3).

Mais tarde, “…em 1830, MAZZINI refundiu esta associação secreta criando em Marselha…a organização Jovem Itália…sendo este <o> núcleo conspirativo que efectivamente merece o nome de Carbonária Italiana <e> a sua acção confunde-se, a partir de então, com a causa da independência de Itália – o Risorgimento – que havia de culminar na unificação política da península sob a chefia da Casa de Sabóia associada, aliás, à realeza Portuguesa…<pois> uma filha de VITOR EMANUEL viria a casar com um rei português…” (4).
Também em FRANÇA se constituiu um movimento carbonário que foi sobretudo “…activo contra o regime da Restauração (de LUIS XVIII e de CARLOS X) <estando> na base da…conjura de 1822, a dos “4 Sargentos de la Rochelle”, guilhotinados em Paris…” (5).
A esta “…Carbonária Liberal, onde se acolhiam tanto Republicanos como defensores da Monarquia Constitucional, pertenceu o Marquês de LA FAYETTE - o lendário “herói dos 2 Mundos” – grande inimigo da Restauração e um dos artesãos da Revolução de 1830 a qual  <colocou> LUIS FILIPE no trono, a chamada “Monarquia de Julho”, verdadeiro protótipo do constitucionalismo monárquico que em PORTUGAL vingou, como consequência… da Revolução Parisiense, a partir de 1832…” (6).

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(1) JOSÉ ADELINO MALTEZ, “Abecedário Simbiótico”, Campo de Comunicação, 2011: p 93
(2) Idem (1): p 93
(3) JOÃO MEDINA, “A Carbonária Portuguesa e o derrube da Monarquia”, in “História Contemporânea de Portugal”, T.I., Lisboa, 1985: p 11
(4) Idem (3): p 11
(5) Idem (3): pp 11-12
(6) Idem (3): p 12

2. CARBONÁRIA em PORTUGAL

Segundo OLIVEIRA MARQUES a CARBONÁRIA “…nascida em ITÁLIA…<foi> desde logo condenada pela Igreja <mas> cedo se introduziu em PORTUGAL com os primeiros exemplos datando de 1822, se não antes…” (7).
De acordo com este Historiador a CARBONÁRIA Portuguesa foi uma “…sociedade secreta oriunda da MAÇONARIA mas constituindo, depois, uma associação autónoma, com a sua vida, métodos e objectivos próprios. Força de choque, disposta à intervenção directa no mundo profano, a CARBONÁRIA copiou da MAÇONARIA grande parte da estrutura interna fazendo corresponder à terminologia maçónica, ligada à construção, uma nova terminologia, ligada ao trabalho na floresta…” (8).
Por outro lado “…copiou…a abreviatura com três pontos em triângulo <.’.> embora invertendo-lhe a posição <’.’> . Menos intelectual e menos selectiva, sem curar de filosofias nem hermetismos, alargou consideravelmente o recrutamento, de forma a assentar a sua força numa ampla base saída das massas populares. Não deixou, com isso, de recrutar, também, burgueses e até nobres…”. (9).
SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA (Past-Gr.’. M.’. do G.’. O.’. L.’. U.’. - 1907/1928) relatou que, no entanto, “…em 1832 existiu <em PORTUGAL> uma associação com o título de Carbonária Portuguesa <mas> que teve uma vida efémera…não só por ser muito reduzido o número de filiados mas também por os seus dirigentes a terem abandonado logo que deixaram a oposição política e conquistaram as boas graças da rainha D. Maria II…” (10) e “…da mesma forma não teve ligação alguma com a Carbonária Lusitana…<mantida> , apenas, como uma tradição dos académicos revolucionários de Coimbra. Não houve, pois, nada em comum nem com uma nem com outra. A sua constituição, regulamentos, ritual, etc. , tudo é diferente…” (11). 
Recordemos que o ressurgimento do Carbonarismo terá principiado em Coimbra, nos inícios da década de 90  sob a tutela da “Loja” maçónica Perseverança (cujo Venerável era o “velho” Carbonário de 48 ABÍLIO ROQUE de SÁ BARRETO), através da chamada Carbonária Lusitana mas “…a sua iniciativa ter-se-á mantido orgânica e ritualísticamente independente do que, entretanto, estava a ocorrer em Lisboa <onde> …tudo parece ter resultado da confluência de dois núcleos secretos: um de origem anarco-republicana e outro de base maçónico-académica…” (12).
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(7) OLIVEIRA MARQUES, “Dicionário de MAÇONARIA PORTUGUESA” – vol. I, Editorial DELTA, 1986: p 266
(8) OLIVEIRA MARQUES, “Dicionário de MAÇONARIA PORTUGUESA” – vol. I, Editorial DELTA, 1986: pp 265-266
(9) idem (7,8): p 266
(10) SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA, “Episódios da minha Vida” – Vol. I, Perspectivas e Realidades: pp 221-222
(11) SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA, “Episódios da minha Vida” – Vol. I, Perspectivas e Realidades: p 222
(12) FERNANDO CATROGA, “O Republicanismo em PORTUGAL – da Formação ao 5 de Outubro de 1910”, Casa das Letras (3ª edição), 2010: p 90.

Tenhamos em devida conta que “… o anarquista JOSÉ MARIA NUNES, ele próprio juntamente com JOSÉ do VALE e HELIODORO SALGADO, fundou a Liga do Progresso e Liberdade…que esteve na base da constituição da CARBONÁRIA Portuguesa. Mas também se sabe que esta surgiu na sequência do trabalho desenvolvido por algumas “Lojas maçónicas” académicas e irregulares – Loj:.Futuro– Loj:.Justiça –Loj:.Independência–Loj:.Pátria – organizadas pelo então estudante LUZ ALMEIDA…” (13) <com> “…estudantes das Escolas Superiores de Lisboa filiados…<nessas quatro “Lojas” e assim constituindo uma> “…Associação <com> o nome de Maçonaria Académica...” (14). “…A ser assim terá sido deste agrupamento que se formou a CARBONÁRIA Portuguesa, à qual se agregou o núcleo anarquista...” (15) atrás referido.
Mas a maneira-de-estar desta Maçonaria Académica tinha objectivos claros de intervenção revolucionária no mundo profano e, para tal, havia que ter regras diferentes pelo que “…os filiados recebiam instrução militar ministrada secretamente por alguns militares (Sargentos e Cadetes) pertencentes à Associação…” (16). O objectivo era o de “…constituir um Batalhão Académico Revolucionário que seria comandado  por um Oficial de Marinha, amigo particular de JOÃO CHAGAS e por este apresentado, a pedido da Junta Revolucionária, aos cinco membros que a compunham…” (17).
Além disso, “…num vasto sótão da Casa onde morava LUZ ALMEIDA, na rua Santo António da Glória  <em Lisboa>, fizeram-se…muitas Iniciações e deram-se diferentes Lições de Recrutas… <que também usufruíram> de ensino…em diferentes Sessões e em vários locais, só podendo assistir…os irmãos que se conheciam. Um ano depois, a Maçonaria Académica transformou-se na CARBONÁRIA Portuguesa, organizada por LUZ ALMEIDA…” (18).
O mesmo “…SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA…terá oportunidade de recordar <que>: “A CARBONÁRIA impunha-se pela disciplina, pela coragem dos seus dirigentes e ainda pelo espírito de renúncia que a caracterizou…” (19)
Na Iniciação à CARBONÁRIA de“…todo o novo aderente era colocada a pergunta sacramental: Estás disposto a pegar numa arma, carabina, revólver, punhal ou bomba, esperares (onde quer que seja) um tirano do povo para executares nele justiça sumária ?...” (20) Fica, desta forma, demonstrada a coragem e a disciplina exigidas, conforme atrás foi lembrado.
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(13)FERNANDO CATROGA, “O Republicanismo em PORTUGAL – da Formação ao 5 de Outubro de 1910”, Casa das Letras (3ª edição), 2010: p 90
(14) SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA, “Episódios da minha Vida” – Vol. I, Perspectivas e Realidades: p 222
(15) FERNANDO CATROGA, “O Republicanismo em PORTUGAL – da Formação ao 5 de Outubro de 1910”, Casa das Letras (3ª edição), 2010: p 90
(16,17,18) SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA, “Episódios da minha Vida” – Vol. I,  Perpectivas e Realidades: p 223
 (19) SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA,”Episódios da minha Vida”, Vol. 1: p 266 ( in JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: p 22)
 (20) JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: p 23.
“…A CARBONÁRIA tornara-se uma força nacional na qual se encontravam, fraternalmente irmanados, os Portugueses decididos a tudo sacrificar para pôr termo à carreira da monarquia e do opróbio que esta significava…” (21).
Vejamos agora alguma da sua organização interna relatada por SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA:  “…Na CARBONÁRIA Portuguesa  havia quatro Graus: Rach’.’, Carv’.’, Mes’.’ e Mes Subl’.’ . Os carbonários chamavam-se Bons Primos e tratavam-se por tu. Todos eles deviam possuir uma arma de fogo, sendo obrigatório o uso de punhal…” (22).
Mas em 1907 a CARBONÁRIA Portuguesa (em Reunião muito extraordinária) “…aprovou uma nova Constituição, bem como um novo Regulamento Geral e um outro, chamado <de> ultra-secreto, que compreendia cinco artigos. Este pequeno regulamento <, o ultra-secreto,> era decorado e transmitido verbalmente pelos Presidentes aos seus respectivos subordinados. <As> Constituições e Regulamentos eram da autoria de LUZ ALMEIDA…” (23) o qual nasceu “… em Alenquer em 1867 tendo vindo para Lisboa aos seis anos, efectuado o Curso Complementar dos Liceus e terminado o Curso Superior de LETRAS, na capital, com Distinção…” (24) .
“…Nessa mesma reunião foram eleitos, por escrutínio secreto, a Alta Venda e o Grão-Mestre, recaindo a eleição deste último em LUZ ALMEIDA…Só o Gr’.’ Mes’.’ conhecia os Primos que dela faziam parte, e era ele o Pres’.’ da referida V’.’  . A própria A’.’ V’.’ não os conhecia…” (25).
SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA apresenta-nos, então, as Secções da CARBONÁRIA Portuguesa: “…as Ch’.’  e <os> Cant’.’ , <as> Barr’.’ e <as> Vendas <sendo>  a Alta Venda o poder executivo <e> as suas ordens…cumpridas sem discussão…” (26).
Todas as Secções da CARBONÁRIA Portuguesa eram representadas por estrelas de diversas grandezas… <constituindo> o conjunto de todas estas estrelas…o Gr’.’ Firm’.’ da C’.’ P’.’ onde se destacava, pelo seu brilho, a estrela isolada de cinco pontas…e o globo terrestre  que ela encimava. A estrela e o globo eram o emblema distintivo da  C’.’ P’.’… <que, aliás,> figurou na primeira bandeira da República <tendo sido> hasteada na Rotunda no dia da Revolução <de 5 de Outubro de 1910>…” (27).
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(21) CARLOS FERRÃO,”História da República”: 1960: p 563 (in JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: p 28)
 (22) idem (16,17,18): p 223
(23) SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA, “Episódios da minha Vida” – Vol. I, Perspectivas e Realidades: pp 223-224
(24) JOÃO MEDINA, “A Carbonária Portuguesa e o derrube da Monarquia”, in “História Contemporânea de Portugal”, T.I., Lisboa, 1985: p 10
(25) SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA, “Episódios da minha Vida” – Vol. I, Perspectivas e Realidades: p 224
 (26,27) SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA, “Episódios da minha Vida” – Vol. I, Perspectivas e Realidades: p 225
            3. A CARBONÁRIA Portuguesa, a Revolução de 5 de Outubro de 1910, o derrube da Monarquia e a implantação da REPÚBLICA

A C’.’ P’.’, segundo o Historiador OLIVEIRA MARQUES, “…foi a principal arma Republicana a quem se deve o triunfo da Revolução de 5.10.1910 e a defesa da República nos dois primeiros anos de existência…” <acrescentando, mais adiante, que foi> “…apoiada na MAÇONARIA, sobretudo em algumas “Lojas” mais radicais e politizadas (como a Montanha), <e que> chegou a contar com 40.000 membros, especialmente em Lisboa e noutras Cidades, visto que a sua difusão se mostrou essencialmente urbana…” (28).
“…Em 1899, o aparecimento da já referida “Loja” Montanha vem trazer uma nova feição às relações da MAÇONARIA com a CARBONÁRIA...<pois> tratava-se de uma “Loja” maçónica fundada e constituída…por maçons…que também eram carbonários… <e – segundo M. BORGES GRAINHA - > contribuiu com todos os seus esforços para fazer eleger Grão-Mestre, em 1907, o Republicano SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA…”  (29).
“…Já sabemos que, nos fins do século XIX e princípios do século XX, o Partido Republicano era, de facto, um movimento em crise…<o que,  conjugado> com a fragmentação do bloco monárquico -- dissidência de JOÃO FRANCO (nos Regeneradores) e de JOSÉ ALPOIM (nos Progressistas) – , não admira que a crise político-partidária do regime tenha sido um factor acrescido de revigoramento da militância e da propaganda republicanas…” (30).
 “…Dito de outro modo: os públicos escândalos financeiros que envolviam a classe política monárquica, a ilegalidade e a imoralidade dos adiantamentos e do alargamento da Lista civil da Coroa, a degradação das condições de vida…os atropelos às liberdades fundamentais concretizados na Lei de Fevereiro de 1886 e na criação de um Tribunal de excepção…pareciam dar razão aos que defendiam ser a Revolução possível…” (31).

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(28) OLIVEIRA MARQUES, “Dicionário da MAÇONARIA PORTUGUESA” – vol. I, Editorial DELTA, 1986: p 266
(29) M. BORGES GRAINHA,”História da Franco-Maçonaria em Portugal”, 1976 (in JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: p 29)
(30,31) FERNANDO CATROGA, “O Republicanismo em PORTUGAL – da Formação ao 5 de Outubro de 1910”, Casa das Letras (3ª edição), 2010: p 89

Estava, portanto, criado o ambiente necessário para a afirmação duma solução violenta que, “..antes de ter vencido nos quadros superiores do Partido Republicano, conquistou a nova geração e esta <iria> reactualizar a memória das estruturas conspirativas do século XIX através da reanimação da CARBONÁRIA. São conhecidos os pontos de contacto e as diferenças de ritual e de finalidade entre essa associação <, a CARBONÁRIA,> e a MAÇONARIA: esta pretendia ser uma agremiação filantrópica, filosófica, mutualista e apartidária, enquanto a primeira <, a CARBONÁRIA,> apontava para a prossecução de objectivos político-partidários. E, no concernente à base do recrutamento de ambas, a MAÇONARIA tinha um cariz mais elitista, ao contrário da  CARBONÁRIA, que era…<como escreveu MANUEL BORGES GRAINHA> uma sociedade organizada de modo a poder admitir elementos de todas as classes sociais…<diferindo, portanto> da MAÇONARIA, tolerante em política e em religião e cujo carácter é mais burguês…” (32).
“…Se os doutores do Partido <entenda-se: Partido Republicano Português/P.R.P. > se preparavam para voltar a uma vida pacífica de comícios e artigos de fundo…não tardavam a sofrer grandes e merecidos desgostos porque…de súbito, o bom “povo” Republicano, sem sequer se dar ao trabalho de os prevenir, se juntou numa organização autónoma e livremente se lançou a caminho da revolução…” (33).
 “…Estas associações secretas, tendo por células básicas as Choças e por cúpula a Alta Venda <como já ficou dito>, estavam exclusivamente empenhadas na organização da Revolução mas a base ideológica não se esgotava no Republicanismo estrito e legalista. De certo modo, este militantismo dava expressão à aliança entre os Republicanos radicais, os Anarquistas e os núcleos Socialistas que não concordavam com o anti-republicanismo do grupo de AZEDO GNECO…” (34).
A “…Alta Venda ordenava a todos os seus filiados que frequentassem a Carreira de Tiro de Pedrouços a fim de irem afinando a pontaria…e os Carbonários acorreram em peso…até que o Governo <da monarquia>, achando que andava por lá gente a mais, a mandou encerrar até nova ordem…” (35).
Por outro lado“…Os bons primos passaram a frequentar os quartéis com a maior das facilidades…alegando pretender visitar um primo e, na verdade, não mentiam de todo…Nos aquartelamentos militares , os adeptos cresciam a olhos vistos. LUZ ALMEIDA redigira <até> um pequeno folheto intitulado “A Cartilha do Cidadão”…<com> enorme sucesso (três edições) entre os soldados, cabos e sargentos. Dentro do mesmo objectivo foram elaboradas outras publicações dentre as quais os “Barbadões” (de MACHADO dos SANTOS) que constava de estrofes para serem cantadas com a música da “Marselhesa”…” (36).
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(32) FERNANDO CATROGA, “O Republicanismo em PORTUGAL – da Formação ao 5 de Outubro de 1910”, Casa das Letras (3ª edição), 2010: pp 89-90
(33) VASCO PULIDO VALENTE,”O Poder e o Povo”, 1982 (in JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: p 52
(34) FERNANDO CATROGA, “O Republicanismo em PORTUGAL – da Formação ao 5 de Outubro de 1910”, Casa das Letras (3ª edição), 2010: pp 90-91
(35) JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: p 57
(36)JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: pp 62-63

“..Os Carbonários e os seus chefes –conta CARLOS FERRÃO…- , sem os quais a implantação da República teria ido impossível, tinham de lutar, além da repressão das autoridades monárquicas, <contra> a incompreensão de…alguns dirigentes do Partido Republicano que não se apercebiam da importância daquela organização <(a CARBONÁRIA)> para apressar o triunfo da ideia republicana…” (37).
Há que realçar, no entanto, a figura do Republicano“…ANTÓNIO JOSÉ de ALMEIDA <que> se soube mostrar com uma disposição que ia ao encontro dos anseios e das esperanças dos Carbonários…Ele irá ser o “patrono” e o intérprete daquilo que era possível entre a C’.’ P’.’ e o P.R.P….Durante vários dias, o prestigiado Republicano…<visitou> os grupos Carbonários…na Rua de S. Bento…em Campo de Ourique, na Estrela e no Largo do Carmo…onde o esperavam chefes Carbonários…” (38).

“…A ala Republicana, vocacionada para o oportunismo eleitoral, deixara de ter grande peso a partir do momento em que saiu derrotada no… Congresso de Setúbal realizado…nos dias 24 e 25 de Abril de 1909. Os Carbonários conseguiram fazer triunfar uma Lista…elaborada por MACHADO dos SANTOS e ANTÓNIO MARIA da SILVA <os dois únicos membros da Alta Venda, após o exílio forçado de LUZ ALMEIDA> que ganha…o novo Directório do P.R.P. …” (39).
Consequentemente surgiu a necessidade de preparar a Revolução com, entre outras, “…a criação de dois Comités Revolucionários, um Civil e outro Militar, <que> foi a grande vitória da C’.’ P’.’ no <já referido> Congresso de Setúbal…Enquanto isto a MAÇONARIA criava a sua própria Comissão de Resistência <em cuja origem> …estaria o infatigável MACHADO dos SANTOS…” (40).
Aproximava-se a data prevista para o início da Revolução, os Revolucionários estavam preparados e “…ao cair da noite de 3 de Outubro de 1910…viviam-se horas ímpares na História de Portugal <apesar da> notícia trágica das mortes de MIGUEL BOMBARDA (Chefe Civil <da Revolução>) e do Almirante CÂNDIDO dos REIS (Chefe Militar <da Revolução>) que trouxera o desalento às hostes Republicanas mas não o bastante para fazer a Revolução recuar…” (41).
Assim de 4 para 5 de Outubro“…<segundo JORGE de ABREU> os civis estiveram na Rotunda, ao lado de MACHADO dos SANTOS…<tal como> em Alcântara…no Quartel dos Marinheiros…colaboraram com o 2º Tenente TITO de MORAIS quando este assumiu o comando do “S.Rafael” <e outros civis> assaltaram com o Oficial de Marinha CARLOS da MAIA o cruzador “D. Carlos”… “ (42).
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(37)JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: p 69
(38)JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: p 71
(39)JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”,  Perspectivas e Realidades, 1984: pp 71 e  73
(40)JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: p 74
(41)JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: p 77
(42)JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984: p 81
 “…Foram, ainda, os civis que, na madrugada de 5 de Outubro, semearam o desânimo e levaram à defecção as forças monárquicas acampadas no Rossio…É <portanto> a CARBONÁRIA que consegue evitar que tudo <fosse> por água abaixo…” (43).

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(43) JORGE de ABREU, “A Revolução Portuguesa – O 5 de Outubro”, 1912

4. COMENTÁRIOS

Depois desta análise resultante  da Investigação assumida, quer pelos Historiadores quer por relato de intervenientes na História de PORTUGAL dos séculos XIX e XX  a propósito da origem da CARBONÁRIA Portuguesa em movimentos de Cidadania que culminaram com o triunfo da Revolução de 5 de Outubro de 1910, há que ousar concluir:

A CARBONÁRIA Portuguesa honra as suas congéneres ascendentes no que diz respeito à sua vontade – e capacidade – de luta contra a ditadura, a tirania, o autoritarismo e de luta pela promoção dos anseios da População em geral e das classes ditas mais “populares” em particular;
No “modus faciendi” da CARBONÁRIA Portuguesa há regras que clarificam os seus objectivos designadamente a instrução militar dos seus filiados/militantes além do secretismo, peça táctica fundamental na eficácia desta organização;
Independentemente da sua mimetização de alguns aspectos organizativos da MAÇONARIA há que  realçar que as diferenças são de tal forma significativas que introduziram características de luta e de perseverança táctica e estratégica que permitiram classificar a sua  actuação na Revolução de 5 de Outubro de 1910 como decisiva para o triunfo alcançado sobre uma Monarquia incompetente e ditatorial;
Em anos recentes, já em regime democrático, houve – por vezes – vontades de ressuscitar o espírito e até, porventura, a práctica da CARBONÁRIA Portuguesa pois esta Organização possui, no seu código genético, a luta pelos direitos dos mais desfavorecidos, a luta pela liberdade contra a ditadura, a luta por uma Vida com igualdade de oportunidades e a luta por uma sociedade solidária e fraterna;
Os Bons Primos estão, na alegórica Floresta, sempre atentos e disponíveis para lutar pelos Princípios elevados e patrióticos que sempre nortearam e enquadraram a sua acção.

5. Citação última

Alguns anos após a implantação da República o past-Grão-Mestre, do GRANDE ORIENTE LUSITANO, SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA escreveu:
“…Teria sido possível o 5 de Outubro sem a CARBONÁRIA?
     Afoitadamente posso responder que foi a CARBONÁRIA que determinou a Revolução. Ninguém imagina o que foi e o que representou essa organização em coragem, em esforço e em sacrifício…” (44).

PIRES JORGE, M.’. Maç.’.
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(44) CARLOS MALHEIRO DIAS, “Do desafio à Debandada”, 1º Vol., Lisboa, 1912: p 267 (in JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984)

NOTAS  Biográficas

NOTA n.1:LUZ de ALMEIDA (ARTUR AUGUSTO DUARTE)  “…,Diplomado pelo Curso Superior de Letras, foi…Iniciado em 1897 (n.s. Camille Desmoulins) na Loja Camões… de Lisboa, … pertenceu depois à Loja Montanha, também de Lisboa, …<e> atingiu o grau 30º do REAA do Grande Oriente Lusitano Unido…Pertenceu á Alta Venda sendo eleito Gr’.’ M’.’ da CARBONÁRIA…”
NOTA n.1 OLIVEIRA MARQUES, “Dicionário de MAÇONARIA PORTUGUESA”, - vol. I, Editorial DELTA, 1986: p 44-45
NOTA n.2:MACHADO SANTOS (ANTÓNIO MARIA AZEVEDO) “…, Oficial de Marinha, foi…iniciado em 1909 (n.s. Championnet) na Loja Montanha, em Lisboa…<e> atingiu o grau 7º do RF do Grande Oriente Lusitano Unido… Pertenceu á Alta Venda da CARBONÁRIA…”
NOTA n.2: OLIVEIRA MARQUES, “Dicionário de MAÇONARIA PORTUGUESA”, - vol. II, Editorial DELTA, 1986: pp 1293-1295
NOTA n.3:ANTÓNIO MARIA da SILVA “…, Engenheiro de Minas, foi…iniciado em 1909 (n.s. Camille Desmoulins) na Loja Montanha, em Lisboa…<e> atingiu o grau 7º do RF do Grande Oriente Lusitano Unido… Pertenceu á Alta Venda da CARBONÁRIA…”
NOTA n.3: OLIVEIRA MARQUES, “Dicionário de MAÇONARIA PORTUGUESA”, - vol. II, Editorial DELTA, 1986: pp 1339-1341
NOTA n.4:SEBASTIÃO de MAGALHÃES LIMA “…, Bacharel em Direito, foi…iniciado em 1874 (n.s. João Huss) na Loja Perseverança, em Coimbra…ascendeu ao  grau 33º do REAA <e> foi Gr.’. M.’. do Grande Oriente Lusitano Unido (1907-1928)…”
NOTA n.4: OLIVEIRA MARQUES,  “Dicionário de MAÇONARIA PORTUGUESA”, - vol. II,  Editorial DELTA, 1986:  pp 880-882
NOTA n.5:ANTÓNIO JOSÉ de ALMEIDA “…, Bacharel em Medicina, foi…iniciado em 1907 (n.s. Álvaro Vaz de Almada) na Loja Montanha, em Lisboa <e> foi Gr.’. M.’. Adjunto (1915-1926) e eleito Gr.’. M.’. do Grande Oriente Lusitano Unido em 1929 para o triénio de 1929-32 não tendo tomado posse do cargo devido ao seu estado de saúde… Pertenceu á Alta Venda da CARBONÁRIA…”
NOTA n.5: OLIVEIRA MARQUES, “Dicionário de MAÇONARIA PORTUGUESA”, - vol. I,  Editorial DELTA,1986: pp 43-44

BIBLIOGRAFIA consultada

CARLOS FERRÃO, “História da República”, 1960 (in JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA,O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984)
CARLOS MALHEIRO DIAS, “Do desafio à Debandada”, 1º Vol., Lisboa, 1912 (in JOSÉ BRANDÃO, “CARBONÁRIA, O Exército Secreto da República”, Perspectivas e Realidades, 1984)
FERNANDO CATROGA, “O Republicanismo em PORTUGAL – da Formação ao 5 de Outubro de 1910”, Casa das Letras (3ª edição), 2010
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