Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

5 de fevereiro de 2019

Os Desafios da Tecnologia - Sociedade, Emprego e o Futuro


Os Desafios da Tecnologia - Sociedade, Emprego e o Futuro.

I – Breve Introdução Histórica
Ao longo dos últimos 3 séculos a Humanidade registou três «Revoluções Industriais». A primeira ocorreu aproximadamente entre 1760 e 1840, desencadeada pela invenção da máquina  a vapor, levando à construção generalizada do caminho de ferro e iniciando a produção mecânica nas grandes fábricas, antes estritamente manuais,  actualizadas agora com novas máquinas alimentadas pela combustão a carvão.
Com esta mudança começou a estruturar-se a primeira descontinuidade da tradicional organização social, com a ascensão ao poder da burguesia capitalista, a par do desemprego em larga  escala dos antigos operários manuais, agora substituídos (com muito maior produtividade)  pelas novas máquinas a vapor, em muitas das antigas funções.  A fome e o desemprego alastraram nos países europeus mais desenvolvidos. Demorou algumas dezenas de anos a progressiva readaptação social, com a criação de novos empregos, decorrentes da colocação ao serviço de novas fábricas, o que desencadeou a migração maciça das pessoas do campo para a periferia das grandes cidades industriais.
A Segunda revolução Industrial começou em finais do Século XIX, impulsionada pelo advento da electricidade e mais tarde do motor eléctrico, dando início à chamada massificação da produção,  caracterizando-se pelas famosas linhas de montagem em série, teorizadas e introduzidas por Taylor e de que Ford foi um dos expoentes organizacionais mais conhecidos. Atingiu-se o auge do «fordismo» e o operário «especializado»  não era mais do que uma «máquina» pretensamente «síncrona» com as  restantes, ao longo da cadeia de produção, realizando tarefas iguais, repetidas e monótonas, durante todo o dia de trabalho, mês e ano, até à exaustão precoce e / ou doença.


Concretizava-se assim  o aumento exponencial da produtividade e uma enorme redução de custos, que a nova (e agora) clássica organização mecanicista / taylorista potenciava, traduzindo contudo algum significativo aumento dos salários reais, sobretudo no novo ramo automóvel e serviços. A electricidade, o motor eléctrico e o motor de combustão (automóvel) tornaram-se as estrelas fluorescentes da época, a que veio juntar-se o avião. Era o admirável  mundo novo, em que assentaram as primeiras décadas do século XX, apenas ensombradas pela 1ª e 2ª Guerras mundiais: Não fora a  barbárie que se traduziu em cerca de 80 milhões de mortos, provávelmente não se teria permitido estabelecer posteriormente alguns reequilíbrios, difíceis, mas duradouros.
A chamada «Terceira Revolução Industrial» (que muitos consideram ainda continuar), começou na década de 1960, originada pela sucessiva e rápida miniaturização do transístor, de que resultaram os circuitos integrados, e mais tarde os «chips», possibilitando o aparecimento do grande Computador («mainframe»),  de controlo centralizado (normalmente característico das grandes empresas, centros de investigação e universidades), em que sobressaiu a IBM,  a que se interligavam numerosos terminais (não inteligentes), c/ acesso distribuído e. Estes garantiam a comunicação com o computador central através de redes dedicadas, via protocolos e controladores / concentradores de comunicações específicos.

Mais tarde, na década de 1970-80, surge em cena o célebre computador pessoal, a que posteriormente a Apple e a IBM deram  grande impulso, tendo esta última criado (sem o ter percebido inicialmente) uma nova e poderosa indústria de SW e aplicativos, de que a Microsoft (e outros) vieram a obter enormes proveitos. Computador que, após inúmeros  acréscimos de capacidade e processamento (apesar de tudo, a lei de Moore tem sido cumprida…), agora todos utilizamos, quer no trabalho quer em casa.
Esta evolução ou «migração computacional» de cima par baixo, no sentido do utilizador directo,  está na base da falência de algumas grandes empresas de sucesso nos anos 60/70, como a Sperry / Univax e mais tarde da VAX, cujos dirigentes máximos, não acreditando no enorme  sucesso e profundas modificações funcionais e organizacionais que o computador pessoal iria originar, mantiveram a crença  na inevitabilidade das suas «mainframes», acreditando que o factor de capacidade / redundância seria sempre a chave determinante de sucesso. Puro engano. E a IBM que o diga…, se não reagisse.
Esta é  também denominada  «Revolução do computador» ou «Revolução Digital», da qual ainda estamos a sofrer as consequências, altamente potenciada na década de 1990, pelo  desenvolvimento da Internet, que registou, a nível global, uma expansão acelerada. Estamos  agora numa fase muito mais avançada, a que os cientistas, tecnólogos, sociólogos organizacionais,  começam  a apelar, a partir da primeira década do actual século, de «4ª Revolução Industrial».
Óbviamente todas as Revoluções tecnológicas desencadeiam  profundos impactos nas Organizações, sociedades  e países,  sobretudo na estrutura empresarial e social, enfim na sociedade em geral. Inicialmente destruiram-se muitos empregos, sobretudo os baseados na força humana de baixa qualificação, com as implicações e custos sociais inerentes. Por outro lado,  também se criaram muitos outros, de nova geração, obrigando  a maior grau de aprendizagem e especialização da mão de obra, ou seja introdução às novas tecnologias, em geral.
Como afirmava o Engº Pinto Basto,  fundador  e primeiro director do ex-CET - Centro de Estudo de Telecomunições dos ex-CTT/PT ( e mais tarde se transformou na «PT Inovação») «a diferença está  não no país que adquire tecnologia, mas naquele que a produz». Não é de admirar que  os países que apresentam maior índice de escolaridade e aproveitamento, a todos os níveis e em especial no universitário e pós-universitário, estejam sempre  em apreciável  vantagem, face à concorrência, em todos os «saltos tecnológicos».
Desde o último quartil do século passado, desenvolveu-se e estruturou-se  a Sociedade do Conhecimento, (ver Peter Drucker e outros) caracterizando-se, entre outras coisas, pela desagregação da tradicional relação trabalhador / empresa para a vida (que os nossos pais e muitos da nossa geração viveram). Agora essa relação reveste-se de enormes  graus de liberdade e oportunidades para ambos os lados, sendo  um dos factores de progresso, mas também de vários problemas, da sociedade actual.
Os neo-liberais, seguidores da Escola de Chicago (Milton Friedman & CIA),  entendem que  uma sociedade de sucesso é transformar idealmente quase cada trabalhador num empreendedor, utopia que tem levado aos resultados que todos conhecemos - desemprego em massa, destruição maciça de postos de trabalho, redução significativa dos salários reais e sobretudo redução ao mínimo das funções essenciais do Estado (Forças Armadas, Polícia e Segurança, Justiça e representação do Estado), deixando quase tudo o resto (que possa  dar chorudos lucros) à chamada «iniciativa privada». Na sua utopia anti-social, admitem «crédulamente» que os «mercados» se auto-regulam, corrigindo rápidamente as assimetrias mais graves. No entanto «esquecem-se» de nos esclarecer, que governos com tais políticas só foram possíveis com base em férreas ditaduras (militares ou não) utilizando repressão extrema (Chile, Argentina, Uruguai, Brasil e restantes países da América do Sul, no tempo da guerra fria, à excepção de Cuba, aqui por força do forte apoio soviético, à altura) e fracassaram…
Como nasceu a Internet, espinha dorsal da «Sociedade em Rede» a que todos nos ligamos ou utilizamos? Se a  vertiginosa evolução tecnológica registada sobretudo nos últimos 30 a 40 anos, foi um subproduto do  esforço milionário do complexo militar-industrial americano, as  inovações que estiveram na origem da Internet, foram posteriormente fruto do trabalho de investigação e desenvolvimento de instituições governamentais, centros de investigação e grandes universidades, não tendo origem restrita no mundo empresarial, e daí os graus de liberdade, acessibilidade e flexibilidade que puderam alcançar e as caracterizam.
Após as substanciais alterações políticas, resultantes da queda do império soviético, de que o muro de Berlim foi o «ex-libris», eis-nos chegados ao início do seculo XXI. E entretanto como evoluiu a  tecnologia? Acelerou a inovação e a velocidade de crescimento e constitui-se como  motor e alavanca da revolução já iniciada, potenciando a globalização extrema,  ou como referem alguns sociólogos, o inicio do desaparecimento da «sociedade analógica» (aquela em que nascemos e fomos criados) e  sua progressiva substituição pela «sociedade digital».
Confirmou-se (11) que no final de 2016, os utilizadores dos diferentes serviços da Internet totalizaram o dobro de 2010 (ou seja 4 000  milhões) , equivalendo a cerca de 50% da população mundial ou seja,  10 vezes mais do que em  2000, ou duzentas e cinquenta vezes mais do que em  1995,  apesar dos vários países e regiões ainda substancialmente  afectados  pelo atraso tecnológico e a pobreza.

Nos últimos quinze a vinte anos,  com o  início da «4ª Revolução Industrial»,  sobressai  o papel crescente e universal das Redes Sociais, apoiadas em potentes bases de dados, geridas por novos e cada vez mais sofisticados algoritmos, em permanente evolução e «auto-aperfeiçoamento». As aplicações e utilitários (mesmo a nível empresarial), «voaram» para a «nuvem», os dispositivos móveis  - «smartphones» - vulgarizaram-se,  apresentando muito maior capacidade de processamento e facilidades do que a maior parte dos PCs que temos em casa.  Enfim, estamos práticamente quase todos «em Rede» e na «Nuvem».
Por outro lado, os níveis de potência e performance atingidos pela Internet  e a ligação de tudo isto à «nuvem»,  estão também na base da enorme transformação operacional e de qualidade, registada na estrutura produtiva industrial . Por exemplo na automobilística (entre muitas outras) a massiva  introdução de robôs, controlados por computadores, programados por humanos, pintam, soldam, transportam portas, motores e elementos e/ou materiais mais pesados, não cometendo erros ou atrasos, tendo um papel fulcral na cadeia de montagem, ela própria também já controlada por algoritmia parcial ou totalmente gerida pela I.A. Os armazéns estão também totalmente robotizados. Libertou-se totalmente a capacidade humana atribuída até então a essas tarefas. Os mais jovens e com capacidade de reconversão / reaprendizagem, ainda conseguiram ser  reconvertidos, na maior parte, mas os mais idosos, obviamente não resistiram….
II – Consequências da Globalização resultante da 3ª Revolução Industrial
Quais a  consequências da globalização, para o mundo em geral e para o nosso país em particular? Se seguirmos o conceito do conhecido sociólogo (polaco), entretanto falecido,   Zygmunt Bauman (12) “a globalização é  a desvalorização da ordem enquanto tal”, já que pode ser considerada como subversão dos territórios por obra do mercantilismo, dividindo mais do que une,  já que cria uma diversidade cada vez maior entre quem possui («the haves») e quem nada tem («the have-nots»). Este é justamente o problema de fundo - o acréscimo das desigualdades -  que ninguém, até ao momento, tem querido ou podido resolver, (políticos, gestores, responsáveis e mentores da globalização), por serem dependentes dos interesses  globais em jogo, ou incapazes de tal.
Thomas Friedman (12) tem uma abordagem mais pragmática, caraterizando a globalização como “a inexorável integração dos mercados, estados-nações e tecnologias a um nível nunca antes atingido, com a consequência de permitir aos indivíduos, empresas e estados-nações estender a própria acção por todo o mundo,  mais rápida e profundamente e com menor custo do que alguma vez foi possível anteriormente”.
Recordando Manuel Castells (1):  «A Internet é o tecido das nossas vidas. Se as tecnologias de informação são o equivalente histórico do que foi a electricidade na era industrial, poderíamos comparar a Internet com a rede eléctrica e o motor eléctrico, dada a sua capacidade para distribuir o poder da informação por todos os âmbitos da sociedade humana. Tal como as novas tecnologias de geração e distribuição de energia permitiram que as fábricas e as grandes empresas se estabelecessem como as bases organizacionais da sociedade industrial, a Internet constitui actualmente a base tecnológica da forma organizacional que caracteriza a era da informação: a Rede».
É incontestável  que a globalização, correspondendo a uma nova etapa de desenvolvimento do capitalismo financeiro só foi possível pelo enorme avanço tecnológico alcançado. Integraram-se mais de um milhão de trabalhadores no mundo laboral (sobretudo à custa da China e Índia, e de outro países em desenvolvimento), sobretudo por via das deslocalizações fabris, elevando o respectivo nível de vida, mas nos países mais desenvolvidos, o diferencial dos rendimentos entre o capital e o trabalho, tem vindo  progressivamente  a aumentar, em favor do primeiro, reforçado ainda mais pelas sucessivas crises financeiras registadas nos últimos anos. Como consequência tem vindo a crescer o contingente mundial dos desempregados e /ou dos excluídos da «globalização».
A situação só não é mais grave, porque e apesar da fúria neo-liberal vigente maioritariamente, na UE (recordemos a  última crise e as consequências dos governos da «troika» na Grécia, no nosso país, e noutros.…), ainda existem em muitos países europeus, além  do fundamental apoio familiar directo,   alguns subsídios (de desemprego, rendimentos mínimos, subsídio e apoio à velhice, etc.) e alguma formação, para entretanto ir ocupando e dar novas perspectivas e oportunidades a algumas faixas de desempregados mais novos…, ou seja, ainda subsiste o esqueleto do Estado Social, que apesar de estar «no osso»,  as forças dos «mercados» ainda não conseguiram destruir por completo.
No nosso caso particular, esse esqueleto é representado  pelos SNS,  Segurança Social e o ensino público gratuito, peças chave do que resta, e daí a permanente ofensiva dos neo-liberais em persistir na sua liquidação gradual, sempre em nome do que apelam «defesa da liberdade de escolha» dos cidadãos. («Liberdade» essa baseada no suporte pelo Estado, através de todos os contribuintes, da «livre escolha» por alguns, das instituições privadas…)  .  Ressalvamos que nada temos contra a existência de unidades privadas de prestação de Serviços, desde que quem as utilize pague do seu próprio bolso, e não seja o já martirizado contribuinte da classe média, obrigado a pagar a «liberdade» de alguns….).

Apesar do desenvolvimento global gerado, sobretudo nos últimos trinta anos,  acentuou-se o rápido enriquecimento das diferentes elites (financeiras, gestão,  serviços e industriais), nacionais e transnacionais. Simultâneamente  agravaram-se as desigualdades e até pauperização de largas franjas da população. Em todos os países ocidentais (e não só)  nos últimos dez  anos,  os 1% mais ricos aumentaram a sua fortuna em mais de 50% e os   10% mais ricos em cerca de 30%, , enquanto os 45 a 55º% representando as classes médias, diminuíram ou quando muito mantiveram os seus rendimentos, já que os pobres, continuam pobres ou, pior ainda, cada vez mais pobres.
Face à inexistência de regulação eficaz capaz de bloquear as distorções introduzidas intencionalmente pelos omnipresentes «mercados» (a União Europeia fala, fala, mas na prática pouco ou nada faz….) , pois está enfeudada aos grandes grupos económico-financeiros, agências de rating, fundos abutres, multinacionais, mentores  e  demais donos absolutos da Globalização (sem rosto). Deste modo, progressivamente, os interesses instalados foram assumindo o controlo dos meios de comunicação, essenciais à sua estratégia de «uniformização» cognitiva das mentes dos cidadãos e sociedades.
Construiram conglomerados de «comunicação» multimédia, totalmente manipulados, onde a chamada «liberdade e independência da informação» é simplesmente figura de retórica. O grande e principal objectivo foi o de  “padronizar e  institucionalizar” uma cultura global fortemente consumista, suportada em níveis progressivos de «aculturação e passividade» das pessoas e da sociedade, condicionantes prévias da absorção dos valores impostos, através de (quase) todos os meios de comunicação e Redes disponíveis.
O acelerado  acréscimo de desigualdades atingido a nível global, nunca foi imaginado  desde os «dourados anos 50» do século passado.   A comprová-lo está,  entre outros,  o Relatório da OXFAM referente a 2017,  declarando que «A distância entre ricos e pobres chegou  a novos extremos», e que  estudos mais actualizados provam terem-se agravado ainda mais, durante o ano passado. .
O insuspeito banco Credit Suisse revelou recentemente que o 1% mais rico da população mundial acumula actualmente mais riqueza que os restantes 78% do mundo.
Esta  situação  é  dificilmente conciliável com os princípios referenciais que enquanto MMaç:. jurámos defender, no caminho para uma sociedade mais equilibrada e justa, em pleno respeito pelos valores democráticos, pelos direitos sociais e pelo humanismo de matriz republicano ou seja, pela Igualdade, Liberdade e Fraternidade, que representarão sempre  a  nossa marca indelével.
III – A 4ª Revolução Industrial – Tecnologia, Emprego, Sociedade e Futuro
.1)  - A Tecnologia e as suas consequências
O paradigma que está subjacente à nova Revolução, resulta da aceleração da «Sociedade em Rede», da   «Informação e do  Conhecimento», utilizando a evolução e expansão global da qualidade e velocidade da Internet e das Redes que nela se suportam, possível graças ao desenvolvimento e  expansão (até ao cliente final)  das Redes de telecomunicações de nova geração, em especial da Fibra óptica, primeiro nas redes primárias (meados de 1990) e no início da década seguinte,  das redes secundárias e de distribuição (FTTC e FTTH). Assim se foi construindo uma interligação veloz (em Fibra Óptica) a cada vez maiores e mais potentes centros de Dados (os «Big Data Centers»), tornando a  Internet cada vez mais presente e potente.
Actualmente,  e mais ainda no futuro, a «nuvem» («Cloud Computing») já representa o novo paradigma da sociedade em Rede.   O importante é o resultado que se pretende obter e não a forma como se obtém. Este conceito inovador só foi possível pelo enorme acréscimo de capacidade dos Grandes Centros de Dados, e pelo avanço tecnológico global das Redes que os interligam e dos SWs que os gerem. Representa sobretudo para as Empresas, (mas também para os utilizadores mais «pesados»), uma enorme economia de escala, porque por um preço módico anual (dependente das arquitecturas, SWs e facilidades pretendidas) ficam livres da aquisição de servidores, routers e SWs específicos (que rapidamente se desactualizavam, e da contratação regular de pessoal especializado para os manter e actualizar (sobretudo HW, mas também de SW).
Por outro lados as  Empresas e  utilizadores deixaram de se  preocupar com «Back-Ups» regulares dos discos e Bases de dados, porque os grandes Centros e Dados e Servidores inteligentes que «suportam» a «nuvem» (algures situados nalguns estados dos EUA, Europa, Ásia - India e China, onde o preço da electricidade seja mais  barato) o farão automáticamente, garantindo contratualmente a «completa integridade» dos dados. Aqui surge contudo a premente e  crucial questão da segurança infomática. E se alguns «hacker’s» autónomos, individualmente ou pagos pela concorrência, se conseguirem introduzir na «nuvem» e aceder aos dados de determinada(s) empresas (como vulgarmente tem acontecido), ou introduzirem «vírus» altamente destrutivos, que se propagarão ao clientes, que consequências teremos?.  Há notícias sobre o assunto, quase todos as semanas…
O preço compensa o risco, a «nuvem» assume o mesmo….mas quantos  técnicos e quadros qualificados foram parar ao desemprego,  por esta enorme diminuição de custos e aumento de rentabilidade notáveis, devidas à brutal queda dos custos de armazenamento por GB?. Contudo e atendendo à especialização, parte dos técnicos, mais ou menos rapidamente têm sido reconvertidos, face às necessidades emergentes, mas quase sempre com salários inversamente proporcionais ao aumento de produtividade ….
Deste enquadramento ressalta o papel que vem assumindo em todo o mundo a denominada  Ciber-Segurança, em todas as Redes e Centros de Dados, e sobretudo nas mais protegidas / encriptadas, de exclusiva utilização militar. E é dai, como sabem, que mais cedo que tarde, surgirão os desenvolvimentos comerciais, pelo que temos de estar particularmente atentos ao que os sistemas e organizações militares dos países mais desenvolvidos perspectivam ou projectam implementar, para suporte à chamada «Ciber-Guerra».
 Nesta p. ex: aviões telecomandados,  após terem fotografado, a vários Km de altitude e em alta resolução, áreas «inimigas», detectam potenciais alvos a  milhares de Kms de distância,  «selecionam» e bombardeiam-as, com precisão de  1 a 2 metros, robôts (auto-comandados ou sob controlo remoto rastreiam minas, enquanto  outros as rebentam, etc, etc,…). Estes desenvolvimentos são tanto ou mais perigosos, quanto maior forem as rivalidades geo-estratégicas e políticas das grandes potências mundiais, face aos interesses em jogo. Saliente-se que neste momento já todas têm departamentos ou regimentos militares, altamente especializados nas novas tecnologias e óbviamente também na «ciber-espionagem», com que se têm «entretido» a competir mutúamente.
Segundo Erik Brynjolfsson e  Andrew McAfee - «The Second Machine Age» (2) esta é a «segunda era da máquina e  ao viabilizar fábricas inteligentes, a 4ª Revolução Industrial cria um mundo novo, onde os sistemas de fabrico físicos e virtuais cooperam uns com os outros de uma forma global e flexível, o que permitirá a total personalização de produtos e a criação de novos modelos operacionais».
Outro aspecto importante é que a nova revolução não se restringe apenas a máquinas e sistemas inteligentes interconectados, mas simultaneamente a novas áreas, que vão desde a nanotecnologia, ao sequenciamento genético, às energias renováveis, à biotecnologia ou à computação quântica, começando pelo controlo remoto dos equipamentos electrónicos caseiros (a  chamada «Internet das Coisas» ou «IoT» em inglês). O que a torna deveras distinta das revoluções anteriores é a interação entre os domínios físico, digital  e biológico, possibilitando a integração e fusão destas tecnologias a estes domínios.
Existe ainda outro factor assinalável que não devemos esquecer,  o da «velocidade de propagação». Contráriamente às revoluções tecnológicas anteriores, actualmente  as inovações generalizam-se e difundem-se muito mais rapidamente.
Por exemplo, a   2ª Revolução ainda não foi totalmente vivida por aproximadamente 17% da população mundial, uma vez que cerca de 1,3 mil milhões de pessoas ainda não têm acesso à electricidade . O mesmo é válido para a 3ª Revolução, já que cerca de 45 % (4 mil milhões de pessoas) ainda não têm aceso à Internet, a maior parte delas fazendo parte de países em desenvolvimento (2). Contudo não devemos esquecer que enquanto o tear mecânico (expoente da mecanização da 1ª revolução industrial) levou quase 120 anos a disseminar-se fora da Europa, a Internet expandiu-se mundialmente em menos de uma década… (>12x + rápido…)
Exemplos que traduzem a velocidade de difusão dos desenvolvimentos actuais, que nenhum outra revolução atingiu (e a 3ª já foi muito significativa),  surgem facilmente. Cito apenas alguns:
A «Uber» criou um serviço universal sobre uma plataforma suportada na Internet, através de SW inteligente, com utilização do GPS,  que transporta pessoas e gere largos milhares de viaturas,  informando «on-line» o utilizador, mas não possui  nenhuma própria. A «Airbnb» gere e aluga milhões de casas e apartamentos, por todo o mundo, também uma plataforma específica sobre  a Internet, mas não dispõe de nenhuma casa ou apartamento. A «Alibaba», a maior cadeia de distribuição chinesa,  não tem uma única loja. E isto para  já não referir  a «Amazon», «Google», «Facebook» , «Apple» e tantas outros gigantes «digitais» mundiais de enorme sucesso.

Recordemos que em 1990 as três maiores empresas de Detroit tinham uma capitalização combinada de 36 mil milhões de dólares e  rendimentos de 250 mil milhões de US. Dólares).  Em 2014 as três maiores empresas de «Silicon Valley», tinham uma capitalização de mercado de cerca de 1,09 biliões de dólares (30 vezes mais), originando um rendimento equivalente (247 mil milhões de US. Dólares), mas possuindo  10 vezes menos empregados (2).  Isto prova que uma «unidade produtora de riqueza» pode ser criada hoje com muito menos trabalhadores do que que há 10 ou 15 anos atrás, porque os negócios de base digital têm custos muito menores, que tenderão tendencialmente quase para zero (e daí não nos admiremos que a cintura do  «belt trust» americano tenha votado massivamente em Trump….)
Brynjolfsson e McAfee (2) salientam ainda que: «os computadores são tão hábeis que é virtualmente impossível prever que aplicações poderão ter daqui a alguns anos. A inteligência Artificial (I.A.) está á nossa volta em automóveis sem condutores, drones, assistentes virtuais, softwares de tradução, etc,.. e estes factos estão e irão transformar a nossa vida».
Sebastian Thrun (8), pioneiro dos carros sem condutor, que liderou as primeiras experiências da Google nesta área, descreveu sucintamente de que forma a prática da engenharia informática está a mudar: “eu costumava criar programas informáticos que faziam exactamente aquilo que lhes pedia para fazer, o que me obrigava a pensar em todas as consequências possíveis e a estabelecer uma regra para cada uma delas. Agora crio programas, insiro os dados e ensino-os a fazer o que quero”. Isto só é possível graças ao desenvolvimento extraordinário da IA
Iremos ter cada vez mais computadores e robots com acesso a SWs sucessivamente mais «inteligentes», que auto-aprendem e se reprogramam sucessivamente,  até encontrarem  as melhores soluções, face aos objectivos que lhe solicitaram, a partir de pontos de partida iniciais (lembremo-nos das «assistentes» virtuais Siri da Apple, Cortana da Microsoft e outras equivalentes).
Registe-se que sómente há dois anos estavam a começar a emergir os assistentes pessoais inteligentes, mas hoje o reconhecimento de voz e a I.A. estão a evoluir tão rapidamente, que o que alguns chamavam de «computação ambiental» (ou seja «falar com computadores»), tornar-se-á em breve, uma realidade perfeitamente normal.
Temos também SWs utilizados para descobrir novos medicamentos, até algoritmos cada vez mais inteligentes que prevêem os nossos interesses culturais, gastronómicos, profissionais, de tempo livre, etc. e o que é mais curioso é que  maior parte desses algoritmos aprendem a partir da nossa «pegada digital», ou seja dos dados (nem que sejam poucos) que deixamos ao longo das rotas e locais do mundo digital por onde viajamos…, ou seja das plataformas de Redes e Serviços a que acedemos.
Não temos dúvidas que a «4ª Revolução» trará grandes benefícios, mas igualmente enormes ameaças e desafios. Entre estes últimos teremos o exacerbar das desigualdades, já tão evidentes nas sociedades actuais e o mais perigoso, previsivelmente a partir de perto do final do século, uma «eventual» equiparação ou até supremacia da Inteligência  da máquina sobre a do  homem (isto se a Lei de More se continuar a verificar, ….). Estas consequências irão afectar  os nossos padrões de vida e bem-estar actuais, duma forma provavelmente ainda mais disruptiva,  de que apenas prevemos hoje alguns passos,  mas de que ainda não  temos a certeza de como evoluirão e se concretizarão. A única certeza que temos é simplesmente de que existirão e a que não poderemos fugir (a menos que consigamos reverter o mundo, para algumas décadas atrás…).
Dentro de 6 a 10 anos (ou menos) prevê-se que cerca de 30 a 35% dos carros sejam autónomos, eléctricos e utilizados partilhadamente, ou seja só precisamos de ter um smartphone e requisitá-lo até ao local de destino e inversamente para regressarmos a casa, iremos fazê-lo com alguém cujos destinos sejam partilháveis. Imaginem só o que esta alteração irá representar para os fabricantes de automóveis actuais, petrolíferas, distribuidores,  taxistas, cidades,  vias de comunicação, etc… . Por outro lado as cidades inteligentes serão o espelho perfeito de todas estas inovações.
Aparentemente a qualidade de vida de todos os que tenham sucesso e nelas residam (cidades inteligentes) melhorará imenso, mas e a dos muitos outros milhões (esmagadora maioria) que ficarem de fora????.
Recordamos que  sempre nos tem sido prometido  que com as evoluções tecnológicas, especialmente a do computador, teríamos «mais tempo livre e melhor qualidade de vida», mas o que infelizmente temos constatado é precisamente o contrário….
Recordo Stephen Hawking (13) quando identificou as duas tendências extremas que se podem verificar, quanto à abordagem à I.A.:   “Porque estamos tão preocupados com a Inteligência Artificial? Decerto os seres humanos serão sempre capazes de a desligar” ou a extrema: “Alguém perguntou a um computador: «Existe um Deus?» e o computador respondeu: «Agora existe» e destruiu o botão». Mais à frente acrescenta: «A inteligência humana é o resultado de gerações de seleção natural daqueles com capacidade de se adaptarem a circunstâncias alteradas. Não devemos recear a mudança. Temos de fazê-la funcionar a nosso favor».  Mais à frente: “O sucesso da criação da IA seria o maior acontecimento da história da humanidade. Infelizmente também poderá ser   último, a menos que  aprendamos como evitar os riscos”, concluindo: «Quando criámos o  fogo fizemos repetidamente asneira, depois inventámos o extintor. Com tecnologias mais poderosas, como armas nucleares, biologia sintética e Inteligência Artificial forte, devemos planear antecipadamente e apontar para termos as coisas bem feitas à primeira, porque poderá ser a nossa única hipótese. O nosso futuro é uma corrida entre o poder crescente da nossa tecnologia e  a sabedoria com  que a utilizamos. Vamos garantir que a sabedoria vence».
Nalguns aspectos será o provávelmente o consumidor a ganhar, já que  através do «smartphone» poderá remotamente  consultar e activar cada vez mais serviços, o que demonstra que a Internet, o smartphone e muitos milhares de aplicações estão (e irão) tornar as nossas vidas cada vez mais fáceis e, de um modo geral, mais produtivas. O simples «tablet» que utilizamos para ler, pesquisar e comunicar tem uma capacidade equivalente à de cerca de 5000 computadores pessoais de há 30 anos! Simultaneamente  o custo de armazenagem  computacional da informação aproxima-se do zero (1 GB custa hoje menos de 0, 03 dólares por ano, enquanto que há 20 anos custava mais de 10 000 dólares…( ainda é a  lei de Moore a funcionar…).
.2)  - O Impacto no Emprego e na Sociedade
A questão que se coloca a todas as sociedades,  indústrias,  empresas, trabalhadores, enfim stackholders,  sem excepção, já não é a de se existirá rotura, mas sim «quando é que ela chegará, que forma terá e como é que me afectará a mim e á minha organização» (2). Daí ser urgente prepará-la antecipadamente, com o envolvimento de todos os interessados, de forma a atenuar, tanto quanto possível, a disrupção que inevitavelmente trará.
Os problemas mais graves que antevemos estão principalmente do lado da oferta – o mundo do trabalho e a produção, já que nos países mais desenvolvidos e até mesmo na  China, se tem assistido a um declínio acentuado da respectiva Mão de Obra, considerada em % do PIB. Esta queda deve-se à baixa do preço dos bens de investimento, consequência da inovação, que força as empresas a substituir progressiva ou rapidamente, o trabalho pelo capital (ou seja o manual  pela automatização / robotização…).
É urgente que a todo o custo, se consiga atenuar, a concentração de riqueza e poder nos cerca de 10% de  privilegiados que têm recolhido quase todos os ganhos de produtividade,  pelo que urge  encontrar, nas sociedades e países, as mais diversas formas de concretizar algum reequilíbrio entre os benefícios e os riscos das plataformas digitais inteligentes (incluindo as industriais), por forma a permitir alguma abertura a situações e oportunidades de inovações da base colaborativa, signifique isto o que vier  significar.
Está inequivocamente comprovado pela generalidade dos economistas, analistas e estudiosos que se têm debruçado sobre o impacto nas novas tecnologias e o resultante nível crescente de automatização da sociedade, nas suas distintas vertentes, que os grandes e reais beneficiários da enorme evolução tecnológica surgida desde final dos nos 80 do século passado, não têm sido os trabalhadores mas sim o capital, ou seja os 10% mais ricos.   Segundo Martin Ford (4): «Nos EUA  e nos países mais desenvolvidos a desigualdade na distribuição da riqueza desceu para níveis que não se viam desde a grande crise de 1929. Os ganhos de produtividade, que nos anos 50 iam para os bolsos dos trabalhadores, são agora retidos, quase inteiramente por empresários, quadros executivos e investidores. A quota-parte do rendimento nacional bruto destinada ao trabalho, em oposição ao capital, parece estar em continua queda livre».
Se esta frustração já acumulada, por parte do trabalho, vier a  ser realimentada por  um aumento substancial de desemprego, poderá  levar a graves situações extremas, geradoras de desespero e revolta (saliente-se, agora e entre outras, a dos «coletes amarelos» em França), a maior parte dos quais poderá cair facilmente, pela desagregação dos partidos tradicionais, nas mãos do radicalismo da extrema-direita (veja-se o que tem acontecido na EUA, Europa, Brasil, e outros países…).
Isto pelo simples facto de que passarão a ter  certeza de que o seu rendimento não irá progredir ao longo da vida, mas  sobretudo de que os seus filhos irão ter uma vida pior do que a  deles, enquanto os 10% mais ricos continuarão a ver as suas fortunas aumentar exponencialmente, para  já não referir os «donos disto tudo», os tais pertencentes ao reduzido universo do 1%... .
Embora as profissões que exijam menores níveis de aptidão continuem a decrescer, é previsível que um elevado número de «colarinhos brancos», com formação universitária, venha  descobrir que, também os seus postos de trabalho  possam estar sob ataque, graças ao rápido avanço da capacidade dos algoritmos cognitivos preditivos e do  SW de automatização que  os utilizam.
Recordamos que actualmente em Portugal, a população jovem «nem-nem» (nem estuda, nem trabalha), ronda cerca de  12%, o que pronuncia, se aliado ao acelerado envelhecimento populacional, problemas ainda mais complicados, para o futuro próximo (10 a 15 anos…).  Adicionalmente é o país que, segundo a OCDE, tem um dos menores índices de formação secundária e universitária completa, se comparado com a média Europeia.
 Para além deste  facto, já  deveras preocupante, não conseguimos ainda prever com alguma precisão, o impacto real no mercado de trabalho e na sociedade em geral, estimando-se contudo (dependendo dos países, mas sobretudo nos mais avançados) que entre 30 a 50% dos actuais empregos, possam ser extintos, entre os próximos dez a quinze anos. Outros surgirão, provavelmente mais ou menos especializados mas, por certo, não cobrirão parte significativa daquelas perdas.
Temos igualmente vindo a comprovar que na generalidade das sociedades mais desenvolvidas, os vencimentos dos recém-licenciados tem vindo a diminuir, ao mesmo tempo que quase metade (ou mais, dependente do país em causa) são forçados a aceitar trabalhos que não exigem formação universitária (atente-se p. ex.às grandes superfícies comerciais do nosso país…). Nos EUA, e rápidamente nos restantes países mais desenvolvidos, o emprego de muitos profissionais qualificados  já está a sofrer uma erosão com algum significado – jornalistas, advogados, cientistas, farmacêuticos, empregados escritório, taxistas, etc. em virtude do avanço dos novos serviços suportados nas   «tecnologias de informação inteligentes».
Enquanto no passado a automatização tendia a ser mais especializada, atingindo um ou determinados sectores de cada vez, actualmente é totalmente diferente,  já que o impacto da sua progressiva introdução irá atingir todos os sectores, uma vez  que quase todas as industrias existentes irão exigir provavelmente menor mão-de-obra intensiva, à medida que o seu negócio for incorporando tecnologia mais inteligente e essa transição já está a ocorrer ou ocorrerá mais rapidamente do que pensávamos. As indústrias emergentes irão incorporar, desde a raiz, poderosas ferramentas robotizadas e inteligentes, traduzindo a    poupança do trabalho humano, num significativo aumento  da produtividade.
A maior parte dos estudiosos e cientistas estão convencidos que os níveis de liderança e compreensão das mudanças em curso são reduzidos, em todos os sectores, se confrontados com a necessidade urgente de repensar todos os nossos sistemas económicos, sociais e políticos, de modo a enfrentar com algum sucesso as oportunidades e ameaças que a 4ª revolução nos coloca.
Também muitos de nós, na maior parte dos casos,  enquanto cidadãos e Maçons, ainda  não nos apercebemos do alcance  e  escala das mudanças,  tendo quando muito uma pálida  ideia da consequente disrupção que irá provocar e das alterações sociais de consequências ainda fortemente imprevisíveis. Continuamos, como tantas vezes salientou D. Béresniak a «reagir em vez de agir».
Como  Maçons defendemos que o homem tem de continuar a ser um  ser eminentemente social, livre e de bons costumes,  pensador e crítico, inserindo-se em sociedades livres e abertas, cada vez mais evoluídas, que lhe facilitem a vida e disponibilizem mais tempo livre,  nunca aspirando a ser controlado (mesmo sem o percepcionar) por máquinas ou robôs, por mais  inteligentes e autónomos que sejam.
Só assim evitaremos que as  sociedades democráticas possam dar origem a compulsivas e aberrantes ditaduras «digitais» , que transforme o ser humano num seguidor  acrítico dos novos «meios de comunicação» padronizados, gerados  automaticamente por máquinas inteligentes, com a gestão suportada pela I.A. (como já vai sucedendo nas Redes Sociais….).
Não é por acaso que os grandes inovadores e cérebros da tecnologia actual, como  Stephen Hawking (13), Steve Wozniak, Bill Gates, Elon Musk,  e muitos outros peritos em IA, escreveram uma carta aos principais dirigentes mundiais,  e a todos os que trabalham com IA,  além de realizarem diversas conferências sobre o tema, alertando para os perigos que poderão advir da I.A., se o ser humano lhe perder o controlo…
Diríamos que,  numa visão mais pessimista, podemos estar a libertar da lâmpada de  Aladino, o génio que nos poderá reduzir à menoridade e/ou escravidão…
.3) – Que Futuro ?
Baseado num Inquérito elaborado e distribuído pelo FEM (Forum Económico Mundial), em que os inquiridos indicaram a probabilidade, por Inovação Tecnológica,  do que consideraram «Pontos de viragem esperados até 2025», Klaus Schwab (2), resumiu curiosamente algumas perspectivas, que resultaram do inquérito:

Probabilidade                                                                 Inovação Tecnológica
91,2%               10% de pessoas com roupas conectadas à Internet
91,0% 90% das pessoas c/ armazenamento ilimitado e gratuito (financiado por publicidade)
89,2% 1 bilião de sensores conectados à Internet
86,5% Primeiro Robô Farmacêutico nos EUA
85,5% 10% dos Óculos de Leitura conectados à Internet
84,4% 80% das pessoas com presença digital na Internet
84,1% Produção do primeiro carro impresso em 3D
82,9% Primeiro Governo a substituir o Censo por fontes de «Big Data»
81,7% Primeiro telemóvel implantável e distribuído comercialmente
81,1% 5% dos produtos de Consumo impressos em 3D
80,7% 90% das pessoas com smartphone
78,8% 90% das pessoas com acesso regular à Internet
78,2% 10% de todos os automóveis em circulação nos EUA serão autónomos
76,4% Primeiro transplante de um fígado impresso em 3D
75,4% 30% das Auditorias a empresas / organizações realizadas por IA
73,1% Primeira cobrança de impostos por meio de «blockchain»
69,9% Mais de 50% do tráfego da Internet dedicado aos equipamentos e dispositivos domésticos (IoT)
67,2% Globalmente mais viagens / trajectos em meios partilhados, do que em carros particulares
63,7% Primeira cidade com mais de 50 000 pessoas a não ter semáforos
57,9% 10% do PIB armazenado pela tecnologia «blockchain»
45,2% Primeira máquina de Inteligência Artificial num Conselho de Administração
Os inquéritos valem o que valem, bem como as Organizações que os organizam, mas as previsões acima, independentemente dos valores ou percentagens perspectivados, confirmam inequivocamente que, mais %, menos % a  «4ª Revolução Industrial» já chegou e sobretudo veio  para ficar. Das perspectivas apontadas pelo inquérito, podemos confirmar que vários dos casos apontados já acontecem hoje, tais como:
1 – 40 a 50% de  pessoas c/ armazenamento ilimitado e gratuito (financiado por publicidade)
2 – Milhares e milhares de sensores ligados à Internet
3 – 45 a 55% das pessoas com presença digital na Internet
4 – Variadas peças (aviões e carros, entre outros) já impressas em 3D
5 – 40% das pessoas com smartphones
6 – cerca de 58% das pessoas com acesso regular à Internet
7 – Automóveis sem condutor  de diferentes marcas (Google, UBER, Tesla, etc…),  já circulam há pelo menos 2 anos (em teste) – existem já 3 estados nos EUA onde existe regulação para tal.
8 – Tráfego da Internet já dedicado à IOT (Internet das Coisas)
Indiscutivelmente a nova revolução já está na rua….
40% das organizações a nível global já utilizam algoritmos em processos de recrutamento — e as soluções no mercado são cada vez mais e com maior especificidade , não sendo contudo possível garantir com fiabilidade, para já,  que estes sistemas não discriminem alguns candidatos. Uma pesquisa recente da consultora PwC sugere que os algoritmos desenvolvidos para identificar talento, têm de facto potencial, mas não podem ser utilizados ainda sem intervenção humana. Uma das grandes questões que colocam é a incapacidade de garantir que a máquina não replica práticas de recrutamento erradas da organização.
E se agora recordarmos que há  trezentos anos,  o combate essencial da Maçonaria era o de convencer a sociedade inteira da igualdade essencial dos seus membros, independentemente da religião, raça ou origem social. Hoje, e sobretudo no Futuro o desafio é o de consciencializar todos de que essa igualdade só se concretiza verdadeiramente se for permitido a cada um desenvolver a sua individualidade, independentemente dos avanços tecnológicos que nos vão chegando e de que devemos tirar proveito, sempre de modo consciente e critico. Porque cada um de nós é verdadeiramente único e diferente entre iguais. E é essa Diferença na Igualdade que, afinal, constitui a maior riqueza de uma sociedade, que nenhuma revolução Industrial deveria poder destruir.
IV – Em conclusão – Que Maçonaria teremos, até final do Século XXI ?
O filósofo e maçom K. Krause (11), afirmou no Séc. XIX que  «A Maç:. é a única instituição que se ocupa do homem na sua pura e completa humanidade, na sua totalidade.    A Loja propicia o ambiente adequado para levar a cabo as vivências, aprendizagens e pesquisas que não podemos efectuar a  descoberto.  Este ambiente funciona como um microcosmo composto por uma linguagem e  símbolos próprios,  decoração particular,  indumentária  única e uma  forma peculiar e ordenada de ocupar o espaço,  movimentar-se,  falar, etc.».
A Maç:. sendo pela própria natureza uma organização tradicionalista, pela sua dimensão   filosófica, cultural e social,  continuou a viver, na maior parte dos casos, no seus espaços e limites específicos, descuidando de certa forma (em nossa opinião), as alterações sociais e organizacionais decorrentes da «revolução» que emergiu a partir da «Sociedade em Rede».
Se talvez tivesse perdido menos tempo a olhar para o «umbigo», entretendo-se (repetidas vezes) a discutir questiúnculas ritualísticas ou regulamentares, que sendo importantes, não deveriam transvasar para intermináveis discussões internas, em parte decorrentes de rivalidades pessoais, em que alguns IIr:. chegam a parecer mais «profanos» travestidos de  avental do que MMaç:., e olhasse mais para o mundo exterior, talvez tivesse tido maior sucesso.
Sendo óbvio que a sua vocação não é tecnológica, devia contudo,  através de alguns membros mais atentos a esta àrea, ter prestado mais atenção ao tema, enquanto Instituição….Felizmente o panorama, a partir do ano passado,  está progressivamente a alterar-se, sendo de relevar algumas iniciativas já programadas pelo C.O., no âmbito das Comissões nomeadas no âmbito do Conselho Consultivo do G:M., para discussão destes temas, na perspectiva que nos deve dizer respeito. Não pretendemos substituir-nos  às universidades ou a grupos especializados, ou mesmo até às organizações políticas, mas tão somente exprimir a posição da Maçonaria, enquanto tal, numa perspectiva de colaboração construtiva mas também crítica, sempre que  tal se torne  necessário.
Julgamos ser agora essencial  alcançar maior conhecimento desta profunda mutação, cujos resultados até final do século,  ainda estamos muito longe de perceber e perspectivar. Um facto é certo, enormes alterações organizacionais e sociais, inevitavelmente irão ocorrer, a todos os níveis,  e do ponto de vista das consequências sociais,  previsivelmente chocarão de frente com os nossos valores referenciais, daí a necessidade de estarmos conscientemente vigilantes.
Sendo consequentes, teremos de nos colocar ao lado daqueles que entendem que as injustiças e as desigualdade sociais não se podem  agravar-se mais, havendo que proceder a um reequilíbrio e alteração da repartição da riqueza gerada, nomeadamente a favor do trabalho.
A  Maçonaria, entre o esquadro e o compasso, tem de encontrar o seu próprio modo de incorporar as novas realidades tecnológicas e as suas consequências sociais, no desenvolvimento da sua actividade, ou não fosse a nobre herdeira da «Royal Society»....   . Sem prescindir dos seus princípios fundamentais, tem de aproveitar a oportunidade para continuar a divulgar e a praticar a sua  mensagem solidária da Liberdade, Igualdade, e Fraternidade.
Com a globalização extrema já no terreno, entendemos que as Lojas devem, mais do que nunca, continuar a agir como verdadeiros Templos de Transformação, ,  subsistir e  desenvolver-se e onde homens e mulheres se preparem para responder, segundo as referências implícitas na nossa matriz fundacional, às rápidas mudanças exigidas pelo mundo actual e futuro. Poderão é ter de fazê-lo, no futuro, de forma eventualmente diferente.
Daí que devamos também pensar, objectivamente e sem preconceitos, com seriedade e  responsabilidade, nos quase 52% do universo humano que continuamos a excluir das nossas Lojas, problema já sem justificação credível ou sustentável à luz das leis e princípios humanistas  da segunda década do Século XXI, o que  algumas Obediências de maior peso já resolveram (com algumas  dificuldades e riscos, é um facto…, mas resolveram). A sociedade evoluiu bastante desde o Séc.XVIII e a Maç:. não pode ser estanque a isso… sob pena de prolongarmos uma deriva algo fundamentalista.
Ao abrimo-nos  mais à Sociedade, teremos contudo de ter o cuidado de não nos descaracterizarmos,  transformando  os rituais em  memórias  ou relíquias do passado, o que por si só não será tarefa fácil, já que, internamente, será preciso encontrar o justo equilíbrio entre concepções mais dogmáticas e outras de cariz bem mais liberalizante.
Estas, a par do urgente recrutamento jovem,  serão por certo, algumas das  tarefas  primordiais  que os MMaç:. e  as Lojas dos novos tempos , terão de equacionar e resolver nos próximos 5 a 10 anos, sob pena de, no final do século, por pesquisa nas «aplicações» de conteúdo  histórico, existentes em Rede, se refiram a nós como «Organização que  existiu pelo menos desde 1717, até…. 209x, com enorme influência durante mais de  3 Séculos ,   a que se ficaram a dever alguns dos maiores avanços sociais e políticos de toda essa época, tornando-se progressivamente, a partir de meados deste século, de relevância decrescente, essencialmente por desadequação  à nova sociedade»…

Salvador Allen:.   M:. M:.   
Fevereiro, 2019 (e:. v:.)     

Bibliografia
1) - «A Galáxia Internet – Reflexões sobre a Internet, Negócios e Sociedade» – Manuel Castells
2) - «A Quarta Revolução Industrial» - Klaus Schwab – Levoi Marketing e Conteúdos Multimédia, SA – Lisboa (2017)
3) - "L’Internet est-il Maçonnique ?", Jiri Pragman
4) - «Robôs – a Ameaça de um futuro sem Emprego» - Martin Ford» – Bertrand Editora  - Lisboa (Jul.2016)
5) - «Os Robôs querem o seu Emprego» - John Pugliano – Edições Desassossego – Porto Salvo (Junho 2018)
6) – «Robótica e Trabalho - O Futuro Hoje» - António Brandão Moniz – FLAD (Edições Glaciar) – Lisboa (Março.2018)
7) - «A Riqueza dos Humanos – o Trabalho e  a Ausência dele no Séc. XXI» - Ryan Avent – Editorial Bizâncio (Jan.2018)
8) - «Como será o Futuro e porque depende de nós» - Tim O’Reilly – Publicações D. Quixote – Alfragide (Maio.2018)
9) - « Le Crépuscule des Fréres» - Alain Bauer
10) – Revista “Cultura Masònica” Nº 10 -. Editorial Masónica
11) – “A Sociedade em Rede - considerações numa perspectiva maçónica” - Salvador Allen:.  M:.M:. (Blog «Jakim & Boaz)
12) – “Globalização e Desenvolvimento” – Frederico Bonaglia e A.Goldstein – Editorial Presença (Jan.2006)
13) – “Breves respostas às grandes perguntas” – Stephen Hawking – Edições Planeta (6ª Edição – Jan.2019)
14) – “Inteligência Artificial” – Arlindo Oliveira – Fundação Francisco Manuel dos Santos (Jan.2019)

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