Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

24 de novembro de 2015

Jaime Cortesão


A escolha do nome que adoptei prende-se com a profunda admiração que sempre tive pela Vida e Obra do grande Pedagogo, do Médico, do Humanista, do Revolucionário e Maçon - Jaime Cortesão. Importa, pois, dar-vos a conhecer um pouco do que foi o seu percurso cívico e político.

Jaime Zuzarte Cortesão nasceu a 29 de Abril de 1884 em Ançã, uma vila do concelho de Cantanhede, distrito de Coimbra. Esta Vila, terra natal desta ilustre personalidade, cujo Foral, concedido por el Rei D. Manuel I, comemora este ano de 2015 precisamente 500 anos da sua concessão.

Jaime Cortesão estudou no Porto, em Coimbra e em Lisboa.

A sua vida de estudante universitário foi uma sucessão de experiências depressa abandonadas (passou por Grego, Direito e Belas-Artes), antes de se fixar em Medicina, que terminaria em Lisboa, em 1909, com uma tese que espelha já a sua multiplicidade de interesses (A Arte e a Medicina - Antero de Quental e Sousa Martins). A medicina não era, porém, a sua paixão; exerceu-a sem grande entusiasmo e cedo se entregou a outras actividades, nomeadamente ao ensino (nos liceus e mais tarde nas Universidades Populares, criadas durante a República), à literatura e à política.
As suas tendências literárias e o seu interesse pela política, que sempre andaram a par, vincariam toda a sua vida de adulto em Portugal e no estrangeiro.

As suas actividades políticas, iniciadas ainda durante a Monarquia, revestiram-se de grande riqueza e diversidade: participou activamente na conspiração republicana que iria conduzir ao 5 de Outubro de 1910, nas movimentações políticas conducentes à queda da ditadura de Pimenta de Castro em 1915 e opôs-se, tanto ao sidonismo, como ao salazarismo, o que lhe valeu por diversas vezes a prisão e finalmente o exílio. 

Filiado na Maçonaria, acabou por se desvincular daquela organização ao cabo de vários anos de participação irregular nas suas actividades.

De fortes convicções republicanas, foi Convidado para Ministro da Instrução, não aceitou o convite, mas foi deputado pelo Porto entre 1915 e 1917. Defendeu a entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial, e apesar da imunidade que essa qualidade de Deputado lhe dava, ofereceu-se como voluntário para as forças expedicionárias na qual participou voluntariamente como capitão-médico do Corpo Expedicionário Português.

Escritor (poeta, dramaturgo, contista, memorialista), colaborou na concretização de diversas publicações que marcaram a vida intelectual do primeiro quartel do nosso século.

Teve fortes contactos com outros intelectuais da época, tendo fundado a revista “Nova Silva”com Leonardo Coimbra em 1907, e a revista “Águia” em 1910 com Teixeira de Pascoaes. Em 1912 iniciou a Renascença Portuguesa, que só viria a abandonar em 1921 para co-fundar a revista “Seara Nova” com Raul Proença, tendo também colaborado com a revista “Lusitânia”, de Carolina Michaëlis de Vasconcelos.

O seu envolvimento com o panorama literário da sua época levou-o a publicar livros de poesia,contos infantis e para adultos.

Teve grande dinamismo pedagógico, tendo impulsionado o surgimento das Universidades Livres e Populares que davam formação a pessoas já a trabalhar, e publicou também a obra Cartas à Mocidade, para formação dos mais jovens.

Em 1919 foi nomeado director da Biblioteca Nacional de Portugal e a 28 de Junho desse ano foi feito Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada. Em 1921, abandonando a Renascença Portuguesa, foi um dos fundadores da revista “Seara Nova”.

Participou numa tentativa de derrube da ditadura militar portuguesa, presidindo a Junta Revolucionária estabelecida no Porto. Por esse motivo foi demitido de seu cargo na Biblioteca Nacional de Lisboa (1927), vindo a exilar-se em França, de onde saiu em 1940, quando da invasão daquele país pelas forças da Alemanha Nazi no contexto da Segunda Guerra Mundial.

Mudou-se então para o Rio de Janeiro, no Brasil, onde se dedicou a dar aulas na universidade, tendo-se especializado na área da História dos Descobrimentos Portugueses e da formação do Brasil.

No fim da sua vida, visitou regularmente Portugal, tendo regressado definitivamente apenas em 1957, onde apoiou a campanha presidencial de Humberto Delgado, foi preso por 4 dias com António Sérgio, Vieira de Almeida e Azevedo Gomes. Em 1958 foi eleito presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores.

A sua avançada idade não lhe permitiu aceitar a proposta da Oposição ao Estado Novo de se candidatar à Presidência da República, em 1958, mas não o impediu de continuar a lutar contra o regime, tendo sido um dos autores e o primeiro signatário de um Programa para a Redemocratização da República que só viria a público alguns meses depois do seu falecimento em Lisboa, a 14 de Agosto de 1960.

Jaime Cortesão escreveu no Jornal “A Vida Portuguesa”, editado no Porto no dia 31 Outubro 1912 o seguinte texto sobre o Problema da Emigração: “Anda alarmado o País porque todas as semanas os Paquetes do Brasil e colónias deixam no seu rasto de espuma as saudosas despedidas de Portugueses sem pão a quem o País não tem sabido evitar que emigrem”. Tal situação descrita encontra, 103 anos depois, um paralelismo atroz, em que os Paquetes deram lugar às companhias aéreas “low-cost”, para transporte dos nossos emigrantes licenciados e sem emprego no nosso país, e as colónias deram lugar a países livres e autodeterminados.

Esta é a história resumida da vida e obra de um grande Pedagogo, Médico, Humanista, Revolucionário e Maçon, que pautou toda a sua vida por princípios altruístas de ajuda aos mais desfavorecidos, contribuindo decisivamente para uma sociedade mais justa e perfeita, força aglutinadora que congrega os homens livres e de bons costumes.

Existem muitas e variadas razões que suportaram a escolha do nome de Jaime Cortesão, para meu nome simbólico: a primeira de todas foi por ter nascido numa vila do mesmo concelho que eu…concelho de Cantanhede! As restantes razões encontram justificação em tudo aquilo que foi a sua vida, obra e marcas que deixou na Sociedade Portuguesa.

Pretendo seguir os passos de tão extraordinário personagem. Pretendo com o trabalho da minha pedra bruta, construir o meu Palácio da Eternidade, o legado que deixarei para as gerações futuras através de actos e palavras, obedecendo aos princípios da Fraternidade e da Tolerância.

Em suma, adoptar um nome simbólico de um grande Homem será sempre abusivo, a estatura intelectual e de lutador por causas como a Liberdade e a Justiça, é o ideal político que se insere no ideal do Maçon e são razões sobejas para adoptar o seu nome.

Termino este texto com uma citação de Jaime Cortesão no livro "História do Regime Republicano em Portugal":

“ A consciência de uma solidariedade e de um ideal colectivo, o sentimento e a ideia de uma pátria elaboram-se lentamente através desses movimentos de grupos e das lutas entre eles suscitadas. E por via de regra os grandes homens são tanto mais representativos quanto melhor encarnam e orientam as aspirações colectivas.”

Jaime Cortesão C:. M:.

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