Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

11 de abril de 2012

O privilégio de ter conhecido Carlos Capelas

As memórias que guardo do Eng. Carlos Capelas quando eu era ainda um profano

Nos confins do tempo estarão os antigos processos usados na fundição em areia. Um desses antigos processos foi descrito pelo Engenheiro de fundição Carlos Capelas, num texto que escreveu sobre a construção do Templo de Salomão.
Neste excerto relativo à fundição das Colunas em bronze, Carlos Capelas diz o seguinte:

III – O fabrico das colunas

Infelizmente a Bíblia pouco nos diz quanto ao fabrico das Colunas, mas fala-nos acerca do seu construtor. E se o seu nome Hiram Abiff nos aparece numa obra com a importância da Bíblia, certamente era um artista multifacetado nas várias tarefas que teve de exercer como arquitecto, construtor, engenheiro, escultor, fundidor e gestor, dado que o Templo, por várias vezes teve milhares de trabalhadores.
Assim quanto às Colunas a Bíblia diz: “A primeira tinha dezoito côvados de altura; a sua periferia media-se com um fio de doze côvados. Tinha quatro dedos de espessura e era oca. A segunda coluna era semelhante à outra. Ele fundiu dois capitéis que tinha cinco côvados de altura e eram iguais. E estavam ornados de redes de malha e grinaldas em forma de cadeia; havia sete grinaldas para cada capitel. Para complementar dispôs em círculo, ao redor de cada uma das malhas, duas fileiras de romãs para armar cada um dos capitéis que cobriam as colunas. Os capitéis colocados sobre as colunas do pórtico, tinham a forma de lérias. Com quatro côvados de altura. Os capitéis colocados sobre as duas colunas erguiam-se por cima da parte mais espessa da coluna, além das redes em volta dos dois capitéis, havia duzentas romãs dispostas em círculo”.
Em conclusão as colunas eram iguais, e parece que cada uma delas teria as seguintes dimensões aproximadas: altura do fuste 9,45 m e espessura 80 mm. Isto quer dizer que os elementos da fonte estão certos, parece que o peso de cada uma das colunas em bronze era, aproximadamente de 25 toneladas.
Assim não só o peso de cada coluna, como o fabrico dos moldes em madeira, a preparação da areia de moldação, o fabrico do macho, isto é, o interior da coluna, a moldação de cada uma das peças, isto é, fuste, base e capitel, cada uma destas peças moldadas em areia e, certamente no chão para suportar a pressão da coluna líquida quando do vazamento. Depois o vazamento de toneladas de bronze líquido. A seguir a limpeza da peça, o seu cinzelamento e a colocação na vertical na posição definitiva, tudo isto na época em que foi feito, com a tecnologia existente e as ferramentas ao dispor, certamente que exigiram de Hiram Abiff e seus colaboradores, enorme esforço para se resolverem complexos problemas técnicos de engenharia e para se conseguir a obra de Arte das duas Colunas do Templo de Salomão.
No tempo em que Hiram produziu esta obra de engenharia, não existia no mercado como actualmente existe à venda lingotes de cobre e de estanho que são usados para fazer a liga de Bronze.
Assim podemos pensar que Hiram tenha realizado uma primeira fusão, respectivamente para o cobre e para o estanho, com os minérios que têm estes metais. O cobre encontra-se na calcopirite e o estanho na cassetirite. Portanto, certamente, em cadinhos feitos de argila cosida, previamente aqueceu estes minérios para obter o cobre e o estanho. Depois juntou o cobre e o estanho para obter a liga de bronze.
O bronze tem grande resistência à compressão, ductibilidade e tenacidade e, talvez tenha sido uma liga com cerca de 80% de cobre e 20% de estanho.
Como é desconhecida a composição correcta admite-se que a fusão estaria com a temperatura cerca dos 1200º C. É costume derreter primeiro o cobre que cobriam com carvão de madeira em pó para não oxidar e depois adicionarlhe o estanho. Para manter a temperatura deve ter sido um problema técnico difícil. Os antigos parece que mergulhavam uma vara de ferro no banho e se o cobre agarrava era porque a temperatura era insuficiente. No caso presente, certamente tiveram de vazar vários cadinhos, possivelmente fabricados com argila e zircónio, materiais refractários.
Os cadinhos certamente tinham um furo na base tapado com um cone em barro, por onde irá sair o metal líquido.
Admite-se que os cadinhos, talvez 5 ou 6 foram colocados num patamar elevado para aproveitar a força da gravidade para o metal derretido correr para dentro da moldação da coluna, certamente feita no chão.
Outro problema deve ter sido o fabrico da areia, parece trazida da planície do Rio Jordão, numa região argilosa que fica entre Socot e Sartã. Na Bíblia no Livro dos Reis cap. I (7, 21) diz-se que Hiram Abitff foi ai que levantou as colunas. O aglomerante para a areia, possivelmente foi bosta de vaca, porque tem cola e matéria orgânica, tem ervas da comida dos animais e com a temperatura do vazamento, as ervas queimam e deixam canais por onde saem os gases durante o vazamento e aumentando a permeabilidade da areia da moldação evitando que os gases fiquem na peça deixando defeitos.
Após o vazamento de cada coluna, com o peso de 25 toneladas, possivelmente foi necessário mais e após o vazamento, calcula-se umas 2 semanas para cada coluna arrefecer, para depois ser limpa e cinzelada.
Depois para transportar as colunas para o Templo, tinha para ajuda máquinas simples, nas “mastabas” no Egipto podem-se observar ferramentas como planos inclinados, alavancas, rolos, roldanas, cadernais, cordas e tenazes” (Carlos Capelas).


Para terminar, deixo aqui um pequeno apontamento comparativo: O tempo gasto no vazamento da Estátua de D. José I, no Terreiro do Paço, onde foram derretidos 38.295 kg de bronze, foi de quase 8 minutos, tendo a estátua cerca de 7 metros de altura. Bartolomeu da Costa, o engenheiro que dirigiu esta fundição, foi um conhecedor e um inovador na área da fundição do século XVIII.
Depois deste feito técnico em Portugal, só se conhece um outro fundido de grandes dimensões, executado também num só vazamento, mas já no século XX. Este fundido a que a me refiro, foi uma peça industrial, o corpo de uma turbina que pesava 50 toneladas. O vazamento do metal sobre uma moldação de areia de Co2, demorou pouco mais de um minuto. A fundição desta peça industrial encomendada pelos ingleses foi dirigida pelo engenheiro Carlos Capelas. Um ilustre maçom da nossa Augusta Ordem que passou ao Oriente Eterno, a quem eu rendo homenagem adoptando o seu nome profano como meu nome simbólico.

Carlos Capelas M:.M:.

Abril de 2012

Sem comentários:

Enviar um comentário