Música cerimonial Maçónica
Autor: Ivan Herrera Michel
Anexo:
interpretações da Música cerimonial maçónica:
A música cerimonial maçónica não é mais do que a encenação nas Lojas, a partir do século XVII, de um saber cultural muito antigo e profundamente enraizado na humanidade, que parece ter surgido no período Paleolítico Superior, há pouco mais de 40.000 anos. Os antropólogos concluíram que as flautas já eram usadas em contextos rituais nessa época, tendo encontrado na actual Eslovénia uma feita de osso de urso, datada de há cerca de 43.000 anos, que se discute ser dos Neandertais, e outra na Alemanha, feita de marfim de mamute, de há cerca de 35.000 anos, que se atribui aos Cro-Magnons.
Mas também os encontramos destinados a momentos específicos do ritual, como a entrada na Oficina, o reconhecimento do Irmão, o acender das luzes, o perguntar a hora de começar ou concluir o trabalho, a abertura do trabalho, um intervalo, a circulação do Tronco da Viúva, a Cadeia de União, o apagar das luzes, a saída do Templo, as provas, as purificações, as jornadas….
No século XVIII, destacam-se como compositores de música maçónica Jean Christophe Naudot, Louis Nicolas Cleramboult, François Girourt e, sobretudo, Wolfgang Amadeus Mozart, que conferiu à música maçónica um estatuto de nobreza ao compor verdadeiras obras-primas. No extremo produtivo da escala está W. A. Mozart, com onze obras-primas compostas especialmente para a Ordem.
Ora, que características deve ter uma composição para ser considerada maçónica? A resposta é simples: deve ter sido preparada para uso exclusivo nas Lojas ou arranjada para esse fim, deve trazer na sua composição um ar de emoção e que, graças à letra, à música e/ou à voz do cantor, transcenda as diferentes fases de uma cerimónia maçónica.
As letras referem-se sempre a valores morais ou a qualidades maçónicas. Verbi gracia, os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, ao mesmo tempo que se tornaram o lema da República Francesa, foram promulgados nas Lojas e encontram-se no texto das suas canções, ao lado de símbolos essenciais da Maçonaria como o compasso, o esquadro, a pedra bruta e talhada, o cinzel, etc.
Os estudiosos descobriram que existem modos musicais maçónicos. Por exemplo: a tonalidade de Mi bemol maior com três bemóis seria maçónica, na explicação de que o simbolismo da Ordem se refere frequentemente ao número três. É inegável que os compositores maçónicos introduziram com sucesso alusões simbólicas relacionadas com a Maçonaria nas suas obras.
Um exemplo claro pode ser encontrado na abertura de “A Flauta Mágica” de Mozart, cujo libreto foi escrito pelo colega Maçom Emanuel Schikaneder. Nesta peça, o compositor emprega a repetição de acordes três vezes três, um dispositivo rítmico que não deixa dúvidas quanto à sua intenção de representar o batuque do Grau de Aprendiz.
No entanto, os estudiosos concordam que não é possível compor música maçónica relegando a inspiração melódica na busca de uma construção puramente matemática ou geométrica para reflectir o simbolismo da Ordem. Isto só pode resultar num emparelhamento musical pobre e sem qualidade superior, contrariando o princípio fundamental de que a música nas reuniões deve, acima de tudo, provocar uma emoção no ouvinte que complemente e enriqueça o conteúdo do método de construção maçónica em curso.
De outra forma, “A Flauta Mágica” não passaria de um conto de fadas divertido, polvilhado de conteúdo maçónico ocasional, baseado na cultura popular alemã, onde o humor de Papageno se torna o foco principal, ofuscando a exaltação da virtude, da justiça e da luz que dissipa as forças do mal. Assim como o elogio de uma sabedoria baseada no conhecimento da verdade. É a visão do Rito de Zinnendorf do século XVIII que permite a compreensão plena dos elementos que conferem a “A Flauta Mágica” a totalidade do seu carácter maçónico.
A lista de maçons que foram músicos é longa. Para além dos acima mencionados, inclui I. J. Pleyel, Johan Christian Bach, Jean Sibelius, Franz Joseph Haydn, Felix Mendelssohn Bartholdy, Hector Berlioz, Nicolo Paganini, Franz Liszt e John Philip Souza, entre os clássicos, bem como figuras da música popular como Duke Ellington, Nat “King” Cole, Louis Armstrong…. mas há que distinguir sempre que muitos deles não compuseram obras para serem executadas com fins maçónicos, embora durante a sua permanência na Ordem se tenham frequentemente deleitado com o exercício fraterno do seu talento. Por isso, a sua música não pode ser considerada maçónica.
A importância da música na Maçonaria é tal que na maioria das Lojas, independentemente do rito em que trabalham, elegem um oficial encarregado de uma “Coluna de Harmonia” para fornecer melodias para cerimónias e festas.
Não se trata apenas de tocar o hino nacional na Instalação de Dignidades, de ambientar as pausas com a “Pequena Cantata Maçónica” e, em ocasiões de luto, a “Marcha Fúnebre Maçónica K477” de Mozart, ou de decorar as sessões cantando o “Canto da Alegria”, na versão que começa com “Ouve, irmão / o canto da alegria / o canto alegre de quem espera / um novo dia. / Vem, canta, sonha cantando / vive sonhando com o novo sol / quando os homens / serão novamente irmãos…”.
Ouvir as melodias apropriadas, entrelaçadas com cada momento de um ritual maçónico, é sempre uma experiência maravilhosa que não deve ofuscar os dois principais protagonistas da obra, que são a palavra e o silêncio, mas que, pelo contrário, constituem com eles um único corpus iniciático.
Ivan Herrera Michel
Artigo publicado originalmente em espanhol, inglês e francês na 10ª edição da revista “Linea Infos” dedicada ao tema “A expressão artística no processo maçónico”, com contribuições de ambos os lados do Atlântico (https://www.webfil.info/post/la-musica-ceremonial-mas%C3%B3nica).
Selecionado do Blog «Freemason.pt» de 19/4/24, por Salvador Allen:. M.M:. / Blogs RL:. Salvador Allende e «Comp& Esq». Anexo inicial, incluido posteriormente sob n/ responsabilidade)
Fonte
• Blog "Pido la Palabra"
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