O SOL E A LUA DO MEIO-DIA À MEIA-NOITE

O Sol é a estrela central do sistema solar. Todos os outros corpos giram ao seu redor. A Lua é o único satélite natural da Terra e o quinto maior do Sistema Solar, e é o astro mais brilhante no céu, embora a sua superfície seja na realidade escura, com uma refletância pouco acima da do asfalto (só brilha em função da luz solar refletida na sua superfície). Outros planetas do sistema solar também têm satélites naturais. Netuno e Urano também são circundados por luas. O planeta que possui mais luas é Júpiter, são 64 ao todo.
Encontramos referência ao Sol e à Lua logo no início da criação (Gênesis, capítulo 1, versículo 16 (1:16.) do Velho Testamento/Bíblia - “Deus, pois, fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelas”), na tradição judaica em que a Lua simboliza o povo judaico, no Budismo (Buda meditou durante 28 dias, mês lunar, antes de alcançar o Nirvana. O Nirvana é a meta máxima da prática espiritual dos seguidores do budismo. É um estado de paz e tranquilidade alcançado através da sabedoria).
As religiões primitivas divinizavam o Sol, o mesmo se tendo verificado no Egito, na Suméria e noutras regiões das civilizações da Idade do Bronze e subsequentes, prévias às mais elaboradas crenças greco-romanas e ao Monoteísmo. 
A Lua e o Sol são associados com o yin-yang, onde a Lua representa "yin" e o Sol representa "yang", conceitos do taoismo que expõem a dualidade de tudo que existe no universo. Descrevem as duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as coisas: o yin é o princípio feminino, noite, Lua, a passividade, absorção. O yang é o princípio masculino, Sol, dia, a luz e atividade.
 O Sol é o lado ativo, o vitalizador essencial, o pai da fecundidade. Glorifica e fortalece, é o princípio ativo, autónomo. É o animador sexual da mulher.

O Sol corresponde ao fogo, por oposição à Lua, que corresponde à água.
Apesar destes dois elementos serem opostos, é o fogo que aquece a água, que a faz ferver, que a transforma do seu estado sólido para o líquido. Sem a força do Sol, o gelo nunca seria água.
 A Lua privada de Luz – é apenas um reflexo do Sol, muda constantemente de forma, e por isso, simboliza a dependência, o princípio feminino, a periodicidade e a renovação. É o símbolo dos ritmos biológicos e do tempo que passa.
A Lua é um símbolo do conhecimento indireto, teórico, conceptual, racional.

A Lua tem um papel extremamente complexo. É o reflexo do Sol. Quando está em oposição ao Sol, a Lua atinge a sua plenitude. Levanta-se quando ele se põe, e durante toda a noite toma o seu lugar. Quando passa entre o Sol e a Terra mostra-nos uma face escura. Mas pouco a pouco, o seu crescente amplia-se e volta novamente à sua plenitude.
A Lua é o princípio passivo que recebe e reflete.

A sua velocidade de deslocação e a rápida sucessão das influências que transmite, faz dela um símbolo de instabilidade e de mudança. A Lua representa acima de tudo, a imaginação e a sensibilidade. Ela é a animadora sexual do Homem.
Na maioria das mitologias, a Lua associa-se à ideia de fertilidade: Istar – na Babilónia, a grande Deusa de todos os povos semitas, deusa do amor e das batalhas; Hathor – no Egipto; Artemis – na Anatólia e Grécia; Anaíteas – na Pérsia.
 O Sol e a Lua simbolizam o dia e a noite, a luz direta e a luz reflexa, a ação e a reflexão, o trabalho e o descanso, o dinâmico e o estático, a crueza da forte luz solar, e a placidez da suave luz lunar, a ação e a reação, o calor e o frio, a água e o fogo. O Sol é relacionado com o ouro e o enxofre, a Lua com a prata e o mercúrio.
O Sol sempre foi associado ao princípio ativo, ao masculino, ao poder criador, e a Lua associada ao princípio passivo, ao feminino, à fecundidade. Noutro plano, o Sol representa o Espírito, enquanto a Lua representa a Alma.
O Sol e a Lua não se digladiam, repartem entre si o dia e a noite.
No simbolismo cristão, o Sol também representa o Sacerdócio e a Lua o Império. Isso para assinalar a superioridade do primeiro sobre o segundo. O Sol é atribuído à Igreja, e a Lua à Sinagoga, e esse simbolismo é traduzido por "Verdade" e "Erro", naturalmente.

Esse simbolismo demasiado absoluto, segundo “Jules Boucher”, é feito de aposições e de contrastes, não leva em conta a necessidade das duas luminárias e de suas respetivas qualidades. Quando considerados individualmente, o Sol e a Lua, ora são benéficos, ora são maléficos. O Sol que chama à vida todos os germes, também pode matá-los.
A Lua considerada "benéfica" na sua fase ascendente, também se considera "maléfica" na sua fase descendente/minguante.
 Feita esta introdução sobre o Sol e a Lua, vejamos agora MM∴QQ∴IIr∴, como é que estas duas luminárias acolhidas na maçonaria há vários séculos, têm sido entendidas pelos maçons, esclarecendo-se previamente, que a colocação destes símbolos nos templos maçónicos, não tem nada a ver com crenças pagãs ou religiosas, mas antes com a atenção para a dualidade, e para a polaridade.
Sendo o Templo uma figuração do Universo, o Sol e a Lua estão representados em cada um dos lados do retábulo do Oriente. No REAA o Sol, ativo e resplandecente,  simbolizando o dia, à esquerda do V∴M∴, do lado da Coluna J (à direita para quem entra no templo), e a Lua, passiva, simbolizando a noite, à direita do V∴M∴, do lado da Coluna B (à esquerda de quem entra no templo), sempre foram objeto de variadissimas interpretações por parte da maçonaria especulativa, como veremos.
Na Loja os "trabalhos" iniciam-se simbolicamente ao Meio-Dia, quando o Sol está no apogeu ou Zénite (ponto mais elevado), e encerram à Meia-Noite, quando ele está no ponto descendente ou Nadir (ponto mais baixo); nesse momento, supõe-se que a Lua esteja em seu pleno esplendor.
Para que o Maçom se possa entregar ao seu trabalho, que é diário e permanente, (pese embora, a sua Sessão em Loja seja normalmente quinzenal), deve posicionar-se como um Iluminado, e isso, apenas será possível quando o Sol estiver no seu zénite, com os raios perpendiculares. Esse período é variável de acordo com a situação do local onde o Maçom se encontrar, embora, na realidade, como sabemos, o Sol nunca nasce, e nunca se põe.

No pano de Loja do quadro de Aprendiz, podemos ver três janelas, a primeira a Oriente no momento do nascer do Sol, a segunda no meio-dia, no Meridiano, e a terceira, a Ocidente, no terminar do dia, momento em que a Lua surge para crescer em brilho, e dominar a noite.
O Sol é o símbolo da Luz, que para os maçons é a do conhecimento, do esclarecimento mental e espiritual, luz que vem do Oriente, e está colocado no lado onde se coloca o Orador, que simboliza o Sol, pois é dele que emana a luz, enquanto guardião da Lei.
A Lua, fica do lado do Secretário, porque este, na correspondência cósmica dos cargos em Loja, representa a Lua, dado refletir nas atas, a Luz que vem do Orador, personificação do Sol.
A Lua, ilustrada no quadro de Aprendiz na sua fase crescente/ascendente (por cinco dias), ensina-nos que a escala iniciática do obreiro se faz das trevas para a Luz, e indica ao maçon o dever de aumentar o conhecimento que recebe. A sua propriedade de reflecção indica ao maçon o dever de retransmitir o conhecimento adquirido.
O Maçom, após a iniciação, passa a ser um “iluminado”, mas como se disse, o processo iniciático inicia-se num ambiente de penumbra, e prossegue com provas e viagens, mantendo-se o candidato com os olhos vendados para que tome consciência de que está nas trevas, e que, a sua maior aspiração é “receber a luz”.
O Sol ilumina a coluna do meio-dia (sul), a dos companheiros, a Lua a da meia-noite (norte), a dos aprendizes. A Lua reflete luz do Sol na direção da coluna norte, a dos aprendizes, que trabalham na sombra.
Entre o Sol e a Lua encontra-se o V∴M∴, que dirige os trabalhos entre o meio-dia e a meia-noite, ou seja, entre o Sol e a Lua.
Este simbolismo do meio-dia à meia-noite, tempo em que os maçons trabalham a pedra bruta, é atribuido a Zoroastro, conforme muitos Rituais denunciam. Zoroastro foi um importante profeta persa, considerado como um dos principais mestres dos Antigos Mistérios, chamado por muitos de “pai do dualismo” e tido como precursor de muitos pensamentos comuns entre as três vertentes religiosas de Abraão: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. A tradição diz que os trabalhos nos templos de Zoroastro ocorriam do meio-dia à meia-noite, e que sua filosofia tinha por base a cosmologia. O antagonismo do dia e da noite, da claridade e da escuridão, era visto na natureza e no bem e o mal, presentes em cada ser humano.
Ao meditar sobre a relação entre estes dois símbolos, o Maçom poderá concluir que há tempo de agir, e tempo de refletir. Há tempo de fazer, e tempo de descansar. Há tempo de aprender, e tempo de ensinar. Há ação e contemplação. Há dia, e há noite. Há verso e há reverso. E por isso, tal como o Sol e a Lua se influenciam e se completam, assim deve o Maçom gerir a sua vida, trabalhando, mas também contemplando.

MM∴QQ∴IIr∴, podemos assim concluir que, o Sol e a Lua representam para o Maçon a Luz iniciática, e o seu reflexo no Templo interior que se quer construir, e que estes símbolos, pela sua complementaridade, não podem ser vistos dissociadamente.

Montesquieu, M∴M∴

Bibliografia
 Boucher, Jules - A Simbólica Maçónica. Editora Pensamento.
 Miralles, Adolf Colom - La Simbólica Maçonica – Un Estudio Analítico Sobre La Masoneria Especulativa y su Simbología. Editora Arte Real.
 Da Camino, Rizzardo - O Aprendizado Maçônico. Editora Livraria Maçônica Paulo Fuchs