O PAINEL DO GRAU DE APRENDIZ- INTERPRETAÇÃO SIMBÓLICA
Com as Lojas Azuis trabalhando no Ritual do Grau 1, as cerimónias desenvolvem-se em torno do respectivo Painel.
Em torno do Painel os Irmãos exercitam as suas mentes como maçons especulativos livres e aceitos
Fazer a interpretação da simbologia do Painel é uma tarefa complexa e talvez nunca acabada, como tento explicar no final deste texto.
Quando o neófito observa pela primeira vez o Painel colocado pelo Irmão Experto na sua posição no solo, tem uma visão sincrética do seu conteúdo simbólico. Já ouviu e já leu algo sobre alguns dos símbolos presentes no Painel. Terá agora que estudar o seu significado, de modo a adquirir o conhecimento analítico de cada símbolo contida no Painel. Concluída esta fase, terá que conseguir fazer a interpretação do conjunto dos símbolos que compõem o Painel, ou seja a fase sintética do conhecimento da simbologia. Permitam que expresse agora a dúvida pessoal sobre esta fase sintética. Será que alguma vez estará concluída, ou ela é evolutiva e nunca acabada?
Tentarei no entanto dar um modesto contributo para a discussão desta dúvida.
Na sua versão actual, o painel foi precedido na sua função iniciática por desenhos feitos no solo, por exemplo nas tabernas de reuniões maçónicas, como era o caso da Taberna Três Gansos, entre muitas outras. Na reunião na taberna os obreiros consideravam que, perante o Painel traçado no piso, o Espírito Maçónico descia entre eles, de modo que o humilde local se transformava num santuário venerável, pela magia do ritual e pela fé dos assistentes.
O Painel efémero era apagado no final da reunião, não deixando informação visível para olhos profanos. O Painel era desenhado em todas as reuniões pelo Irmão Experto. Esta situação manteve-se até 1730. Em 1808 Wiliam Digth pintou os três painéis dos três graus chamados Painéis de Grau ou Painéis Simbólicos. Em 1820 John Harris desenhou a sua versão de painéis definitivos, com uma dimensão média de 50cmX80cm
Actualmente o painel mantém-se impresso em forma definitiva e persistente.
Constitui o mais robusto símbolo da N:.A:.O:. em Loja, considerando que representa a Loja em si própria e é um repositório de uma parte significativa dos símbolos maçónicos. Representa uma visão do Templo.
O Painel é aberto no início dos trabalhos, com a parte cimeira virada para o Oriente, ou seja para o V:.M:.
É colocado no solo, a oriente das colunas B e J, entre os pilares Sabedoria (Jónica- Venerável Mestre- Inteligência criadora, que nos deve orientar no Caminho da Vida), Força (Dórica-1º Vigilante- a capacidade de realização, que nos deve animar e sustentar nos momentos de dificuldade em superar os obstáculos), Beleza (Coríntia-2º Vigilante- a faculdade imaginativa que adornar as nossas acções, o nosso carácter e o nosso espírito). Representam as Três Luzes da Loja e que no seu conjunto formam um triângulo ou um Esquadro virtual, atendendo à inexistência física dum pilar a Nordeste (local teórico do pilar da inteligência, que não tem representação física porque a inteligência tem que estar presente em todas as manifestações maçónicas).
No painel temos representados vários símbolos maçónicos, os quais contribuem como meio de aceder ao conhecimento iniciático.
Citemos:
-Pavimento Mosaico
-Três degraus
-Porta
-Pórtico
-Delta Radiante
-Olho Divino
-Letra G
-Coluna B e Coluna J
-Romãs
-Compasso
-Esquadro
-Malho ou Macete
-Cinzel
-Nível
-Prumo ou Perpendicular
-Sol
-Lua
-Romãs
-Orla dentada
-Corda de 81 nós
-Borlas dentada e simples
-Laços do amor
-As três janelas
-Pedra bruta
-Pedra cúbica
Tentaremos abordar o significado de cada um dos símbolos referidos.
Para referenciarmos os símbolos figurados no Painel devemos considerar neste os quatro pontos cardeais, a periferia e a zona central.
Identificando ao longo do Painel, de Ocidente para Oriente e da periferia para o centro, encontramos:
PAVIMENTO MOSAICO- Com a complementaridade dos mosaicos pretos e brancos, é decoração obrigatória de todos os Templos maçónicos. Ocupa o pavimento ocidental do Templo. Tem dimensão variável no Painel, mas na sua versão real no Templo deve ser compatível com os três passos regulamentares em esquadro, para a entrada no Templo. Invoca as pedras justapostas colocadas por Moisés à entrada do Tabernáculo. As duas realidades complementares do preto e do branco significam que, à escala humana, nada é absolutamente branco nem absolutamente preto. O branco, com carácter masculino, resultante da reunião de todas as cores, invoca o dia e o céu. O preto não é uma cor. Representa a noite, com ausência de luz, ilusões e fantasias. Tem carácter feminino e representa também a terra e a matéria.
TRÊS DEGRAUS- Encontram-se no Ocidente, a caminho do Oriente, contíguos com o pavimento mosaico, e representam os três anos de ascensão progressiva do Aprendiz para a Luz. Suportam as Colunas Vestibulares B e J e a Porta de acesso ao Templo, com o Pórtico e o Delta Luminoso.
ORLA DENTADA- É constituída por triângulos brancos e pretos alternados. Envolve todo o Painel, que se considera ser o ponto iluminado do qual irradia, com exclusão do Ocidente. Representa a união que deve existir entre todos os homens em torno de um ideal humanitário. Abriga os símbolos no interior do painel.
CORDA DE 81 NÓS – Por limitação do espaço disponível, está representada por uma corda menor, de 7 nós (ou 12, em função da representação iconográfica variável, caso em que os 12 nós representam os doze signos do zodíaco ). Representa uma força de união, ou seja, os laços que congregam todos os irmãos espalhados pelo planeta. Os nós são formados por laços do amor, ou seja, o algarismo oito aberto. Termina nas Borlas, de cada lado das colunas B e J ao norte e ao meio dia. A Corda e as Borlas representam uma protecção e união dos símbolos inscritos no Painel face ao mundo profano, porque delimitam uma área sagrada.
BORLAS- Pendem da corda, em número de quatro: duas a Oriente ladeando o trono do V:.M:. (a Justiça e a Prudência) e duas a Ocidente nos limites da corda, ladeando as colunas B e J e os três degraus (Temperança e Coragem). A Borla terminal representa o colectivo formado pela junção dos fios individuais. Lembra que cada membro tem a sua responsabilidade individual no conjunto da comunidade. No entanto, em vários exemplos da iconografia disponível surgem apenas as duas borlas a ocidente, nas extremidades norte e sul da corda.
COLUNAS VESTIBULARES – Encontram-se colocadas a ocidente, à entrada do Templo sobre os três degraus. Representam as colunas colocadas pelo arquitecto Hiram Abiff no ingresso do Templo de Salomão. São já referidas no Livro dos Reis. A noroeste encontramos a Coluna B (Boaz ou Booz – nome do bisavô do Rei David) e que representa a força. A sudoeste encontramos a coluna J (Jakin- a Coluna dos Companheiros ou Segunda Coluna de Salomão) e que representa a estabilidade. Sobre as Colunas figuram as Romãs, folhas de lótus e correntes
ROMÃS- Representavam o símbolo da fecundidade no Reino de Salomão. No componente interior da romã, os alvéolos representam as lojas maçónicas, com os grãos que representam os obreiros, unidos e solidários entre si. Mas representam também a capacidade de fecundação e renovação da vida. O vermelho dos grãos representa o calor e a luz. Simboliza também que o Aprendiz acedeu a um novo nascimento após ter germinado na câmara de reflexão.
PORTA e PÓRTICO – Representam a entrada para o Templo e o suporte para o Delta Luminoso.
DELTA LUMINOSO- É a quarta letra do alfabeto grego, formado por um triângulo equilátero, que significa a unidade do ser. De acordo com a Obediência que consideremos, representa a Trindade Divina, o Princípio Universal ou o equilíbrio da tríade Bem Pensar, Bem Querer, Bem Fazer. Quando consideramos a figuração do Painel, o Delta encontra-se no Pórtico. Na Loja encontra-se no centro do Oriente, por trás e por cima do trono do Venerável Mestre. Dos três lados do triângulo irradiam três grupos de raios que terminam numa coroa de nuvens. Os raios representam a força expansiva, centrífuga, que irradia do Delta. As nuvens representam a força centrípeta que converge e concentra as forças que foram irradiadas. Pode ser centrado pela Letra G ou pelo Olho Frontal.
OLHO FRONTAL- Colocado no centro do Delta Luminoso, não é um olho direito nem esquerdo. É o olho divino, da consciência interior ou da providência, que tudo vê. Pode-se considerar que representa os atributos do GADU.
LETRA G- Está figurada em alguma iconografia, mas não é discutida neste âmbito, porque pertence ao segundo grau (Companheiro).
PEDRA BRUTA- Está colocada a Norte, junto do Malho ou Macete e do Cinzel. Representa as imperfeições do espírito e a personalidade ainda rude do Aprendiz, ainda com imperfeições do espírito.
PEDRA CÚBICA- Está colocada a Sul. Representa a evolução do Companheiro até atingir o estadio de Mestre Maçon. Sendo assim representa a estabilidade, o homem esclarecido, que domina as próprias paixões.
MALHO ou MACETE- Representa a força de carácter ao serviço da razão e da inteligência, e a potência e energia dirigente. Significa que o espírito actua sobre a matéria, simbolizada pelo cinzel. É o símbolo do poder e autoridade do Mestre que exerce funções de direcção.
CINZEL- Representa o intelecto, trabalho inteligente e determinação na obtenção de objectivos, em particular o desbaste da pedra bruta da personalidade. É activo em relação à pedra, mas passivo em relação ao maço. É o instrumento do aprendiz. Quando são representados juntos no Painel, o Macete e o Cinzel simbolizam a Sabedoria.
RÉGUA DE 24 POLEGADAS- Simboliza a rectidão. Mas também a lei, ordem e inteligência. Não está referenciada em todas as fontes de literatura consultada nem representada em toda a iconografia. Mas está representada no Painel da R:.L:.S:.A:. Junto com o esquadro representam a ética. As 24 polegadas significam o dever de viver em harmonia com as 24 divisões do ciclo solar quotidiano e com a integração cósmica.
PRANCHA DE TRAÇAR- Também está figurada em alguma iconografia, mas tal como referido para a letra G, não será discutida porque também pertence a outro grau (Mestre)
TRÊS JANELAS – Simbolizam as três portas do Templo de Salomão. Encontram-se uma a Sudoeste, uma no Meio Dia e uma a Oriente, no local do altar do Venerável Mestre. Representam os pilares das três Luzes da Loja, onde o candidato a iniciado passa durante as Três Viagens Simbólicas. Encontram-se veladas por uma rede que simboliza o silêncio e o segredo. Não existe janela a Norte, porque aí domina a escuridão. Estão dispostas de acordo com o movimento do Sol, que nunca se dirige para o Norte.
COMPASSO- Emblema do espírito, encontra-se na zona central, a Oriente do Pórtico, aberto a 45º e com as pontas viradas para Oriente. Simboliza o dever, a justiça, a medida, a espirutualidade e o conhecimento. Representado junto com a régua representam a lei moral.
ESQUADRO- Tem a forma de ângulo recto. Encontra-se também na zona central, sobreposto ao Compasso. No Ritual de Grau 1, os braços do esquadro não se entrecruzam com as pontas do compasso. Incita-nos a promover as nossas acções com verdade, coerência, equidade e justiça. É a jóia do Venerável Mestre.
NÍVEL- Simboliza a igualdade entre os homens. Representa também o princípio da resistência e persistência ou da maturação e frutificação. É a jóia do Primeiro Vigilante.
PRUMO- Significa o conhecimento, equilíbrio e sensatez. Inspira a progredir com verticalidade. É a jóia do Segundo Vigilante.
ESTRELAS- Colocadas a nordeste. Junto com o Sol e a Lua representam o Firmamento. Três representam a Constelação de Orion. Sete representam o número mágico 7, que é a idade do Mestre Maçon. Este número representa o princípio que domina os elementos da natureza, com o predomínio do espírito sobre a matéria. Representa a energia perfeita, para utilização dos iniciados nos rituais. As sete estrelas da abóboda celeste representam as Sete Ciências Liberais.
SOL- Colocado a Sudeste. Simboliza a luz da razão e do intelecto. É o princípio activo que ilumina a Coluna do Meio Dia. Atinge o Zénite quando os trabalhos maçónicos começam ao meio dia em ponto.
LUA- É figurada por um crescente com cinco dias de evolução, colocado a Nordeste, na zona da Coluna dos Aprendizes, onde ainda não chegou a Luz, porque o aprendiz trabalha na sombra do conhecimento. Reflete a luz do sol e do espírito. Representa a capacidade de imaginação. A renovação ao longo das fases da lua representa a mutação dos seres e a sua renovação de acordo com a reaparição periódica daquela. O seu crescimento até à fase de lua cheia representa a fase ascendente do desenvolvimento e do conhecimento.
Como notas finais permitam-me estas modestas considerações e dúvidas sobre a simbologia contida no Painel, considerando que, como é referido na bibliografia “Um símbolo não impõe nada, convida a descobrir. É um meio para atingir o conhecimento”.
1-Esta não é a Prancha desejada, mas foi a prancha possível, atendendo aos conhecimentos ainda limitados nesta fase inicial do desenvolvimento maçónico e ainda a vários condicionalismos inultrapassáveis.
2-Não considero este texto um documento acabado, e fica-me a dúvida se alguma vez o poderá, ser visto que:
a)- As fontes bibliográficas a consultar são intermináveis. Se são muitas e variadas, significa que nenhuma detém a verdade absoluta.
b)- Em relação a alguns símbolos contidos no Painel ainda não existe reconhecido um significado consensual.
c)-Existem diferenças na iconografia disponível. Por exemplo: a Régua e Orla Dentada nem sempre estão representadas. Podem ser referidas quatro Borlas ou apenas duas. Qual é a melhor representação figurativa para a corda de 81 nós – com 7 ou com 12 nós?
d)-As diferenças na iconografia poderão estar relacionadas com diferentes épocas evolutivas ou diferentes Ritos. O que reforça a dificuldade de atingir nesta fase o conhecimento sintético acabado sobre a simbologia do Painel. É seguramente um desafio a resolver no futuro, já noutro grau. Se para tal tiver o acordo dos Irmãos responsáveis.
e) - Os conceitos expostos não são uniformes nas várias fontes consultadas, e noutras alguns símbolos do Painel não são referidos.
Procurei utilizar as noções das várias fontes como sendo complementares e compatibilizá-las no texto.
Humberto Verdi Apr:. Maç:.
(R:. L:. Salvador Allende)
BIBLIOGRAFIA:
-Proposta de Textos para Appr:. – Comissão de Instrução . R:.L:.S:.A:.
-Sinopse do Grau de Aprendiz Maçon- José Airton de Carvalho (Editora?)
-Grande Oriente Lusitano- Ritual do Grau de Ap:. M:. – 1996/1997
-Maçonaria Revelada- Os Segredos do Aprendiz Maçon (Autor? Editora?)
-Dicionário Secreto da Maçonaria – Sérgio Pereira Couto
-Uma Síntese da Simbologia Maçónica – José Marti- 2008
-A Franco-Maçonaria Tornada Intelegível aos Seus Adeptos – Oswald Wirth
-Simbolismo Maçónico- Carlos Frazão. Resp:. L:. Ocidente – 2012
-O Simbolismo na Maçonaria- Colin Dyer – 1975-76
Parabéns irmão Humberto...bela pesquisa e interpretação...muito útil aos estudos filosóficos da simbologia
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