O R.E. A. A. - PROGRESSÃO INICIÁTICA, PENSAMENTO LIVRE E SOCIABILIDADE FRATERNAL
Autor: Ma Àngels Prats
A OFERTA MAÇÓNICA, DIZ-NOS A AUTORA DO ARTIGO, ESGOTA-SE AO RECONHECER A MATURIDADE DO MESTRE; PORTANTO NÃO HÁ MAIS ALÉM NO QUE RESPEITA A OFERTA: O MAÇOM É INTEGRALMENTE MAÇOM AO ACEDER À MESTRIA. PELO CONTRÁRIO, SE HÁ UM MAIS ALÉM NA PESQUISA MAÇÓNICA, NO QUE AO MESTRE MAÇOM SE EXIGE A SI MESMO, NA SUA LUTA PELA VIRTUDE, NA TAREFA DE POLIR A PEDRA BRUTA, INACABÁVEL COMO CORRESPONDE À NOSSA IMPERFEIÇÃO E AO NOSSO IMPULSO ÉTICO DE SER MELHOR. O RITO ESCOCÊS CONFRONTA O INICIANDO DE CADA GRAU COM OS ENSINAMENTOS DA TRADIÇÃO, ENTREVISTOS A PARTIR DAS LUZES E DO LIVRE PENSAMENTO, E É UM FORMIDÁVEL ESPAÇO DE LIBERDADE E PLURALISMO, AFIRMA-SE NESTA REFLEXÃO SOBRE OS ENSINAMENTOS CONTIDOS NO 15º GRAU DO RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO – “CAVALEIRO DO ORIENTE OU DA ESPADA”.
(selecionado e traduzido livremente do espanhol, a partir do original com o mesmo nome, incluído da Revista «Cultura Masónica» Nº 9, de Outubro.2011, por Salvador Allen:. / «Comp&Esq»)
I. PROGRESSÃO INICIÁTICA
Jean-Pierre Lassalle definiu o Rito Escocês Antigo e Aceito como um grande conservatório de Iniciações. Portanto, não como museu, nem como armazém, muito menos como lixeira de traste velhos, mas como espaço vivo, à maneira dos conservatórios de música, onde se pratica a arte, onde se “faz” ou "dá vida” à arte.
À sua maneira, o Rito Escocês — descreve Pierre Mollier [“Au coeur de l’Art Royal le R:.E:.A:.A:.” La Chaîne d’Union, 2009, Nº 2, pp. 91-98] do seu ponto de vista, a partir do museu da Rue Cadet em Paris – propõe-nos uma longa viagem através das grandes tradições da Humanidade. E longa viagem não é uma simples referência retórica, pois o tempo ordinário em que uma pessoa, homem ou mulher (não será necessário reiterar este óbvio ao longo do artigo) acede desde o primeiro ao trigésimo terceiro grau é aproximadamente, entre 15 e 25 anos, valor mais próximo deste último do que do primeiro [a referência normativa, no artigo 18.º dos Estatutos do SCME; e estatísticas, na práxis do Conselho de Governo].
Na minha opinião, os passos do Rito Escocês a partir do 4º grau – desde a entrada, propriamente, nos Altos Graus – devem ser diferenciados do processo do Maçom nos três primeiros graus. O coração da Maçonaria é formado pelos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. O neófito não atinge a plenitude maçónica até ser Mestre, mas, posteriormente, essa plenitude não será afectada pela sua incardinação em um ou outro dos altos graus ou ritos existentes ou a serem inventados. O Maçom é plenamente Maçom ao aceder à Mestria.
O candidato que se encontrava nas trevas acedeu à Luz no grau de Aprendiz, permaneceu em silêncio, como reconhecimento da sua ignorância e da sua vontade de superá-la; viajou em busca de conhecimento na categoria de Companheiro; e compartilhou a metáfora maçónica central ao ser dramáticamente recebido na Câmara do Meio. "Nec plus ultra": não há mais além. Ou não o há no que poderíamos chamar de oferta maçónica que se esgota ao reconhecer a maturidade do Mestre; Pelo contrário, há um além na pesquisa maçónica, naquilo que o Mestre Maçom exija de si mesmo, na sua luta pela virtude, na tarefa de polir a pedra bruta, inacabável conforme corresponda à nossa imperfeição e ao nosso impulso ético de ser melhores .
Na maioria dos países do mundo, a Ordem Maçónica é composta exclusivamente pelos três graus ditos simbólicos, caracterizados como universais, independentes de qualquer rito. Em Espanha, França e Portugal, não obstante, o Rito Escocês está presente nos graus azuis, embora o Rito, como tal, seja organizado com autonomia da Ordem, através de algum instrumento jurídico / legal que regule as relações entre ambos os níveis. Os graus azuis auto-organizam-se e elegem democraticamente o seu Grão-Mestre. Naturalmente, um maçom pode trabalhar toda a sua vida nas lojas sem nunca ter posto os pés num capítulo, num conselho ou qualquer outro corpo maçónico dos altos graus, cuja oferta, por outro lado, é mais que rica e variada.
Contráriamente aos mitos mais difundidos, os altos graus não interferem em absoluto no governo das potências maçónicas soberanas (se excluirmos, por razões históricas, a Ordem Mista Internacional do Direito Humano - DRH, na qual fui iniciada, cuja pirâmide do Rito Escocês inclui do primeiro ao trigésimo terceiro grau, ambos inclusivé). Os altos graus escoceses praticados pelos maçons da Grande Loja Simbólica da Espanha (GLSE) constituem o Supremo Conselho Maçónico da Espanha (SCME), uma jurisdição aberta à assinatura de tratados de reconhecimento com outras potências simbólicas que desejem unir seus esforços, ecumenicamente , numa estrutura compartilhada.
De uma forma belíssima, o Rito Escocês apela naturalmente à convivência entre os Maçons, qualquer que seja a ênfase que tenham colocado na sua adesão à Ordem, nos graus azuis. O Rito Escocês é, pela sua própria essência, um formidável espaço de liberdade e de pluralismo.
Mas uma vez que o Maçom se aprofunda nos meandros do Rito Escocês, cada um dos graus que alcança é o resultado de uma verdadeira iniciação. Assim, cumpre-se perfeitamente o que foi descrito por Lassalle e Mollier, ao referirem-se ao Rito Escocês como conservatório de iniciações.
Nos altos graus escoceses, a progressão iniciática não se refere à aspiração à perfeição do Aprendiz e do Companheiro, que, naturalmente, são chamados um dia ou outro à Mestria, mas estrutura-se em iniciações sucessivas, uma independente da outra, com conteúdo próprio que atinge sua integralidade em cada caso. Por outras palavras: a entrada na Ordem requer indesculpavelmente três etapas, enquanto o itinerário no Rito é absolutamente «à la carte», se me permitem a expressão, e permite que seja culminado em qualquer um dos seus escalões.
Forçoso é aceitar, porém, que o maçom que atinge o trigésimo terceiro e último grau do Rito Escocês tem à sua disposição uma visão completa do mesmo que é fonte de enriquecimento intelectual e ético, embora a lição suprema já lhe possa ser apresentada antes de começar: a glória do maçom reside exclusivamente no seu avental de Aprendiz, avental que um dia deverá usar novamente...
O Rito Escocês confronta o recipiendiário em cada grau com os ensinamentos da tradição, entrevistos a partir das luzes e do livre pensamento: o veterotestamentário (Antigo Testamento) do 4º ao 16º Grau, o cristianismo primitivo, nos 17º ao 18º graus, o ideal cavaleiresco medieval do 19º ao 30º grau, reinterpretado a partir do Renascimento, que atinge seu clímax no grau cardinal de Cavaleiro Kadosch.
De uma forma belíssima, o Rito Escocês apela com naturalidade à convivência entre os Maçons, qualquer que seja a ênfase que tenham colocado na sua adesão à Ordem, nos graus azuis. O Rito Escocês é, pela sua própria essência, um formidável espaço de liberdade e de pluralismo.
Um espaço exigente, diga-se, porque se nos graus azuis o Aprendiz aspira a ser Companheiro e o Companheiro aspira a ser Mestre, embora não devam exteriorizar o seu desejo senão através do uso de ferramentas racionais, nos graus superiores, o maçom é chamado pela câmara alta a realizar um novo esforço, através do acordo aprovado pelo Supremo Conselho. Isto representa obviamente um desafio, sobretudo, consigo mesmo.