Grau de Mestre na consolidação da Maç∴ especulativa –
uma nova abordagem
I – Introdução
O Grau de M∴ M∴ representa o patamar superior da Maç∴ simbólica, já que é com ele que o Maç∴
atinge a plenitude dos direitos. Todavia apesar da documentação produzida e do ritual (na forma a que
chegou até nós, nas suas versões mais correntes – R.E.A.A e Rito Francês), tem sido alvo de enorme dispersão e contradição de fontes e sobretudo de muitas interrogações quanto às origens e objectivos,
apesar de amplamente tratado relativamente ao simbolismo. Algumas das notas que se seguem resultam duma tentativa adicional de pesquisa, com o objectivo de obtenção de eventuais esclarecimentos ou
respostas complementares, face às dúvidas ou interrogações ainda persistentes quanto às origens, bem
como ao período da história da Ord∴ e objectivos com que terá surgido (a anterior tentava sintetizar as pesquisas iniciadas a partir do final dos anos 1980).
Segundo R. Dachez [17], “podemos já medir a que ponto a história deste «terceiro» grau – que não merece talvez este nome, mas preferencialmente o de «primeiro dos Altos Graus» - era singularmente mais complexo do que (não) tínhamos imaginado, talvez afirmado imprudentemente. Longe de ser um seguimento «lógico» dos dois primeiros, ele deu á jovem maçonaria especulativa uma impulsão e uma direcção inteiramente novas, que os próprios fundadores, alguns anos mais tarde, não haviam sem nenhuma dúvida, previsto”
Para grande parte dos historiadores e estudiosos maçónicos mais conhecidos, p. ex: Alviella [5] e Dachez
[6] e [17], a estruturação do grau de MM∴, tal como o conhecemos, terá decorrido em Inglaterra ao longo da primeira metade do séc. XVIII (e logo de seguida em França), aproximadamente durante meio século. As suas origens, lenda e ritual, têm sido alvo de diversas análises e outras tantas interpretações, não se conseguindo determinar com precisão as origens, para além de diferentes dados historicamente determinados, já que ao longo deste período existem indícios por vezes contraditórios e/ou confusos, o que constitui obviamente um forte aliciante para os estudiosos e historiadores [18].
A consulta da documentação disponível (sites de «M:.M:.» adjacentes ao Blog pessoal – ver Bibliografia), numa primeira fase da abordagem inicial e posterior investigação maçónica, foi importante para obtenção duma perspectiva mais consistente desta etapa relevante da maçonaria e da historiografia maçónica, sem que contudo muitas dúvidas e incertezas se tenham dissipado.
Alguns historiadores apontam para que tenha sido Anderson e alguns dos seus companheiros, os "criadores" do grau de MM∴. e da lenda que o suporta – a lenda de Hiram. Contudo à altura da publicação das primeiras Constituições (1723) da GLL (Grande Loja de Londres e Westminster), só eram conhecidos dois graus: Aprendiz (“Entered Apprentice”) e Companheiro (“Fellowcraft”), traduzindo “Mestre” apenas um cargo de direcção da loja, atribuído a um Comp∴ escolhido pelos restantes, e não um grau autónomo [18].
Teremos de prosseguir até 1730 [5], ano em que surge a conhecida publicação “The Masonry Dissected” de Samuel Prichard (não autorizada, de carácter sensionalista e fortemente criticada pela G.L.L.), que regista a primeira divulgação da Lenda de Hiram. Tem sido este o momento a partir do qual se tem datado “oficiosamente” a respectiva divulgação. Segundo L. Trébuchet [4] para melhor enquadrarmos a origem do grau, teremos de ter em conta na análise deste período, a simultaneidade das seguintes condicionantes:
a) - Diferenças significativas de organização entre as lojas da Escócia e as de Inglaterra, durante o século XVII e início do século XVIII, particularmente no que respeita ao estatuto e função dos Mestres, nestes dois países;
b) - Existência na primeira metade do século XVIII de diferentes tradições da maçonaria;
Na Maçonaria operativa a Lenda de Hiram era praticamente desconhecida. Alguns dos documentos mais antigos da primeira série dos “Antigos Deveres” (“Old Charges”) - Manuscritos "Regius" e "Cook") não fazem menção nem ao Templo de Salomão nem a Hiram [4].
No manuscrito “Regius” ou de “Halliwell” (cerca de 1390), não era mencionado nem Hiram Abif, nem sequer o templo de Salomão. Por sua vez o manuscrito “Cook” (finais do século XV) converte Hiram, filho do rei de Tiro, em Mestre Maçom de Salomão. Curiosamente o manuscrito “Graham” (1726) já mais recente, descreve um psico-drama análogo ao de Hiram, sendo contudo a personagem central o profeta Noé [11]. Terá sido esta uma das vias inspiradoras da lenda? Não restando dúvidas de que a moderna Maçonaria Especulativa se desenvolveu na Grã-Bretanha, no decurso do século XVII, em condições historicamente pouco documentadas [4], ao procurar evidências do seu desenvolvimento, verificamos que são abundantes na Escócia (onde por via dos «Shaw Statuts» existiam actas registadas e arquivadas, por cada reunião de Loj:….), mas contudo insuficientes ou até ausentes em Inglaterra.
Entre todos os problemas que preocuparam os historiadores da maçonaria e os investigadores, o das origens do grau de Mestre é sem dúvida um dos mais lancinantes, talvez um dos mais delicados, na razão da extrema dificuldade de interpretação das fontes documentais. Desde o fim do séc. XIX, os grandes fundadores da «Escola Autêntica» da história maçónica, como R. Gould e Goblet d’Alviella [16] tinham proposto contribuições interessantes e avançado hipóteses úteis. Se os seus sucessores em França, foram muitas vezes menos felizes, porque muito tardiamente convertidos às exigências dum método histórico rigoroso, os trabalhos e as descobertas acumularam-se depois, consequentemente, em especial na Grã-Bretanha [17].
É importante recordar que uma das primeiras abordagens diferenciadoras das correntes tradicionalistas inglesas do final do século XIX (representadas por Gould, Hughan, Murray Lyon, C. Crawley e outros) é dada por Douglas Knoop (professor de Economia na Univ. de Sheffield e maç∴) e G. P. Jones (professor de história Económica tb/ em Sheffield, mas não maç∴). Os primeiros trabalhos conjuntos foram publicados em finais dos anos trinta do século passado e geraram enorme controvérsia, sendo as linhas de análise progressivamente retomadas sómente por volta de 40 anos mais tarde (cerca 1970).
Vários estudiosos e historiadores mmaç∴ defendem que o grau de M∴M∴ foi originado para reformar a Maç∴ e selecionar os membros mais capacitados para dirigir uma loja. Poderá existir alguma sustentabilidade nesta interpretação, visto estarmos na juventude (oficial) da maçonaria especulativa e o grau de conhecimento e preparação dos MMaç∴ especulativos, à época, poder considerar-se de um modo geral disperso, insuficiente e por vezes demasiado associado ao hermetismo e ao rosacrucionismo, muito em especial em Inglaterra e nos poucos núcleos alemães. Ao mesmo tempo a informação disponível à altura era reduzida e /ou incompleta ou orientada /segmentada segundo objectivos inerentes às origens dos «aceitos» (por exemplo a luta de influência nas LLoj:. travada entre partidários hanoverianos e stuartistas), bem como as influências rosacrucianas e hermetistas, afectando mais os segundos.
É nesta perspectiva de consolidação da facção hanoveriana da maçonaria especulativa –- que se deve entender a tentativa da constituição da Grande Loja de Londres e Westminster (GLL) [18], bem como os diferendos ritualísticos posteriores protagonizados com a corrente que se lhe opôs, a qual se designou mais tarde por “Antigos”, a par do desenvolvimento significativo e autónomo do ramo francês (pesem embora as origens escocesas e inglesas da Maçonaria).
Como era de esperar, a lenda estruturante do grau de Mestre escandalizou os círculos católicos, que tendo por base as descrições contidas na Bíblia, insurgiram-se fortemente com esta nova interpretação. Na Bíblia (Reis, I, cap. 7, v.13) são referidos, a propósito da descrição dos materiais enviados a Salomão pelo seu aliado Hiram, rei de Tiro, mais dois Hiram, além deste: Adonhiram, capataz dos operários responsáveis pelos transportes, e um hábil fundidor de metais - Hiram, filho de uma Viúva da tribo de Neftalí. Este último terá sido chamado a Tiro por Salomão, com o objectivo de fabricar as duas colunas de bronze do Templo e os restantes instrumentos metálicos de culto (Reis, I, VIII, 13-50). Parece não restarem dúvidas de que o terceiro configura o protótipo do Mestre.
Gould confirma que durante o século XVII, o personagem Hiram Abif era desconhecido dos MMaç∴ da época. Rylands ( secretário da célebre Loja de investigação “Quator Coronati” durante o primeiro quartil do século passado), sugeriu que a lenda de Hiram e a sua representação poderiam ter origem nalgum Mistério representado na Idade Média, nas confrarias de MMaç∴ operativos. No entanto, tanto quanto se conhece quer em Inglaterra, quer no continente, nada permite comprovar esta hipótese. Goblet d’Avilella [5], salienta contudo que na ocasião da ascenção de Lord Montagu a GM da GLL, em 1721, Anderson afirmou que o lugar do grão-mestre se denominava "Trono de Salomão", e o do Deputado Grão Mestre, "Trono de Hiram Abif". Hiram Abif é referido pela primeira vez nas primeiras Constituições de Anderson (1723), sendo designado por “o Maçom mais perfeito da Terra". Por outro lado, no folheto ”The Great Mystery discovered” (1725), este tema é um pouco mais explícito, embora evidencie que o desenvolvimento da lenda ainda não estaria completamente estruturado.
Questiona C. Guérillot [10] porque se terá figurado Hiram como Arquitecto? Adiantando a explicação de que à época e depois de Fídias dirigindo a construção do Parténon, os maiores artistas - Miguel Angelo, Rafael, Bernini, - também foram arquitectos. Do grande incêndio de Londres (1666) sobressaiu Christopher Wren dirigindo a reconstrução da cidade, a par da catedral de S. Paulo, concluindo que o seu prestígio e exemplo terá estado na origem da mutação do Hiram bíblico, escultor e especialista em bronze, para mestre das obras e grande arquitecto do Templo, um “arquitecto” como os eminentes artistas anteriormente referidos...
Relacionando a Maç∴ especulativa, no seu grau superior, todo o seu simbolismo com a construção do templo de Salomão, naturalmente releva a extrema importância de Salomão e de Hiram Abif. Não sendo os MMaç∴ do século XVIII propriamente incultos ou iletrados, é determinante a questão de perceber qual seria o objectivo subjacente à introdução da Lenda.
comumente aceite que a versão do terceiro grau, apesar das revisões de 1738 das Constituições, não terá sido originada directamente pela GLL. Existem dados e/ou registos que comprovam ter sido introduzida em primeiro lugar numa ou em várias Lojas, tendo-se gradualmente propagado às restantes Oficinas da Obediência. Contudo, o “mistério” que envolve as suas origens continua a constituir um enigma para os investigadores e historiadores mais documentados. A mesma conclusão decorre para o ritual no formato que chegou até nós [4].
II - A contribuição Escocesa
Na sua obra principal D. Steveson [1], conclui que a contribuição medieval e renascentista para a organização e história da Ordem esteve na base de alguns dos ingredientes essenciais à formação da Maçonaria, mas o processo de combinação desses com outros ingredientes só ocorreu por volta de 1600 e teve lugar na Escócia.
Os «Estatutos de Shaw», no reino da Escócia, foram o primeiro documento conhecido onde são lançadas as bases organizativas do sistema de Lojas da Maç∴ operativa, vindo posteriormente a servir de modelo à estrutura das LLoj∴ especulativas. Estes estatutos utilizam os termos, Aprendiz (“journey man”/mais tarde ”entered apprentice”) e Companheiro (“Fellow-Craft”), o que prova a existencia de pelo menos dois graus na maçonaria operativa escocesa da época (século XVII).
Sabe-se pois, actualmente, que para ter em conta as circunstâncias históricas nas quais um sistema maçónico de três graus pode constituir-se, sómente os antecedentres escoceses do «Ofício» («Craft») podem e devem ser tomados em consideração [17]. Sabemos hoje [17] que a estrutura fundamental e as utilizações essenciais da maçonaria especulativa, desenvolvida na Inglaterra no final do séc. XVII e sobretudo no início do séc. XVIII, apontam antes de tudo para o modelo escocês, e muito em particular à nova organização do «Craft» estabelecida pelos «estatutos de Shaw» (1598-99).
Se os «Antigos Deveres» («Old Charges»), são, quanto a eles, documentos exclusivamente ingleses – podem reivindicar uma certa anterioridade sobre os textos escoceses, já que os mais antigos remontam ao fim do sec. XIV, não são contudo exploráveis, com efeito, para o assunto que nos ocupa de momento. O estatuto do Aprendiz («Apprentice») e o do Companheiro («Fellow») dos «Antigos Deveres» - de resto pouco claros quanto a este ponto – não são em toda a causa, absolutamente comparáveis aos de Aprendizentrado («Entered-Apprentice») e do Companheiro do Ofício ou Mestre («Fellowcraft or Master») da Escócia do séc. XVI.
A organização do «Craft» diferia muito profundamente num e noutro caso e, repitamo-lo, é de todo o modo da tradição escocesa que a Maçonaria especulativa retirou a sua estrutura (estatutos de Shaw). Das numerosas actas e «minutas» conservadas das lojas escocesas, ressalta a evidência da existência de vários Mestres em cada Loja. Conforme preconizavam os Estatutos de Shaw, ao longo do século XVII sómente os Mestres e não os Companheiros, tinham o direito de votar para a eleição do Vigilante da Loja.
Deste facto parece evidente que o estatuto de Mestre era diferente do de Companheiro (“Felow-craft”), conforme confirmam os “Antigos Deveres” (“Old Charges)” incluidos nas minutas da Loja de Atcheson Haven em 1666, em que segundo Murray Lyon [13] se utiliza a expressão “Estas são as tarefas em geral para ambos Mestres e Companheiros, que estes devem assegurar”.
Percorrendo os registos do século XVII e os anteriores à criação da G∴ L∴ L∴, Steveson [1] e Naudon [8], comprovaram que a maçonaria escocesa possuia já um grau de organização e expansão nacional, muito mais consistente do que acontecia em Inglaterra, na mesma época. As lojas reuniam em média uma a duas vezes por ano, tendo a de Edimburgo (“Mary’s Chapel”), entre 1601 e 1710, reunido em média duas a três vezes por ano, o que representa um excelente registo, visto tratar-se duma importante loja urbana.
Na realidade, aparece que os interstícios previstos pelos «Estatutos de Shaw» se cumpram, são facilmente acordados, porque a maior parte das vezes, nomeadamente em Edimburgo, os maçons que eram recebidos «Companheiros do Ofício», tinham em média dez a doze anos de experiência, raramente menos [17]. Recordemos enfim que a dupla qualificação de «Companheiro do Ofício» ou «Mestre» não fazia mais do que traduzir a dualidade instaurada pelos Estatutos de Shaw. Na Loja, todos os Companheiros eram iguais, representando todos os que estavam providos do mínimo somatório proposto para a competência e a experiência profissionais. O estatuto de Mestre não dependia totalmente dum acto particular da Loja, a qual não reconhecia mais do que a qualidade de «Companheiro do Ofício». Tornar-se Mestre relevava simplesmente dum acto civil e administrativo e conferia uma posição viável na cidade («Incorporation») – o que não era em nada um «grau maçónico», representando sobretudo um privilégio, de que beneficiava somente uma minoria, muitas vezes por tradição familiar. Sabemos que, pelo menos desde os primeiros anos do séc. XVI na Escócia, o Ofício («Craft») da maçonaria funcionava segundo os princípios que acabamos de recordar. É a este sistema que correspondem os mais antigos rituais maçónicos actualmente conhecidos [17].
Steveson [1] mostrou inequivocamente que esta organização, profundamente inovadora era estritamente específica da Escócia, sem que anteriormente, nenhum sistema idêntico tenha existido. Dachez [4] salienta ainda que, contrariamente às versões clássicas, o aspecto mais importante deste trabalho foi evidenciar que a característica da “aceitação”, expressão tipicamente inglesa, utilizada para justificar a penetração dos especulativos nos operativos, não era genéricamente utilizada na Escócia durante o século XVII.
É no início do século XVIII, por volta de 1700, que o British Museum data o mais antigo manuscrito conhecido descrevendo os três graus e indicando a “palavra de mestre” (“Sloane 3329”). As denominações utilizadas (“interprintices, fellow crafts, attenders, this is bose or hollow”) são inquestionavelmente escocesas e contrariamente ao afirmado por Knoop e Jones, a palavra “free-masons” que aqui é utilizada não é desconhecida dos maçons operativos escoceses, já que se encontra desde 1636 nas minutas da loja de Mary’s Chapel.
II.1 - Testemunhos dos Registos da Lojas Escocesas no decurso do Séc. XVII
O exame dos processos verbais das lojas escocesas, que chegaram até nós, permite-nos trazer algumas luzes sobre a natureza exacta da famosa «Palavra do Maçom» («mason word»), colocada no centro da tradição do Ofício na Escócia, sem dúvida depois de William Shaw. O estudo da repartição eventual das suas componentes entre os dois graus primitivos do Ofício permite também perspectivar a existência duma palavra distinta, já em utilização nessa época, e cujo futuro grau de Mestre, teria mais tarde, herdado.
É comumente admitido que o grau de Mestre, tal como o conhecemos, pelos textos, depois pelo menos de 1730, e mais especialmente o sistema de ofício organizado em três graus, não constitui um «legs (legado)»da Escócia. As lojas escocesas não conhecerão, a não ser mais tardiamente, o terceiro grau e este é expandido mais lentamente sem dúvida, que em Inglaterra, mesmo sem adopção, e entretanto nunca foi de imediato nem de resto entusiástico. As circunstâncias da aparição do grau de Mestre na prática escocesa, podem entretanto fornecer-nos algumas indicações úteis para o subsequente estudo relativo às origens da estrutura inicial do grau. Este não é atestado na Loja Canongate Kilwinning e na mítica Mary’s Chapel de Edimburgo a não ser em 1738, não antes de 1738 em Kelso e em Jedburgh em 1756. Quanto à notável loja de Haughfoot, fundada em 1702 e que se extinguiu em 1765, não praticou nunca outros graus a não ser «Aprendiz-entrado» e «Companheiro do Ofício»… . E não terá sido certamente a única entre as lojas escocesas do seu tempo [17].
Trébuchet [4] refere ainda que o mais antigo manuscristo conhecido em que se revelam elementos dum ritual é um manuscrito escocês, descoberto nos arquivos de Edimburgo, que refere “Algumas questões a propósito da “palavra de maçom” - 1696 e que parece corresponder ao utilizado em algumas lojas escocesas, em especial a de Haughfoot. É contudo um ritual em dois graus que não faz distinção entreCComp∴ e MM∴ MM∴. citando-os conjuntamente.
Como já referido em trabalhos anteriores, cerca de duas dezenas de anos antes da publicação das primeiras constituições de Anderson, algumas lojas de tipo escocês já conheciam três graus, incluindo uma transmissão da “palavra de mestre” quase identica à actual. Dachez [6] e Trebuchet [7] colocam a hipótese deste terceiro grau precoce ter nascido na altura do diferendo que opôs os Mestres da loja Mary’s Chapel de Edimburgo aos companheiros de ofícios não mestres (”journeyman”). Estes concretizaram uma secessão, pelo S. João de Inverno de 1712. Segundo Murray Lyon [11], um decreto arbitral de 17 de Janeiro de 1715 acorda que a “Journeymen Lodge of Edimburgh tem o direito de “se reagrupar numa sociedade para dar a “palavra de maçom”. A criação este novo grau com a sua própria identificação seria uma decisão da lojas de Mary’s Chapel (composta na altura quase exclusivamente por mestres), com o objectivo de “reservar/ preservar segredos específicos”???. Esta hipótese é todavia contrariada pela visita de Désaguiliers a Mary’s Chapel em 1721, sendo que a maçonaria lá praticada consistia (oficialmente ???) ainda em dois graus, uma vez que a primeira menção a uma elevação ao terceiro grau nesta loja, deverá aguardar até 1738. Será necessário aguardar quase um século (1726 a 1813) para que todas as lojas tradicionais da Escócia reconheçam o terceiro grau....
No início do século XVIII (1710), Steveson [1] identifica a existência de vinte e cinco Lojas na Escócia, das quais a maioria permanecerá firmemente operativa, mas em que seis são constituidas, ou mesmo fundadas, na maioria por não operativos, como sejam: Dunblane, Hamilton, Kelso, Haughfoot, Aberdeen e Dumfries. Destas 25 lojas activas (tendo mais algumas sido referenciadas ao longo do século, mas estando inactivas ou extintas nessa data) 20 continuaram activas e destas últimas, actualmente 80% ainda existem, traduzindo um registo assinalável. De salientar o facto de que os cerca de 140 “não-operativos” recebidos nas lojas escocesas entre 1636-1717 é totalmente ignorado por Anderson e Désaguliers… (por serem stuartistas, na sua quase totalidade ???)
Segundo Dachez [4], a prática comprovada, mas excepcional, das Lojas receberem a titulo honorário pessoas exteriores à profissão, que raramente lá voltavam, terá produzido um conjunto de “maçons livres” com a possibilidade de transmitir uma Maçonaria que foram transformando em função dos seus próprios objectivos e preocupações intelectuais. Tinham descoberto algo que lhes interessou vivamente, um rituale uma tradição (duas peças fundamentais na estruturação das lojas maçónicas)
Assim a «fronteira do Norte” terá sido permeável à expansão até ao Sul de Inglaterra destes maçons «não operativos», que a maç operativa nunca integrou, propiciando e eventualmente justificando que a maçonaria inglesa do século XVII tenha sido, desde a origem, essencialmente especulativa.
III - A contribuição Irlandesa e Inglesa
Na Irlanda, uma Maç∴ especulativa existia já no último quartil do século XVII, como se pode comprovar do discurso do Terrae Filius de 1688, no Trinity College de Dublin. Ainda na Irlanda surge em 1711, cerca de seis anos antes da fundação da Grande Loja de Londres (G.L.L.), o segundo manuscrito (para alem do “Sloane 3329”) referido como Manuscrito do “Trinity College, Dublín”, que especifica a palavra de Mestre.
Esta data está definitivamente comprovada e o conteúdo é ainda mais claro do que o de Sloane, já que define uma loja perfeita como sendo constituida por “três mestres, três companheiros e três aprendizes” (o de Sloane definia 2 de cada grau) bem como os sinais e toques respectivos aos três graus [18]. Knoop & Jones [3] afirmam que este manuscrito é o documento mais antigo que registam, em que o conhecimento maçónico se desenvolve pelos três graus. Pela análise do sistema de três graus apresentado quer no Manuscrito do “Trinity College, Dublín”, quer no referido em “The Masonry Dissected” de Samuel Prichard, concluem que esta nova versão (“trigradal system”) é obtida por:
a)- tratamento de “fellow crafts” e “master masons” (equivalentes nos operativos escoceses) como graus diferentes;
b) - divisão do ritual operativo escocês de Aprendiz (“entered Aprentice”) em Aprendiz e Companheiroaceitos;
c)- transformando o ritual operativo escocês de Companheiro (“fellow-craft”) em “Mestre Maçom Aceito”
Existem portanto em 1711 lojas irlandesas que conhecem o terceiro grau com os cinco pontos perfeitos da mestria e uma palavra de mestre muito próxima da que conhecemos.
No chamado manuscrito “Wilkinson”, que parece por volta de 1727, consta o seguinte passo:
“A forma da loja é um quadrado largo. Por quê? Pela forma do túmulo do mestre Hiram”. Embora permaneçam incertos os motivos do aparecimento do sistema de três graus, não existem dúvidas de que a sua sua adopção recebeu um razoável estímulo com o sucesso de vendas do livro de Prichard. Wirth [11] tem uma interpretação temporalmente concordante, já que afirma “como quer que seja, não é senão a partir de 1733 que as Lojas de Londres aprenderam a gemer ritualisticamente sobre o túmulo do artista que veio de Tiro para se colocar ao serviço do rei Salomão. Passando despercebido até então este fundador, que nada designa como arquitecto do templo, tornou-se súbitamente o heroi primordial da Masonaria.”
As “Obrigações dum Franco-maçom” referidas nas Constituição de Anderson de 1723 referem sempre os Companheiros no plural e Mestre no singular, reservando esta designação para o Mestre da Loja. É com a revisão de 1738 que passa a figurar o Grau de Mestre e a lenda de Hiram Abif, sendo necessário esperar até à década de 1750/60 para ser definitivamente generalizada na Grã-Bretanha. Em França, possívelmente resultante das diferentes etapas (mais concisas e temporalmente balizadas) de germinação do escocismo, o processo foi mais rápido.
Sendo práticamente inequívoco que a maçonaria especulativa, tal como a entendemos, surgiu na Inglaterra, não existem contudo documentos suficientemente esclarecedores de que elementos estranhos ao oficio sejam regularmente admitidos em lojas operativas inglesas. E mesmo relativamente a estas últimas e ao seu funcionamento como estrutura permanente em todo o território, não existem dados esclarecedores, comparáveis p. ex:. à Escócia. Nas primeiras lojas inglesas, contrariamente à Escócia, não se detectam ligações aos operativos, o que sugere que a maçonaria foi aqui uma criação «artificial», no sentido de ter sido originada por pessoas sem contacto directo com a profissão, provavelmente muitas vezes influenciados pelo que “acontecia” ou terá sido “importado” a partir da Escócia. Não existe actualmente nenhuma loja em Inglaterra (excepto a velha “Grande Loja” de York) que se possa ser feita referência continuada antes de 1716-17, quando a Grande Loja foi criada.
Também para Knoop e Jones [2],[3] e mais recentemente Dachez [5] e [17], os únicos factos mais ou menos incontestados comprovam que, desde a sua origem, as lojas maçónicas inglesas são puramente especulativas, contando-se como excepção, a loja de Chester (e parcialmente “Aception”). Recorde-se que a Escócia era, no início do século XVII um pais estrangeiro e inimigo, existindo poucas relações entre ambos.
Poderá a existência de Lojas operativas organizadas por toda a Escócia, por si só, ter impulsionado ou servir de catalizador do surgimento duma Maç∴ especulativa, na mesma época, no sul de Inglaterra ?.
Os trabalhos de D. Steveson [1] trouxeram contudo uma nova interpretação à controversa questão das fontes da maçonaria especulativa. O fenómeno da «aceitação» utilizava uma expressão puramente inglesa, nunca utilizada na Escócia, o que comprovou pela análise cuidadosa das listas dos membros das diversas Lojas, e da sua história durante vários decénios.
Poderão as lutas religiosas de 1640 a 1660 /80 e depois entre stuartistas e hanoverianos, estar na origem da falta de documentação relativa às Lojas Inglesas ou à sua eventual existência esporádica???Há contudo um ano, 1707, que não é muitas vezes referido e a que devemos prestar atenção. Neste ano realizou-se o “Acto de União” transformando a Escócia e a Inglaterra num único reino. As duas nações que tinham estado até aqui de costas voltadas e muitas vezes em guerra, iniciaram finalmente uma lenta mas real aproximação, sem que contudo a desconfiança dum país face ao outro se tivesse automaticamente atenuado.....
Segundo d’Alviella [4], num discurso pronunciado na loja de York (independente e rival da G.L. Londres) em 1726, o Ir∴ Francis Drake menciona os E.P. (“Entered Aprentices”), F.C. (“Fellow Crafts”) e os M.M.(“Master Masons”). O mesmo autor refere que em 1723 começaram a aparecer nas listas oficiais das oficinas de Londres as “Lojas de Mestres Maçons”, como sendo lojas especiais compostas exclusivamente por Mestres e que se reuniam para conferir aos CComp∴ o 3º Grau, designado como “grau superior da Maçonaria”. Cinco anos após a divulgação dos folhetos de Prichard [14], em 1735, os primeiros “mestres escoceses” são confirmados pela existência duma acta da reunião de 28 de outubro de 1735, na loja de Bath (pequena vila no pais de Gales), numa altura em que numerosas lojas inglesas ou escocesas não conheciam ou reconheciam ainda o terceiro grau, enquanto outras já o praticavam desde aproximadamente o início do século. Também em Londres, no ano de 1740, o livro de arquitectura da “Old Lodge nº 1” regista que em 17 de Junho alguns IIrs∴ foram “feitos Mestres Maçons escoceses”. Segundo A. Bernheim [15] por volta ´´dos anos de 1730 surgiram em Inglaterra enigmáticos “Scots Masters”, cuja origem exacta ainda não foi determinada, mas que sugerem ser os antepassados dos incontestáveis “Mestres Escoceses” que se expandem no Continente, nomeadamente em França, alguns anos mais tarde, constituindo muitos deles as sementes de que germinou o nóvel «escocismo».
É aqui interessante recordar de novo Alain Bernheim [15] que curiosamente cita o interrogatório efectuado em 1738 pela Inquisição portuguesa a Hugo O’Kelly, mestre da Loja irlandesa de Lisboa, em que este, depois de descrever os sinais dos três primeiros graus utiliza termos que fazem pensar no grau do Real Arco, quando afirma “ ... e existem duas classes suplementares a que chamam Excelentes Maçons e Grande Maçom, que estão acima de todas as outras e superiores ao que o declarante praticava.”
Segundo Wirth [11], se os MMaç∴ franceses imprimiram um carácter verdadeiramente iniciático ao ritual dos dois primeiros graus, é contudo aos MMaç∴ ingleses que se deve o privilégio da concepção do exaltante simbolismo da Mestría.
Em resumo, no primeiro quartil do século XVIII comprova-se estarmos em presença duma Maçonaria onde coexistiam 2 sistemas: um em dois graus, que parece ser o mais expandido na Grã-Bretanha e que acompanha o desenvolvimento da Grande Loja de londres (GLL) e outro em três graus que evidencia ter fortes ligações com a Irlanda e a Escócia.
IV - A contribuição “Escocesa” em França
Para Trébuchet [4] poucos documentos significativos e nenhum de ordem ritual aparecerão em Inglaterra até à constituição da Grande loja dos “Antigos”, em 1751 e à divulgação do seu ritual em 1755. O mesmo não se passa em França, na mesma época, onde surgem numerosas divulgações, conhecendo-se paralelamente vários manuscritos descrevendo os chamados “graus escoceses”. De salientar que quase totalidade dos graus que formarão o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) serão conformados durante as décadas de 1740/60, em particular os que respeitam à “Antiga Mestria”. Os “Élus Parfaits” de Bordéus, fundados em 1745 por Étienne Morin, foram a primeira “Potência Escocesa” no mundo. A Maç∴ stuartista chegou a França em 1688 através das primeiras lojas militares que se formaram nos regimentos que acompanharam James II, no exílio em Saint-Germain de Laye. Existem provas de que a fuga para França intensificou a criação de Lojas maçónicas nos regimentos stuartistas. Por volta de 1689, os regimentos escoceses e irlandeses sediados em França possuiam «staffs» maçónicos, constituindo muitas vezes a autoridade administrativa, enquanto os militares constituiam a executiva.
O papel desempenhado pela Maçonaria Escocesa em França confirma-se pelo famoso discurso do Cavaleiro Ramsay, em 1737. A análise histórica evidencia que em consequência do exilio dos Stuarts para terras francesas, as Lojas maçónicas foram utilizadas até quase meados do séculos XVIII, também para veículo da rivalidade entre stuartistas (católicos e apoiantes dos Stuarts) e hanoverianos (protestantes e apoiantes do rei em exercício).
A primeira loja francesa, indiscutivelmente conhecida, foi fundada em 1725 por Charles Radcliffe de Derwentwater e outros fervorosos stuartistas escoceses e irlandeses, como MacLean e O’Heguerty, que nada têm a ver com a Grande Loja de Londres. Sensívelmente por volta de 1728, as lojas escocesas em França, reconheceram como Grão-Mestre o duque de Wharton, anterior gão-Mestre da G∴ L∴ L∴ e apoiante dos Stuarts. Após a sua morte, em 1731, Lord Derwentwater assumiu o grão-mestrado, seguido por Hector MacLean (baronete escocês) de 1733- 1735 e de novo Lord Derwentwater, a partir de 1736. Em 1737 este remete ao barão Carl Fredrik Scheffer uma patente para a Suécia para “nomear Mestres Maçons e nomear Mestres e Vigilantes para as Lojas que constituirá...”.
Cerca de dez anos depois da criação da primeira loja (comprovada) em França (1725), a concorrência “whigh” / hanoveriana, deslocou-se também para o solo francês a partir de 1734, com a criação em Paris duma loja rival à de Derwentwater, em que a Grande Loja de Londres se faz representar pelo duque de Richmond e Deságulièrs. O conflito provocado pela existência de duas categorias de lojas rivais – escocesas e inglesas persistiu até à criação da Grande Loja de França (G.L.F.) e à nomeação do duque de Antin, par de França, como Grão-Mestre (ad vitam), em 24 de Junho de 1738 [18].
Uma das mais antigas descrições do grau de M∴ M∴ em França encontra-se numa divulgação intitulada “Le Catéchisme des Franc-Maçons”, datada sómente de 1744. É pois necessário ter em conta a determinante influencia escocesa / irlandesa em França, no arranque e expansão da maçonaria continental, a sua independência e “divergência” com a corrente inglesa representada pela G.L.L. (“Modernos”), a influencia irlandesa traduzida pelo aparecimento dos “Antigos” e a sua expansão em Inglaterra até à fusão das duas (“Antigos” e “Modernos”) e as consequencias daí decorrentes, em França.
V – Notas Finais:
O facto das Constituições elaboradas pretensamente pelo rev. Anderson (que era pastor presbiteriano escocês), seis anos depois da constituição da G∴ L∴ L∴ (1723) terem efectuado uma “limpeza criativa e radical” (continuada pelo duque de Montagu) de toda a documentação anteriormente existente, contribuiu para reforçar um conjunto de interrogações, em que as origens de 3º Grau óbviamente se incluem e cujo esclarecimento tentámos aprofundar. O Hiram bíblico é um artista, um escultor, mas não é um arquitecto, desaparecendo na história sem nunca ter sido assassinado.... Contudo o Hiram maçónico, o nosso querido e respeitado Mestre Hiram que dirige os trabalhos do Templo de Salomão e é assassinado por três maus companheiros, tem pouca semelhança com aquele. É referido pela primeira vez nos Manuscritos “pós-operativos” / “pré-especulativos” que referimos (“Sloane 3329”, “Trinity College, Dublín”, “Graham”, etc...) embora o seu assassinato ainda não seja referido p. ex: no Manuscrito “Dumfries nº 4”, de origem escocesa e datado de aproximadamente 1710.
Considerando as diferenças e eventuais intersecções entre maçonaria operativa e especulativa, sobretudo na Escócia do século XVII e início do XVIII, nada permite fundamentar, face à sequência temporal e histórica, que a maçonaria especulativa tenha nascido em 1717 . Por essa altura já em algumas Lojas irlandesas e escocesas se conhecia o Grau de Mestre (não oficial à data).
No primeiro quartil do século XVIII, os textos analizados permitem concluir que na génese do grau de M∴ M∴ terão estado as diferenças entre as 2 versões evidenciadas pela Maçonaria escocesa / irlandesa face à inglesa, onde coexistiam 2 sistemas: um em dois graus, o mais expandido na Grã-Bretanha e que sustenta o desenvolvimento da Grande Loja de londres (GLL) e outro em três graus que evidencia ter fortes ligações à Escócia e à Irlanda.
Segundo as novas correntes, fundamentadas em dados mais recentes, alguns historiadores consideram a data da fundação da G.L.L. quase irrelevante no longo processo de desenvolvimento da moderna maç∴ e speculativa. Knoop e Jones [1] e [5] referem que “naquela altura, a formação da Grande Loja foi uma ocorrência de menor importância no desenvolvimento da Maç∴, e não faz sentido constituir um marco na historia maçónica”. No entanto a nova forma de organização instituida pela G∴ L∴ L∴ constitui uma inovação, face à organização predominante até ao momento, de raiz escocesa, centrada sobretudo nas LLoj∴ [18].
Ficou claro que o aparecimento do grau de MM∴ se desenvolveu entre finais do século XVII e a primeira metade do século XVIII, quer em Inglaterra quer em França, tendo contudo a sua origem provávelmente raízes escocesas ( Manuscrito “Sloane 3329”) e irlandesas (Manuscrito “Trinity College, Dublín”), já que são lá que encontramos as primeiras referências concretas e históricamente comprovadas.
A sua introdução propagou-se gradualmente nas lojas especulativas a partir de 1720/25, tendo a sua existência sido sancionada sómente em Inglaterra pela G.L.L, em 1738. Contudo sómente por volta de 1757 terá sido “universalmente” aceite. Deste modo a lenda que suporta o terceiro grau não surge dum golpe inspirado pela divulgação por Samuel Prichard (14) da “Masonry Dissected” no “Daily Journal” de 20 de Outubro de 1730. Os rituais divulgados respeitando aos três graus da Maçonaria (“I – Aprendiz entrado; II – Companheiro do Ofício e III – Mestre”) são bastante detalhados e para o grau de “Mestre” e desenvolvem pela primeira vez a lenda de Hiram e o ritual correspondente [18].
Segundo d’Alviella [5] é curioso notar que em 1733 se registam em Londres lojas compostas exclusivamente por Mestres (“Master Mason’s Lodges”) , sendo também o ano em que se mencionam pela primeira vez as Lojas de Mestres escoceses (“Scots Mason’s lodges”). A G.L.L. absorveu as primeiras e descartou as segundas, que constituiram a «marca» da primeira origem dos diferentes sistemas escoceses organizados, sobretudo em França.
Trébuchet [4] conclui que o ritual actual do R.E.A.A. permanece, após cerca de dois séculos, muito próximo do “Guia dos Maçons escoceses”. O Essencial da lenda do 3º Grau e do seu significado, bem como a estruturação dos três graus, parece ser essencialmente mais uma herança da tradição irlandesa, temperada por uma tradição escocesa, que não é a das lojas operativas tradicionais da Escócia e que transformam o 3º Grau num grau charneira, para um percurso de Mestre Escocês à procura da palavra perdida e do castigo dos assassinos.
Há quem defenda, como Guérillot, que a irrupção da lenda do 3º Grau marca uma alteração tão profunda no percurso da Maçonaria simbólica, que será legítimo ver na Mestria o verdadeiro primeiro dos “altos graus” [10], em que o “homem velho” morre simbólicamente para renascer fugazmente sob a máscara do respeitável Mestre Hiram. Embora a génese do Grau de Mestre continue ainda suficientemente nublada sabe-se o suficiente para afirmar com alguma segurança que o «novo» grau foi inspirado pela vontade de criar uma Maçonaria “mais elevada”, uma espécie de aristocracia do Ofício, segundo defendem Dachez, Mollier e Bernheim, [16].
Independentemente das origens, motivações e objectivos subjacentes à criação do grau de M∴ M∴, cumpre-nos persistir no trabalho de, para que perdure consistentemente, transmissão dos princípios que nos orientam : valores, conhecimento, uma filosofia de vida, uma ética e um exemplo de comportamento. Serão estas as sementes que germinarão na formarão das gerações seguintes e então poderemos dizer com elas e com toda a segurança que “a acácia é minha conhecida”.
S. Allende M∴ M∴
Set.2014 , revisto em Out.2024)
Salvador Allen:. M∴ M∴/ R∴ L∴ Salvador Allende
Bibliografia:
1) – Stevenson,David - «The-Origins-of-Freemasonry-Scotland-s-Century-1590-1710» -– Cambridge University Press, 1988
2) – Knoop, Douglas, Jones G.P. e Hamer - “The Early Masonic Catechisms” –” – 1975
3) – Knoop, Douglas e Jones G.P. - “The Genesis of Freemasonry” – Manchester University Press – 1947
4) – Trébuchet, Louis - “La Structuraction du Grade de Maître” –- revista “Renaissance” - Agosto.2010
5) – d’Alviella, Goblet - «Las Origines do Grado de Mestre» -
6) – Dachez, Roger - “Les Origines de la Maçonnerie Spéculative” –revista “Renaissance”
7) - “El Nacimiento del Escocismo” - Louis Trébuchet (www.masoniclib.com)
8) - Naudon, Paul - “The-Secret-History-of-Freemasonry-Its-Origins-and-Connection-to-the-Knights-Templar” –-2005
9) - Blog + Sites «M:.M:.» anexos do Blog: «Compasso e Esquadro»
10) – Guérillot, Claude – “La Légende d’Hiram” –Guy Trédaniel Éditeur, Paris 2003
11) – Wirth, Oswald - “La Franc-Maçonnerie Rendue Intelligible à Ses Adepts – Le Maître»
12) - Berésniak, Daniel - «Los Oficios y Los Oficiales de La Logia» -
13) - Murray Lyon, David - “History of the Lodge of Edinburgh (Mary’s Chapel) Nº 1” –– 1873
14) – “The Masonry Dissected” –Samuel Prichard – Daily Journal, 20.Out. 1730.
15) – “Did Écossais (early “High”)Degrees originate in France?” – Pietre-Stones review of FreeMasonry
(http://www.freemasons-freemasonry.com/bernheim17.html)
16) –Dachez , Roger; Mollier, Pierre & Bernheim, Alain - “Origine-du-ou-des-grades-ecossais” –- revista “Renaissance”
17) – Dachez, Roger - “la Véritable Histoire du Grade de Maître – Hiram et ses Fréres” –– éditions. Dervy, Paris 2023
18) – Allen:. Salvador, M:.M:. – “O Grau de Mestre e a consolidação da Maç∴ Especulativa – algumas notas”, 2014
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