Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

24 de outubro de 2024

Reinterpretar a Maçonaria ampliando o foco

 Com a devida vénia e respectiva autorização se transcreve este artigo do blogue Comp&Esq  

Reinterpretar a Maçonaria ampliando o foco

Autor:  Ivan Herrera Michel

Atendendo a que, como refere o autor: "a Maçonaria é um espaço de verdadeira construção para todas as pessoas sem qualquer distinção" o pequeno texto deste conhecido autor e dirigente maçónico sul-americano, é deveras oportuno e conciso para ajudar a pensar o modo como o tricentenário passado maçónico poderá ser  (re)visitado  por forma a  melhor preparar a Maçonaria para a resistência e simultaneamente  adequação às profundas mudanças tecnológicas, sociais, filosóficas e culturais ao longo do Séc. XXI. O caminho já foi iniciado (não sem dificuldades) pelas mais importantes Obediências do ramo liberal/adogmático em pleno início do Sév.XX, resta agora seguir o caminho, aprendendo eventualmente com os erros. Se até a sempre rígida  e dogmática corrente anglo-saxónica, liderada pela Grande Loja Unida de Inglaterra já se começou a movimentar, só nos resta seguir em frente com o processo inclusivo e filosófico, adequando os cuidados necessários para não subverter os princípios filosóficos e simbólicos fundamentais da Maçonaria, no nosso caso da corrente liberal (em particular).

(seleccionado do Blog «FreeMason.pt» de 09.Set.2024, por «Comp&Esq»)

Sei por experiência própria que é sempre um tema de debate fazer da interpretação da herança maçónica uma ponte entre o seu passado tricentenário e o futuro que se aproxima, num mundo cuja evolução filosófica e tecnológica parece mover-se num carro de corrida, mas a verdade é que a Ordem exige na maioria das suas instituições uma abordagem mais inclusiva e um maior respeito pela diversidade, mantendo inalterada a sua integridade ideológica, sem parecer que está a tentar forçar um elefante a entrar num Volkswagen.

Em suma, quando falamos dos rituais, símbolos e alegorias utilizados na Maçonaria, estamos a referir-nos a uma certa arte de luz e sombra que transmite os seus ensinamentos. Na verdade, a ideia principal é que sejam capazes de comunicar princípios filosóficos e morais que promovam, a nível psicológico, uma metamorfose construtiva ajustada a um princípio de realidade com complexidades infinitas.

Inquestionavelmente, a Maçonaria não é um reality show filosófico e manter a funcionalidade dos rituais e símbolos agindo como um relógio suíço é essencial para preservar a identidade da Ordem, e nisso devemos agir com muito cuidado, o que não nos impede de os reinterpretar sem diluí-los ou darum aspecto alegórico aos seus grandes documentos no que diz respeito a mitos que não correspondem a uma realidade histórica, de modo a que sejam acessíveis a um sector mais vasto da sociedade.

A minha opinião é que não se trata de fazer uma mudança desafiante na tradição subjacente aos símbolos e princípios fundamentais da Maçonaria, mas sim de uma expansão da sua cobertura social para continuar a oferecer uma oportunidade humanística que continua a derrubar muros entre diferentes pessoas que vivem numa época em que as migrações constroem sociedades mais plurais que, por vezes, parecem uma colagem surreal. Na verdade, este deveria ser considerado um imperativo moral dos maçons.

A tarefa é fortalecer a liderança ética dentro das Lojas e Obediências que reflicta a pluralidade do mundo exterior num momento em que, em termos gerais, o número de membros deixou de aumentar como espuma pela primeira vez na história e há sérias questões internas e externas sobre a oferta e a relevância da Maçonaria no século XXI. O que significa que estes não são bons momentos para descansar sobre os louros.

E neste sentido, é notório que grandes Obediências históricas de diferentes estilos, como o Grande Oriente de França e a Grande Loja Unida de Inglaterra, numa mudança que já iniciaram, não sem grandes dificuldades e mal-entendidos internos, começaram a expandir a sua diversidade étnica, origem social, género e orientação sexual, e em comunicações oficiais têm explicado que a Maçonaria é um espaço de verdadeira construção para todas as pessoas sem qualquer distinção. O que foi honestamente a primeira grande mudança visível da Ordem no século XXI.

Enfrentar o futuro não consiste apenas em seleccionar líderes que não se enquadrem nos perfis excludentes tradicionais que asseguram uma homogeneidade cada vez mais fraca e etérea, mas também em desenhar uma cultura interna de estratégias sustentáveis, paralela à necessária instrução maçónica, que encoraje adicionais humanistas e mais formação institucional respeitosa e distanciar o maçom e o estranho de preconceitos e clichés.


Ivan Herrera Michel


Tradução de António Jorge, M∴ M∴


(seleccionado do Blog «FreeMason.pt» de 09.Set.2024, por «Comp&Esq»)




Fonte


Blog "Pido la Palabra"



Publicada por: Comp&Esq at 19:27:00  

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