Grande Oriente Lusitano - Maçonaria Portuguesa
No
difícil momento económico e social que Portugal vive e cujos efeitos na
vida quotidiana dos cidadãos são infelizmente cada vez mais sentidos, é
urgente saber orientar as energias para o que efectivamente é
importante: a mobilização patriótica para as responsabilidades
colectivas, num ambiente de paz, de esperança, de solidariedade e de
coesão social.
O Grande Oriente Lusitano, fundado em 1802, além de ser a mais
permanente instituição democrática portuguesa e a segunda mais antiga
Obediência maçónica mundial em exercício continuado, não aceita ser
envolvido em assuntos decorrentes de interesses empresariais
conjunturais em que são projectadas posições anti-maçónicas que misturam
velhas perspectivas anti-progressivas com pretensas abordagens
pós-modernas enxertadas de algum aventureirismo intelectual
pseudo-progressista.
Portugal conheceu em 1935 uma lei dita sobre “associações secretas” e é
com mágoa que somos obrigados a denunciar, no Portugal de hoje, a retoma
do projecto do então deputado do Estado Novo, José Cabral.
Sobre esse projecto, Fernando Pessoa escreveu no Diário de Lisboa de 4 de Fevereiro desse ano: “Provei
neste artigo que o projecto de lei do sr. José Cabral, além do produto
da mais completa ignorância do assunto, seria, se fosse aprovado:
primeiro, inútil e improfícuo; segundo, injusto e cruel; terceiro, um
malefício para o País na sua vida internacional.”.
Para aqueles que, recém-convertidos ou indiferentes ao Estado de Direito
Democrático, defendem que a Maçonaria não tem sentido em democracia e
quando muito o teria no combate aos autoritarismos – que, de esquerda ou
de direita nunca suportaram a Maçonaria – é bom lembrar quantos
totalitarismos nasceram em democracias e que a indiferença é a mãe dos
que só despertam quando, já tarde, a opressão lhes bate à porta.
Os ataques à Maçonaria, sejam eles de ontem, de hoje ou de amanhã, vêm
sempre eivados do mesmo ódio aos princípios da Liberdade, da Igualdade e
da Fraternidade e aos valores da Justiça e da Razão, verdadeiros
alicerces do edifício onde se cultivam os Direitos Humanos.
Vivemos hoje na Europa o mais longo período de paz pela qual lutaram e
morreram muitos maçons e para cuja construção a Maçonaria muito tem
contribuído.
Para os que alimentam desejos e ilusões autocráticas e exclusivistas, é
bom lembrar uma recente decisão de uma das mais vibrantes instituições
europeias, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que cortou cerce
mais uma tentativa anti-maçónica, desta vez ocorrida na região italiana
de “Friuli Venezia Giulia”, onde uma lei de 15 de Fevereiro de 2000
obrigava os candidatos a cargos públicos dessa região a declararem “a sua pertença a associações maçónicas ou, em todo o caso, de carácter secreto”.
O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem concluiu que aquela lei constituía uma “violação
do artigo 14 (interdição de discriminação) da Convenção Europeia dos
Direitos do Homem combinado com o artigo 11 (liberdade de reunião e de
associação)”, condenando a Itália por ter permitido tal lei e
atribuindo 5.000 € de indemnização por gastos ao queixoso (Grande
Oriente de Itália).
A evocação deste acórdão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem não
poderia ser mais oportuna no contexto recentemente gerado em Portugal em
torno de uma questão em que uns por interesses gananciosos, alguns por
vocação obscurantista e outros por oportunismo pseudo moderno querem
fazer regredir direitos humanos arduamente conquistados e pelos quais,
sem qualquer pretensão exclusivista, nem arrogância serôdia, continuamos
na primeira linha da sua defesa e exaltação.
O Grão Mestre
Fernando Lima
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