Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

11 de agosto de 2015

Porque Escolhi o Nome de Luís Cabral


Luís Cabral nasceu em Bissau a 11 de Abril de 1931, tendo ido viver para Cabo-Verde com 1 ano de idade. Quando o Pai morreu, Luís Cabral tinha 20 anos e já há dois que trabalhava nos Serviços de Estatística em Cabo-Verde. Com várias propriedades no interior da ilha de Santiago, as secas prolongadas tinham deixado a Família sem grandes possibilidade de o manter a estudar.

Com a morte do Pai  e os  Irmãos mais novos para criar, a situação tornou-se ainda mais difícil para Luís Cabral. A seguir aos funerais, um próspero comerciante da Praia, grande amigo do Pai dos tempos da Guiné, ofereceu-lhe um emprego nos seus escritórios, com um salário superior ao que vinha auferindo nos Serviços de Estatística.

No entanto, os contactos com o meio-irmão, mais velho, Amílcar, foram produzindo frutos. Na Guiné, removidas as dificuldades levantadas pela Polícia quanto à sua permanência no território, Amílcar prometeu arranjar-lhe um emprego. Seduzido pelas ideias do irmão, que afinal eram as suas, Luís deixou a Mãe e os Irmãos em Cabo Verde.

Chegou a Bissau, numa manhã de Abril de 1953, disposto a começar uma nova vida.

Arranjou emprego como Contabilista e mandou vir de Cabo Verde a Mãe e os Irmãos. continuando a estudar para completar o então 5º ano dos liceus.

Com a fundação do PAIGC, Luís Cabral foi-se envolvendo em várias actividades:

· Nas eleições para o Sindicato dos Empregados de Comércio e Indústria da Guiné fez parte de uma lista que tomou conta da direcção;
· Filiou-se no Benfica de Bissau e, na modalidade de Voleibol, teve a oportunidade de conhecer, numa das viagens a Dakar, Lucette de Andrade que se veio a tornar a sua primeira mulher;
· Em Março de 1958, dispondo de uma licença de 6 meses, resolveu deslocar-se a Lisboa, com passagem por Dakar para se casar. Aproveitou para se apresentar a exames finais do 5º ano no Liceu Pedro Nunes (curiosamente o mesmo liceu que eu viria a frequentar) e para conhecer Portugal.

No início dos anos 60, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) lançou uma guerrilha anticolonial contra as autoridades portuguesas. A subida de Luís Cabral à liderança começou em 1973, após o assassinato na Guiné-Conakri do seu meio-irmão Amílcar Cabral. A liderança do Partido foi assumida por Aristides Pereira, que mais tarde viria a tornar-se presidente de Cabo Verde. O ramo do Partido na Guiné-Bissau, no entanto, seguiu Luís Cabral.

Luís Cabral foi o primeiro Presidente da Guiné-Bissau. Ocupou o cargo de 1973 a 1980, quando foi deposto por um golpe de estado militar. Depois do 25 de Abril de 1974, o governo de Portugal reconheceu a independência da Guiné-Bissau, a 10 de Setembro do mesmo ano, embora o PAIGC já a tivesse proclamado unilateralmente no ano anterior, sendo reconhecida por muitos Estados e pelas próprias Nações Unidas, com Luís Cabral como Presidente da República.

Depois do golpe militar de 1980, levado a cabo por Nino Vieira, Luís Cabral exilou-se em Portugal onde permaneceu até 30 de Maio de 2009, data em que morreu no Hospital de Torres Vedras após doença prolongada.

Porque escolhi então o nome de Luís Cabral?

Porque, como eu, Luís Cabral é um produto da diáspora portuguesa, para o bem e para o mal. Fruto de Pai Guineense e Mãe Cabo-verdiana, deixa a Guiné para ir viver para Cabo Verde e depois para Portugal.

Também eu nasci em Cabo Verde, de onde parti com 6 meses de idade, rumo a Moçambique onde o meu Pai Enfermeiro e a minha Mãe, Técnica de Farmácia, procuravam uma vida melhor,  tendo também eu  vindo para Portugal.

Portugal teve colónias e as nossas vidas seriam melhores ou piores, mas com certeza diferentes, sem essa colonização. Não podemos renegar o passado e, tal como Luís Cabral era guineense, com certeza sentindo-se também cabo-verdiano e um africanista convicto, também eu sou cabo-verdiano, moçambicano e português.

Após 40 anos da Revolução de Abril, colonizadores e colonizados partilham um espaço comum, o Espaço Lusófono, com infinitas possibilidades de alianças. Temos e sempre teremos, para o bem e para o mal, uma História comum. E sobretudo temos uma Língua que partilhamos, que nos aproxima, que, como diz Fernando Pessoa: é a minha Pátria!

Luís Cabral 2:.

Sem comentários:

Enviar um comentário