…O R:.E:.A:.A:. é derivado do dito Rito de Perfeição que foi trazido de Charleston para França pelos chamados exilados que retornaram à Pátria. Em 1804 Germain Hacquet constituiu as Lojas du Phénix dits Écossais D’Heredon, uma Loja Simbólica, um conselho de Kadosh e um Consistório de Príncipes do Real Segredo (criado por E. Morin). Pouco tempo depois o Conde de Grasse-Tilly também retorna à Pátria tomando contacto com a Loja Saint-Alexandre d’Écosse e criando o Supremo Conselho do Grau 33º. Foi esta Loja que convocou um Comité Geral das Lojas Escocesas nascendo a 23.10.1804 a Grande Loja Escocesa. Mais tarde Napoleão exigiu que esta fosse imediatamente fundida com o Grande Oriente de França estabelecendo-se um tratado de união entre as duas Obediências…
Acabei de vos citar aquilo que se poderá chamar História, ou seja, uma sequência de factos e acções que, com o aparecimento da escrita se tornou uma disciplina que estuda os factos passados.
Mas não é por aí que quero ir, por um lado por não ter a preparação científica necessária, e por outro porque qualquer dos MM:.QQ:.IIr:. estará tão apto ou mais do que eu para o fazer. Interesso-me mais por aquilo que me é mais fácil e acessível e que os eruditos chamam de Historicidade, ou seja, dar importância aos factos históricos para se compreender a cultura e a realidade, mas, pessoalmente, não seguindo padrões ou chavões pré-estabelecidos ou conhecidos.
É nesta, diria, 2ª linha, que vou caminhar ao debruçar-me sobre o Título deste Traçado: Antigo ou Moderno será o R:.E:.A:.A..?
Comecemos de trás para a frente sem os a priori históricos e filosóficos, antes seguir cronologicamente os factos assegurando-nos da sua realidade e lembrando-nos que depois dos trabalhos de Eric Ward (que inspiraram a teoria do L’Emprunt (empréstimo) em relação à origem da transição da Maçonaria Operativa para a Especulativa) velhas máximas da história da Maçonaria começaram a ser contestadas colocando muitos IIr:. a rever, de novo, quer os factos históricos quer a importância que terão tido.
Parece assente na comunidade histórica que as duas teorias mais credíveis sobre as origens da F-M são:
1-É na Escócia que se devem procurar as origens dos Rituais e na Inglaterra que em 1717 se fundou a Grande Loja de Londres e Westmister que se inspirou no rito praticado pelos Escoceses (o chamado Le Mot de Maçon). Esta teoria designada de zigzag entre a Escócia e a Inglaterra tem muitos e credíveis adeptos.
2-em França duas Maçonarias existiriam, uma trazida pelos Stuartistas, jacobita e católica desde 1668 com o nome de prot-Ancien, e uma outra, Inglesa, Hanovriana e protestante, logo Andersiana ou Moderna.
O que acabei de resumir deve sempre ter em conta que a precaução é muito importante na Historicidade (ou seja na interpretação) do que na História (os factos em si).
Retomemos o assunto ao tempo das Lojas de Saint-Germain em 1668. Pensa-se que eram lojas militares pois os Stuartistas refugiaram-se em Saint-Germain-en-Laye, o chamado Regimento Royal Irish e que poderão estar na origem da Loja da Perfeita Igualdade (ou Loja de Walsh, o nome do Comandante do Regimento) que teve mais tarde (1772) o nome de A Loja da Boa-Fé, a primeira reconhecida pelo G:.O:.D:.F:.
Por outro lado, a origem da Maçonaria Especulativa em França é reivindicada pela fundação da primeira loja em Paris, em 1725, que, contudo, seria mais um refúgio político do que propriamente uma Loja Maçónica.
O que é de salientar nestes dois factos, que são históricos, é que se existiram as ditas lojas jacobitas não poderiam praticar um Ritual senão de 2 Graus porque na altura ainda não haveria uma grande Loja Obedencial nem nenhuma estrutura de representação. Na realidade, nesta Época e segundo Gustave Bord, a essência da primeira maçonaria especulativa era predominantemente política e legitimista.
Sabe-se também que 1751, foi criada uma Obediência concorrente da Grande Loja de Londres que, segundo Pierre Mollier, se apresentou como a reserva dos Maçons fiéis aos usos antigos da Ordem acusando a Loja de Londres de ter inovado e modificado os Rituais.
Em resumo, Stuartistas ou Antigos, Hanovrianos ou Modernos? Dissequemos um bocadinho mais:
O aparecimento dos Altos Graus, que vão estar na Origem quer do Rito Francês quer do Rito de Perfeição (percursor do R:.E:.A:.A:.) surgem no seguimento da Maçonaria Andersiana ou Moderna e é do Velho Continente que migrará para as Colónias com E. Morin. Este Maçom mais Francken construíram o Rito a partir de Rituais que trouxeram de França numa Época onde só um Rito existia, exactamente o dos Modernos. Todos os Graus criados a partir do 4º já eram conhecidos em França e os Graus criados nas Lojas da Carolina do Sul foram todos baseados no Rito Moderno pela simples razão de o Antigo ainda não ter sido reivindicado. O curioso é que Grasse-Tilly em 1799, nos Estados Unidos, decide-se pelo R:.E:.A:.A:. na sua Loja dos Antigos Maçons de York embora tenha sido investido nos Altos Graus pelo Rito Moderno.
No fundo, quais são as diferenças entre os ritos, ditos Antigo e Moderno: a posição dos Vigilantes, a inversão das Palavras e Colunas, a utilização de Diáconos em vez de Expertos ou significado do 3º Grau que para uns se alcança com a morte de Hiram e na procura da palavra perdida e para outros na perseguição e punição dos assassinos do Mestre ou que a palavra não está perdida mas modificada por segurança?
Parece-me pouco para que sejam tão notoriamente distinguidos pelos seus seguidores. O que me parece forçado é pretender que o R:.E:.A:.A:. não tenha tido a mesma filiação que todos os outros, ou seja, a Maçonaria dita Moderna ou Andersiana, e mesmo o facto de o Culto de Hiram ter sido transformado pelos Antigos não impede que a sua origem não seja Andersiana ou que a totalidade dos Rituais dos Altos Graus (quase todos gerados em França e Berlim) não fossem redigidos antes do aparecimentos das Lojas dos Antigos.
Mais ainda, e de facto, foram os Antigos determinantes para que os 3 primeiros Graus das Lojas Simbólicas se tronassem inconciliáveis com os Graus seguintes. Claro que os defensores da genealogia dos Antigos lhes resta o facto de terem sido eles a reordenar as bases religiosas, diria mesmo Cristãs, dos Rituais, mas o que me parece claro é que os ritos, Antigo e Moderno, são filhos do mesmo Pai apesar de cada um deles ter crescido e evoluído de maneira diferente.
Na realidade, e citando Jean-Bernard Lévy, não há novos valores (os verdadeiros valores são eternos), o que há são novas maneiras de os fazer aplicar.
Diógenes de Sínope M:.M:.
Bibliographia
-Jules Boucher – “La Symbolique Maçonnique”, Éditions Devry
-Jean-Benard Lévy – « Abrégé D’Histoire du R :.E :.A :.A :. », Éditions de La Hutte
-André Kervella – « La Maçonnerie Écossaise dans la France de L’Ancien Régime
- EDIMAF, Paris – « Vérités et Légendes de L’Histoire Maçonnique »
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