Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

20 de dezembro de 2023

OS RITUAIS

 



OS RITUAIS


Se te convém bom futuro

E te agrada transpor portais

Muito além do alto muro

Tens a escada em manuais


Planos sem pressa mensuro

Que as paragens são cabais

Pra que viajes seguro

Desde os tres anos e mais...


Inda que às vezes no escuro

Há altares de luz, sinais

Se praticares...asseguro 


História,  simbolos, reais...

Antigos, atuais...auguro

A glória tens nos Rituais !

ARLS Chequer Nassif-169 Adilson Zotovici

17 de dezembro de 2023

Feliz Solstício

 


Meus QQr:. IIr:.

A nossa L:. Salvador Allende viaja ao longo do ano; das trevas à Luz, da Primavera ao Inverno, do Outono ao Verão.

A simbologia é igualmente aplicável nas nossas vidas, quer como iniciados quer no mundo profano.

Entender o significado da entrada da Luz no Nosso Templo, por ventura obscuro, é parte do caminho.

A ignorância e a Razão fazem parte da nossa dualidade, mas a União de todos e a Fraternidade levam-nos à Razão.

A entrada do primeiro raio de Sol no dia do Solstício de Inverno, é a melhor metáfora para a Iluminação que cada Ir:. deve procurar e alcançar.

Lembremo-nos que a Luz quando chega é para todos. O conhecimento deve ser partilhado. A Razão, apesar de soberana sobre a matéria e a densidade da vida, não pode sobrepor-se à dignidade do ser humano.

A Luz, ou a Razão, podem e devem ser partilhadas, mas com moderação, com cuidado, pois o choque frontal com toda a sua força pode cegar, ferir, e queimar o Iniciado.

Bom senso e humildade criam laços fortes de uma Fraternidade de elos inquebrantáveis.

Um Feliz Solstício na companhia de toda a família e que o Novo Anos nos seja leve e próspero.

V:.M:.

Roman

12 de dezembro de 2023

Praticar a Tolerância – princípio fundamental da Ordem Maçónica

 

Praticar a Tolerância – princípio fundamental da Ordem Maçónica

Apresento-vos hoje uma peça de arquitectura sobre a “Tolerância” que é, como sabeis, um dos princípios fundamentais da nossa Augusta Ordem. 

A reflexão e estudo sobre o tema foram-me suscitados como uma urgência, pela ocorrência de três eventos quase simultâneos: o recrudescimento da propaganda de ódio da extrema-direita internacional (e a sua perigosa tradução nacional, com episódios de grande violência como a que vimos acontecer em Dublin no passado dia 24NOV e que, felizmente, em Portugal ainda não tem tão grave expressão, excepto por vezes nos campos de futebol), a tragédia da nova guerra Israel-Palestina, e a leitura de um excelente estudo sobre “A perseguição aos judeus e muçulmanos de Portugal” e de um livro do escritor árabe, Amin Maalouf, grande conhecedor dos conflitos internos do mundo árabe, para quem as nossas civilizações se encontram perante o risco de um “naufrágio iminente”. 

Como diz Maalouf, esta é uma “era desconcertante” porque, quando se verificam avanços tecnológicos espectaculares que nos facilitam, como nunca antes, o acesso ao conhecimento; quando se vive mais e melhor em muitas mais zonas do Planeta; e quando se poderia conduzir a humanidade a uma era de liberdade e progresso ... o mundo parece seguir inconscientemente na direcção oposta, rumo à destruição de tudo o que foi alcançado! 

Escrevia o nosso Ir.’. Salvador Allende, numa sua prancha de Julho de 2019, já lá vão quatro anos e meio(!), sábia e profeticamente (se pensarmos no que está a acontecer no Médio Oriente): “A luta pelas esferas de influência das grandes potências, em busca de fontes de matérias primas essenciais às novas tecnologias, a par do sempre presente petróleo, aliadas ao papel hegemónico da financeirização global da economia, criaram as condições propícias aos conflitos regionais, que têm descambado em guerras terríveis, impondo às populações enormes sacrifícios e perdas irreparáveis que acabam por ser potenciadas pelo extremismo religioso [e o] reforço da fuga para a prática de religiões ou crenças totalitárias.” 

Desconfiança em relação ao “Outro”, xenofobia e racismo, individualismo e intolerância política e religiosa, associam-se à, ou são mesmo promovidas pela, ganância de algumas dezenas de grandes corporações financeiras e pela acção das grandes potências, na sua luta permanente pela conquista de mais poder, mais territórios, mais recursos.

6 de dezembro de 2023

O R A Ç Ã O "

 


 O R A Ç Ã O "

Meus Irmãos esta é uma "Oração" que passei a rezar como um conceito de "Vida" para melhorar as minhas atitudes de um "IDOSO". Na verdade é uma reflexão para todos nós: "Senhor ! ... Estou ficando velho. Ajuda-me a evitar que me torne muito falador, desagradável e veemente a respeito das coisas. Ajuda-me a saber quando já falei o que devia. Ensina-me a chegar, rapidamente, ao ponto principal do que estou contando. Faze com que eu não comece a contar a vida de todas as pessoas que eu mencionar ou que conheça. Que eu nunca fale de ingratidão alheia. que eu não canse os demais, falando de minhas dores físicas, a não ser para meu médico. Ajuda-me a manter meus velhos amigos e a encontrar novos, sem aborrecê-los. Impõe-me a obrigação de ser afável no trato com as pessoas e agradável aos que comigo conversam. Ajuda-me a manter correspondência com os parentes e amigos. Faze com que cuide apenas dos meus assuntos e não me intrometa nos assuntos e problemas alheios. E, acima de tudo, Senhor, ajuda-me a manter meu velho senso de humor e toda minha autocrítica. Ajuda-me a perdoar meus amigos para que eles possam perdoar os defeitos que encontram em mim. E mais, Senhor ! Ajuda-me a não ser um velho ranzinza, criador de casos, rabugento, implicante e metido a conselheiro. Então, Senhor, serei útil, acima de tudo, a mim mesmo. Ajuda-me Senhor ! Amém

Irmão Josué Inácio da Silveira Neto


ARLS João Ramalho-107 


MI, Grau 33  - Santo André –SP

28 de novembro de 2023

Ritual Aprendiz Revisitado

 


Começo por citar o past Grão-Mestre do GOL Ramon Machado de la Féria que escreveu, e cito... o Ritual constitui a trave-mestra da iluminação e do equilíbrio espiritual do maçon...

Como não só concordo com esta afirmação, mas também porque tenho assistido, nestes últimos anos, a um desinteresse fantasiado de muitos irmãos, decidi revisitar o Ritual de Apr∴, de modo a realçar o como, o quê e o Porquê de ser a trave-mestra do caminho da Luz (pode ler-se conhecimento e sabedoria).

Todos sabemos que, desde o mais pequeno triangulo da mais ínfima nação à maior loja da mais possante nação, todos os Maçons têm o mesmo trabalho simbólico, ou seja, a maçonaria torna-se universal, não só, mas também, pelo Ritual que todos os maçons de todas as raças e credos vivenciam na sua formação.

Passemos aos detalhes, a saber: antes da Abertura dos Trabalhos, o Templo (também o Interior) tem que estar devidamente decorado com as alfaias do grau da sessão devendo os obreiros estar paramentados antes do inicio, ou seja, rigor e respeito pela tradição. Depois, a exortação pelo M∴ de Cer∴ para que, todos, deixem as suas paixões à porta de modo a que a construção de cada um seja pura e imaculada. A entada dos obreiros deve obedecer a uma hierarquia por ordem crescente de grau e antiguidade. Todos estes preparativos devem ser acompanhados pelos sons da Coluna da Harmonia que, no pensamento de D. Béresniak e cito…é um excelente preparativo para a reflexão espiritual…

Na abertura dos Trabalhos começa-se pelo reconhecimento entre irmãos que, posteriormente, serão testemunhos da evocação da Sabedoria, Força e Beleza provenientes das Luzes da Loja. Segue-se um período em que o onde, o quê e o porquê de nos reunirmos em Loja são realçados pois é um objectivo comum a todos. É justo realçar o combate à tirania e ao vício e a elevação da virtude.

Depois da abertura vem o período do expediente, cuja missão é todos remarmos para o mesmo lado sem controvérsias (excepção à Ordem do Dia em que poderá haver diálogo e contraditação dependendo do tema). É de notar que os Obreiros, quando intervêm, estão de pé e à Ordem exibindo respeito para quem dirige os trabalhos e para os restantes Obreiros.

Findo este período, duas acções, das mais marcantes para quem se inicia, a saber, a solidariedade e a conjugação espiritual que é como quem diz a circulação do Tronco da Viúva e a Cadeia de União, momentos em que a postura deve ser solene e de grande respeito e não em tons ligeiros ou de brincadeira.

Segue-se o período da discussão sobre assuntos da Ordem em Geral e da Oficina em Particular debatendo-se os problemas colectivamente e com sentido de responsabilidade de modo a que se consiga enriquecer a nossa mente.

Finalmente o Encerramento dos Trabalhos em que se reforçam as acções das Luzes da Loja e se promete ser discreto em relação ao que foi apresentado em Loja.

Gostaria, antes de terminar, de vos recordar algumas citações de René Guénon que dizem, e cito…todos os elementos de um ritual têm que ter um senso simbólico, sendo o símbolo o mais adequado dos suportes meditativos que usam expressões gráficas para a reflexão…

Diz ainda, e continuo a citar…o verdadeiro sábio humilha-se diante da verdade que ele sabe ser maior que a sua compreensão evitando assim a tentação de ser um instrutor das multidões…

Ou seja, a nossa reunião em Loja não é um mero encontro de amigos em que se trocam, ora mimos ora acusações, para se libertarem as cargas negativas que a realidade nos impinge.

Não é em vão que exortamos o combate à ambição, orgulho e preconceitos e não é em vão que elevamos templos à virtude praticando a justiça e o socorro aos aflitos.

14 de novembro de 2023

Á volta do do TEMPO, da IDADE e da MAÇONARIA



 À volta do Tempo, da Idade e da Maçonaria

Á volta do do TEMPO,  da IDADE e da  MAÇONARIA

Achamos útil voltar a recordar alguns conceitos relacionados com os 3 temas acima, publicados inicialmente neste Blog em 12.Jul.2022,  já que  julgamos serem poucas vezes recordados e discutidos nas Sessões em Loja.  O facto de considerarmos importante a sua análise periódica, muito em especial para os AApr:. e CComp:. leva-nos a acreditar que será útil voltar a recordá-los (p' Comissão Editorial do Blog - Salvador Allen:.M:.M:.)

Algumas das interrogações que mais frequentemente se nos colocam, são precisamente as que surgem acima. Existirá,  por norma, decreto ou prática, ou até por algum acaso, alguma idade ajustada para se ser Iniciado, ou deverá existir, pelo contrário e  essencialmente, uma maturidade certa para se ser Iniciado.

Constatamos infelizmente que a esmagadora maioria dos homens e mulheres, nunca atinge (ou atingirá)  essa maturidade, devido quer a um conjunto de dificuldades e também às muitas «partidas», que o actual desenrolar cada vez mais acelerado da  vida, às dificuldades económicas ou até de saúde, inerentes, que a quase todos envolve e agrega em caminhos dispersos, voláteis  ou sem sentido, e muitas vezes críticos.  

Se aos factores anteriores associarmos o individualismo, o egoísmo e o prevalecente espírito e práticas consumistas, ampliados por núcleos de amigos pouco propícios (ou até contra a discussão destes assuntos), as sucessivas crises financeiras, sanitárias e as subsequentes dificuldades económico-sociais,  que num rodopiar crescente envolvem tudo e todos, sobretudo as  gerações mais novas e os mais idosos. Em associação à iliteracia média vigente e às suas consequências - nível cultural médio baixo, teremos o caldo em que fermentam as condições objectivas que dificultam ou impedem a chegada à tal maturidade. Subjacentes estão também outras tantas crises individuais de descrença, quer na própria vida, quer nas instituições  estaduais e politicas, esbatendo progressivamente a autoconfiança, corroendo o acumular de conhecimentos  adquiridos,  no fundo traduzindo a (des)informação e experiências de vida desgastantes, que a sociedade globalizante e sem regras nos transmite diariamente, por todos os meios de comunicação que controla e manipula, como melhor lhe convenha. 

Assim, a maior parte dos seres humanos, nascem, vivem, reproduzem-se (cada vez menos)  e morrem, sem terem infelizmente tempo ou disposição para perder alguns dias de vida que sejam, com “grandes questões”. A azáfama diária, as muitas dificuldades e carências (familiares ou pessoais), ou a inexistência  de uma educação ou prática de vida saudável de base,  suportada em princípios,  regras de orientação, práticas consistentes e éticas,  como costumam salientar os sociólogos e antropólogos com larga experiência, será porventura o motivo principal.  

Também, grandes escritores e excelentes jornalistas, com sólida experiência, nos têm há muito advertido para a popular e frequentemente  bem explícita frase -  «em mesa onde não há pão, ninguém pensa, todos ralham e ninguém tem razão».  Da análise da  experiencia dos países  mais ou menos desenvolvidos, as estatísticas comprovam que o  nível cultural médio da sua população, está directamente ligado ao rendimento médio mensal auferido, à qualidade de vida associada e participativa e à procura de valores, ideias e práticas consistentes e adaptadas em contrariar aos perigos que mais directamente ameaçam a humanidade (guerras, poluição, sustentabilidade do planeta, desequilíbrio crescente de rendimentos entre empresários / dirigentes e assalariados, super globalização, ecologia,  guerras, etc.).

27 de outubro de 2023

Centenário da morte de Guerra Junqueiro

 


Transcrito, com a devida vénia, da Revista As artes entre Letras de 7.10.2023 este artigo de António Valdemar

Centenário da morte de Guerra Junqueiro

Junqueiro, a coragem da opinião

O centenário da morte do poeta permite revisitar a sua obra repleta de testemunhos implacáveis acerca de Portugal e do comportamento dos portugueses e sobre a ausência das soluções necessárias para ultrapassar as crises.

Os grandes acontecimentos nacionais e internacionais que se verificaram no tempo de Guerra Junqueiro (1850-1923), refletiram-se na conduta do homem e na obra do poeta. Basta citar o Finis Pátria (1890) e a Pátria, (1896) dois livros de combate, onde procurou retratar ou caricaturar as tendências dominantes no país real e as singularidades do temperamento e do carácter dos portugueses. Espetador e interveniente nas guerras e nas guerrilhas, que agitaram a vida política, social e cultural portuguesas, Junqueiro acompanhou de perto as consequências do Ultimatum de 1890 e da Revolução Republicana do 31 de Janeiro. Os ataques desferidos por ocasião da ditadura de João Franco levaram-no à barra dos Tribunais. Este consulado político, que decorreu entre Maio de 1906 e acabou com o Regicídio (1 de Fevereiro de 1908), precipitou o fim da Monarquia e abriu caminho para a instauração da República.Junqueiro também seguiu de perto os anos agitados da República: a repetição de erros crassos, desvios graves e as violências sangrentas, ainda assistiu a mais duas ditaduras, a de Pimenta de Castro (28 de janeiro de 1915 a 14 de maio de 1915) e a de Sidónio Pais (9 de maio de 1918 a 14 de dezembro de 1918) que deixaram feridas abertas. A 28 de maio de 1926 – Junqueiro havia falecido a 7 de julho de 1923 – implantava-se ainda mais outra ditadura portuguesa no século XX. A tomada do poder pelos militares, seguida pela ditadura de Salazar que se estendeu por mais de quatro décadas, até ser derrubada pelo 25 de Abril.A publicação de sucessivas edições do Finis Pátria e da Pátria, desencadeou uma controvérsia política, enquanto o aparecimento d’A Velhice do Padre Eterno (1885), circunscreveu-se a uma polémica sem precedentes, no âmbito da igreja católica. A ferocidade da sátira envolveu desde as mais altas hierarquias até ao pároco da aldeia. Denunciou a conduta religiosa que, em nome da fé e em nome de Deus, mergulhava nas malhas obscuras da política quotidiana, para favorecer interesses institucionais e materiais e reforçar o poder em todas as instâncias. O panfleto da autoria do Padre Sena Freitas, Autópsia da Velhice do Padre Eterno, atingiu o auge das contestações que se mantiveram depois da morte de Junqueiro. Estabeleceu tamanha confusão que, dificilmente, se poderia concluir que Junqueiro se limitava a combater a superstição, o medo e o terror nas consciências. A existência de Deus e a figura de Cristo, nunca foram postas em causa. Mas o salazarismo–“orgulhosamente só” – ignorou o Concílio Vaticano II promovido por João XXIII e executado por Paulo VI.

PÁTRIA E PIA

Já o Finis Pátria e a Pátria constituem um ataque implacável à dinastia de Bragança concentrada, fundamentalmente, no rei D. Carlos, na corte que o cercava, nos partidos que se alternavam nos Governos e nas instituições comprometidas numa permuta de malabarismos movidos através dos caciques nacionais e locais. Se ambos os poemas são escaldantes, encontra-se um texto muito mais explosivo integrado como apêndice da Pátria. Ultrapassou a crítica vigorosa de Ramalho, em numerosos volumes, as Farpas; a ironia penetrante de Eça, nas suas grandes obras e nas crónicas ocasionais. Assemelhava-se à fúria bravia que percorre os Gatos de Fialho.Perante a sociedade que o rodeava, Junqueiro não hesitava em alertar numa comparação com o episódio da ressurreição descrito na Bíblia: «se Cristo, entre ladrões, fosse crucificado, em Portugal, ao terceiro dia, em vez do Justo, ressuscitariam os bandidos. Ao terceiro dia? Que digo eu! Em 24 horas andavam na rua, sãos como peros, de farda agaloada e a Grã Cruz de Cristo». E quais os motivos que davam lugar a esta situação degradante? Junqueiro – e optamos por transcrever as suas próprias palavras – responsabilizava os partidos que alternavam no exercício da governação, (o Partido Progressista e o Partido Regenerador) permaneciam «sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes na hora do desastre, de sacrificar uma gota de sangue, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e perverso, análogos nas palavras, idênticos nos atos, iguais um ao outro».

18 de outubro de 2023

A SERVIDÃO VOLUNTÁRIA E A ESCRAVATURA GLOBAL


 A SERVIDÃO VOLUNTÁRIA E A ESCRAVATURA GLOBAL

Quando Étienne de la Boétie escreveu no seu “Discurso sobre a Servidão Voluntária”, e cito…os tiranos fazem de tudo para ganhar fortuna e poder…, mal sabia ele que estava a adivinhar o futuro. Com efeito, se tivermos a ousadia de revisitarmos a obra referida, constatamos que a Servidão Voluntária, melhor dizendo, servir em vez de obedecer, está relacionada com, no tempo de Étienne, a religião e monarquia e, nos tempos de hoje, com a ignorância e a iliteracia.

Montaigne (amigo do Autor) considerava que a obra do amigo terá sido o 1º hino à liberdade escrito e pensado por um ser humano. Assim, ressaltou que o poder que um ser humano sozinho exercia sobre o outro era ilegítimo; que o uso da demagogia só tinha efeito devido à ignorância que grassava na época (só o clero e alguns Nobres sabiam ler e escrever); será, como escreveu Étienne, que a liberdade está muito perto da solidão e da loucura?

Exponho-vos a minha reflexão pessoal, a saber:

Não vou cair na tentação de tentar justificar porque tantos servem um só (seria objecto para 4 ou 5 pranchas elaboradas poe eruditos), apenas deixo-vos algumas pistas que poderão desenvolver se assim o entenderem. A 1ª é a contradição expressa no título, servidão voluntária (ou como escreveu Étiennetraidores de nós próprios), não imposta traumaticamente, apenas aceite e sem luta. A 2ª tem a ver com alguns freudianos que insistem que é o medo da liberdade que leva à servidão, ou seja, a incapacidade de nos governar a nós próprios abre caminho a quem o faça por nós. Por fim a 3ª pista que é a polarização (a velhíssima tensão do se não és por mim és contra mim tão habilmente aproveitada pelos dominadores que se apropriam da habituação à servidão no dizer de Étienne) política implícita que é o contrário do diálogo e da dialéctica, processos que mais facilmente impedem o amorfismo e a dominação e nos dão a consciência e a capacidade de destruir a tirania. Se por um lado e de acordo com S. Freud, o homem nasce entre urinas e fezes e o extraordinário percurso que o levará a ser decente, solidário, culto, fraterno e, sobretudo, livre, deve ser contado, relembrado e partilhado.

Por outro lado, é a chamada descida aos infernos que torna a elevação marcadamente válida, ou seja, estudar e revisitar a servidão voluntária poderá levar-nos a renascer na liberdade (liberdade que é muito bem caracterizada por Étienne numa tríade que cito…obedientes aos que têm mais experiência; submissos á razão; e de ninguém escravos;)?

3 de outubro de 2023

Comemorações da Implantação da República – 5 de outubro de 1910

 


Comemorações da Implantação da República – 5 de Outubro de 1910

Agenda

5 de Outubro

PORTO

Celebrações com a presença do Sap Grão-Mestre Fernando Cabecinha

10:30 H – Hastear da bandeira nacional

10:45 H – Deposição de coroa de flores na estátua de Afonso Costa

11:00 H – Sessão Evocativa do 5 de Outubro no Salão Nobre da Junta de Freguesia do Bonfim

LISBOA

Celebrações com a presença do Grão-Mestre Adjunto João Aurélio Marcos

CEMITÉRIO DO ALTO DE SÃO JOÃO

09:00 H – 11:00 – Romagem e Homenagem a:

− Miguel Bombarda e Cândido dos Reis, com alocução da Grã-Mestre da Grande Loja 

Feminina de Portugal, Drª Odete Isabel e do Grão-Mestre Adjunto do Grande Oriente 

Lusitano – Maçonaria Portuguesa, Dr. João Aurélio Marcos;

− Machado dos Santos, com alocução do Dr. Jorge Mendes;

− Heróis da República, com alocução do Dr. Eurico Reis;

− Anabela Cabete, com alocução da Drª. Anabela Valente. 

ESTÁTUTA DE ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA

11:30 – Deposição de coroa de flores e alocução sobre o 5 de Outubro, pelo Grão-Mestre 

Adjunto do Grande Oriente Lusitano – Maçonaria Portuguesa, João Aurélio Marcos

Seguir-se-á um almoço comemorativo organizado pela Comissão Coordenadora para as 

comemorações do 5 de Outubro de 1910, a realizar no Rest. Tico-Tico e pede-se aos IIrm

que o desejem, que confirmem a sua presença para o tlm. 963066188 (Maria Helena Corrêa). 

Aceita, Meu Quer Irm, o nosso G&TAF que nos une e identifica.

O Grande Secretário-Geral

27 de setembro de 2023

Salvador Allende na Encruzilhada do Tempo

 


Salvador Allende na Encruzilhada do Tempo

“Cuando la venda cayó de mis ojos y pude observar las espadas dirigidas a quien veía por primera vez la luz masónica y oía las palabras del Venerable Maestro, pude entender que esa era una expresión de profunda y honda solidaridad, para hacerle presente al iniciado que sus hermanos estarían prestos para acudir en su ayuda si el caso así lo requiriera.”

Salvador Allende, desde as lutas estudantis e universitárias em Santigo, até à sua morte, encontrou-se numa encruzilhada política e ideológica, em que a Igreja Católica, as potências europeias e os EUA estiveram profundamente implicadas, em parar a revolução socialista e socializante da sociedade tradicional e fechada do mundo ocidental.

O Chile, pelas condições históricas intrínsecas, ligadas á forte imigração europeia do pós-guerra, recebeu emigrantes empobrecidos e mal tratados pela própria guerra e pelo sistema económico depauperado. Mas estes emigrantes europeus não eram totalmente alheios às lutas operárias, às ideias do socialismo e do marxismo.

Do anarquismo, ao marxismo, passando pelo socialismo e a social-democracia, o Chile foi palco de lutas intensas, quer nas ruas e nas famosas minas de Nitratos do Chile, no deserto de Atacama, como no parlamento. De facto, Allende chegou a fazer parte do parlamento chileno entre 1937-1943, concorreu três vezes à presidência em 1952, em 1958 e em 1964, e só ganhou à quarta vez em 1970.

As alianças partidárias e com a própria igreja católica socialista que Allende acalentou ― apelidada de “cristianismo subversivo” ―, fez tremer de morte aqueles que do mundo quiseram que fosse palco a Coreia, o Vietnam, o Camboja, a extensamente América Central e do Sul e a África. A luta pelas autonomias nacionais e étnicas, a luta pelos direitos do homem, a mudança do paradigma vigente do colonialismo, do velho imperialismo, para as novas formas de democracia, foi a espada que o grito dos povos desferiu sobre o corpo social e económico agastado e virulento, herdeiro do séc. XIX, e dos problemas imperiais que nunca foram resolvidos na Primeira e na Segunda Grandes Guerras.

21 de setembro de 2023

O equinócio de Outono



Em Portugal, a 23 de Setembro às 06h50, vai acontecer O equinócio de Outono em 2023. Festa com simbolismo ancestral sobre os ciclos vitais.

Cerimónia alusiva ao 50° Aniversário da Morte de SALVADOR ALLENDE

 


Cerimónia alusiva ao 50° Aniversário da Morte de SALVADOR ALLENDE

25 Set (2ª feira)- 18h30 

Sala Multiusos

Palácio do Grémio Lusitano

Com a presença do SAP:. GRÃO-MESTRE do GOL

11 de setembro de 2023

50º aniversário do Assassinato de S. Allende

Celebram- se 50 anos sem o extraordinário representante da espécie humana no seu estado mais puro que foi Salvador Allende. Felizmente, o sonho dele não morreu nem há-de morrer. 
 

1 de setembro de 2023

Uma Geração de Sociopatas em Evolução

 


transcrito, com a devida vénia e respectiva autorização, da Revista cultural virtual  "Cavaleiros da virtude" nº054 de Agosto de 2023


Crônica do Editor

Uma Geração de Sociopatas em Evolução

- Una Generación de Sociópatas en Evolución 

Carlyle Rosemond Freire

M|I| CIM 307.07 - A|R|L|S| Terceiro Milênio nº7 - GOAL

Membro da Academia Maçônica de Ciências, Letras e Artes - AMCLA - Cad. 113

Lendo matérias aleatórias, como sempre, deparei com uma que me chamou atenção, pois a mesma comentava, ainda que superficial, que os “Baby Boomers” (nascidos entre 1945 e 1964) foi/é uma geração de sociopatas, isso devido ao período pós II Guerra e as Guerras do Vietnã e Coreia, além do surgimento do Movimento Hippie, com toda falta de regras e busca pela liberdade. Não sou médico psicanalista para dar diagnósticos, mas, como professor ainda em sala de aula, e, vendo como os jovens se comportam, acredito, em minha opinião, que as gerações “Z” e “Alpha” têm mais tendências de desenvolverem transtorno de Personalidade A n t i s s o c i a l ( T PA S ) q u e a s anteriores, ou seja, de serem sociopatas. Não é a primeira vez que abordo assuntos ligados a essas gerações, p o i s é g r i t a n t e como essa juventude se comporta em relação aos adultos e entre os próprios pares. Segundo alguns dicionários, Sociopata é uma palavra usada para descrever uma pessoa que sofre de sociopatia, um transtorno de personalidade que provoca um comportamento impulsivo, hostil e antissocial, a qual é caracterizada por um egocentrismo exagerado, falta de apego aos valores morais, capacidade de simular sentimentos para conseguir manipular os outros, além da incapacidade de controlar emoções negativas. Como já havia dito, não tenho  como realizar diagnósticos, mas está muito claro que essa geração de jovens apresenta, em sua maioria, pelo menos, 80% das características de um sociopata onde, algumas delas estão muito visíveis, como o apego às redes virtuais e a falta da real interação social, em acreditar que só precisa de direitos e não de deveres, o aumento da negatividade pessoal ligado as tendência depressiva e ansiolítica, pensar que está sempre certo e apresentar ausência de crítica e autocrítica, ter empatia com animais e dificuldade na construção de relacionamentos entre seres humanos, entre outras. Para o bem o para o mal, esta é ag e r a ç ã o d e j o v e n s q u e perambulam pelas ruas e dentro de nossas casas. Mas se acreditamos que está ruim, segundo a Lei de Murphy, pode e vai piorar. E porque digo isso? Porque a tendência de toda sas gerações é evoluir e, como dizem meus alunos: “Daqui pra frente é só pra trás!” Pois é, paradoxalmente ao que fala a música de Moraes Moreira (Lá vem o Brasil descendo a Ladeira), se continuarmos caminhando só adeira abaixo, poderemos ter um número crescente de psicopatas caminhando entre nós, muito em breve. E n ó s d a g era ç ã o “B a b y Boomer”? O quê podemos falar sobre isso? 

2 de julho de 2023

Nasci não sei quando

 Com a devida vénia se trancreve eta reflexão publicada no boletim  Chico da Botica, Ano 19, Edição178, 30 de Junho de 2023.



Nasci não sei quando - *Irmão Hercule Spoladore  

Sei que no princípio eu era operativa, entre romanos e medievos, depois me tornei especulativa, condição que trago até os dias atuais. Em meu nome ergueram templos de pedra e os encheram com aqueles que ainda hoje não me compreendem. 

Em meu nome, se fantasiaram e se engalanaram. Em meu nome, fizeram-se falsos homens de bem. Em meu nome, buscaram o poder pelo poder.  Em meu nome, delegaram-se sapientes e iniciados. Em meu nome, fizeram-se donos da verdade.  Em meu nome, perseguiram mais do que ajudaram. Especializaram-se neste métier. 

Em meu nome, ludibriaram e enganaram. Em meu nome, me dividiram, como se eu não fosse uma só; um ledo engano.  Em meu nome, retiraram dos meus rituais a essência dos ensinamentos do meu criador. Em meu nome, criaram graus e degraus, como forma de serem importantes por estas conquistas, não pelo trabalho interior e exterior de  cada um.  Em meu nome, criaram e criam vários ritos, tudo no grito. Em meu nome, ganham a vida criando estórias e arregimentando seguidores para estas, para mais tarde se desmentirem. Em meu nome, fazem leis e normas para favorecê-los, ou para tentar calar o meu grito através dos que me entendem e tentam me defender. Em meu nome, usam a sociedade para benefício próprio e de seus apadrinhados ou cúmplices. Em meu nome, iniciam sem jamais iniciar. Em meu nome, colocam-se como Maçom, sem jamais se preocuparem, em tornarem-se um deles, verdadeiramente, um dia.  Em meu nome, relegam a um segundo plano o verdadeiro sentido da iniciação. Em meu nome, fazem sessões rápidas, maquinalmente, sem propósito algum, para sobrar mais tempo para a sessão gastronômica. Em meu nome, sim, em meu nome, fazem tanta coisa errada que até fico constrangida em aqui me apresentar. Eu sou justa, sou perfeita, nasci para ajudar o homem a se aproximar do nosso Criador que é o DEUS de toda a Humanidade. 

Eu sou justa, sou perfeita, dei os símbolos como meio didático para o homem melhor me compreender e praticar nossos mais puros mandamentos.  Eu sou justa, sou perfeita, criei o ritual para poderem com os símbolos melhor me compreenderem e me entenderem. Eu sou justa, sou perfeita, pensei que o homem poderia através dos símbolos e dos rituais interagir melhor com as forças energéticas positivas do universo.  

 Eu sou justa, sou perfeita, chamei o homem de pedra bruta para que ele sentisse e compreendesse a necessidade de se lapidar. Eu sou justa, sou perfeita, mostrei ao homem que o templo físico deveria ser uma representação do universo, só que alguns não entenderam que tudo ali é sagrado, é uma das muitas moradas do meu Pai. Ali não há lugar para a inveja, o ciúme, a disputa, a vaidade, a intemperança, a raiva, a injúria e o juízo de valor  

Eu sou justa, sou perfeita, até deixo o homem dizer que eu tenho segredos; estes, se existem, são administrativos, como qualquer sociedade que um dia foi ou é perseguida tem como forma de proteger os seus membros. Eu sou justa, sou perfeita, nasci para ajudar todos os homens, independentemente do sexo, raça, cor, religiosidade ou posição social a se transformar em um iniciado, ou seja, num homem, e, consequentemente um espírito de LUZ. 

 Toda a humanidade terá, forçosamente, que chegar neste estágio. Assim está escrito e assim se cumprirá.  Eu sou justa, sou perfeita, a todos e a tudo levo o meu perdão, mas, por favor, sejam dignos de mim, não me maltratem; socorram-me. 

 O meu nome? Sim, o meu nome é MAÇONARIA.  

*Hercule Spoladore - Primeiro Membro Correspondente da Loja “Chico da Botica” 


20 de junho de 2023

Viajando com livros: Afondo Duarte

 Transcrito, com  a devida avénia, daRevista Tempo Livre /Maio/Junho 2023


e convocava a permanência efetiva no quotidiano dos grandes valores universais.

Afondo duarte:a ambição de ser europeu

O poeta que exaltou a génese cósmica da natureza, a celebração panteísta da vida,

a reposição da democracia, a ambição de ser europeu e a supremacia dos grandes valores 

universais Por António Valdemar 

Poesia afirma-se na palavra que 

desperta outra palavra, mais 

outra e outras mais enquanto se 

manifesta o ímpeto do diálogo 

interior. Fixa o que surpreende 

o poeta a cada momento: as pulsões da terra na sua diversidade, 

o voo e o canto dos pássaros, a exuberância 

das árvores e das flores; o curso dos rios, 

a inquietação do mar e a interrogação dos 

astros. Recorre também à memória da infância e da adolescência, à vulnerabilidade 

da condição humana, ao encontro com o 

mundo e ao seu permanente desconcerto. 

É a vida inteira em tudo o que é deslumbramento e em tudo o que é o seu contrário. 

Um dos grandes poetas Portugueses da 

primeira metade do século XX, Afonso 

Duarte (1884-1958) nasceu na Ereira, uma 

das ramificações do concelho de Montemor-o-Velho, próximo da Figueira da Foz. 

Integra-se no Baixo Mondego, onde nasceram escritores, poetas, artistas, mestres 

universitários e outras personalidades de 

evidência cultural, política e social. Basta citar: Fernão Mendes Pinto e Jorge de 

Montemor; Manuel Fernandes Tomaz, líder da revolução liberal; o filósofo Joaquim 

de Carvalho; os poetas Afonso Duarte, João 

de Barros e Santiago Prezado; os pintores 

Manuel Jardim, Cândido da Costa Pinto e 

Eduardo Nery, o crítico literário João Gaspar Simões, os cineastas João César Monteiro e José Mário Grilo.

O itinerário de Afonso Duarte pode, assim, resumir-se: fez o ensino primário na 

Ereira e Alfarelos e o ensino secundário e 

universitário em Coimbra. Licenciado em 

Ciências Físico-Naturais, lecionou em Vila 

Real de Trás-os-Montes, em Lisboa e, sobretudo, em Coimbra. Todas estas cidades 

deixaram-lhe reminiscências inapagáveis. 

Todavia, uma das marcas mais profundas 

ocorreu na altura em que foi incorporado 

no serviço militar, durante a participação 

de Portugal na primeira Guerra Mundial: 

ficou paraplégico e, até à morte, com a mobilidade extremamente reduzida.

A revelação literária de Afonso Duarte, 

num órgão de projeção nacional, verifica-

-se a partir de 1912, na revista Águia, dirigida, no Porto, por Teixeira de Pascoaes. 

Também em 1912 funda, em Coimbra, a 

revista Rajada que reúne poetas, ensaístas 

e artistas plásticos que viriam a salientar-se 

na cultura e na política: Alberto Veiga Simões, crítico, historiador, diplomata de carreira e ministro dos Negócios Estrangeiros; 

Nuno Simões advogado, ministro de várias 

pastas na primeira República, que nunca 

deixou de escrever nos jornais, ocupando-

-se da aproximação cultural luso-brasileira. 

Almada Negreiros que procurava, então, 

tima e na Ode Triunfal; e, por 

exemplo, ao poema Tabacaria (publicado em 1933, na 

Presença). Introduziu numa 

expressão original do registo do tempo, do sentimento 

de incerteza, da sensação de 

vazio, da solidão e incompreensão em face de tudo 

que rodilhava e envolvia o 

próprio Fernando Pessoa.

Numa alusão a estas ruturas que vão consolidar a 

modernidade portuguesa, 

Afonso Duarte rejeita «o estilo enovelado dos poetas fáceis». 

Não se afasta do modelo literário que exaltava a Ereira 

e Coimbra: «É na poesia lírica 

dos rios, / – no sarcasmo das 

rugas da montanha – no que 

me enche de mar, seu sonho e 

desvario – que o meu retrato 

vivo se desenha.» A interpelação política, com exigências 

morais e cívicas, surge nas 

Ossadas e nos outros livros 

que publica: «Honra. Brio. Dignidade: Onde 

estais? Quem vos Preza?» Enfrentava a política e políticos que governavam o País: «Lembram-me bichos, carochas, centopeias, / Musgo, 

paredes húmidas, bolores, / ao pensar na pobreza! Ideias. E causam-me suores.»

O poeta foi tudo isto e, ao mesmo tempo, 

mantinha a ambição de ser europeu. O ano 

Afonso Duarte:de 1949 não apagara os horrores da Segunda Guerra Mundial e, no plano interno, 

sucediam-se as polémicas em torno do movimento criado devido à candidatura presidencial de Norton de Matos. A oposição 

encontrava-se retalhada. A PIDE multiplica 

as prisões em todo o país. É neste ano que 

Afonso Duarte escreveu um dos seus mais 

conhecidos sonetos Terra Natal. Muito mais 

do que um soneto é uma proclamação: «E 

cá mesmo no extremo Ocidental / duma Europa 

em farrapos, eu / quero ser Europeu: quero ser 

Europeu / num canto qualquer de Portugal.» 

Reportando-se, à situação do país e da sua 

própria situação como português e poeta, 

orgulhoso das suas origens, acrescenta: 

«Um presídio será, mas é meu berço! / nem noutra língua escreveria um verso / que me soubesse 

ao sal desta harmonia.»

Afonso Duarte tem publicadas as suas 

Obras Completas, mas falta a organização de 

uma antologia dos poemas mais significativos, para termos acesso direto à amplitude 

do poeta que manteve uma cidadania participativa, procedeu à celebração panteísta 

da vida, à força cósmica da natureza ee convocava a permanência efetiva no quotidiano dos grandes valores universais.

19 de maio de 2023

O Desbastar da Pedra Bruta na caminhada do Aprendiz. Que significado?

O Desbastar da Pedra Bruta na Caminhada do Aprendiz. Que Significado?

Várias foram as noites em que me deitei e adormeci reflectindo sobre o simbolismo da Pedra Bruta, sobre o seu valor e significado.

Durante a minha reflexão e pesquisa sobre o assunto senti que estava a iniciar uma de muitas viagens. Sabemos que ao iniciar uma viagem há que saber o que se deve levar. Os inexperientes enchem as suas malas com excesso de bagagem, provavelmente com “tralhas” que nunca irão precisar. Os já viajados, pelo contrário, escolhem com critério o que irão necessitar pois sabem que o peso e o volume atrapalham e dificultam o caminho.

No fundo trata-se de um ritual que todos os viajantes, que procuram outros lugares, terão que passar. Depois de uns largos anos e viagens realizadas, talvez a carga seja mais leve. Por agora sinto que a mala está carregada de “calhaus” que forçosamente terão quer ser levados tal qual uma penitência destinada a todos aqueles que apesar de tudo, não temem dar início à primeira etapa da uma jornada que será longa.

Assim será a jornada de um aprendiz de maçom, que ao longo da mesma se deverá empenhar e esforçar, depurando o seu espírito, purificando o seu ser, expurgando as imperfeições da sua alma e refinando-a com valores e princípios éticos em prole da humanidade.

Se nome atribuísse a essa jornada, chamar-lhe-ia, “o desbastar da pedra bruta”. Poderemos dizer que o aprendiz de maçom é tal qual uma “pedra bruta”. Uma pedra que brota e que emerge da rocha mãe em estado bruto. Que às vezes se solta tal qual muitas outras e que segue o seu caminho levada, por vezes, pelas torrentes de lama ou pelo vento agreste próprio das serranias, ou então pela água pura da imparável corrente de um rio.

Na maçonaria “o desbaste da pedra bruta” simboliza o ponto de partida, o soltar da rocha mãe, o início da grande transformação que deve ser realizada de forma voluntária e empenhada. Que carece de tempo, esforço e dedicação. A “Pedra bruta” simboliza a matéria e o espírito que constitui o aprendiz, recheada de arestas e saliências e por vezes impurezas que podem e devem ser desbastadas, esculpidas e lapidadas, levando a formas mais nobres, harmoniosas e definidas. Neste processo o aprendiz é matéria-prima, mas também, obreiro e instrumento. Dando largas à imaginação, penso num cirurgião plástico que ao mesmo tempo é psicólogo e que se auto manipula, moldando, não o corpo, mas o carácter, tudo isso com as suas próprias mãos. Tal especialidade médica não seria de todo reconhecida pela ordem, no entanto, pensamos que a maçonaria, aprová-la-ia decerto.

A PEDRA BRUTA, no essencial, simboliza o Grau de Aprendiz de Maçom. Simboliza a imperfeição espiritual do homem, independentemente das suas qualidades profissionais e de sua posição social. Representa o começo, o início de uma longa jornada de procura e de constante aprendizagem.

17 de maio de 2023

Porquê o silêncio em Loja, no percurso do Aprendiz

 

Porquê o silêncio em Loja, no percurso do Aprendiz

Desde os primórdios da civilização que a transmissão do conhecimento é essencial para o progresso da humanidade, tendo sido construídos, para o efeito, diversos Templos, onde os candidatos recebiam a sua instrução, depois de serem submetidos a provas físicas terríveis e a provas morais cheias de dificuldades, com o intuito de abalar a sua coragem.

A iniciação proveio da necessidade que tiveram as antigas sociedades secretas (persas, egípcias, gregas, judaicas, entre outras) de conservar perpetuamente os seus mistérios e de propagar as suas doutrinas.

A adoção de símbolos, cujo significado só aos iniciados era dado a conhecer, explica-se pela necessidade que tinham de se pôr a coberto da perseguição de qualquer governo despótico. As lojas maçónicas (de São João) são, inequivocamente, representações fidedignas dos Templos da antiguidade.

Um dos ensinamentos basilares da Maçonaria é a disciplina do silêncio.

Na escola pitagórica, nenhum discípulo tinha permissão para falar, sob nenhum pretexto, antes que tivesse decorrido o período (três anos) da sua aprendizagem.

O Apr⸫, qual Pedra Bruta por desbastar é, simultaneamente, o sujeito e o objeto do seu trabalho, uma vez que é chamado a transformar-se a si mesmo em Pedra Angular, com recurso ao Cinzel (pensamento determinado) e ao Malhete (vontade de executar). O Apr⸫ não sabe ler nem escrever, apenas soletrar.

Tal como as crianças que vão aprendendo as letras, os números, a formação das palavras e a construção de frases, o Apr⸫, depois de “renascido” através da Iniciação, precisa de se dedicar ao estudo da gramática, designadamente dos carateres ou letras e sinais, isto é, ao conhecimento dos princípios ou elementos simbólicos com os quais é representada a Verdade.

Por outro lado, neste primeiro grau, os três primeiros números também devem ser incluídos na aprendizagem. Em termos genéricos, o número um representa a Unidade do Todo, o número dois a Dualidade (o bem e o mal; o branco e o preto; o sol e a lua) e o número três, o Ternário da Perfeição (Sabedoria, Força e Beleza; União, Paz e Silêncio). O silêncio é uma prática essencial, principalmente para os AApr⸫, pois ajuda no desenvolvimento pessoal e permite que os ensinamentos sejam assimilados de forma mais eficaz. 

1 de maio de 2023

O Dia do Trabalhador

 


O Dia do Trabalhador, Dia Internacional dos Trabalhadores é uma data comemorativa internacional, dedicada aos trabalhadores, celebrada anualmente no dia 1 de Maio em quase todos os países do mundo, sendo feriado em muitos deles.

A homenagem remonta ao dia 1 de Maio de 1886, quando uma greve foi iniciada na cidade norte-americana de Chicago com o objectivo de conquistar melhores condições de trabalho, principalmente a redução da jornada de trabalho diária, que chegava a 17 horas, para oito horas. Durante a manifestação houve confrontos com a polícia, o que resultou em prisões e mortes de trabalhadores. Este acontecimento serviria de inspiração para muitas outras manifestações que se seguiriam. Estas lutas operárias culminaram numa série de direitos, previstos em leis e sancionados por constituições.

Curiosamente, das poucas Nações que não celebram este dia- os Estados Unidos da América

28 de abril de 2023

— O E s p a ç o L u s ó f o n o — Do Esquecimento ao Devir


Com a devida vénia e respectiva autorização se transcreve este artigo de opinião do Prof. Doutor JCR Calazans Duarte (Professor Associado em Ciências Sociais e Humanas)1 

Universidade Lusófona de Lisboa

— O E s p a ç o L u s ó f o n o —

Do Esquecimento ao Devir

Resumo: A segurança do Atlântico Sul é um aspecto geopolítico sério e fundamental para o  desenvolvimento económico do Espaço Lusófono. A área marítima de acção geoeconómica confunde-se com a história da dispersão da própria língua portuguesa, e ela é a expressão de uma vontade colectiva comercial alargada. Mas as áreas de influência geoestratégica das superpotências sobrepõem-se à do próprio Espaço Lusófono, podendo condicionar a dinâmica dos recursos, dos transportes e do comércio em determinados contextos internacionais. A actual guerra entre a Ucrânia e a Rússia, pode ter desenvolvimentos nas costas Lusófonas. As acções contidas e circunscritas da CPPLP não têm sido  suficientes para desenvolver e afirmar o Espaço Lusófono, como as idiossincrasias das políticas nacionais de cada país não tem igualmente. O comércio e a indústria no Espaço Lusófono estão reféns do esquecimento provocado pela falta de moral política e do relativismo ético. Entre a inevitável criação de uma arquitectura robusta de segurança no Atlântico Sul, e uma afirmação de uma Comunidade do Espaço Lusófono, está não apenas a vontade e a oportunidade de afirmação, mas o devir de novas gerações de empreendedores em todos os campos do comércio e da indústria. O devir da acção do Espaço Lusófono depende mais e essencialmente da dinâmica coordenada de um empreendedorismo jovem e ético, do que o corporativismo estritamente diplomático e político, embora necessário, da CPLP.

Abstract: The South Atlantic security is a serious and fundamental geopolitical aspect for the economic development of the Lusophone Area. The geo-economic maritime area of action is intertwined with the history of the Portuguese language spread, and it is the expression of a collective and widespread commercial will. Nevertheless, the geostrategic areas of superpowers' influence overlap with that of the Lusophone space itself, and may condition the dynamics of resources, transport and trade in certain international contexts. The recent war involving Ukraine and Russia may have developments on the Lusophone coasts. The contained and circumscribed actions of the CPPLP have not been sufficient to develop and strengthen the Lusophone space, as the idiosyncrasies of national policies of each country have not either. Trade and industry in the Lusophone Area are held hostage to oblivion caused by the lack of political morality and ethical relativism. Between the inevitable creation of a robust security architecture in the South Atlantic, and an affirmation of a Portuguese-speaking Community, lies not only the will and the opportunity for affirmation, but the becoming of new generations of entrepreneurs in all fields of trade and industry. The Lusophone Area maturity's action depends more and essentially on the coordinated dynamics of a young and ethical entrepreneurship, than the strictly diplomatic and political CPLP corporatism, although necessary.

25 de abril de 2023

As Trevas Andam a Esvoaçar por aí


As Trevas Andam a Esvoaçar por aí

Existem vários graus no Areópago em que nos seus atributos nucleares está claramente assumido o combate à perfídia, ao fanatismo, à violência, a toda a injustiça, a toda a opressão e a toda a tirania, uma conduta guiada pelas causas justas, a procura da luz da verdade, consagrar a espada à causa da Liberdade, bem como reservar a sua inteligência à construção da humanidade.

Ora, os ventos que hoje sopram em muitos locais do Planeta estão carregados de ameaças à liberdade, às democracias e aos direitos sociais.

A extrema direita na Europa vem crescendo progressivamente, aumentando o seu peso eleitoral na generalidade dos países e tomando pela via democrática governos na Hungria, Polónia, Itália, Áustria, Lituânia e Suécia.

Para bloquear o caminho às forças totalitárias e agressivas, torna-se inadiável iniciar processos de resolução de muitos problemas sociais, como, por exemplo, a fome, o desemprego, a exclusão social, bem como um enérgico combate à corrupção e à falta de transparência das democracias.

São muitos destes problemas que alimentam essas forças extremistas e antidemocráticas que visam instaurar novas ditaduras.

Por outro lado, no plano concreto da maçonaria, temos de ser intransigentes com comportamentos de alguns indivíduos que estando formalmente no seio de algumas obediências, são activos propagandistas e militantes dessas forças totalitárias.

Se no caso do Grande Oriente Lusitano a sua história está intimamente entrelaçada com as lutas pela liberdade, pela democracia e pela emancipação social e humana, é indispensável termos bem presente que noutros países e noutras obediências a situação é dramaticamente muito diferente.

23 de abril de 2023

DIA DO LIVRO

 

Com a devida vénia e respectiva autorização se transcreve este poema de Adilson Zotovici:

DIA DO LIVRO

É o teu dia livro amigo!..

Com teus sinais ora faço

Simples poesia que digo

Dos teus anis, teu espaço


Feliz eu vivo contigo

Há entre nós forte laço

És o motivo que bendigo

Bom norte a cada passo


És o universo na palma

Qual verso que induz a bom traço

A fonte de luz que acalma


Um dossel ao bom compasso

Ao livre pedreiro a alma

Do obreiro, cinzel e maço!

Adilson Zotovici

AMVBL


17 de abril de 2023

GRATIDÃO


Com a devida vénia e respectiva autorização se transcreve mais um poema de Adilson Zotovici:

GRATIDÃO


Há o tempo da ansiedade

Também da inebriação

Tempo de curiosidade

Como o de transformação


Tempo de ambiguidade

E também o da criação

Por  vezes o da saudade

Da grande realização


Mas há algo na irmandade

Que não suplanta a razão

Do Ser Interior unidade


Que vem desde a iniciação

Ao  Grande Arquiteto em verdade

Perene e eterna Gratidão !


Adilson Zotovici

8 de abril de 2023

CÂMARA DE REFLEXÃO NÃO É UM LUGAR. É VOCÊ (simbologia)


Com a devida vénia e respectiva autorização transcreve-se esta Peça de Newton Agrella

CÂMARA DE REFLEXÃO NÃO É UM LUGAR. É VOCÊ   (simbologia)

Na qualidade de "livres pensadores"  temos a oportunidade de enxergar e interpretar conceitos filosóficos sob prismas diferenciados.

 Alguma vez você ousou pensar a Câmara de Reflexão não como um cubículo escuro, desconfortável, com cheiro de enxofre e ornamentado com inúmeros símbolos e inscrições, mas sim como um estágio de sua Existência,  ou como se fosse o fim de um ciclo e o sinal de passagem para um recomeço ???

Experimente imaginar essa Câmara de Reflexão sem considerar seus valores estéticos.

Ouse elaborar um conceito de um hiato de vida.  Ou seja, uma parada em que você se defronta com a sua própria existência.

Você inicia uma conversa consigo mesmo, avalia tudo o que você já viveu até aquele instante e faz um brevíssimo flashback dos momentos mais marcantes de sua história.

A encruzilhada está na sua mente. 

Encontra-se recôndita no seu coração... 

O momento é só seu....

Cabe a você persistir ou não no seu intento.  

Corpo, Alma e Espírito confabulam freneticamente dentro de sí.

Você é o agente de sua conduta e a Câmara de Reflexão reside unicamente em você.

O que você vê no cubículo em que se acha encarcerado é uma mera e circunstancial projeção estética e formal.

Porém o que você enxerga é o seu comprometimento para com uma vida diferente.

É o adeus ao profano e o renascimento para a Arte Real....

A Reflexão contudo, pede um compromisso com o seu interior e com os valores mais intrínsecos que a alma humana requer.  

Diante disso, fica renovado o convite para que de agora em diante você considere a Câmara de Reflexão, não apenas como um lugar simbólico, porém como um intervalo especial e incomparável entre o que você viveu e o que a sua consciência passou a viver.

Entre ver e enxergar reside o discernimento.

NEWTON  AGRELLA


5 de abril de 2023

Viajar com Livros-Lourenço 23



Com a devida vénia se transcreve este artigo de António Valdemar, publicado  na Revista Tempo Livre-Março/Abril 2023

 Viajar com Livros-Lourenço 23

O centenário do nascimento de Eduardo Lourenço, cujas comemorações terão início a 23 de Maio, vão celebrar em congressos, seminários e em colóquios, a obra e a intervenção cívica de uma das mais notáveis personalidades da cultura portuguesa. A Biblioteca Nacional de Lisboa tem em preparação uma exposição bio-bibliográfica, que pretende ser o mais exaustiva possível.

 Por António Valdemar

Os anos 20 do século passado, são uma época de ouro, o tempo em que nasceram, viveram, atuaram e faleceram poetas, escritores, dramaturgos, ensaístas, investigadores científicos e protagonistas políticos que intervieram, decisivamente, nas grandes questões contemporâneas, que se encontram vinculados à projeção da cultura e da sociedade portuguesa à escala nacional e, em algumas circunstâncias a uma dimensão internacional. Eduardo Lourenço é uma dessas grandes personalidades.

 Eduardo Lourenço, nasceu a 23 de Maio de 1923, em São Pedro do Rio Seco, o princípio ou o fim da linha ferroviária da Beira Alta, o espaço de chegada ou de partida do comboio que trazia ou levava notícias e pessoas para a Europa. Fez Eduardo Lourenço, os primeiros estudos secundários no liceu da Guarda, na cidade que é ponto mais alto de Portugal. Ele próprio assim a caracteriza, num texto que passou a ser referência obrigatória: «o nosso mar de terra e de pedra é a meseta contígua, matriz de onde nos separamos, espécie de deserto, de onde durante séculos inquietos (…) esperávamos (…) os nossos próximos castelhanos». Também Eduardo Lourenço a classifica «a mais portuguesa das fronteiras», mas «lugar de um diálogo com aqueles que foram os nossos adversários durante séculos». As comemorações do centenário de Eduardo Lourenço terão início a 23 de Maio em São Pedro do Rio Seco, em Almeida e na Guarda. Vão prosseguir, com congressos, seminários e colóquios em Coimbra, em Salamanca, em Bolonha, em Lisboa, em Évora e algumas cidades do Brasil.

 Além de uma exposição em itinerância nacional e internacional em cátedras e redes de leitorados. A Biblioteca Nacional de Lisboa tem em preparação uma exposição bio-bibliográfica, que pretende ser o mais exaustiva possível. Numa carta a Jorge de Sena escreveu perentoriamente José Rodrigues Miguéis: «sofro de uma doença ingénita, hereditária, crônica, incurável que se chama Portugal». Há coincidências entre José Rodrigues Miguéis e Eduardo Lourenço, mas também há diferenças complementaridades entre estes dois exilados políticos. Lourenço e citamos, por exemplo, duas obras: O Labirinto da Saudade (1978) questionou problemas muito mais complexos e muito mais profundos. Ao deter-se em Portugal Como Destino Seguido de Mitologia da Saudade (1999) sobre o modo como esse destino é miticamente determinado, recorre ao seu saber (histórico, filosófico, literário), apresenta-nos uma imagem imparcial do ser português, na sua singularidade e universalidade, espelho, onde, observando-se, pode conhecer-se e aceitar-se «tal como foi e é, apenas um povo entre os povos. Que deu a volta ao mundo para tomar a medida da sua maravilhosa imperfeição».

28 de março de 2023

MÚSICA E MAÇONARIA

 


MÚSICA E MAÇONARIA

A música, com linguagem própria e estrutura genuína, acompanhou homens e mulheres desde os tempos da proto-história, e refiro-me ao espírito musical xamânico do Neolítico em que as peles dos animais mortos eram esticadas e depois percutidas para se iniciar a comunicação com o espírito dos animais, ou seja, a música falava a língua da natureza economizando o verbo e as palavras (significante sem significado). Mais tarde, sob a forma de cânticos (a voz é considerada o primeiro instrumento musical que se conhece), logo, acrescentado o verbo, passou a ter um significado em que se reforçavam os laços fraternos e se emitiam mensagens de prazer, reconhecimento, regozijo, alegria e reflexão. Mais recentemente tornou-se a expressão das inquietações pessoais relativas aos paradoxos da vida procurando vencer o sofrimento, ou seja, uma projecção dos estados emocionais puramente humanos.

À medida que foi evoluindo desenvolveu uma técnica e uma linguagem à margem do pensamento conceptual tornando-se numa das formas da criação artística. Podemos, então, compará-la à chamada Arte Real por esta também gerar uma construção ordenada saindo do Caos fazendo emergir o melhor das qualidades humanas a partir da Pedra Bruta polindo-a e aperfeiçoando-a num enquadramento cosmogónico universal. Tornou-se assim um elo condutor entre a Beleza, patente no Universo e na mole humana.

Ambas tarefas têm muito de espiritual mas também trabalho duro e puro (artesanal), aliás, como qualquer tarefa humana que sem trabalho nada se faz ou constrói, isto é, procuram a virtude melhorando-a com destreza, rigor, disciplina e sensibilidade que não se querem exclusivos mas compartilhada com os Outros.

Reflectir e expor as posições espirituais sobre os aspectos existenciais enigmáticos parece-me, pois, um papel claro que a música e a maçonaria desempenham.

Aquilo que chamamos a Coluna da Harmonia apareceu nos finais do Reinado de Louis XV e a competição entre Lojas, para que exibissem as melhores peças musicais e os mais virtuosos músicos, originou que se admitissem obreiros isentos de quotização mas sem poderem progredir acima do Grau de Mestre, logo, a música esteve sempre presente desde o início da chamada era especulativa propagando-se até ao Séc. XX e caindo em desuso a presença humana à medida que os novos meios de reprodução musical (fonógrafos, gira-discos, cassetes e os actuais leitores de CDs) se foram impondo, porém, para autores com D. Béresniak, e cito…a música é absolutamente indispensável no Ritual, não somente na ocasião de cerimónias especiais mas também na abertura e duração dos trabalhos por cobrir a agitação da alma e arrastar as emoções para as alturas, ou seja, a música favorece um recondicionamento para o estado do Ser não sendo por acaso que qualquer ópera ou sinfonia dispense uma Abertura