Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

11 de setembro de 2022

A União dos Desiguais

 


Com a devida vénia e respectiva autorização se transcreve este trabalho do Irmão Norberto P. de Barcellos  seleccionado pelo blogue Jakim&Boaz do Informativo “CHICO DA BOTICA” - Edição 132 - 31 Maio 2019:

A União dos Desiguais

Podemos ter nítidas semelhanças com alguém. Seja na forma física. Seja na personalidade. Seja no jeito de ser. Fulano é assim. Sicrano é assado . De quando em vez, parecidos, mas iguais não. Todos nós somos diferentes. E é aí que emana do nosso íntimo uma luz de aprendizagem. 

Por maior que seja a nossa semelhança com alguém, jamais será absolutamente igual. Mesmo assim, esse pêndulo torna-nos  idênticos, porque representa a unidade das nossas diferenças e que por se completarem nas comparações, alcançam uma harmonia de igualdade. Todos nós temos qualidades ou defeitos que o outro não tem. Mas o outro possui muitas coisas que nós não possuímos. Isso completa-nos. Assim alcançamos o equilíbrio necessário, uma vez que, juntos acabamos formatando um caminho que, ao percorrermos pela lógica da dualidade, acaba conduzindo-nos  para uma forma única. Por outras palavras: as nossas diferenças completam-nos. Fulano gosta disso. Sicrano daquilo. Beltrano nem disso nem daquilo, porém absolutamente útil na sua forma de ser. Ao nos reconhecermos assim, evidenciamos a soma de nós mesmos.

Do conciso ao prolixo; do extrovertido ao tímido. 

A bem da verdade, para que um exista é fundamental a presença do outro. A dualidade é a permanência de ambos, como extremos, já que se um desaparecer, o outro perderá o sentido da sua existência, pois necessita do contrário como de si mesmo para poder existir. 

Desnecessários tantos exemplos, quando ao olharmos para o chão na nossa frente, vemos no Pavimento Mosaico a presença emblemática do Universo e de tudo o que nele existe, inclusive do ser humano, seu jeito de ser, sua vida, porque a dualidade está presente em tudo.

Na sua obra, “Simbologia Maçónica dos Painéis”, Almir Sant’Anna Cruz, assim escreve: “O Pavimento Mosaico além de representar a União entre todos, independente das suas diferenças étnicas, religiosas, políticas, etc., simboliza a harmonia dos contrários, a convivência harmoniosa de várias dualidades aparentemente antagónicas, tais como o bem e o mal, o espírito e a matéria, a polaridade positiva e a polaridade negativa da natureza, etc.” E finaliza: “Os maçons, unidos pelo mesmo cimento de tolerância e benevolência, conseguem não só superar a moral comum, mas, sobretudo elevar-se acima dela”. 

Ora, tudo o que existe é a presença de duas forças opostas, invencíveis, mas que se encaixam e que, por assim serem, então se completam. Daí entendermos o quanto é importante o equilíbrio, a prática e o exercício de dois pesos e duas medidas que aqui me atrevo a chamar de busca da harmonia.

Nos seus estudos sobre Ética, Aristóteles define que: “a virtude deve estar sempre no meio termo, ou seja, devemos  afastar-nos dos extremos para não sucumbirmos nos vícios e excessos”. 

Sendo assim, a dualidade deve ser observada de forma coerente, cautelosa, partindo do princípio de que a prática dos extremos não é apropriada para a nossa evolução. Não podemos ignorar que a dualidade é a representação das extremidades no seu estado absoluto. Portanto, concluo, entendermos que a busca do equilíbrio é um desafio incansável.

Do amanhecer ao anoitecer convivemos permanentemente com o Pavimento Mosaico na nossa rotina, portanto com a presença constante das diferenças. Daí estarmos alertas para dosar sentimentos, práticas e decisões que produzam certezas, felicidades e justiças. Somente assim entenderemos que as atitudes que tomamos estão dentro do respeito que deve ser dado a cada um incluindo a nós mesmos. O exercício contido na mensagem do Pavimento Mosaico muito incentiva para que ninguém olhe somente para os seus interesses, mas para o bem comum. 

A dualidade, portanto, exemplifica a nossa escolha como meio de comportamento e ajuda-nos para caminharmos direcionados na busca da perfeição. Compete a cada um de nós decidir como encontrar o equilíbrio necessário no sentido de que este seja a condução que ruma para o bom senso, qualidade essencial da vida, a qual nos torna únicos e especiais devido à união de princípios, ética e moral, carregados ao longo da nossa trajectória. E oferece-nos plena noção de que cada um de nós possui limites que merecem tanto respeito com compreensão. Portanto, aceitos sem o direito de julgamento alheio, pois a competência de saber de si mesmo é algo silenciosamente individual.

Tratando dessa forma tudo parece muito simples. Mas, esse modelo mágico não tem alicerces. Não dá subsídios para suportar dificuldades e enfrentar desafios. Nem é uma aquarela para dar cores ao nosso mundo. Sabemos que o Pavimento Mosaico representa a dualidade da harmonia dos opostos. A Orla Dentada é a reunião dos filhos em torno do Pai ou o laço fraternal que une todos os Irmãos. 

Mas, a minha intenção não foi escrever sobre o já escrito. Foi sim dissertar a minha visão de acordo com as longas conversas que sempre marcam o encontro com os Irmãos quando não estamos em Loja. Vira e mexe a palavra é Maçonaria. Muito se discute. Muito se aprende. Às vezes a empolgação acalora debates, frutos da dualidade. Mas prevalece o bom senso, equilíbrio harmónico das nossas diferenças. Diferenças que nos fazem tão iguais.

Tolstoi, o escritor russo, certa vez escreveu:  “se quereres conhecer o universo, começa pela tua aldeia”. 

Dentre as muitas interpretações e sentidos que a frase proporciona, penso: “se desejo conhecer o meu próximo, devo começar por mim”. 

*Irmão Norberto P. de Barcellos 

Julho/2015

(Selecionado do Informativo “CHICO DA BOTICA” - Edição 132 - 31 Mai 2019 – por Jakim & Boaz)


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