Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

16 de maio de 2018

RITUAL E TRADIÇÃO


A Kabbalah não é judaísmo e não é religião, mas também não é um culto de new age. A Kabbalah emergiu na cultura judaica como um conjunto de técnicas ligadas à filosofia especulativa, à cosmogonia e à alquimia. Porém, a Kabbalah, não sendo em si uma religião, acabou por formar o esqueleto da religião judaica.
A N:.A:.O:. e o nosso Rito Escocês Antigo e Aceito é de tradição cabalística, o que significa que a tradição iniciática que seguimos e praticamos, parte do conhecimento da Kabbalah enquanto filosofia e não como religião.
A nossa tradição é cabalista porque nasceu no seio da cultura mediterrânica, partilhada por três grandes tradições com mais de dois mil anos de convívio: a tradição judaica, a cristã e a islâmica. Em todas as três podemos encontrar marcas profundas da mesma Kabbalah.
Mas o que é verdadeiramente a Kabbalah? Como ela se encontrar enraizada na Maçonaria? Como os nossos rituais se ligam à matriz cabalística? Qual o fim da Kabbalah na aprendizagem dos maçons?
Estas questões, que são verdadeiramente importantes e fundadoras do perfil da Maçonaria, e da ética do Maçon, devem ser respondidas e aprendidas por todos, desde o Aprendiz ao Mestre. A Kabbalah sempre foi um conhecimento reservado e discreto, e na antiguidade foi exclusivo do sacerdócio e auxiliar da ciência (astronomia/astrologia), da filosofia, da dialética, da lógica, da matemática e da linguística. Desde a sua formação que a Kabbalah sempre foi uma súmula de conhecimento universal, constituindo-se como instrumento hábil do saber e da investigação da vida e do universo.

Eis as razões porque a Kabbalah está na origem de várias ordens iniciáticas, de várias escolas filosóficas e científicas. Desde a antiguidade clássica até hoje podemos encontrar vários pensadores e cientistas que foram cabalistas, e que por terem aprendido o método cabalístico, poderam desenvolver e avançar nos seus estudos. Não só na tradição rabínica, como fora da comunidade judaica, grandes intelectuais e cientistas usufruíram do método cabalístico para resolver vários problemas e questões que de outra forma teriam demorado muito mais tempo ou teriam ficado insolúveis.

Eistein é apenas um nome conhecido, ao qual podemos juntar Niels Bohr, Robert Aumann, Richard Feynman, etc. Judeus que, não sendo religiosos, usaram da matriz do pensamento judaico para sobre ela desenvolver o seu trabalho. O próprio Isaac Newton, cuja discussão sobre a sua ascendência judaica continua até hoje, foi um grande estudioso do misticismo judaico e principalmente da Kabbalah, da qual tirou vários modelos para resolver problemas matemáticos e físicos.
Não podemos esquecer que entre os sécs. VII e XII a Península Ibérica viveu um período de grande expansão cultural, de liberdade política e filosófica, e que o maior expoente do pensamento aristotélico (o mais importante na altura, igualado pelo de Pitágoras e secundado por Platão) foi Moshe ben Maimon (1135-1204) apelidado de “segundo Moisés”. Este foi o mestre que recuperou a Kabbalah tal como a conhecemos hoje, e que se encontrava perdida para a maior parte dos rabinos na altura. O seu conhecimento, assim como os seus livros e a profundidade do seu saber, influenciaram várias escolas rabínicas até hoje, como várias comunidades de cristãos e de muçulmanos, contribuindo de forma decisiva para a construção da cultura do pensamento europeu e mediterrânico.
No seu tempo, judeus, cristãos e muçulmanos reuniam-se normalmente para discutir as questões da filosofia e das ciências, partilhando o saber da Kabbalah, fazendo uso dela para resolver os problemas mais difíceis postos à inteligência.
Este período tão fulgurante de cultura e liberdade de espírito, que caracterizou a Península Ibérica, que os judeus chamavam de Sepharad (o “paraíso” na terra), foi profundamente abalado e destruído quando os reis de Castela (Fernando e Isabel) e depois deles o português D. Manuel I, expulsaram os judeus de Espanha e Portugal, perseguindo as suas famílias e as ideias. A decadência instalou-se, assim como a perseguição ao livre pensar.
Da Kabbalah derivou o conhecimento cabalístico aplicado à filosofia judaico-cristão, inclusive a Patrística. De Spinoza a Karl Marx o pensamento tradicional deu modelos para o desenvolvimento da especulação e interpretação do pensamento humano, para a sua histórica política e económica.
Mas no que diz respeito à N:.A:.O:. e a outras organizações iniciáticas, todas reclamam para si origens que remetem para os Templários e Rosa Cruzes, onde no seu seio se praticavam (e praticam) rituais que se não em tudo, em quase tudo se assemelham e tiram da Kabbalah o desenho das suas lojas (templo de Salomão), os rituais e graus, o simbolismo gravado nos templos, a orientação geográfica e cósmica, etc. A “Árvore da Vida” (Sephirot) que é um dos emblemas mais visíveis e importantes do conhecimento cabalístico, que cada Ir:. deve aprender e ver representado na constituição da sua L:. (desde as colunas, aos triângulos e aos cargos de L:.), é este conceito a base fundamental da construção do Homem Levantado, do Aprendiz que almeja chegar a Mestre, e do Mestre que deseja a perfeição ao longo da escada da sua evolução.
É por esta razão que a L:., ao acolher os AApr:., tem a obrigação de os guiar neste conhecimento, ensinando, esclarecendo, desvelando aos poucos a nobreza que o corpo humano tem, desde os fundamento à Inteligência. Estimulando o Apr:. a prosseguir o estudo de si mesmo, a partir do método que nos é conhecido e que vem apenas de uma e mesma fonte.

O Templo é a representação do Homem. Lá se encontra o conhecimento sintetizado que a Kabbalah desdobra em descrição detalhada, minuciosa, em arquétipo sempre pronto a responder sem engano a qualquer um que se decida estudar esta arte, filosofia primeira e última da civilização ocidental, que a N:.A:.O:. se orgulha de ser sua depositária e Irmã com outras que se lhe incluem.

Roman, M:.M:.

Sem comentários:

Enviar um comentário