Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

9 de fevereiro de 2019

Esperanças e Expectativas


Transcrito com a devida vénia e respectiva autorização do autor:
Esperanças e Expectativas
(Numa abordagem pouco ortodoxa, ou fora da caixa)

Tudo é simbólico. Na alegoria da caverna, de Platão, apenas vemos as sombras.
Com elas convivemos, porque a realidade chega velada até nós: velada pela
educação que tivemos, pela cultura que temos, enfim, velada por aquilo que
somos. Afinal para cada um de nós a realidade é a interpretação que fazemos dos objetos e dos facto. Vemos a realidade como se estivéssemos frente a um
espelho e, querendo ver algo de diferente, teremos de mudar, ou continuaremos a ver o mesmo.
Tudo é simbólico e para além dos símbolos está a realidade. Os MM∴QQ∴IIr∴
entendem o que digo porque sabem o que cada palavra que emito simboliza. É
para além das palavras que a realidade está. Ela é o que é, e nós precisamos das
palavras e do que elas simbolizam para a descrever. É por isso que tão facilmente
os homens se desentendem, porque nem sempre o significante (a imagem
acústica da palavra) e o significado (o conceito que está por detrás dela, o signo)
tem a mesma leitura para cada um de nós.
Significa isto que há leituras diferentes para a mesma realidade. As leituras
fazem-se a partir do que se exterioriza, nomeadamente da palavra, mas a
verdade está escondida para além disso. É a diferença entre o exotérico e o
esotérico, entre a maneira como tudo se apresenta e aquilo que tudo
verdadeiramente é.
Talvez por isso seja tão importante a tolerância e o diálogo. Porque Afinal sempre
será preciso perceber o que cada um quer dizer com o que diz.
E Vem isto a propósito das duas palavras que dão nome a este balaústre:
Esperanças e Expectativas.
Mas lá irei...
(Harmonia: José Manuel Neto, Luís Guerreiro e Pedro Castro – Tocam António
Chainho ) https://youtu.be/5rBm9lZ7-­‐ko
Chegou o Frio
O homem levantou-se lesto e nu
como fora posto no mundo,
chegou-se à janela escancarada
e ladrou para a Rua do Capelão
que é a rua de todas as virtudes e virgindades
que em todas as idades se perderam na Mouraria:

- Este caloooor faz-me ter saudades do friiiio...
Da esquina do Largo da Severa,
voz feminina rosnou baixinho
como se fosse uma cadela:
- Vai tomar banho que arrefeeeeeces...
E todos os dias de canícula o santo homem ladrava
e, como quem não quer, rosnava a santa mulher.
No pino do inverno,
quando chovia todo o santo dia
água gelada, fria, fria...
o homem levantava-se vestido:
de pijama de flanela atado às canelas,
peúgas grossas de lã de ovelha
e barrete enfiado até às orelhas.
Abria meia janela e gania para a Rua do Capelão
que é a rua de todas as virtudes e virgindades
que em todas as idades se perderam na Mouraria:
- Este frio faz-me ter saudades do caloooor...
E arrastava o ó para que ouvissem como gania bem.
E aquele lamento, de quase esquimó,
subia e descia as encostas da cidade
até São Vicente, ao Beco da Mó.
Mas era da esquina do Largo da Severa
que uma voz feminina gania também:
-dorme de botija aos pééééés...
que aqueces por deeeez...
Na primavera e no outono nem um nem outro ladrava, gania ou rosnava.
Ele abria e fechava a janela todas as manhãs: calado. E ela à esquina feita virgem menina,
vendendo a virgindade como podia as vezes que conseguisse ao dia.
E à noite, Esperança cantava o fado!
Porque MM∴QQ∴Ir∴, Esperança também é nome de mulher.
Mas adiante....
Esta questão do significante e do significado, vi-a pela primeira vez referida nas minhas deambulações filosóficas quando, a determinada altura, me confrontei com a corrente filosófica da Fenomenologia, essa corrente filosófica fundada por Husserl, que ele próprio classifica de “neo cartesianismo” por retomar duas questões fundamentais do cartesianismo, ou seja: o questionamento de tudo o que possa ser considerado como uma certeza imediata; e o sujeito como fonte do conhecimento.
Para Descarte é impossível conferir verdade a “objetos” da experiência sensível dos homens. Para Husserl, a verdade tem o seu fundamento e significado com base no próprio individuo. Para Descarte toda a dúvida é provisória, porque duvida para chegar à certeza do “penso logo existo”. Para a fenomenologia o pensamento nada mais é do que um questionamento permanente da realidade,
colocando-a sempre em dúvida, algo que é interno ao próprio individuo. Não se
pretenderá, assim, identificar qualquer “objecto”, mas o modo como ele se apresenta e se revela ao individuo, porque “o objecto é sempre objecto de uma consciência”.
E em isto a propósito, MM∴QQ∴Ir∴, das duas palavras que dão nome a este balaústre: Esperanças e Expectativas.
Mas lá irei...
Acontece que o significante (a palavra) é um mediador entre o significado (o que representa) e o signo (o que é). E as palavras não são arbitrárias, até porque são aceites pela comunidades e são um legado de gerações.
O significante será diferente de língua para língua e será a imagem sonora do signo que representa, ou seja, uma coisa serão as palavras, a sonoridade com que identificamos os signos, outra os signos em si mesmos.
(Harmonia: Hans Zimmer :Interstellar – Main Theme – Veresão para piano)
https://youtu.be/4y33h81phKU
Perguntador
Pai?
Por que são redondas as rodas
como os zeros e a minha bola?
Por que se chama círculo ao círculo
e não quadrado?
Por que não dizes que regresso a casa
quando vou para a escola?
Por que digo que corro quando corro
e não digo que estou sentado?
Por que me chamas rabino se estou de pé
mesmo quando estou quieto?
Se for avô porque não me chamam neto?
E não correm os rios para a nascente?
E se canta em Portugal o fado?
Por que se chora de contente?
E estar em baixo não é ver de cima?
Filho?
Por que se vai do significante para o significado?
Sei lá !
Mas adiante...
Posto isto não me atreveria dizer-vos que, na senda dos fenomenologistas, esperanças e expectativas serão aquilo que cada um de vós entenda que seja.
Nem me atreveria a dizer-vos que esperanças e expectativas serão significantes, palavras, de signos já de vós conhecidos, porque cada um os decifra e sente à sua maneira. Não me atrevo porque creio que se o dissesse os MM∴QQ∴IIrm∴ perguntariam a razão de aqui estarem a ouvir-me.
Chegados aqui, por tudo quanto disse, e valendo as palavras o que valem, sempre vos perguntarei, quais eram as vossas esperanças e as vossas expectativas quando aqui chegaram, ao Templo de Salomão, em que nos encontramos?
E por esperança entendo esse desejo vindo de dentro e que se liga a circunstâncias boas que desejamos para a nossa vida pessoal. É um acreditar ainda que possam existir indicações em contrário. Em certa medida é um sentimento de crença que muito se aproxima da fé. Aliás a Fé e a Esperança, juntamente com a Caridade, são virtudes teologais, de acordo com o cristianismo.
De algum a maneira a Esperança é irracional, gerada por isso no lado direito do cérebro, no poço profundo da criatividade (que nele se gera). Mas porque tudo se manifesta de nós para os outros depois de filtrado pelo filtro da razão, pela parte esquerda do cérebro, conclui-se que as esperanças porque irracionais e ligadas à fé, resultam da recusa e da não aceitação da realidade.
A esperança é sempre a espera de coisas boas MM∴QQ∴IIrm∴, a esperança é isso, ou não seria esperança, seria desesperança e desespero.
Neste ponto, sempre vos perguntarei, MM∴QQ∴IIr∴, quais eram as vossas expectativas quando aqui chegaram, ao Templo de Salomão?
Falar de expectativas é outra coisa. Estar na expectativa é estar na condição de quem espera que algo aconteça, baseando-se em probabilidades. Expectativa é a esperança fundada em promessas ou probabilidades. Nesse sentido é a esperança racionalizada por algo que vem de fora (a esperança vem de dentro). As expectativas ao contrário da esperanças, podem ser boas ou más.
Tal como a esperança, só na ausência da realidade o sentimento de expectativa pode existir, isto é, quando o objeto que motiva a expectativa ainda não se tornou realidade, sendo apenas um desejo do indivíduo. Outras das características necessárias para que possam existir expectativas são: a previsão e a informação ou condição que a sustente. Caso contrário a chamada "expectativa" não passaria
de uma "ilusão" ou utopia.
As expectativas são suposições incertas, que estão mais ou menos influenciadas por factos reais. Não se concretizando surge o sentimento da desilusão. Por outro lado, quando a realidade supera o esperado, diz-se que determinada coisa ou situação "superou as expectativas".
Ora as expectativas podem ser superadas mas a esperança não, talvez por serem de âmbito mais indefinido. Se uma esperança não se concretiza permanece como tal para depois, ou não será esperança.
Chegados aqui sempre vos perguntarei mais uma vez, MM∴QQ∴IIrm∴: quais eram as vossas esperanças e expectativas quando aqui chegaram, ao Templo de Salomão?
(Harmonia: Yann Tiersen - Amelie Poulain) https://youtu.be/t_Kd_G7p6ZQ
Perguntei ao Mestre
e quando eu quis cantar
disseste-me que não havia vento
que me levasse a voz.
e eu calei-me.
perguntei-te de onde corria o vento.
disseste-me que os caprichos do ar
são tão ínvios e frágeis
como livres e ágeis são as ondas do mar.
e eu calei-me.
perguntei-te de onde escorria a água.
falaste-me das gotas cristalinas,
do orvalho.
das lágrimas que se precipitam
de madrugada, tão límpidas na verdura chã.
e quando eu vi as aves brancas, suspensas no escuro
como luminárias, falaste-me no voo luminoso dos pirilampos.
e eu calei-me.
de onde vem a Luz ? perguntei-te.
do Oriente da Terra ou de Ti.
na imensidão o centro pode estar
em qualquer lugar, respondeste.
As esperanças e as expectativas dos outros, MM∴QQ∴IIrm∴,
somos nós.

Prometeu, M∴M∴
Aos 7 de Fevereiro de 2019

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