Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

4 de abril de 2017

O Nome que Escolhi para Integrar o Universo da Maçonaria



Inspirado em alguém com quem tive o privilégio de conviver até aos meus 23 anos de idade e que foi determinante na forma como vejo e interpreto o mundo em geral, designadamente, os meandros do poder, da política e da economia dominantes, em oposição à ideia de sustentabilidade e de responsabilidade social que tenho procurado incorporar no meu comportamento quotidiano e reflectir nos meus artigos e trabalhos académicos.
Com efeito, refiro-me ao meu avô, (editado pela comissão editorial do blogue) que nasceu no Funchal, filho de (editado pela comissão editorial do blogue), de seu nome solteira, e de, (editado pela comissão editorial do blogue) família burguesa de ascendência nobre, pelo lado da mãe, que remonta a um tal (editado pela comissão editorial do blogue), cobrador de rendas da Ordem de Cristo no século XV, e que por aquelas ilhas possuía terras e deixou família.
O ambiente familiar era, no entanto, de tradição liberal, tendo o seu irmão mais velho, meu tio-avô, (editado pela comissão editorial do blogue), sido um conhecido como republicano radical e advogado de nomeada no foro lisboeta.
O meu avô, (editado pela comissão editorial do blogue) que veio a adoptar o pseudónimo de Meridional, nome com que ficou conhecido no movimento libertário, mudou-se para Lisboa em 1912 e foi no continente que fez toda a sua vida adulta. Terá tido o seu primeiro contacto com o anarquismo com quinze anos, quando, em casa seu pai trouxe um dia um panfleto de propaganda e o assunto foi comentado.

Sofreu a sua primeira prisão nos rescaldos do sidonismo quando fazia parte do batalhão académico, tendo iniciado a sua militância no universo anarquista em 1919, sendo preso por isso três anos mais tarde, mais concretamente em 23 de Fevereiro de 1922.
Tornou-se membro do Grupo Anarquista “Regeneração” em 1923 e foi um dos fundadores da União Anarquista Portuguesa (UAP), tendo sido, neste contexto, redactor principal do Jornal “O Anarquista” em 1926.
Por outro lado, colaborava ao mesmo tempo com vários jornais como “A Comuna”, “A Batalha”, “Trabalho e União”, “O Operário” etc.
Em 1925 foi secretário-adjunto da Câmara Sindical do Trabalho de Lisboa e em Junho de 1927 integrou a Conferência Anarquista de Valência na sequência da qual veio a ser um dos fundadores da Federação Anarquista Ibérica (FAI).
A Polícia de Segurança do Estado identificou-o como “chefe dos elementos avançados anarquistas de Portugal”, pelo que lhe apreenderam o arquivo da FAI que estava sob a sua responsabilidade e alguns milhares de manifestos proibidos. Por estes motivos foi deportado para Angola onde permaneceu durante dois anos, por ordem do governo emitida em 18 de Setembro de 1927. Assim que teve oportunidade evadiu-se para a Madeira de onde viajou clandestinamente para Lisboa.
Apesar de possuir o diploma de piloto da Escola Náutica, foi obrigado a sobreviver como professor primário no ensino particular, caixeiro-viajante e empregado de escritório, pois as autoridades competentes não lhe davam autorização para embarcar como oficial da marinha mercante. De facto, só nos anos quarenta e cinquenta lhe foi permitido pilotar e comandar navios de várias companhias de navegação marítima, tendo-se reformado em 1963.
Quanto ao significado do pseudónimo que o meu avô escolheu, “Meridional”, eu diria que tem a ver com o facto de que é uma qualificação que abrange tudo o que se refere a sul ou austral onde habitavam então e habitam ainda, de uma forma geral, os países mais pobres e onde se vivem situações gritantes de injustiça e desigualdade.
Apesar de não me reconhecer como anarquista, sempre admirei a tenacidade, a coragem, a generosidade e o desprendimento com que o meu avô lutou pelos seus nobres ideias que passavam, inevitavelmente, pelos conceitos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Concluo, afirmando que acrescentei ao pseudónimo que o meu avô adoptou o nome Júnior, não só por ser o último dos seus apelidos mas, sobretudo, porque este meu antepassado exerceu e exerce, ainda, sobre mim um verdadeiro ascendente onde me revejo por vários motivos - alguns que já enunciei e outros que me escuso de enunciar neste contexto. Acrescento, apenas, que o falecimento do meu avô, em 4 de Fevereiro de 1987, foi sentido com profunda tristeza, quer pela família biológica, quer pela enorme família de companheiros e amigos que tiveram o privilégio de o conhecer nas várias dimensões da sua existência.

 Contudo, não incorporei o caminho estratégico e morfologicamente proposto pelo Anarquismo, nomeadamente pela falta de uma disciplina organizacional que estou a descobrir, com especial satisfação, no universo “mágico” da maçonaria.

Meridional Júnior, Apr.'.

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