Um dia, há muitos Séculos atrás, Séneca escreveu: procura a satisfação de veres morrer os teus vícios antes de ti.
Do Hermetismo nada sabíamos senão o que está escrito nas Enciclopédias, pouco interesse nos despertava por ser especulativo, inconsistente, folclórico e transcendente.
Freud dizia que «é o saber não sabido» que invectiva a procura do conhecimento, coisa que na Nossa Augusta Ordem estamos não só habituados como também estimulados de acordo com regras secularmente edificadas e praticadas.
Como, por um lado, estamos num Grau da Instrução Iniciática que nos incita a estudar os contrários para atingir a Luz e, por outro lado, um irmão ter tão bem dissertado sobre a Irmandade Pitagórica, decidimos melhor conhecer uma das grandes influências (a par do referido pitagorismo) que a Maçonaria sofreu ao longo dos Séculos e que ainda hoje, particularmente nas Obediências da América do Sul, é tão seguida e praticada.
Enquadramento histórico. A origem histórica começa com Hermes o conhecido Mensageiro dos Deuses que foi o primeiro a coligir os preceitos fundamentais básicos do conhecimento que haveriam de influenciar Raças, Nações e Povos pois para os Deuses «os homens nada sabiam mas são chamados a tudo conhecer». Foi considerado o inventor das regras estruturais dos 3 mundos (material, espiritual e mental) e transmitiu o seu saber encerrado em símbolos dando instruções para que fossem significados.
Mais tarde, cerca de 2700 anos a.C; existiu um filósofo a quem chamaram o Trimegistus, isto é, sábio 3 vezes e que os Egípcios projectaram no seu Deus Tot que era o que dominava as artes do saber.
O Hermetismo terá que ser analisado à luz das características da Época em que, e cito o Trimegistus, «adquirir os meios para chegar ao fim sendo este fim a união com Deus». As formas esotéricas (magia ou ocultismo) eram exactamente os meios que existam na altura.
A literatura Hermética divide-se em 2 partes, numa estão os tratados filosóficos (o Corpus Hermeticum, a Tábua de Esmeralda e Asclépio) e na outra estão incluídos os temas da Alquimia, Astrologia e Magia. Há indícios que o Corpus Hermeticum está datado nos 3 primeiros séculos da Era Cristã tendo sido estudado pelas Civilizações Árabes, em toda a Literatura Medieval (particular destaque para os Templários e Cavaleiros Rosa-Cruzes) e na Renascença há referências ao referido tratado a par da Tábua da Esmeralda.
Breve descrição do Hermetismo. Impossível numa peça como esta descrever o que os 17 Volumes do Corpus Hermeticum querem transmitir e, por tal, optámos por um resumo muito pessoal, e por isso, candidato a ser refutado, corrigido ou mesmo ignorado.
É composto por sete princípios ou Preceitos que foram supostamente gravados numa pedra preciosa (a referida Tábua de Esmeralda), a saber, Mentalismo, Correspondência, Vibração, Polaridade, Ritmo, Causa/Efeito e o Género.
O do Mentalismo revela que o Todo e o Universo são Mentais, isto é, são criações da mente e descobrir esta é descobrir o Cosmos, ou seja, a verdade fundamental.
O da Correspondência diz que no micro e macrocosmos, o que está em baixo é como o que está em cima e vice-versa como provam os átomos de ambos que reagem de uma única forma.
No da Vibração afirma-se que tudo se move e tudo vibra num contínuo movimento desde o infinitamente pequeno ao infinitamente grande numa energia física e espiritual.
O Preceito da Polaridade diz que tudo é duplo, tudo tem extremos opostos e contrários sendo o igual e o diferente da mesma natureza expressa por uma questão de Graus, ou seja, que tudo é relativo.
No que diz respeito ao Ritmo revela que tudo tem um fluxo e um refluxo, tudo tem as suas marés manifestando-se por oscilações compassadas. Este Preceito e o da Polaridade foram sempre os mais secretos porque se mal usados poderiam influir negativamente a energia espiritual.
O da Causa/Efeito exprimia que tudo acontece de acordo com a Grande Lei a que chamavam Acaso que seria um modo de exprimir as causas obscuras ou as que se não poderiam entender mas que surtiam efeitos. Defendia que os Mestres tornavam-se Causadores ao longo de uma aprendizagem sólida.
Por último o do Género onde é referido que os masculino e o feminino estão em todas as coisas, sendo a actividade sexual uma pequena manifestação no plano corporal e dando-se ao Género mental um significado muito mais extenso e superior.
Em suma o Hermetismo diz que a Mente, tão bem como os Metais e os Elementos, pode ser transmutada de estádio em estádio, de grau a grau, de condição a condição, de pólo a pólo e de vibração a vibração, ou seja, o Hermetismo faz percorrer um périplo que vai da Trindade Humana (corpo, alma e espírito) à Trindade Cósmica (mundo natural, humano e divino) com o fim de chegar à Trindade Divina (Espírito, Essência, Energia/Vida).
Influências e relações entre Hermetismo e Maçonaria. Segundo o manuscrito Cooke (1400 d.C.) crê-se que toda a Sabedoria pré-diluviana foi escrita em duas colunas. Depois do dilúvio, aquelas, foram descobertas, uma por Pitágoras e a outra por Hermes Timegistus. É óbvia a semelhança com as “Colunas J e B” que são o sustentáculo do templo Maçónico e que permitem o acesso às influências sapienciais que municiarão a Ordem, quer dizer, o Hermetismo que filosoficamente dará a entender o Universo e o Pitagorismo que através dos elementos geométricos são a base do simbolismo da construção.
Na mais antiga Constituição Maçónica editada (a de Roberts em 1722) há uma referência a Hermes no capítulo sobre a «A História dos Franco-Maçons» assim como em outros documentos, todos anteriores à Constituição de Anderson que ignora o Hermetismo e não o Pitagorismo. Apesar de tudo há uma série de referências históricas sobre o Hermetismo na passagem da Maçonaria Operativa para a Especulativa tendo perdurado alguns dos preceitos (nomeadamente os Alquímicos) que foram adaptados às circunstâncias tais como, os «Ritos de Hermes», Graus com o seu nome e terminologia perfeitamente implantada nos símbolos maçónicos bem como o Silêncio que é uma característica bem conhecida, quer de Hermes quer de Pitágoras.
Oswald Wirth (1860-1943), um Maçom que muito dedicou parte da sua vida ao estudo e à escrita da História da Maçonaria, referiu que o «Hermetismo perpassa a Maçonaria e vice-versa». Para ele está claramente demonstrado que o programa de iniciação é idêntico tanto na acção como na sequência de provas a que o Maçom é submetido destacando que, tanto num como no outro, «aquele que se submete à prova de sentir ou entender tem que cumprir condições fulcrais para que se abra diante de si». Num capítulo de um dos seus livros a que chamou «Ideografia Alquímica» descreve com grande exactidão todo o nexo dos símbolos alquímicos que foram trazidos do Hermetismo. Wirth, refere que «a importância dos símbolos é a de favorecer a independência em detrimento das ortodoxias, pois, só eles permitem escapar à escravidão das palavras e das fórmulas para chegar a uma libertação real do pensamento levando a linguagem muda ao chamado Silêncio Espiritual para que a vida não seja uma mera sombra da aparência». Considerou, então, que a grande contribuição do Hermetismo foi a do aproveitamento das suas características alquímicas para os instrumentos da Arte de Construir como símbolos da regeneração e de aperfeiçoamento moral e espiritual do homem.
Para concluir queria aqui relembrar um pensamento de François Jacob (Prémio Nobel da Medicina em 1965 conjuntamente com Jacques Monod e André Michel Lwoff) que diz:
«À medida que o conhecimento se acumula fica-se prisioneiro do que se faz
e do que se sabe».
Tem um sentido duplo este pensamento e, se nada sabíamos do «saber não sabido» do Hermetismo, libertámo-nos, agora, de um acumulado e incompleto saber que nos mantinha refém de poder emitir uma opinião mais completa e rigorosa.
Diógenes de Sínope 2:.
fevereiro de 2013
Bibliografia
Oswald Wirth - “La Franc-Maçonnerie Rendu Intelligible à Ses Adeptes, Tome I et II”
Franz Bardon - “Iniciacion al Hermetismo”
René Guénon – “Sobre Hermetismo”
Rómulo de Carvalho – “A Ciência Hermética”-Biblioteca Cosmos (1ª Secção, nº55-Ciências e Técnicas), nº118, Edições Cosmos, Lisboa
Lazar D.-“The Beginning of Mansory” (Cap. VI-The Hermetic Philosophy, pág. 16)
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