Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

23 de janeiro de 2013

A Irmandade Pitagórica e a Maçonaria Portuguesa

“Durante muito tempo se pensou que a Maçonaria especulativa, ou seja, a Maçonaria de tipo actual, derivava directamente, por evolução, da Maçonaria operativa, isto é, das lojas de pedreiros de origem medieval. Esta tese está hoje muito abalada, «explorando-se a possibilidade de que os originadores da Maçonaria especulativa se disfarçassem na aparência de uma organização operativa ou corporação, a fim de encobrir actividades e ideias que, na época, se tornava impossível praticar abertamente». Assim, as primitivas lojas «maçónicas», surgidas na Grã-Breatanha em finais do século XVI e no século XVII, poderiam não ser mais do que associações de convívio político e religioso, opondo-se à intransigência estatal. O seu objectivo primacial teria sido «a promoção da tolerância e a consequente criação de uma sociedade melhor». Outra hipótese, com grandes perspectivas de desenvolvimento, faz remontar a Maçonaria especulativa a associações de socorros mútuos, mais ou menos laicas, surgidas no século XVII e derivadas do convívio interprofissional conseguido em tabernas, botequins, estalagens, etc. Os seus primeiros membros seriam, por isso mesmo, comerciantes. Teria então começado a evolução para uma Maçonaria de tipo filosófico e alegórico.


Para Portugal, não existem ainda estudos sobre associações de qualquer desses tipos, nomeadamente caritativas, onde tendências similares possam ser encontradas. Além das corporações, sabe-se terem existido, no século XVIII sociedade de pedreiros operativos, mas nada se conhece da sua multiplicação e eventuais características especulativas. Também se sabe que a Irmandade de S. Lucas, fundada em 1602, com compromisso em 1609, além de agremiar pintores, arquitectos, escultores, iluminadores «ou outras quaisquer pessoas que professarem debuxo», podia receber gente de distinção nas Armas e nas Letras. Praticamente extinta em 1755, a Irmandade foi reconstituída a partir de 1781 sem grandes resultados práticos. O compromisso de 1792-94 permitia a existência de «protectores», que curiosamente foram o duque e a duquesa de Lafões, recebidos em Maio de 1792.


A Maçonaria portuguesa surge, assim, como um produto de importação de além-Pirinéus. Todavia, mesmo que fosse essa a Maçonaria que vingou e que prosseguiu até aos nosso dias, nada obsta a que uma outra Maçonaria ou «para-maçonaria» de origem e tradições nacionais, tenha existido até finais do século XVIII, como resultado de uma evolução paralela à de outros países. É uma hipótese que os historiadores do futuro terão de admitir e aprofundar” (O. Marques, pp. 17-18).


As tradições do Mediterrâneo Oriental (escolas gregas e latinas, gnósticas, pitagóricas e cristãs) encontram-se no fundamento do pensamento espiritual e filosófico da identidade europeia. Este é um facto que reconhecemos consensualmente, porém não sabemos exatamente como se desenvolveram as confrarias e irmandades, já que elas por natureza, sempre mantiveram uma discrição própria ao labor iniciático.

 A literatura greco-latina, como a medieval e a renascentista, expressam exaustivamente todo o universo iniciático, com ou sem alusões de simbólica pagã, mas igualmente num ambiente cristão, demonstrando assim uma continuidade de tradição e de ritos herdados da síntese elaborada in illo tempore pelo Imperio Romano e pelas diversas comunidades cristãs.
Em Dante Alighieri — a Divina Comédia apresenta todo um simbolismo alquímico, pitagórico e gnóstico fluente na altura — como em Petrarca, mas até nas comunidades espiritualistas do Languedoc, é notória a proximidade com as tradições neopitagóricas e neoplatónicas apar das chamadas heresias cátaras e bogomilas; a possibilidade de tornar a mensagem bíblica vivencial (principalmente o Novo Testamento) era uma ideia tão pavorosa para Roma como a dispersão do movimento cátaro pela Europa; a primeira tradução vulgar do Novo Testamento foi feita dentro de uma comunidade cátara da península ibérica, comunidade que viria a ser perseguida a praticamente exterminada; mais tarde Damião de Góis tentou igualmente o mesmo feito e sabemos qual foi o seu fim. Foram estas tradições que contribuíram para a formação espiritual e filosófica do Renascimento e para a criação da Academia Platónica de Marcilio Ficino (1433-1499), por exemplo.

É aliás pela via do hermetismo, da alquimia e da filosofia de Pitágoras, de Aristóteles e de Platão, que vamos encontrar muitos intelectuais e eclesiásticos em Lojas e Fraternidades a partir do século XVII.

Anterior a este período conhecemos apenas nomes que individualmente emergiram e publicaram estudos e tratados, supostamente baseados nas traduções latinas e em textos árabes, sem suspeita de terem pertencido a alguma Irmandade, embora isso seja pouco credível nalguns casos.

Roger Bacon, Basil Valentine, Ramon Llull, Geber, Pico della Mirandola, Giordano Bruno, Tomás Campanella, George Ripley, Paracelcus, Johann Isaac Hollandus, Robert Fludd e Isaac Newton encontram-se entre esse escol de grandes iniciados.

De entre todos os grandes mestres clássicos, Pitágoras emerge na Tradição como o mais cotejado e o mais querido (depois de Hermes Trismegisto) dos hermetistas, dos gnósticos, dos Rosas-cruzes e dos Maçons (depois de Hiram Abiff).

No espólio que sobreviveu à destruição da biblioteca de Silves com a reconquista (acervo que contava com 400.000 volumes em 1189), há um conjunto de textos tradicionalmente ligados a Aristóteles, Platão, Tales e Zenão, e embora Pitágoras neles não seja expressamente citado, as ideias tradicionalmente a ele atribuídas, principalmente sobre a imortalidade da alma, a evolução do número e do círculo, estão aí descritas de forma sublime.

Quer dizer, que a ideias assim expressas demonstram que a realidade é cognoscível através do número e da geometria, e é isto que está patente em Aristóteles traduzido pelos árabes. Dos textos de inspiração pitagórica que estavam na biblioteca de Silves podemos citar alguns: “A ordem em que os seres procedem da causa primeira parece-se com um círculo ideal”; “O ser dos entes e os números”; “O número é um círculo ideal”; “Dezenas, centenas, milhares e o círculo ideal”. Muitos destes textos e outros em árabe podem ser encontrados hoje na Biblioteca da Academia das Ciências, textos que foram compilados e trazidos do Marrocos por Frei João de Sousa (1735-1812).

Igualmente a questão da imortalidade da alma trespassa profusamente no mesmo corpus, porém, não a metempsicose, e este aspecto está intrinsecamente ligado ao exclusivismo da fé islâmica, da mesma forma como sempre encontrou oposição entre os cristãos romanos e ortodoxos.

Mas, tal como analisa Cornelli, e nós de acordo com ele, tudo o que Platão diz à cerca da alma é apropriação das teorias pitagóricas e órficas. Portanto, quando os tradutores e filósofos árabes decidiram incluir os clássicos gregos no seu academismo, fizeram-no mas de forma a aproximar o pensamento mediterrânico tradicional do Islão, embora com algumas variantes filtradas pelos diversos movimentos sufis. Isto passou-se no Al-Andaluz e criou escola, e foi a via dos tradutores de Toledo e de Silves e os filósofos árabes em geral que transferiram para a Península Ibéria os conhecimentos pitagóricos e algumas irmandades, como iremos ver.

Desde a fundação do colégio de Crotona que se torna difícil distinguir os conhecimentos iniciáticos geralmente atribuídos a Pitágoras, dos grémios de construtores e dos círculos espirituais ou lojas; os conhecimentos filosóficos e simbólicos de um estão profundamente ligados à tradição fenícia e egípcia da Maçonaria operativa e especulativa. Mesmo com o aparecimento do Manifesto Rosa-Cruz traduzido pela primeira vez para inglês em 1620, antecedendo o aparecimento da Maçonaria Especulativa em Inglaterra em 97 anos (a 24 de Junho de 1717), é difícil distinguir uma da outra.

Porém, se o Pitagorismo e os ideais Roza-Cruzes criaram raízes no centro e norte da Europa, pela via itálica, na península ibérica a tradição chegou antes pela presença árabe, e é este aspecto que tem passado despercebido aos historiadores da Maçonaria portuguesa para identificarem uma tradição genuína mais antiga — antes mesmo da presença templária e da criação da ordem de Cristo, já os árabes e os judeus tinham formado escola de pensamento ibérico, que os cristãos convertos se encarregaram de continuar histórica e socialmente em Portugal e em Espanha. Esta tradição teve alguns centros no Al-Andaluz (Toledo, Sevilha, Badajoz e Silves) e por ventura o mais importante de todos em Fez, o centro sufi por excelência do reino do Marrocos e uma das cidades de peregrinação sufi no mundo árabe ocidental.

A atracção de Portugal pelo Norte de África não foi apenas movida pela “cobiça e vã glória de mandar”, nem pela missionação franciscana, foi igualmente pelo centro de conhecimento filosófico e científico que aí existia, atracção dilecta das comunidades moçárabes e judaicas pelas irmandades iniciáticas sufis que aí existiam. E essa ligação vem desde a criação do Garb Al-Andaluz. É portanto no Marrocos que se encontra o local de comum convergência entre a Irmandade Pitagórica árabe, a irmandade Pitagórica cristã e a fundação da Fraternidade Rosa-Cruz.

Como descreve sucintamente a Fama Fraternitatis (o manifesto Rosa-Cruz dado a público no século XVII), o seu suposto fundador, o monge Cristiano Rosacruz (provavelmente um monge franciscano), partiu num périplo para a Terra Santa no ano de 1394. Mas em vez de aí ter chegado dirigiu-se a Damkar, a cidade dos sábios na Arábia Saudita, onde viveu por três anos e aprendeu o árabe, a física e a matemática. Daqui dirigiu-se depois para o Egipto onde estudou botânica e zoologia (as criaturas) e finalmente partiu para Fez onde aprendeu a magia, a cabala judaica e a doutrina da harmonia e equivalências entre o microcosmos e o macrocosmos.

A cidade de Fez foi e continua a ser hoje em dia, o centro mais importante da peregrinação sufi do ocidente. E foi precisamente para lá que D. José enviou Frei João de Sousa em 1773 para tratar da diplomacia e do tratado de paz com o Reino do Marrocos. Ali ficou vários anos Frei João de Sousa traduzindo se não toda quase toda a diplomática marroquina e tudo o que lhe veio à mão que pudesse esclarecer os negócios estrangeiros de Portugal. Frei João tinha nascido na Síria, em Damasco, de pais que nasceram na Índia portuguesa. E para além da sua língua materna, o português falava fluentemente o árabe. Aos 16 anos partiu para a Europa onde continuou os seus estudos e ingressou na Ordem Franciscana dos Barbadinhos, vindo para Portugal. Homem muito dotado para várias línguas viria a distinguir-se como um dos maiores intelectuais do seu tempo em Portugal e um dos primeiros sócios da Academia das Ciências e seu bibliotecário.

Ora, é este homem que em missão no Marrocos, transcreve e traduz pela primeira vez o Alcorão para português, e descobre o texto fundador da Irmandade Pitagórica em língua Árabe na cidade de Fez, tendo transcrito na íntegra e traduzido pelo menos uma página em Latim. Este acto reveste-se de uma enorme importância pois revela que um franciscano estava totalmente ciente da importância da Irmandade Pitagórica na Europa e que a sua existência no Marrocos, representava uma continuidade de tradição que remontava pelo menos à fundação da própria Irmandade por S. Francisco de Assis e da emergência da Rosa-Cruz e da Reforma.

Entre o advento da Fraternidade Rosa-Cruz e o da Maçonaria, um outro acontecimento transformou o horizonte europeu. E esse foi a Reforma Protestante (1517), que iria ter repercussões em todos os níveis da sociedade civil e religiosa, e cujo impacto ainda se faz sentir nos nossos dias.

É de facto a partir desde evento que começam a surgir as primeiras edições de textos clássicos ligados às tradições neopitagóricas e neoplatónicas.

Em 1583 é publicado pela primeira vez o texto grego dos Versos de Ouro de Pitágoras, com comentários de Hiérocles, numa tentativa de demonstrar a concordância doutrinal entre Platão e Aristóteles, refutando os sistemas dos epicuristas e dos estoicos. Este e outros textos atribuídos à Escola de Pitágoras já tinham aparecido efemeramente em duas edições anteriores mas em latim, a de 1471 (em Pádua) e a de 1475 (em Roma).

O Pitagorismo aparece assim de forma pública, embora reservada apenas aos eruditos, que “sabiam ler”, que devemos entender como religiosos, académicos e alguns nobres. Os preceitos de Pitágoras e da sua Irmandade, foram assumidos por várias associações num espectro alargado da sociedade europeia, incluindo alguns grupos distintos de ordens e de congregações religiosas, e academias de artes e ofícios. A própria divisão entre os discípulos ou grupos distintos nas irmandades pitagóricas (acusmáticos e matemáticos), sugere as “idades” maçónicas de Aprendiz e Companheiro. Mas esta tradição que se enraizou na Europa teve duas origens, como já dissemos, a via itálica e a marroquina.

Aproximadamente um século depois da Reforma, e após um outro acontecimento com um impacto ao nível das cortes e das academias de artes, surgem novas traduções dos Versos de Pitágoras e respectivas notas clássicas.

Esse outro acontecimento, é a publicação da Fama Fraternitatis (1614) e da Confessio Fraternitatis (1615) em Kassel, pela Fraternidade Rosa-Cruz, dois panfletos que dão início a uma transformação sem precedentes. Em 1611 já circulavam versões manuscritas dos dois documentos, o que indica um trabalho preparatório e uma rede de contactos que se espalhava por toda a Europa e que mostra uma longa tradição iniciática2.

Em consequência da sua imensa influência, a Fraternidade Rosa-Cruz como a Maçonaria ostentam ainda hoje marcas simbólicas e visíveis do pitagorismo e ambas têm orgulho em nomear o Mestre grego nas suas Lojas. É natural, portanto, que a partir do século XVII, depois da publicação da Fama e da Confessio, Pitágoras e o pitagorismo tenham ressurgido numa metamorfose humanista, e que alguns conselheiros de estado, educadores e religiosos tenham dedicado aos seus protetores (reis e nobres) reedições traduzidas do grego e do latim para as línguas vernáculas, dos Versos de Ouro, da Letra de Pitágoras e do Homem de Bem.

Porém, o movimento da Reforma (1517), se por um lado fez reverdecer as fraternidades cristãs e gnósticas da Europa, por outro e com a Contra-Reforma, principalmente a partir do Concílio de Trento (no ano de 1545 e depois em 1563), provocou uma reacção entre os tradicionalistas pitagóricos levando a uma separação sensível na interpretação dos textos fundadores da Irmandade Pitagórica na Europa e no seu relacionamento com a cultura mediterrânica.
A primeira e grande cisão que deve ter-se operado no seio desta irmandade, envolveu precisamente aqueles que se mantiveram fiéis ao Catolicismo Apostólico Romano e os que se agruparam em torno do Movimento Protestante. Devem ter passado a existir, portanto, duas Irmandades gémeas pitagóricas: uma de fundo Apostólico Romano e outra Protestante. E é esta mesma oposição religiosa e ideológica que verificamos em Portugal quando as primeiras lojas maçónicas (de comerciantes e mercadores ingleses) são perseguidas e fechadas.
E é isso o que justamente podemos igualmente observar nas traduções e anotações feitas entre finais do século XVII e meados do XVIII dos textos pitagóricos, ou tradicionalmente atribuídos a Pitágoras. É no texto que transcrevemos e que iremos publicar, onde percebemos a preocupação que Luiz António de Azevedo tem de referir en passant a sua filiação apostólica e fiel ao Concilio de Trento, muito embora a filosofia que expõe, as explicações que dá e as anotações que faz, não iliba o Opúsculo de pertencer à melhor tradução gnóstica do Mediterrâneo oriental. É que Azevedo, embora se defenda, com todo o fundamento cristão, em São Jerónimo e São Paulo, prefere citar entre outros autores (gregos e latinos) o Padre António Vieira.

A tradução original de que se valeu para fazer a sua, tirou-a certamente e na maioria de André Dacier (1651-1722), um emérito membro protestante da Academia de Letras de Paris e seu secretário perpétuo. Os cotejos de Azevedo em todo o opúsculo são maioritariamente retirados deste comentador.

A tradução portuguesa realizada por Azevedo e publicada em 1795, que apresentamos na íntegra, encontra-se dentro desta tradição iniciática e revela uma filiação europeia. Noutros países e à mesma altura em que Azevedo dava à estampa os famosos Versos, também se fez publicar Pitágoras com a mesma forma editorial e com os mesmos objectivos: educar e cativar os reis e os nobres e talvez iniciá-los nalguma Loja. De facto, a edição de Dacier (com as notas de Hiérocles) serviram de exemplo seguido por vários editores.

Seriam estas publicações uma resposta ao apelo lançado pelos Rosas-cruzes na Fama e na Confessio, um século antes, e uma resposta ao movimento da Contra-Reforma, que no caso português atingiu a sua maior expressão com a “Viradeira”?

Nessas reedições descobre-se constantemente a afirmação do horizonte moral e ético como especulativo, alusivos ao julgamento e ao discernimento: “vivendo no nível e pelo esquadro”.
A narrativa da Fraternidade Pitagórica estende-se por toda a história da Europa e do Mediterrâneo, o que implica reconhecer que houve Lojas pitagóricas na orla do mar interior, incluindo Marrocos, como iremos ver neste opúsculo.

Este facto é de extraordinária importância para história da Maçonaria e da Rosa-Cruz em geral, mas igualmente para a história da implantação da Maçonaria em Portugal.

Embora não se saiba ainda como as irmandades ibéricas e particularmente portuguesas sobreviveram e se mantiveram antes do advento da Maçonaria, podemos fazer uma ideia de como os elos e as fraternidades entre elas e outras irmandades na Europa possam ter-se mantido.

É ainda um mistério a forma como a Maçonaria foi implantada sem acolhimento em Portugal, se pensarmos que as ordens militares e de cavalaria, mesmo estando já em decadência e muitas sendo apenas honoríficas, mantinham ritos oriundos da Ordem de Cristo, antiga Ordem do Templo, e que algumas podem ter oferecido resistência à sua entrada em Portugal.

Não se explica facilmente como em 1727 a primeira e única loja de maçons, e mercadores ingleses fosse interdita pela Inquisição, a não ser por motivos religiosos e políticos.

Em 1733 fundava-se em Lisboa a primeira Loja genuinamente portuguesa, “Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia”, na qual Carlos Mardel era Obreiro, para logo em 1738 abater colunas por imposição da bula condenatória de Clemente XII.

Qualquer outra Fraternidade que mantivesse neste período uma Loja activa em Portugal, certamente teria de mover-se com a precaução necessária para não ter que adormecer.

Em 1743 a Loja Coustos era denunciada à Inquisição, levando à prisão e à tortura os seus Irmãos. Só mais tarde, entre 1760-1770, é que a Maçonaria adquire mais liberdade e força em Portugal, derivada da acção esclarecida do Marquês de Pombal. Porém, com a sua morte e a partir de 13 de Março de 1777, a “Viradeira” dá origem a novas e ferozes perseguições que se prolongaram até 1797, quando chega a Lisboa o corpo expedicionário inglês.

É no contexto da “Viradeira” e da expulsão de vários alunos e professores da Universidade de Coimbra, acusados de heresia e de serem “enciclopedistas”, que vemos surgir em 1795 a edição de Azevedo, dedicada a D. João III.

Esta publicação representa um esforço por parte de algumas fraternidades e irmandades europeias, para “esclarecer” a realeza portuguesa, e assim tentar senão travar a perseguição, pelo menos aliviar e retardar o seu andamento.

O aparecimento da Maçonaria Portuguesa, como refere Oliveira Marques, pode dever-se à importação além Pirenéus, mas as suas raízes são mais antigas e ibéricas, onde confluíram os pensadores e as irmandades árabes, como a Pitagórica, a dos judeus sefarditas e a da Ordem de Cristo, que na sua síntese reuniu um conhecimento de Jerusalém (diríamos de Damasco) a Fez. Só assim podemos explicar a adesão quase espontânea de portugueses à Maçonaria durante o reinado de D. José.
 
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fevereiro 2013

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