Mulheres na Tradição do
Rito Escocês Antigo e Aceito
O Templo e o Rito
É com apreensão e introspecção que me
vejo obrigado a traçar esta prancha, sobre um tema que desde a Revolução Francesa
nos tem ocupado os tempos de ‘Recreio’ e que hoje assume um lugar tão
impertinente como a discussão sobre a identidade de género entre as crianças e
adolescentes, e sobre a indústria da mudança de sexo.
A comparação não é para ser
tomada à linha, já que se tratam de assuntos de natureza diferentes: um de
natureza iniciática e o outro de natureza profana; ainda assim, ambos com um
impacto tão grande capazes de transformarem as estruturas sociais a ponto de
ficarem irreconhecíveis.
Primeiro que tudo sinto-me
compelido a esclarecer sobre o simbolismo da Construção do Templo de Salomão,
pois é exactamente disso que se trata, quando e sempre que nos encontramos em
Sessão de L:.
A Construção do Templo de Salomão
é uma metáfora iniciática, psíquica e espiritual que significa a construção
diária das virtudes e qualidades do Homem. E claro que aqui significamos o
Homem antropológico, quero dizer, homem e mulher. Mas esta reconhecida
dualidade zigótica nem sempre foi tomada como tal. Desde a antiguidade Pré-clássica
até à segunda metade do séc. XVIII, a Construção do Templo de Salomão
significava a construção do homem macho, e é por isso que as plantas destes
templos representavam nas suas plantas o homem perfeito (levantado), com os pés
para ocidente e a cabeça para oriente, os braços para norte e sul
respectivamente.
É este mesmo homem que se vê
desenhado nos resquícios medievais, renascentistas e barrocos. Foi assim que
Vitrúvio e Da Vinci o desenharam, foi assim que os grandes arquitectos dos
templos hindus e budistas o desenharam igualmente, como os arménios e os
bizantinos. Porque era o homem macho que esses templos representavam, porque
eram as virtudes masculinas e a virilidade que se quis enaltecer, como força
pujante da construção social, política e religiosa.
Nunca se escreveu ou pensou na “Construção do Templo de Salomona”, e nunca os Ritos foram construídos para desenvolver e ampliar à perfeição a psique feminina, mas antes a masculina, porque a sociedade era inteiramente patriarcal.
O que a Revolução Francesa veio
trazer ao mundo, através da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
(1789) foi a igualdade entre os homens (machos), e porque nela as mulheres não
estavam consignadas, Marie Gouze escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e
da Cidadã (1791). Estava lança então a confusão e a discussão. A separação do
Estado e da Igreja trouxe consigo a entropia para dentro da M:., e temos que
entender que a partir daqui, os Templos levantados aos homens virtuosos
começariam a ter de ser retificados no futuro, para que recebessem as irmãs
mulheres.
Os Templos profanos como os
Templos iniciáticos maçónicos, na sua maioria, são Templos masculinos e os
femininos representam uma minoria no mundo, mesmo depois da expansão dos
santuários marianos e do levantamento de colunas de LL:. femininas ou mistas. O
que podemos ver evidentemente é que os Ritos, sejam eles de cariz religioso e
profano, ou iniciáticos e psíquicos, têm diferenças essenciais importantes,
pois têm marcado nos seus rituais a masculinidade ou a feminidade. Esta
característica designa fundamentalmente o grupo e o sexo ao qual se destinam, e
quanto a isso não há enganos. Cada Rito foi feito para “construir” um templo às
virtudes de cada sexo, e por isso desenvolveu ao longo de gerações uma interpretação
semiótica do psiquismo próprio a cada sexo. Não nos confundamos com o sexo e o
psiquismo, pois na evolução espiritual de cada ser humano a natureza sexual é a
polaridade que a natureza nos atribuiu para chegarmos à perfeição, e ela não é
um mero simbolismo decorativo na lapela do Balandrau.
Os templos profanos construídos
de raiz à Mãe ou à deusa feminina, têm características próprias, muitas vezes
subtis, mas as invocações (orações) que lá se repetem seguem o Rito próprio da
feminidade, e muitas vezes tentam simular o útero materno.
A discussão sobre a admissão das
mulheres na Maçonaria de Rito Escocês Antigo e Aceito, não é nova. As LL:.
Tolerância e Fraternidade e o Direito Humano Internacional, são um exemplo de
como IIra:. e IIr:. tentaram resolver o impasse sem quebrar colunas e
reescrever Ritos e Rituais.
A questão da energia psíquica,
que é trabalhada em todas as sessões maçónicas ao longo de cada ano, é tão
pertinente como a discussão de género e de mudança de sexo no mundo profano.
Temos de ter atenção a estas mudanças e de como a moda da “cirurgia de
redesignação sexual” pode afectar a nossa Aug:. Ord:. A Maçonaria está a sofrer
do mesmo mal que as religiões institucionalizadas, não está a ser capaz de se
reformar à mesma velocidade que as ciências, e não está a ser capaz de liderar
a transformação do homem contemporâneo, no sentido de defender e esclarecer a
opinião pública sobre os perigos da alteração de sexo em idades prematuras,
como o significado a médio e a longo prazo que estas mudanças irão trazer no
processo ético, moral e reprodutivo da humanidade.
A responsabilidade da Maçonaria é
trazer a mulher para a construção de uma L:. comum, enaltecendo as virtudes e
qualidades femininas, mas para que isso aconteça, o plano do Templo terá de ser
outro, que não o de Salomão, pois o psiquismo a trabalhar em L:. será dual e o
Rito terá de reflectir essa mudança fundamental.
Estão os meus QQ:. IIr:. dispostos a mudar de Rito, e com isso cortarem com a Tradição Escocesa Antiga e Aceita?
Roman M:.M:.
Resp.'.L.'. Salvador Allende
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