Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

22 de fevereiro de 2022

“O Templo Interior, uma eterna construção”

 


“O Templo Interior, uma eterna construção”

Por certo, todos Vós já haveis ouvido, ou mesmo usado, expressões como “em que templo se reúne hoje a nossa Loja?”, ou “vamos decorar o nosso templo”, ou ainda “fortaleçamos o nosso templo interior”.

Mas que “templo” é esse a que nos referimos?

O dicionário da Academia das Ciências de Lisboa atribui à palavra “Templo” várias significações: edifício destinado ao culto religioso; monumento em honra de uma divindade; lugar sagrado, descoberto e em sítio elevado, consagrado pelos áugures entre os Romanos; lugar onde se cultiva e desenvolve uma arte ou uma ciência; sala onde têm lugar as sessões da Maçonaria. 

De facto, quando em Maçonaria nos referimos a um templo, este designa geralmente o local onde se realizam colectivamente os trabalhos maçónicos próprios de cada Loja, local sagrado pelo carácter iniciático desses trabalhos, sempre conduzidos pelo Ritual e onde cada indivíduo reconstrói o seu próprio lugar sagrado, o templo de si mesmo.

Não vou maçar-vos com a descrição exaustiva das várias interpretações e teorias históricas sobre a origem e o significado do Templo na simbologia e nas práticas Maçónicas. Muito melhor será recomendar-vos a leitura de algumas peças de arquitetura feitas sobre o tema pelo N∴Q∴Ir∴ Salvador Allende e das várias fontes de conhecimento por ele citadas, como é o caso, entre outros, de Jules Boucher, de Oswald Wirth, de Daniel Béresniak ou do nosso past-G∴M∴ António Arnaut.

Realço apenas o facto de a Maçonaria ter adoptado o Templo de Salomão como uma das suas referências essenciais, correspondendo a um símbolo da permanente construção maçónica, por todos e cada um dos maçons, visando mais e melhor Humanidade. 

O Templo foi construído para o Homem (o povo judeu), pelo Homem (o rei Salomão, o seu melhor arquitecto, Hiram-Abif e todos os seus milhares de trabalhadores e oficiais).

“Salomão” significa em hebraico “homem pacífico”. O Templo de Salomão é o templo da Paz, da Paz profunda, rumo à qual caminham todos os maçons sinceros que se desinteressam pela agitação do mundo profano. Ele foi construído em sete anos. E sete é a idade simbólica do Mestre Maçon, daquele que chegou à plenitude da Iniciação. Para o Maçon, o Templo de Salomão não é considerado nem na sua realidade histórica, nem na sua acepção religiosa judaica, mas apenas em sua significação esotérica, tão profunda e tão bela.

É a partir daqui que decorre a imensa riqueza da interpretação simbólica que lhe atribuem os diversos Ritos Maçónicos e é daí também que decorre o modo como são construídos e internamente decorados, pintados e ritualisticamente vividos. Considera-se que o Templo maçónico é a representação simbólica do Universo maior, estando aberto sob a abóboda estrelada e tendo o sol e a lua representados no Oriente, simbolizando a alternância entre o dia e a noite.

No interior do templo maçónico, há duas colunas que recordam as do lado de fora do templo de Salomão. A coluna da esquerda, «Boaz» traduz a Força, física e espiritual. A coluna da direita, «Jachin», expressa solidez e estabilidade.

É à entrada deste lugar sagrado, delimitado pelas colunas e a orla dentada do pavimento em mosaico, onde o equilíbrio e a paz existem sem as coisas profanas, que o neófito vê a «luz», tornando-se maçon, assim renascendo para um novo estado. A compreensão desta alegoria é decisiva para o seu progresso espiritual e moral.


Como é também fundamental a sua compreensão do significado simbólico desse pavimento mosaico, que Daniel Béresniak nos descreve como “a complementaridade dos contrários” e Oswald Wirth nos diz serem “essas cores contrárias [o branco e preto das lajes do pavimento] que nos ensinam como, no domínio de nossas sensações, tudo se compensa com rigorosa exatidão e as nossas percepções se curvam à lei dos contrastes. Nós não gozamos do repouso, senão quando ele repara uma fadiga. Não apreciamos o prazer, senão comparando-o à dor que nos é conhecida. O bem atrai-nos na exata medida em que o mal nos é repulsivo”.

De acordo com Jules Boucher, a Maçonaria é uma sociedade iniciática cujo objectivo consiste essencialmente em ajudar o homem e em dar-lhe acesso à Iniciação e ao Conhecimento de que ele tem necessidade para a edificação do seu Templo interior – para descobrir o seu “Eu” oculto – e continuar a edificação do seu Templo exterior, para preparar o advento de uma sociedade mais humana e mais esclarecida. 

No Templo, protegido e aberto para o Zénite, o Maçom trabalha primeiramente sobre ele, para que posteriormente possa trabalhar para os outros. Sobre ele, porque o Templo e o trabalho em Loja são um formidável estruturador para o trabalho de introspecção. Colocando à nossa disposição os símbolos, bem como outros utensílios, para trabalhar a dimensão espiritual, é como que a fornalha do artífice que com o seu labor diário, cria as ferramentas que para além de despertar o nosso consciente iniciático, posteriormente nos orientarão na sua correcta utilização.

A principal tarefa, senão mesmo a prioritária do Maçom, é pois a construção de seu «templo interior». A introspecção, a capacidade de identificar as suas próprias imperfeições, reconhecendo-as como tais, a vontade de corrigi-las, são os fundamentos da construção e da permanente reconstrução deste templo interior.

Enfim, a Maçonaria visa a felicidade do género humano, realizada pelo aperfeiçoamento dos indivíduos. Um aperfeiçoamento que exige um empenhado desbaste da nossa pedra bruta e uma rigorosa vigilância sobre o nosso comportamento moral e ético. 


Porque, como diz Oswald Wirth no seu Livro do Aprendiz, “causar mal a outrem é atingir-se a si mesmo pelo dano causado à colectividade. Devotar-se ao bem comum traduz-se, pelo contrário, por um desenvolvimento benéfico do valor individual que se repercute em todos ao seu redor”. 

Ou seja: aperfeiçoando-nos, estaremos também a contribuir para uma sociedade mais justa e harmoniosa.

Cândido M∴M∴ 

(R∴L∴ Salvador Allende)

Bibliografia:

- Wirth, Oswald, “Livro do Aprendiz”

- “A Simbólica Maçónica” – Jules Boucher – Editora pensamento, Ed. 14 – S- Paulo, 2006

- Béresniak, Daniel, “L’Apprentissage Maçonnique - Une École de L’éveil» - Éditions Detrad – 2009, Paris

 - Pinto dos Santos, Manuel, “Dicionário da Antiga e Moderna Maçonaria” – Lisboa 2012

 - SPOLADORE, Hercule, O Homem, o Maçom e a Ordem, Editora Maçónica a Trolha Ltda., 2005.

- António Arnaut – Introdução à Maçonaria – Junho 2017, Imprensa da Universidade de Coimbra 

- Allende, Salvador (M∴M∴), Vários, 2015-2021 


1 comentário:

  1. Muito bom trabalho, assim como seu compartilhamento ...virtudes fluem desse Templo...Parabens irmão

    ResponderEliminar