Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.
(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)
12 de julho de 2017
Avental
Permitam que vos fale sobre um símbolo relacionado com a instrução de um iniciado.
Talvez o avental com a abeta levantada possa ajudar-nos a recordar a supremacia do triângulo sobre o rectângulo, porque embora o iniciado não consiga ainda distinguir a parte espiritual da parte material, este triângulo, além de o proteger no acto de desbastar a pedra bruta, ele representa a vertente espiritual e sobrepõe-se ao rectângulo do avental que ilustra a vertente material.
E essa peça do ritual, e paramento da actividade maçónica não representa apenas a prontidão para o trabalho, esta peça é o reflexo do corpo que a alma cria. O iniciado tem um avental branco porque é puro, e dependerá dos seus pensamentos e acções o avental, ou corpo, que a sua alma criará.
É claramente um símbolo que nos terá sido legado pela Maçonaria operativa, mas o Templo, ou Templos, que agora construímos são mais complicados de erguer.
O iniciado tem que ceder nos seus vícios e buscar permanentemente a virtude. É uma construção muito complexa quando constatamos que tantos da nossa espécie praticam sem grandes escrúpulos uma vida centrada na ganância e no egoísmo.
Erigir um templo à virtude partindo de nível tão desestruturado e conflituante, como são os vícios que transportamos do Mundo Profano, e que são muito distintos dos princípios que defendemos e que, quase todos, tentamos praticar, é uma construção lenta, difícil e a carecer de muito empenho e solidariedade do grupo.
A L:., o respeito pelo ritual, a disponibilidade e a solidariedade têm que ter um papel pedagógico e agregador perante todos os iniciados e aprendizes.
Desde sempre, os valores aceites por comunidades foram um cimento do seu desenvolvimento. Na antiga China, o ritual e a influência de Kongzi, ou Confúcio como o conhecemos aqui no Ocidente, ilustram-se nos Analectos com a resposta que um seu discípulo dá, perante a afirmação da importância do Ritual. Ele diz, e reflictamos:
Como coisa recortada, Como coisa preenchida, Como coisa gravada, Como coisa polida.
E para clarificar podemos acrescentar palavras da escritora Karen Anderson citadas e complementadas por Andrew Marr no seu Livro História do Mundo.
Diz Karen Anderson:
“Um cavalheiro não nasceu, foi fabricado. Teve de trabalhar nele próprio da mesma forma que um escultor deu forma a uma pedra rústica e fez dela belo.”
Conclui Andrew Marr; Isto mostra que o ritual correcto, que pode parecer um eco fantasmagórico e sem sentido de uma civilização antiga, não é muito diferente da meditação, da oração ou de qualquer programa rigoroso de autoaperfeiçoamento. Tem a ver com o domínio e a ordem do eu e da sociedade.
São cientistas sociais que o confirmam, não há aqui nada de esotérico, mas também não há nada que limite entendimentos que o considerem esotérico, ou religioso, ou agnóstico, ou político, ou apolítico, ou qualquer outro entendimento. Somos livres de estabelecer os nossos critérios desde que nunca conflituem com os princípios basilares aceites por todos.
Parece-me, por isso, razoavelmente fácil perceber que durante toda a vida, um Maçon é um permanente aprendiz. Quando o aprendiz já distingue o espiritual do material pode baixar a abeta, mas o avental, entendido como o corpo que a alma cria, vai acompanhar-nos durante toda a nossa vida maçónica, e será o reflexo do corpo que formos capazes de criar. No fundo terá que ser sempre imaculado como é no início desta difícil, mas fascinante caminhada.
Há quem se sinta fascinado pelas decorações de que se pode revestir à medida que vamos progredindo. É muito importante termos profundo conhecimento dos símbolos e o que podem significar as belas decorações, mas nunca poderemos deixar-nos levar pelo acessório. Os aventais poderão ter maiores decorações mas isso não pode significar que o corpo que criamos se rende ao acessório. Essa simbologia que nos decora o corpo é uma celebração, não é uma exibição e muito menos exibicionismo.
Yuval Harari diz “Acreditamos numa ordem em particular não porque esta seja objectivamente verdadeira, mas porque acreditar nela permite-nos cooperar com eficácia e forjar uma sociedade melhor. As ordens imaginadas não são conspirações malévolas ou miragens inúteis. Pelo contrário, são a única forma de um grande número de seres humanos cooperarem eficazmente”
Se soubermos imaginar a busca permanente da perfeição e da verdade e se conseguirmos que um número crescente de indivíduos também acredite, estamos a comprometer cada vez mais humanos a criar uma comunidade melhor.
A ganância, o egoísmo e a mentira não estimulam a cooperação, antes pelo contrário, minam a coesão dos grupos.
As nossas sociedades estão a deslaçar-se, nós, pobres aprendizes, temos que ter a capacidade de nos fazermos acreditar. Para isso temos que ser muito rigorosos naqueles que acolhemos neste “exército” de homens livres.
E o avental branco é aquilo que melhor nos pode representar, pela força do trabalho buscaremos o rigor e a verdade, porque o avental é o corpo da alma e a alma é imortal. A alma sobreviverá ao corpo se o nosso trabalho de uma vida for consolidado pela cooperação e vivência em grupo e assim, os que nos sucederem, continuarão a buscar aquilo que nós buscámos e que nunca encontrámos.
E é esse o nosso desígnio, nunca parar de buscar, mesmo sabendo que nunca iremos encontrar tudo o que sonhámos.
Mesmo assim, acreditando todos no sonho, somos mais coesos e determinados. Não podemos parar, porque devemos isso aos que nos precederam e não podemos trair os que nos sucederão.
Há uma cadeia de união que não podemos romper.
Isaac Newton, M:.M:.
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