Esta prancha que vos vou ler, e que deixo à Vossa consideração, resulta deste ainda curto mas intenso tempo de vivência dos trabalhos maçónicos , e da aprendizagem que nela fiz, como aprendiz primeiro e como companheiro depois, no sentido de deixar a ganga profana e buscar a Luz, aprendendo a polir a pedra bruta e a conhecer-me, a conhecer os outros e o mundo.
Confesso que não me foi fácil começar a escrita.
A dúvida quanto ao tema a abordar e a qualidade dos trabalhos de arquitetura que aqui vi serem apresentados e que muito me estimularam, fizeram-me hesitar e adiar a sua elaboração e foram motivo para a delonga na sua conclusão.
Neste tempo, aprendi convosco a conhecer-me melhor, passando, na perspectiva maçónica, da infância à juventude, despojado de metais também causa de vícios e erros, numa viagem de Ocidente a Oriente e de Norte a Sul, saindo da escuridão da ignorância para a verdadeira Luz da razão, do progresso e do conhecimento.
Com a morte simbólica perante o mundo profano, pude iniciar o caminho para uma vida moral e espiritual mais elevada.
Com os ensinamentos recebidos de Vós, dentro e fora do Templo, aprendi a melhor dominar a imperfeição dos meus conhecimentos e costumes, compreendendo o significado profundo dos símbolos do Ternário e a necessidade de trabalhar mais e mais para que o espírito se sobrepusesse à matéria e o triângulo da minha abeta pudesse sobrepor-se ao seu quadrado.
Quando me considerastes apto para o aumento de salário, com a passagem da perpendicular ao nível, fui por Vós convocado para fazer cinco viagens.
Na primeira viagem, consagrada aos cinco sentidos – vista, ouvido, olfato, paladar e tacto – destes-me o martelo e o cinzel para desbastar a pedra bruta, por forma a que a força subjugada pela inteligência consiga manusear a matéria e o espírito, utilizando os cinco sentidos. Nesta jornada percorri os quatro pontos cardeais, para demonstrar que a Escuridão do Ocidente, os gelos do Norte, os calores do Sul, ou a Luz deslumbrante do Oriente, não me fariam desistir do propósito de buscar a Verdade, a Virtude e a Instrução. Esta viagem representa também a corda de nós que rodeia o Templo, simbolizando a fraternidade que une num laço universal todos os maçons, das diferentes raças e credos, virtudes ou paixões, qualidades ou defeitos.
Na segunda viagem que representa a segunda época de instrução do Companheiro, são estudadas as principais ordens de arquitetura: Dórico, Jónico, Coríntio, Composto e Toscano. Para realizar este trabalho, foram-me dados a régua e o compasso, instrumentos que permitem desenhar as mais belas e perfeitas figuras geométricas: o círculo e triângulo. O Círculo, com a igualdade dos seus raios mostra o valor do diâmetro e constitui a unidade de superfície (PI), representando o regulador universal que moralmente nos ensina a discernir, classificar e deduzir com rigor as consequências dos nossos actos. O Triângulo é a primeira das superfícies geométricas, ensina-nos a construir obras perfeitas, fortes e duradouras, e põe-nos em contacto com o infinito, pois constitui a base da trigonometria e emprega-se na medição de todos os corpos, definidos ou indefinidos.
A terceira viagem foi (é) dedicada às Artes liberais, gramática, retórica, lógica, música e astronomia. Para desenvolver e interpretar os ensinamentos desta jornada, recebi uma alavanca, instrumento utilizado para levantar pesos e que simboliza a força da Inteligência e o poder que o homem adquire se aplicar os princípios da Ciência e que não seria capaz de desenvolver sozinho. A alavanca é sinal de “Ciência e Virtude” e representa as potencialidades intelectuais que nos permitem vencer os obstáculos materiais e imateriais.
A quarta viagem nos propõe o estudo das Ciências Sociais a partir dos ensinamentos filosóficos que nos foram legados por grandes sábios a quem rendemos tributo, como Sólon, Sócrates, Pitágoras ou Licurgo. Com esse estudo devemos saber prevenir o perigo de sermos presa fácil da acção de homens cuja ambição desempenhou um papel importante na história da escravidão dos Povos. Por isso somos ensinados a conhecermo-nos a nós mesmos, limitando os nossos actos às mais saudáveis intenções e o julgamento dos outros apenas de acordo com os seus méritos e virtudes, desenvolvendo as qualidades da inteligência, justiça, prudência, coragem e Filantropia e assim nos elevando a um nível social digno. Nesta viagem foi-me dado o esquadro e o nível. O primeiro é símbolo de consciência, razão e equidade e o segundo de igualdade, liberdade e direito.
Na quinta viagem, dedicada à glorificação do trabalho, não me foi dado qualquer instrumento e fi-la no sentido inverso das outras viagens: do meio-dia ao Oriente, daqui para Norte e voltei novamente ao Ocidente. Este movimento tem três significados, astronómico, moral e secreto. O astronómico consiste em reproduzir o movimento de retrocesso que aparentemente efetua o Sol para dar lugar às várias estações do ano. Por isso os Antigos consideravam a Astronomia como a mais sublime das Ciências e a ela dedicavam o último ano de aprendizagem do Companheiro. A interpretação moral tem duas razões de ser. A primeira é a de que a glorificação do trabalho, o culto da Ciência e o merecido repouso não requerem instrumentos de trabalho mas tão só uma veneração pura e sublime que se obtém através da meditação. A segunda consiste em revelar que aquele que abandona os seus instrumentos de trabalho para permanecer inativo, em vez de seguir um caminho de progresso, retrocede à barbárie confundindo-se com as trevas da ignorância. E que, portanto, o homem deve trabalhar constantemente para alcançar sua perfeição física, moral e intelectual, deve detestar a ociosidade, mãe de todas as misérias e vícios, e procurar a Verdade e a Instrução. O significado secreto, é que o homem, depois de ter cumprido a sua missão na vida, já deve estar preparado para descer para a escuridão do mistério, isto é, para retornar ao nada, ao ponto de partida ou de sua verdadeira origem.
O Maçon suficientemente preparado para a luta em vida, descobre que sua missão terminou e que, portanto, está livre de ferramentas e disposto a elevar-se espiritualmente ao plano mais profundo do conhecimento oculto, e a sua matéria irá desfrutar do repouso eterno.
Poderia ainda falar-vos da relevância e importante significado dos três símbolos básicos do 2º grau, o grau de companheiro: a letra G, a Estrela Flamejante e a Pedra Cúbica. Não o faço propositadamente, pois entendo dever reservar a sua detalhada referência para quando, e se, entenderdes ser hora da minha exaltação ao 3º grau, ao grau de mestre maçon.
Convosco, aprendi ainda a importância do trabalho em Loja, a qual designa uma comunidade de francos-maçons que se reúnem à volta do Templo numa perspectiva simbólica. A Loja é um santuário de aprendizagem mútua onde se aprende a exercitar a inteligência, a usar a razão, a praticar o bem e a justiça, e a aplicar as sábias leis da natureza.
E aprendi também que a loja é um espaço de trabalho, debate e aperfeiçoamento. Não só pessoal mas também coletivo. Não só para nosso bem mas para que aprendamos a fazer, e façamos, o bem para os outros.
Como responde o nosso Q:.:. Ir:. 1º Vig:. na abertura dos trabalhos, reunimo-nos em Loja para... ( Editado pela Comissão Editorial do Blogue)
E aqui, não se confunde o respeito pela tradição ou método maçónico (iniciático e simbólico) – que estabelece regras e mantém uma disciplina que julgo ser indispensável preservar e manter vivas – com a responsabilidade maçónica de ver o mundo com um olhar posto no futuro que queremos construir.
E por isso o respeito pelos Ritos, Ofícios e Oficiais anda a par com um estimulante e profundo debate sobre a vida da nossa Loja e sobre a vida da sociedade em que, como maçons nos inserimos e que, como construtores do futuro, temos a obrigação de tudo fazer para que seja melhor.
Termino com um humilde Obrigado a todos os Queridos Irmãos e às suas Luzes, pela ajuda dada neste meu caminho de aprendizagem e aperfeiçoamento material, espiritual e intelectual.
Cândido, Comp.'.
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