Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

2 de dezembro de 2015

Porquê Descartes, Porquê o Modelo Cartesiano como Fonte do Conhecimento?

(1596-1650 d.C.) 

MQIrs., como sabemos o Iluminismo ou a chamada Idade da Razão foi determinante para a evolução da nossa Civilização e caracterizou-se na história por um periodo em que os filósofos deram ênfase ao uso da Razão como o melhor método de se chegar à Verdade. Neste periodo iniciado no Sec.XVII até final do Sec.XVIII, figuram outros Ils.:.Irs.:. como Condorcet ,Diderot , Rousseau , Voltaire ou em Inglaterra , Jonh Locke , cuja acão e trabalhos estiveram na origem das revoluções norte-americana e francesa na Sec.XVIII.  Para os iluministas o progresso nos “assuntos humanos”parecia assegurado. A Razão e não a ignorância, a emoção ou superstição ...1), Descartes , no Discurso do Método , nada mais não fez do que adptar o conceito de Deus a uma razão por si criada.   Descartes é considerado o fundador da filosofia moderna . 

Façamos agora uma breve reflexão sobre este nosso Ir.:. e a árvore cartesiana, os princípios metafísicos e Deus, por si amplamente estudados na sua sua filosofia: 

Como matemático, físico e filósofo, o autor do “Discurso do Método”1) e das “Meditações Metafísicas”, Descartes, elaborou um novo método de conhecimento fundado sobre a razão, a única capaz de permitir ao homem alcançar um conhecimento perfeito das verdades mais elevadas. O famoso “Cogito ergo sum” (Penso, logo existo!) faz do pensamento, o princípio da existência, um passo nuclear da Teoria do Conhecimento: “existo” torna o espirito mais certo que a matéria , e o meu espirito ( para mim) mais certo que o espirito dos outros(2)


Nesta relação sujeito-objeto, é condição inequívoca que o Conhecimento cartesiano concentra-se na subjetividade ou na mente pensante, pois esta que cria ou elabora o conceito sobre o objeto pensado. Por outras palavras, Descartes reconhece o ego ou o eu psicológico como uma substância em si, que ele chamava de “substantia cogitans” ou apenas “cogito”, independente ontologicamente dos entes externos à subjetividade. A partir desta substância subjetiva seria possível desencadear o processo de entendimento da verdade, independentemente da objetividade substantiva e da relação criada entre o sujeito e objeto – ou como diria Husserl, da consciência com o fenômeno. Esta afirmação, de que o pensamento criado pelo ser pensante seria a fonte de todo conhecimento, quando desenvolvido através do método cartesiano, foi uma das grandes contribuições de Descartes para a filosofia moderna. Isto fica claro nas considerações de Milovic (2004, p.67):

Tendo feito seus estudos clássicos com os jesuítas de La Fléche, Descartes interessou-se pelas matemáticas, como se fossem a causa da certeza e da evidência das suas razões. O sistema que elaborou é marcado pelo rigor. No prefácio dos Princípios da Filosofia, ele define o Conhecimento (a Filosofia) semelhante a uma árvore. As raízes são constituídas pela Metafísica, indicando que todo saber do sistema se apoia sobre a existência de Deus, considerado como o revelador e criador das verdades. É, portanto, de Deus que o homem deve deduzir as regras indispensáveis para compreender o mundo. Nessa perspectiva, a Física é a aplicação dessa concepção de conhecimento, formando o tronco da árvore. E, enfim, os galhos são constituídos pelas outras ciências (Medicina, Mecânica) e a moral, que  surgem como os resultados da pesquisa, sobre a qual o próprio Descartes esboça grandes tratados. 
O método cartesiano resultante dessa concepção toma como ponto de partida a solução da “tábula rasa” que consiste em negar toda existência ,o todo dado. Mas negar , supõe em si a existência de um pensamento, já que é preciso pensar para negar, evidenciando, assim, a existência de uma razão. Essa razão é suscetível de conhecer a verdade, porque Deus existe, ao mesmo tempo tendo criado o mundo e a ferramenta necessária para conhecê-lo. Essa ferramenta é o espírito humano. 

Mas o homem é falível e para usar corretamente o método é preciso utilizar alguns princípios comuns. São eles: 
– Saber que o bom senso é a coisa mais bem partilhada do mundo, como potência de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso. É a isto que denominamos bom senso ou Razão e que é igual em todos os homens; 
– Necessidade de um método: não é o bastante ter o espírito bom, mas o principal é aplicá-lo bem. As grandes almas são capazes dos maiores vícios, bem como das maiores virtudes; 
– Probidade intelectual: jamais receber alguma coisa por verdadeira sem que a tenha conhecido evidentemente, isto é, evitar a precipitação e a prevenção; 
– Lealdade política e moderação: a primeira regra é obedecer às leis e aos costumes do meu país, observando constantemente a religião na qual Deus deu ao homem a graça de ser instruído desde a infância, devendo- se autogovernar seguindo as opiniões mais moderadas e distantes dos excessos; 
– Aceitação estoica do mundo: cuidar sempre de superar a si mesmo ao invés de querer mudar os outros; 
– Primazia do pensamento e limite do ceticismo: notando que o Cogito é tão firme e seguro que nenhuma suposição extravagante dos céticos seria capaz de enfraquecê-lo, deve-se tê-lo pelo primeiro princípio da Filosofia. 
Assim, ao compreender a realidade de forma evidente e, por isso, racional, pensada, podemos utilizar os princípios do método filosófico a fim de conservar nossa saúde, gerir melhor os negócios e também tornarmo-nos  melhores a nós próprios, afastando-nos da superstição e da presunção sem que com isso caiamos no ceticismo absoluto. Deus é, em última instância, a verdade que garante ao sujeito o poder de conhecer.

O Contributo do Iluminismo e da Filosofia Moderna para a Maçonaria Moderna  - Contexto: 

Em 24 de junho de 1717 nasce em Londres a Maçonaria Moderna, após um período de gestação de pouco mais de um século: quatro Lojas londrinas não-operativas se unem para formar a Grande Loja de Londres e Westminster, a primeira Grande Loja do mundo, tendo por Grão-Mestre o gentleman Anthony Sayer. O segundo Grão-Mestre, George Payne (1718-1719) ordena a coleta de documentos antigos da Maçonaria Operativa visando a elaboração das constituições da nova instituição. 

Estas serão editadas em 1723, em nome do pastor protestante James Anderson, mas parecem ter sido compostas, na verdade, por Jean Theophile Désaguliers, pastor huguenote de origem francesa, físico, amigo e colaborador de Isaac Newton e terceiro Grão-Mestre da Ordem. As Constituições de Anderson definem a Maçonaria como uma associação de homens livres e de bons costumes de qualquer religião, obedientes às autoridades constituídas. São barrados os ateus e libertinos. 

Em 1732, em Bordeaux, é fundada a primeira Loja Maçônica francesa. Em 1736, um cavalheiro escocês, André-Michel de Ramsay, pronuncia na Loja Louis d’Argent, na França, seu célebre Discurso que expõe os princípios básicos daquilo que será futuramente o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) organizado em Charleston, Estados Unidos, em 1801, como uma sistematização de uma série de novos graus maçônicos, conhecidos como Altos Graus ou Graus Escoceses formados na França durante o século XVIII. 

Além de definir a Maçonaria como uma fraternidade de cunho universalista, o Discurso de Ramsay introduz uma nova tese sobre as origens da Ordem: ela teria sido uma criação das Ordens Monásticas de Cavalaria da época das Cruzadas, como os Hospitalares (Cavaleiros de Malta) e os Templários. Desde então, vemos muitas vezes os maçons apresentarem-se como herdeiros da Ordem do templo, extinta no início do século XIV, acusada de heresia. 

Historicamente, nenhum documento aponta para uma ligação direta entre a Ordem do Templo e a Maçonaria Operativa. O máximo que se pode dizer é que, como faz o historiador maçônico francês Paul Naudon, ao promover a construção de igrejas e de sedes regionais fortificadas – Comendadorias – algumas vezes os Templários atuaram como patronos das agremiações obreiras encarregadas do trabalho. 

A partir de Londres, a Maçonaria expande-se rapidamente pela Europa e pelas colônias britânicas espalhadas pelo mundo. Já mencionamos sua instalação na França em 1732. Em 1729 ou 1730 é fundada a primeira Loja norte-americana em Filadélfia, a Saint-John. No mesmo ano de 1730 é fundada a primeira Loja da Índia, em Calcutá. A introdução da Ordem na Espanha e em Portugal remonta a 1728 e ao período entre 1735 e 1740, respectivamente. 

MQIrs,.:.O século XVII, em que lentamente é gerada a Maçonaria Moderna, é um dos mais fascinantes da História do Ocidente. Século de crises econômicas, rebeliões populares, guerras sangrentas – lembremos a Guerra dos Trinta Anos entre 1615 e 1645 -, rebeliões populares e revoluções – destacamos a Revolução Inglesa de 1640, em que, pela primeira um monarca é destronado, julgado e levado ao cadafalso -. foi apelidado de Século de Ferro pelo historiador inglês Henry Kamen. 

Século de transição, nele ocorre uma importante mudança de paradigmas e nasce uma nova ciência: é superado o velho paradigma estático e dogmático medieval, fundamentado em Aristóteles e Sto. Tomás de Aquino, subordinando a busca da verdade filosófica e científica à autoridade dos teólogos, e, depois de um breve interregno marcado pela predominância do paradigma hermético do Renascimento – que deixará, aliás, impressa sua marca na Maçonaria – nasce, com Descartes mas também com Newton, um novo paradigma, dinâmico e antidogmático, em que a Razão e a Experiência serão reconhecidas como os únicos caminhos válidos para se chegar a um conhecimento autêntico e útil. 

Nunca é demais lembrar que a epidemia de caça às bruxas que assolou a Europa não foi um fenômeno medieval, mas sim um triste episódio da Modernidade nascente… Essa ambigüidade está presente até mesmo nos pais fundadores da Ciência Moderna: Descartes procura entrar em contacto com os misteriosos Rosacruzes, Newton se dedica à Alquimia, ao estudo de profecias bíblicas e, possivelmente, a práticas de magia. A Maçonaria apresenta uma dupla face: uma voltada para o passado, cujas  veneráveis heranças recolhe, conserva e transmite, outra voltada para o presente e o futuro, que a leva a assumir um papel de vanguarda. 

Assim, atuará ela como um importante canal difusor do Iluminismo ou Filosofia das Luzes, corrente de pensamento que inspirou e mesmo ajudou a preparar as revoluções de cunho liberal e democrático dos séculos XVIII e XIX. Na esteira da Revolução Científica acima mencionada, uma plêiade de filósofos dentre os quais se destaca John Locke e outros Irs.:.franceses, como Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Diderot e Condorcet, os quais desenvolveram uma nova concepção do mundo, do homem e da sociedade baseada na primazia da Razão e da Experiência como fontes do conhecimento e na crença no progresso e na perfectibilidade do ser humano. 

Os iluministas criticaram os abusos de poder das monarquias absolutas e das autoridades religiosas e estabeleceram os fundamentos ideológicos das modernas sociedades liberais, democráticas e republicanas, acentuando-se também o debate e a abordagem sobre o Deismo e o Teísmo e os principios da Maçonaria especulativa e operativa e a interpretação e aplicação dos Landmarks, e a evolução secular do conceito do G.:.A.:.D.:.U.:., com repercussões até actualidade na N.:.A.:.O.: . Lutaram eles ainda pelo respeito das liberdades civis, pela tolerância religiosa e pela separação entre Igreja e Estado, inspirarando um movimento de reformas por parte de alguns monarcas e ministros do século XVIII que se mostraram receptivos às novas idéias, fenômeno conhecido por Despotismo Esclarecido. 

Salientemos alguns destes Déspotas Esclarecidos e alguns nossos Irs.:.: Catarina II, a Grande (Rússia), Frederico II, o Grande (Prússia), José II (Áustria), e os ministros Aranda, Floridablanca e Campomanes (Espanha) e ainda Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal (Portugal). O Iluminismo forneceu ainda o alicerce ideológico para uma série de movimentos de cunho burguês, democrático, liberal e democrático que, a partir do século XVIII, podem ser detectados em vários pontos do mundo, principalmente na Europa e nas Américas a que o historiador francês Jacques Godechot chamou de Revolução Atlântica para caracterizar esse conjunto de revoluções, já que a maior parte das mesmas ocorrem nas duas margens do Oceano Atlântico, isto é, na Europa Ocidental e nas Américas. 

Os principais acontecimentos seriam: a Independência dos Estados Unidos (1776), a Revolução Francesa (1789) e seus prolongamentos europeus, e ainda os movimentos de independência na América Latina, incluindo o Brasil (1822). Líderes e participantes ativos das Revoluções Americana e Francesa também foram maçons destacados , entre outros : George Washington, Benjamin Franklin, Paul Jones, La Fayette, Mirabeau, Condorcet e Marat. 

A História da Maçonaria está indissoluvelmente ligada à do Iluminismo e a esta Revolução Atlântica. A Ordem Maçônica teve notável papel no processo de difusão das novas idéias e valores da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, o que lhe valeu a perseguição por parte das autoridades policiais e religiosas das monarquias absolutas. E às ideias das Revoluções Americana e Francesa, 
Conclusão – A Maçonaria no Limiar da Pós-Modernidade: 
Qual poderá ser o papel da Maçonaria neste inquietante início do século XXI,? 

Marcados pelo recrudescimento dos conflitos nacionalistas e religiosos, pela mortífera intolerância dos fundamentalismos, fim da Guerra Fria, pelo advento da chamada globalização à escala planetária, e pela violência inaudita do terrorismo, como maçons temos de nos interrogar e servirmo-nos dos ensinamentos deixados por Descartes e da Dúvida Metódica (cartesiana), face ao mundo que nos rodeia : 

Estaremos ainda vivendo na Modernidade preconizada pelos Iluministas? 

Lembremos que o projeto da Modernidade consistia em edificar uma sociedade igualitária, democrática e fraterna fundamentada na Razão e respaldada pelo progresso da Ciência e da Tecnologia. 

É óbvio que não é esse progresso que assistimos mas ao invés à ameaça das armas nucleares, a destruição do meio ambiente e ao alargamento das desigualdades sociais e economicas e ao fosso entre classes sociais e paises ricos e pobres. Como já dizia o antropólogo Claude Lévi-Strauss, na sua obra “Tristes Trópicos” (1955)”... as viagens hoje servem para mostrar como lançamos nossos excrementos à face da humanidade”. 

Eventos como o 11 de setembro de 2001 , os atentados em Madrid,Londres, em África , na Siria , Egipto e os últimos ocorridos em Paris , etc.etc. , parece que a Pós-Modernidade ,está limiar de um pesadelo. 

Uma das características da Pós-Modernidade parece ser a recuperação de elementos rejeitados pela Modernidade, como a Religião, cujo fim próximo  era previsto pelos filósofos da Razão. Assistimos hoje seu retorno triunfante, tanto para o bem como para o mal, tanto para a paz como para a guerra. Síntese equilibrada entre a fidelidade à Tradição de que é depositária e guardiã, e um espírito criativo e inovador voltado para o futuro, a Maçonaria é portadora de uma mensagem de universalismo, fraternidade e tolerância que poderá ajudar a humanidade a transpor as suas dificuldades. 

De acordo com Descartes: “Penso, Logo Existo” – “Cogito, Ergo Sun” , que também tem o mesmo significado e sentido do “Dubito, Lego Cogito, ergo Sum” –DUVIDO ,LOGO,EXISTO, deve oritentar a Atitude do Maçon perante a sociedade. 

A importância do pensar e o conhecer-se, em Maçonaria ,o Ser humano é o saber distinguir-se dos demais animais, pela capacidade de processamento da informação do ato de pensar . Pensar é formar ideias na mente , considerar ou descobrir: é Conhecimento,é trabalhar cada vez mais, no seu aperfeiçoamento e na construção do seu Templo interior , bem da N.:.A.:O.:. . 

Descartes, M:.M:.
(Resp. Loj. Salv. Allende) 

Bibliografia: 
1) Descartes ,René , Discurso do Método e Tratado das Paixões da Alma , Liv.Sá da Costa , Editora 
2) Condorcet , in Esboço de quadro histórico dos progressos do espirito humano(1793-1794) 
3) História da Filosofia Ocidental II Vol.( Filosofia Moderna )Bertrand Russel 
4) DESCARTES, R. “Meditações”. Disponível em http://www.scribd.com/doc/26646221/DESCARTES-Meditacoes-Metafisicas, acesso em 12/11/2010. MILOVIC, M. A questão do sentido: Husserl. Philosophos 9 (1): 63-79, Jan-Jun 2004, disponível em http://www.revistas.ufg.br/index.php/philosophos/article/viewFile/3220/3204, acesso em 12/11/2010. 
5) AMADOU, Robert – La Tradition Maçonnique, Paris, Cariscript, 1986. 
6) DACHEZ, Roger – Histoire de la Franc-Maçonnerie Française, Paris, PUF, 2003. 
7) ELIADE, Mircea et COULIANO, Ioan P. – Dictionnaire des Religions, Paris, Plon, 1990. 
8) KAMEN, Henry – El Siglo de Hierro, Madrid, Alianza Editorial, 1977. 
9) LÉVI-STRAUSS, Claude – Tristes Tropiques, Paris, Plon, 1955. 
10) LIGOU, Daniel – Dictionnaire de la Franc- Maçonnerie, Paris, PUF, 1987. 
11) NAUDON, Paul – Histoire Génerale de la Franc-Maçonnerie,HenryH 
12) Paris, PUF, 1987. 
13) SAUNIER, Eric (Dir.) – Encyclopédie de la Franc-Maçonnerie, Paris, Librairie Générale Française, 2000. 


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