SOBRE O MEU NOME SIMBÓLICO
MIGUEL TORGA
Introdução
A escolha de Miguel Torga como nome simbólico reflecte não apenas a admiração pela sua obra, mas também uma identificação pessoal com a sua trajectória e valores. Como transmontano, vejo em Torga um espelho da minha própria identidade, da ligação profunda com a terra e da resiliência característica da região. A sua literatura expressa a dureza e a beleza de Trás-os-Montes, bem como os valores universais de liberdade, fraternidade e igualdade, que são também pilares da maçonaria. Neste texto, analisarei as razões para esta escolha, traçando paralelos entre a sua obra e os ideais maçónicos.
Miguel Torga, a resistência e a identidade transmontana
Miguel Torga nasceu em São Martinho de Anta, Trás-os-Montes, uma região de paisagens áridas e povo resistente. Essa geografia moldou o seu carácter e a sua escrita, onde a terra não é apenas um cenário, mas um elemento vivo que determina o destino dos homens.
A escolha do seu nome literário, "Torga", não foi aleatória. A torga é uma planta resistente, capaz de sobreviver em solos pobres e condições adversas. É uma metáfora perfeita para o povo transmontano, que, apesar das dificuldades, mantém a sua força e a sua identidade. Essa resistência também se reflete no próprio Torga, que enfrentou a censura, a perseguição e desafios ao longo de sua vida, mas nunca abandonou sua integridade literária e pessoal.
No poema "Transmontana", ele expressa essa ligação com a terra:
"A mão que lavra é a mesma que acaricia,
A mesma que ergue o pão e a poesia.
Se canto, é porque ouço a melodia
Das águas a correr na geografia
Da terra onde ser homem é mais raro."
A resiliência da planta torga e a força do povo transmontano são expressões da mesma essência: uma capacidade de resistência e adaptação, valores que também são centrais na filosofia maçónica.
Os valores da maçonaria e Miguel Torga
A maçonaria é uma tradição filosófica e iniciática que valoriza a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Embora não haja evidências de que Miguel Torga fosse maçom, a sua obra e trajectória reflectem muitos dos ideais maçónicos. A sua literatura manifesta uma busca constante pela verdade, pela justiça e pela superação das limitações impostas pelo meio social e político.
1. Liberdade: Torga foi um homem livre no pensamento e na escrita. Opôs-se ao regime do Estado Novo e nunca permitiu que a censura limitasse sua visão de mundo. No poema "Libertação", ele afirma:
"É preciso nascer de novo,
Recomeçar sempre,
Quebrar as correntes
E sonhar a vida
Como um perpétuo começo."
Essa ideia de renascimento constante e luta contra as correntes da opressão ressoa com o ideal maçónico de libertação intelectual e moral.
2. Igualdade: Na sua obra, Torga dá voz aos camponeses, trabalhadores e figuras anónimas, valorizando as suas lutas e desafios. Ele acreditava na dignidade de todos os homens, independentemente de sua posição social. Essa visão reflecte o princípio maçónico de que todos são iguais.
3. Fraternidade: A solidariedade e a comunhão com o outro são temas recorrentes em seus escritos. No Diário, ele escreve:
"A grandeza do homem está na sua humanidade, no seu gesto solidário, na sua capacidade de se erguer acima das pequenas mesquinharias da vida."
Esta Visão reforça a importância da fraternidade como um valor essencial para a construção de uma sociedade mais justa e humana.
A "Pedra de Sísifo" e a Jornada Maçónica
No poema "Pedra de Sísifo", Torga apresenta o esforço incessante de Sísifo como um ato de resistência e persistência. Esse conceito pode ser relacionado à simbologia maçónica das pedras bruta e polida. A pedra bruta representa o homem no seu estado inicial, ainda imperfeito, enquanto a pedra polida simboliza o aperfeiçoamento moral e intelectual, alcançado através do trabalho constante sobre si mesmo. Tal como Sísifo, que reergue a pedra indefinidamente, o maçon jamais considera a sua jornada concluída; ele trabalha incessantemente para lapidar a sua pedra, mesmo sabendo que a perfeição absoluta é inalcançável.
Simpatia geográfica: Trás-os-Montes, Torga e a Maçonaria
A geografia de Trás-os-Montes não é apenas o pano de fundo na literatura de Torga; ela é um elemento ativo na sua construção simbólica. O isolamento e a dureza da terra criaram um povo resiliente, valores que ecoam na filosofia maçónica, que vê na dificuldade um meio de crescimento e iluminação. Assim como a torga resiste ao solo pobre, a maçonaria ensina que os desafios são oportunidades para o aperfeiçoamento espiritual e intelectual.
A minha identificação com Torga nasce dessa mesma geografia e desse mesmo sentimento de resistência. Como transmontano, vejo na escolha de seu nome simbólico um reflexo da minha própria trajetória e valores, em que a dureza da terra ensina a perseverança e a busca pela verdade. Escolher Miguel Torga como referência é, portanto, reconhecer a força de uma identidade que, como a planta torga, resiste ao tempo e às adversidades, permanecendo firme nos seus princípios.
Conclusão
A escolha de Miguel Torga como nome simbólico e referência literária transcende a mera admiração por sua escrita. A sua obra e a sua vida representam um compromisso com a liberdade, a resistência e a autenticidade, valores que são centrais tanto para a maçonaria quanto para a identidade transmontana. O nome "Torga" é mais do que um pseudónimo; é um símbolo de força e perseverança, um testemunho de que, mesmo diante das adversidades, é possível erguer-se.
Referências Bibliográficas
1. Torga, Miguel. Diário. Coimbra: Edição do Autor, 1941-1993.
2. Torga, Miguel. Poesia Completa. Lisboa: Dom Quixote, 2000.
3. Rocha, Clara. Miguel Torga: Retratos e Memórias. Lisboa: Imprensa Nacional, 2015.
Miguel Torga Apr:.
R:.L:. Salvador Allende
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