Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

27 de março de 2022

VOLTEMOS À LOJA


Com a devida vénia e repectiva autorização, transcreve-se mais um poema de Adilson Zotovici:

VOLTEMOS À LOJA

Melancólico o cenário

Nesse retorno ao canteiro

Quão diminuto o plenário

Reduto do livre pedreiro


Regresso inda que precário

Quanto ao progresso costumeiro,

Mas, virtual, é subsidiário

E presencial é pioneiro


A Oficina é um relicário

Arguta escola do roteiro

Que ensina o desbaste primário

Da pedra bruta ao luzeiro


Mui expresso o corolário

Que o processo é vanguardeiro

“Vontade” o insumo sumário

“Compromisso” o rumo certeiro


Há o ausente, que em comentário,

De desculpas é vezeiro

Temente ao feito sanitário

Mas, à festas...é o primeiro


Desde recipiendário

O empenho induz o obreiro

A fazer jus ao salário

Por desempenho verdadeiro !

Adilson Zotovici

26 de março de 2022

Viajando com livros-Alexandre O’Neill

 


Com a devida vénia se transcreve, da Revista Tempo Livre, este artigo de António Valdemar (a Ilustração é da autoria de Álvaro Carrilho)

Alexandre O’Neill, Viajando com livros, a desmontagem da rotina, 

A sátira arrasadora dos pecados mortais dos portugueses, sem ocultar as grandes interrogações que colocam o homem perante a angústia da vida e o desespero da morte. 

Poucos escritores e poetas denunciaram, como Alexandre O’Neill, os ridículos, as frivolidades, o absurdo, a tragicomédia da sociedade portuguesa. Daí o paralelo entre a sua obra, a de Nicolau Tolentino e a de Cesário Verde. Nos três podemos encontrar afinidades, embora com escritas diferentes, visões diferentes e os condicionalismos de épocas diferentes. De todos, O’Neill está mais próximo de nós. Ainda continua a fazer parte do quotidiano. Recorreu à ironia e ao sarcasmo para a desmontagem de hábitos e rotinas ancestrais. 

Alexandre O’Neill (1924-1986) faleceu com pouco mais de 60 anos. Já não era novo, mas também não era velho. Morreu destroçado por crises cardíacas e hospitalizações penosas. Ficou, a certa altura, um velhinho magro, pálido e de bengala, igual àqueles velhinhos à espera da morte nos bancos dos jardins. Mal começava a falar, esquecíamo-nos do espectro físico em que se transformara. Logo nas primeiras palavras, emergia a sátira rebelde para comentar o dia a dia. Até ao fim mostrou--se implacável perante «o País engravatado todo o ano / a assoar-se na gravata por engano, / o incrível país da minha tia, / trémulo de bondade e de aletria»… 

Não poupava a vulgaridade presunçosa, a pequena burguesia, que julga ser o máximo, que dá cartas, que prega moral, que não tem vergonha e muda de cara, quando lhe convém, enquanto vai fazendo a vida negra aos outros: «Todos os dias os encontro – escreveu numa das suas crónicas tão incisivas como os seus poemas – Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los» (…) Mas também os aturo por escrito. No livro. No Jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema).  Querem vencer, querem convencidos, convencer. Vençam lá à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear.»

Viajou. Andou de país em país. Viu museus e palácios. Comeu e bebeu tudo o que lhe apetecia em bons hotéis e bons restaurantes. Mas Lisboa permanecia dentro dele. Era aqui o seu território: passar nas livrarias e alfarrabistas; ir às tascas do Bairro Alto, frequentar velhas leitarias e antigos restaurantes que já não existem ou se existem têm outros clientes. Estou a vê-lo e a ouvi-lo num bate papo numa das esquinas, entre o Príncipe Real e a Rua do Alecrim, a desafiar para uns carapaus fritos, com salada fresca, um tinto do lavrador e a sair do barril. E café. Sempre café.

20 de março de 2022

Equinócio da Primavera 2022

 

Equinócio da Primavera 2022

Em 2022 o Equinócio da Primavera ocorre hoje, às 15:33 horas. Este instante marca o início da Primavera no Hemisfério Norte. Esta estação prolonga-se por 92,778 dias até ao próximo Solstício que ocorre no dia 21 de Junho às 10:14 horas. 

Celebração antiquíssima que simboliza a renovação.



12 de março de 2022

Tradição e Modernidade na Maçonaria

 


Tradição e Modernidade na Maçonaria

A Evolução & Interpretação dos Rituais

A antiguidade da Maçonaria como irmandade perde-se na ancestralidade humana e não é errado afirmar-se que ela foi forjada nas longas noites do Inverno glaciar de Wϋrm, há 12M anos, ou mais, se considerarmos que os mitos antediluvianos são mais do que meros mitos urbanos.

Esta reclamada antiguidade pode reconhecer-se como tal, nas mãos e nos dedos pintados parietalmente no fundo das cavernas, nas manadas de animais (constelações) e de caçadores (estações do ano), tal como os Maçons se reconhecem através de sinais e graus, na decoração dos Templos, do Oriente, do Ocidente e da abóboda celeste. Tudo estava lá, dado a priori. A irmandade, a iniciação, e a Luz.

Do mito da Caverna atribuído a Platão à filosofia aristotélica, encontramos a arquitectura da Maçonaria moderna. Nesta última lá se encontram as nossas definições dos diálogos possíveis, "exotérico” e “esotérico”, a dialéctica e as sete artes librais, o globo terrestre e o celeste, as virtudes e os vícios. É como se os Gregos tivessem desenhado com esquadro e prumo a Maçonaria sem-lhe terem reconhecido a existência. E é aqui que o Aristóteles clássico fica um pouco estranho, pois a matriz maçónica ou se forjou nos princípios aristotélicos (como se diz), ou o Aristóteles que nos foi dado a conhecer foi uma recriação do senador romano Anicius Manlius Severinus Boethius (477-524 EC), no final do império. Seja como for, a maçonaria moderna, tal como emerge no século XVIII, é profundamente filosófica e política e nada deve à construção das catedrais e dos templos. As lojas de construtores (pedreiros e arquitectos) continuaram e continuam a existir, em França e na Bélgica (pelo menos). Há, por tanto, uma dicotomia epistémica entre as duas Maçonarias, mas ao mesmo tempo um tradição clerical estranhamente mais próxima da estrutura piramidal da Maçonaria Simbólica e Filosófica do que da Maçonaria dos Construtores, que serviram a Igreja. Um clérigo podia (e pode) ser Ir:. numa loja Simbólica, mas não o pode ser numa Loja de Construtores, porque as Artes são diferentes, o síndico também.


O aproveitamento da filosofia aristotélica para a Maçonaria Simbólica é, obviamente, muito posterior aos Gregos e até aos Romanos do final do império. Os rituais mitraicos abundavam entre as fileiras dos soldados romanos, os rituais greco-egípcios eram praticados pelas elites da sociedade romana, mas rituais propriamente maçónicos ali não ainda não tinham existência. 

Eles surgem sim no final do Imperio, quando os primeiros cristãos e judeus começam a formar o tecido social da Roma Imperial e Itálica, e quando a migração forçada de judeus e cristão se espalha pelas províncias romanas do Mediterrâneo.