A Fragilidade Iniciática e Ritualística do Grau de Companheiro
Fraqueza? Instabilidade? Quebradiço? Efémero? Sujeito a delinquir? Que necessita de cuidados para sobreviver?
Acabei de vos descrever os Significados apurados, num dicionário on-line, da palavra Fragilidade. Mas como Significantes qual será o seu alcance?
Recordo-vos que o Grau de Companheiro, o 2º das Lojas Azuis, tem tido um percurso histórico que ora o enriquece ora o esvazia (Instável?). Também tem sido sujeito a uma série de estratagemas em que viagens e sabedoria se misturam e entrecruzam (Necessitando de cuidados para sobreviver?). Também é inegável que, estando entre Graus de marcado cunho ritualístico (Iniciação e Exaltação a Mestre), se expressa por meias-tintas (Sujeito a delinquir?). Não é de admirar que tenha uma datação sociopolítica (Efémero?), e por fim, quer queiramos quer não, evidencia algo de Quebradiço na sua iniciação e ritualística.
Vamos aos detalhes: as viagens a outras Lojas e Ritos devem ser, quase, obrigatórias desde que nos iniciamos até aos Altos Graus, por serem elas que nos garantem a experiência maçónica, logo, não são exclusivas do Grau2.
Mais, neste Grau usa-se e abusa-se das fantasias fictícias em lugar da experimentação sólida e coerente dos primeiro e terceiro Graus, e isto obriga-nos a perguntar porque será que a Iniciação e a Exaltação a Mestre são praticamente constantes em todos os Ritos, e no Grau2 se expressam com uma variabilidade de marcado contraste?
A resposta parece ser: o Grau2 nunca existiu e foi inventado, precisamente, para se criar o Grau de Mestre, melhor dizendo, no chamado período operativo sabe-se que o Aprendiz (Apprentice) é quem está em formação (não tendo direitos nenhuns) e que o Companheiro (Fellow ou Journeymen) é um trabalhador realizado e livre para se empregar em qualquer obra (apenas não podendo ser empregador) sem iniciação e sem ritualidades.
Deixem-me também recordar-vos que só em 1725, a novidade do Mestre surge em Londres, mas que só foi consagrado como Grau em 1730 e sem uma adesão imediata pois só em 1745 se estabeleceu definitivamente e desencadeando uma escalada impressionante de Graus subsequentes.
Concluindo, no período dito operativo, muito provavelmente só haveria um Grau e no período dito especulativo a instituição dos Graus foi imperceptível e sempre como desenvolvimento das virtudes simbólicas do Grau1.
É importante frisar que em grande parte do Século XVIII, quer em Inglaterra quer em França, o Grau de Companheiro quase não teve existência autónoma.
Foi nas últimas duas décadas do mesmo século que se adaptaram os conteúdos mais autónomos, mas em lugares e épocas diferentes, o que reflecte a grande diversidade que o caracteriza.
Graças às fantasias dos autores dos Rituais foi dado a este Grau uma unanimidade- a Estrela Flamejante com a Letra G ao centro, também com vários significados e significantes (destaco Geometry and God, expressões dos contrastes que explicam a vida).
Depois destas noções podemos e devemos perguntar de novo: a Iniciação e a Ritualística do Grau de companheiro é frágil?
Se olharmos só para a semântica (significado) poderemos concluir que, com efeito, a fragilidade está presente, mas se nos atermos à Sintaxe (significante) talvez se consiga dizer que, consoante a sua evolução ao longo das épocas e lugares, se foi fortalecendo graças ao amadurecimento do espírito sobre a matéria, ao fim e ao cabo, um exercício tão caro e tão característico do que é a Maçonaria.
Termino citando Boris Cyrulnik que escreveu serem os rituais socializadores a catalogarem as transgressões dependentes dos determinismos inconscientes. Convido, então, os MM∴QQ∴IIr∴ a estudarem e a respeitarem tudo o que é interdito (caos) para que o regresso (ordem) aconteça com uma hierarquia de valores conscientes, sólidos e transmissíveis, pois quando se é rígido e estereotipado corre-se o risco de se extinguir o pensamento, extinção essa que transforma o prazer de viver numa tensão acumulada.
Assim, proponho-vos, sem nenhum laivo de fragilidade, que não só usemos os utensílios (a mão é o agente de execução do espírito) como também Glorifiquemos o Trabalho, como terminam as viagens do Aumento de Salário.
Diógenes de Sínope M∴M∴
Bibliographia
-Mainguy, Irène – “La Symbolique Maçonnique du Troisième Millénaire”, Dervy Éditions-2003
-Wirth, Oswald – “La Franc-Maçonnerie Rendu Intelligible à ses Adeptes-Vol. II”
-Dachez, Roger – “O Grande Vazio do Segundo Grau”, Traduzido do Blogue Pierres Vivants-2015
-Hamill, J. – « Teorias Acerca das Origens da Maçonaria »
-Dachez, R : Mollier, P – « Origem do ou dos Graus Escoceses »
-Salvador Allende, M∴M∴ – « Modernos Versus Antigos na Conflitualidade Maçónica Inglesa no Século XVIII »-gremiosalvadorallende.blogspot.com
José Garibaldi, M∴M∴ – « Perspectiva Histórica na Transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa » -gremiosalvadorallende.blogspot.com
-Cyrulnik, Boris – “Psicoterapia de Deus”, Edições Piaget-2017
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