Tecnologia 4.0/F-M, Oportunidade e e Declínio
Incumbiste-me de tentar expor aquilo que penso… (Editado pela Comissão Editorial do Blogue)… e julgo que estaria no teu propósito tentar criar uma troca de ideias sobre qual o futuro perante o avanço tecnológico que se nos depara.
Não deixarei de mencionar esse aspeto, mas tentarei incorporar o valor que consigo, condicionando essa visão do futuro ao comportamento, mais que à envolvente.
Nesse sentido pareceu-me adequado partir de uma caracterização daquilo que somos, e tentar refletir sobre aquilo que seremos, ou que deveremos ser.
Analisando as características das nossas práticas e posturas, entendemos que a maçonaria é sobretudo partilha, estudo, “cumplicidade” e uso integral dos sentidos. Por exemplo, na nossa vida não valorizamos o tato devidamente, sobretudo se formos saudáveis. Mas nas nossas práticas o tato tem um peso imenso, inclusive na ritualística, como bem sabemos.
A Maçonaria transporta-nos para outras dimensões de perceção e comportamento que nos passam despercebidas na nossa descuidada vida profana.
Na nossa prática Maçónica todos os sentidos e toda a partilha de sensações é exacerbada, mas ao mesmo tempo que ganhamos essa consciência, somos compelidos a ganhar uma capacidade de controlo adequada.
Nada disto tem contrapartida numa relação virtual/digital, porque estruturar o trabalho Maçónico numa lógica virtual é, à luz daquilo que até agora praticámos, um contrassenso.
Quando expomos ideias lendo qualquer tábua, o corpo também “fala”
Portanto resultará evidente que o contacto presencial, a exposição presencial, com todos os meneios associados, durante a leitura de uma Pr:. ou um tríplice abraço não são replicáveis por via digital.
Tentar ignorar isto, ou pior, tentar replicar virtualmente isto, é de todo impossível.
Mas será isto um problema?!
Teremos que introduzir outro nível de digitalização de Procedimentos, será uma evolução natural, mas isso terá assim um impacto tão grande?!
A Maçonaria tem que passar a ser outra coisa diferente daquela que hoje praticamos, ou praticámos, se quisermos digitalizar-nos?!
Esta Pandemia obrigou-nos a acelerar o contacto por vias digitais, mas irão surgir mais Pandemias e a digitalização das Sociedades é irreversível. Isso obrigar-nos-á a alterarmos tudo?!
A resposta é
SIM e NÃO!
A favor do Sim temos que ter a noção que até agora alguns IIr:. “fogem” e evitam escrever demasiado sobre as nossas práticas. No GOL houve LL:. em que era proibido o uso de documentos escritos. Ora quando passamos a uma realidade virtual, mesmo que não se escreva, tudo fica registado, temos que ter essa noção. Uma vez na Net para sempre na Net.
Isto significa que o conceito de Associação discreta deixa de fazer o mesmo sentido que anteriormente tinha. Aumentando exponencialmente qualquer tipo de SSess:. online será de esperar que, com alguma frequência, comecem a surgir, nas redes sociais e noutros locais afins, SSess:. vítimas de Hacking em que tudo ficará acessível a todos.
Por vezes não ligamos a frases que poderão parecer inocentes mas, pelo contrário, são totalmente claras quanto aos propósitos de alguns indivíduos. Vejamos o caso do conhecido adiantado mental, Mark Zukerberg. Logo após os primeiros tempos da criação do seu querido Facebook afirmava, em entrevista, que o seu grande sonho era viver num Mundo que não tivesse segredos, onde todos soubessem tudo sobre todos.
Esta frase encerra um conceito perigoso, pouco ponderado e completamente idiota, pelo simples facto de ser a negação da natureza humana.
O desenvolvimento do conhecimento, dos esforços partilhados e da vida em comunidade assenta em imaginários sobre cada individuo, mas suportado na intimidade de cada um. As pessoas nunca são totalmente a imagem que fazemos delas, e é a construção e desconstrução dessas imagens, no contacto direto com cada um, que cria “valor” adicional à vida em comunidade e que permite fazer a seleção de indivíduos que efetivamente contribuem para o processo adaptativo e de desenvolvimento das Sociedades.
A Maçonaria explora esta pesquisa e transformação do individuo que gradualmente vamos descobrindo e aperfeiçoando. Mas a confiança apriorística garante o respeito pela individualidade de cada um.
Como será a Maçonaria, se totalmente vulnerável a este tipo de Processo de exploração da intimidade e exposição das suas práticas e, no limite, a exposição/devassa da intimidade de cada membro desta Ordem?!
Por outro lado, estes constrangimentos agora vividos durante este período Pandémico, trouxeram à superfície muitas debilidades que não notávamos. Isso aconteceu na NAO como nas restantes estruturas das nossas sociedades modernas.
Nas Empresas, quando se inicia um Processo de Certificação faz-se um trabalho preliminar que consiste em construir o designado Manual de Procedimentos. Normalmente descobrimos muitas duplicações de Processos, de Funções e, nas Empresas Maiores, até duplicação de departamentos. A fase que vivemos neste último Ano obrigou-nos, também aqui na NAO, a refletir sobre o seu funcionamento de um modo semelhante a uma Certificação.
Portanto não será de estranhar que descubramos duplicações, que discutamos Procedimentos, que detetemos inconsistências, e que até ponhamos em causa documentos que julgávamos que previam tudo.
Falo destes aspetos tão marcados pela situação Pandémica que atravessamos porque há um TUDO antes da Pandemia e há um TUDO depois da Pandemia. A NAO não vai ser exceção.
Mas estruturemos problemas que reforçam o SIM
1. Independentemente de opiniões e justificações políticas, religiosas, económicas ou outras, temos que aceitar que vivemos num Mundo cada vez mais globalizado, mais populoso (brevemente atingiremos os 8 000 Milhões de indivíduos) e cada vez mais “online”. Qualquer que seja a teoria que queiramos adotar, ou qualquer explicação mais ou menos sofisticada, o que é um facto é que a privacidade de cada um sofre investidas diárias como nunca sofreu até agora. A NAO, o GOL em particular, criou um conjunto de mecanismos que visaram defender a prática Maçónica de investidas externas, investidas essas que tiveram o seu ápice durante o Estado Novo. Hoje, de novo, existem movimentos sociais que temendo o escrutínio de Organismos Independentes tentam por a nu as atividades Maçónicas para lhes tolher a eficácia, mostrando extratos dessa atividade, descontextualizando-os, para os tentar ridicularizar. Temos que continuar a lutar por nos mantermos discretos ou arranjamos estratégias que permitem segmentar a atividade e deixamos que vejam apenas aquilo que queremos?!
2. O Ritual tem inspiração profunda no Antigo Testamento e sobretudo no Livro do Génesis. Este facto gerou uma simbólica ritualista que obriga a um contexto, a uma decoração, a uma encenação. Se for vista descontextualizada por pessoas que não têm conhecimento para captar a mensagem, toda esta coreografia se torna ridícula. Que impacto terá na “moral” de todos nós a divulgação e ridicularização destes atos?! Sabemos que isso irá acontecer, é uma questão de tempo, será que estamos preparados para aguentar o embate, ou vamos ter uma deserção em massa de muitos “Maçons”?!
3. A nossa atividade é especulativa e assenta na busca do conhecimento. Não devemos produzir textos quando discutimos temas sobre os quais não sabemos o suficiente. Só o faremos quando estamos preparados para isso. Qual o rigor que usamos para fazer essa avaliação?
Suportado nos pontos que descrevo a favor do SIM, e não só, penso que a idade tecnológica que vivemos vai obrigar-nos a adotar Procedimentos distintos daqueles que nos trouxeram até aqui.
O que até certo ponto vai obrigar-nos a alterar alguma coisa, mas há ainda um terceiro caminho!
Não fazer nada!
Nesse caso, só nos restam duas hipóteses:
i. Mantemos tudo como está, ficando depois muito indignados porque alguém nos expôs, e fingimo-nos muito surpreendidos e ofendidos. Provavelmente porque algum do material exposto não tem qualidade suficiente para ser exposto sem ser objeto de crítica violenta, não pela ritualística mas pela qualidade das ideias expendidas?!
ii. Aumentamos radicalmente o escrutínio sobre todos os trabalhos desenvolvidos, criando grupos de análise por especialidades, produzindo documentos rigorosos, inovadores, e publicáveis em qualquer contexto?!
Julgo que concordarão que ii. é a única solução, e isso é um argumento muito forte a favor do NÃO. NÃO, a prática Maçónica não vai ser diferente daquela que é praticada desde há 300 Anos.
É que no Universo, na Terra, e na interpretação dos seus mecanismos pela Ciência e, já agora, na vida, a explicação mais simples é sempre a mais eficaz e a mais bela.
E daqui resulta que, por um lado, teremos que mudar/adaptar as nossas práticas ao expô-las ao uso nas plataformas atuais de comunicação, porque sabemos que vamos ficar expostos.
Mas por outro lado, não temos que mudar nada, temos é que melhorar a qualidade daquilo que discutimos e praticamos para mostrar que a ideia parcial que têm de nós está errada. Tão simples quanto isto!
E se aplicarmos os ensinamentos Maçónicos, não podemos proceder de outro modo.
Diferente é ter práticas que não são nada Maçónicas e expô-las. Aí já ninguém vai reparar na qualidade de alguns trabalhos que possamos desenvolver como contributo para o conhecimento e bom suporte para o funcionamento da nossa Sociedade.
Será que é por existirem práticas inqualificáveis dentro da NAO que há algum pânico quanto à exposição?!
MMQQIIr:. Poderemos elencar um vasto conjunto de argumentos para justificar que NÃO, a prática Maçónica, no essencial, não vai mudar.
E nem vale a pena tentar prever o que será a Maçonaria no Século XXI, XXII ou XXIII, porque ela vai ser adaptativa como sempre foi nos últimos 300 Anos. Já muitos avanços tecnológicos ocorreram nos últimos 300 Anos, e alguns mais disruptivos que os atuais, tal o “salto” que proporcionaram.
Se calhar, o que há a fazer é sermos mais rigorosos porque vamos ser cada vez mais escrutinados, e se não tivermos debilidades a esconder nada nos assusta, com inteligência, podemos satisfazer as volúpias dos inquisidores delinquentes da coscuvilhice e da inveja, deixando fugir textos belos, rigorosos e bem estruturados que demonstrem a nossa capacidade de pensar e de agir.
Criar grupos de IIr:. que elaborem sobre um Tema, ou Dois, com ideias independentes das correntes de pensamento da Moda, a cada Ano publicando-os, depois de devidamente escrutinados internamente, poderia aumentar de forma radical o prestígio de uma Ordem que não se pode deixar tolher por nevoeiros paralisadores que sempre caem sobre as sociedades quando nestas se busca a justiça social e o conhecimento de forma ampla e inclusiva.
É sempre a forma mais simples que é a mais bela, posso garantir-vos!
O que já não garanto é que dê pouco trabalho!
Quando um nosso QIr:. Passa a Or:. Et:. manifestamos o nosso choremos, choremos, choremos!
Na situação atual e no futuro próximo, precavendo a exposição das nossas debilidades, e honrando os nossos princípios devemos manifestar o nosso Estudemos, Estudemos, Estudemos!
Não há alternativa, porque só assim podemos controlar razoavelmente aquilo que podem ver, ou bisbilhotar, procurando os nossos pretensos tráficos de influência. E nem nos devemos iludir com a “blindagem” de produzir conhecimento estruturado, porque também podemos ser violentamente atacados ao expormos, de uma forma assertiva, as debilidades das ideias dominantes e manipuladoras em cada momento.
Mas todos concordaremos que será melhor ser exposto por sermos perigosamente bons, que ser exposto com argumentos novelescos de idiotas úteis sobre conluios e teorias de conspiração.
Agora o que não podemos é alimentar a criatividade de produtores tão distintos, fornecendo comportamentos iníquos para enriquecer argumentos de Telenovela.
Gostaria de concluir ousando afirmar que o Futuro, mais uma vez, vai ser aquilo que conseguirmos fazer dele. Não vale a pena chamar Zoroastro, usar técnicas de Tarô, ou outras.
Quanto melhores e mais sofisticados formos, mais protegidos estaremos!
Vamos ser crescentemente expostos?! Vamos! Vamos ser crescentemente escrutinados?! Vamos! Vão obrigar-nos a ser melhores?! Vão! Vão obrigar-nos a selecionar o que queremos que saibam de nós?! Vão! E “so what”?!
Basta que sejamos Maçons, ou seja, que defendamos comportamentos escudados numa ética incorruptível, mas sobretudo, que a nossa prática seja um reflexo perfeito da nossa prédica
Isaac Newton, M.'.M.'.
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