Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.
(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)
3 de dezembro de 2017
Coluna Norte-Tributo a Daniel Béresniak
MM.’.QQ.’.IIr.’. sentados na Coluna Norte, quando olho para vós, a minha memória afectiva denuncia-me com singelas gotas de água e cloreto de sódio que escorrem sublimadas pelo muito que aí, sentado como vós, aprendi e reaprendi modificando o meu comportamento, materialmente montado e espiritualmente incompleto.
Aí, foram muitas as vezes que perguntei a mim próprio, porque me sentia ignorante e desfasado, para e porquê a sucessão dos trabalhos com símbolos, gestos e toques a desfilarem sem sentido aparente e num corrupio ambíguo que provocava, à vez, uma alegria intensa e uma tristeza estranha?
Quis o acaso e a necessidade que nesses instantes e pedaços estivessem presentes, solidários e fraternos, um conjunto de IIr.’. que fizeram a diferença: uns confiando nas minhas capacidades, outros cedendo-me grande parte da sua bibliografia pessoal e ainda outros, com a sua maneira de estar e agir, a demonstrarem que é possível um segundo nascimento com a finalidade de reunir o que está esparso.
Das mil leituras que fiz, das mil experiências que assimilei e das mil coisas que me escaparam, vou falar-vos de uma Obra Literária, da qual farei um resumo pessoal (embora os conceitos e as ideias pertençam ao Autor) com o intuito de poder contribuir, se assim o desejarem, para a vossa caminhada na via da Luz, que uma vez Iniciada vai ser calcorreada infinitamente até ao fim dos vossos dias. Chama-se L’Apprentissage Maçonnique, une école de l’éveil? O Autor é Daniel Béresniak-um digníssimo representante dos que sentem e agem a Liberdade, Igualdade e Fraternidade. É óbvio que a leitura completa da obra é, não só essencial como obrigatória. É claro também que todas as incorrecções que encontrarem, sou o responsável e nunca o Autor.
Em termos de estrutura do traçado vou enumerar (aqui sim, a escolha é minha) o que de mais importante apurei transcrevendo os extraordinários pensamentos de D. Béresniak e seguindo os capítulos da Obra mencionada. Assim:
A-INTRODUÇÃO
1-O estudo dos símbolos e dos mitos é a via para a introspecção e do conhecimento de Si-mesmo.
2-Para se dominarem as paixões é preciso conhecê-las primeiro.
3-Homem Livre: nada sabe; é indiferente às honrarias e considerações sociais; segue um caminho à volta de si próprio para não ser manipulado por ideologias que aprenderá a desmontar; reduz e isola os mitos dos arquétipos que os compõem ficando ao abrigo do ódio e das simplificações mortais.
4-Fraternidade não é cumplicidade pois esta prefere falar do Eu com palavras caras evitando a todo o custo dissecar o Si-mesmo. A Beneficência não é uma delicadeza que a vaidade deu à virtude (esta chama-se caridade).
5-O interesse no estudo dos símbolos é causado pelas chaves que eles contêm, chaves estas, que são correntes de pensamento associadas ao património cultural do universo.
6-Resolver os problemas dos outros sem primeiro resolvermos os nossos colocam a ambição, não como um valor mas como a expressão mais conveniente à fuga de Si-mesmo.
7-A Franco-Maçonaria tem sido entrelaçada por ortodoxias exotéricas que juntam ao seu tesouro bibelots de pacotilha para que se esqueçam os conhecimentos que permitem distinguir as pedras preciosas da quinquilharia.
8-O Homem vulgar reage, mas necessita de aprender a agir. Para tal, é essencial conhecer-se a si próprio nem que tenha que contestar o carácter racional das suas escolhas e procurar as origens irracionais.
9-A Mestria deve revelar-se por um estado de espírito entre a crítica sistemática e a confiança pueril.
B-AOS QUE PROCURAM
10-A Franco-Maçonaria é convidada a refazer o mundo, e tal tarefa não está acima das suas forças desde que ela se torne no que deve ser-Oswald Wirth.
11-O que um Maçom procura nesta era moderna é: desejo de apurar as faculdades mentais e físicas; aumentar a capacidade de percepção; situar-se no universo; adquirir um sistema sólido de referências para o comportamento de todos os dias.
12-O ensino escolar não deve limitar a inteligência e a memória mas fá-lo dirigindo-as para a percepção das relações entre as coisas segundo normas lógicas e dedutivas fazendo esquecer a analogia, intuição e imaginação correndo o risco de o homem pensar que é uma Elite que não passa de uma ilusão.
13-As Escolas de Sabedoria Ocidentais tiveram a ousadia de cometer um pecado contra o espírito (que ainda se continua a expiar). Este pecado foi construir um muro entre corpo e mente, entre matéria e espírito e entre a razão e a intuição, podendo mesmo chamar-se-lhe a neurose colectiva dos ocidentais.
14-O ensino profano não traz senão a informação destinada a facilitar a inserção social levando os alunos à frustração, melhor dizendo, ensinam a construir alibis intelectuais para se abandonarem às pulsões irracionais.
15-As Elites criadas no ensino sem profundidade julgam-se livres mas não são senão escravas do desejo que não controlam. São incapazes de lidar com o silêncio e a solidão, ou seja, reagem em vez de agirem.
16-A pedagogia iniciática, pelo contrário, abarca a totalidade das faculdades humanas segundo uma progressão calculada.
17-O sagrado é, exactamente, a ponte entre o visível e o invisível, e a Iniciação ao pensamento simbólico não é mais que um utensílio intelectual que ajuda a indagar por que razão tais representações gráficas podem estar associadas a determinadas reflexões.
18-O que se entende por Despertar é apenas um patamar do homem que age em vez de reagir que, para tal, tem que fazer abordagens críticas, históricas e comparativas.
19-Os símbolos que o Maçom usa fazem parte de um fundo comum à humanidade mas a maneira particular de os combinar, essa, é específica da Franco-Maçonaria.
20-Os conhecimentos-base deveriam proporcionar bons hábitos e um sistema de referências que permitem ao Aprendiz encontrar-se numa herança que lhe vai ser transmitida. Estes conhecimentos não devem ser adquiridos em forma de catecismos por estes proporem definições feitas fora de toda a perspectiva dinâmica.
C-QUEM SE INICIA, QUEM FAZ BATOTA?
21-Os homens, mesmo os de boa vontade, mesmo desejosos de aprenderem e se aperfeiçoarem, mesmo bons e generosos não se tornam Iniciados pelo simples facto de usarem um avental sumptuosamente ornado. É que, no fundo, mantêm os seus preconceitos e as suas estruturas mentais modeladas pelo meio em que se inserem.
22-Os que adoram honrarias reduzem a maçonaria a querelas mundanas, ou seja, os profanos com avental vão a uma Loja como a um clube encontrando amigos e uma atmosfera particular, por vezes, enriquecedora. Projectam na Loja os seus fantasmas, obsessões e desejos mas sem se interrogarem sobre Si-mesmo levando a projectarem as suas frustrações sociais nos diversos graus.
23-Sociedades de Pensamento? Laboratório de Ideias? Desde que não sejam lugares-comuns estafados e evidências pueris de bons sentimentos pois sabe-se que as ideias não devem ser alibis dos desejos.
24-A Franco-Maçonaria abre o espírito às ciências tradicionais (das quais é depositária) mas não propõem nenhum atalho aos preguiçosos que não querem pagar o prémio justo das coisas pois o acesso ao ensino exige sacrifício e tempo.
25-Por e para quê conhecer-se a Si-mesmo? Em linguagem moderna é analisar-se e na tradicional é a descida aos infernos; na linguagem psicológica é colocar em harmonia a imaginação, intuição e a razão traduzindo-se pelo reunir o que está esparso na linguagem tradicional; Só assim se Desperta, ou seja, age em vez de reagir tornando-se Livre.
26-A Franco-Maçonaria é uma escola de sabedoria que forma os Humanos a Ser em vez de Ter. O trabalho sobre Si-mesmo não é egoísta pois terá a correspondência de construir um mundo melhor: é dentro da
Loja que o Iniciado se torna útil e eficaz.
27-As escolas e universidades substituem o Ser pelo Saber tornando a realidade uma abstracção, e podem mesmo complicar em vez de simplificar ou ainda resolverem as dificuldades criando outras bem piores.
28-Não se deve esquecer que a inteligência é fruto do amor e da compreensão constituindo uma união harmoniosa entre o Saber e o Ser.
29-As escolas iniciáticas transmitem um ensino em progressão calculada que abarca todas as faculdades humanas, ao contrário do ensino profano que só estimula as capacidades cerebrais.
30-A tradição diz que a evolução é cíclica: explosão que provoca a diferenciação para que os objectos diversos se juntem na unidade através do pensamento.
D-O PENSAMENTO ANALÓGICO
31-O pensamento deve ser, sobretudo, analógico pois é uma ferramenta fundamental no ensino iniciático.
32-Indução: tipo de raciocínio que permite passar dos factos ao conhecimento; Dedução: tipo de raciocínio que, a partir da experiência se atinge a reflexão havendo dois modos, ou seja, dedução simples em que a conclusão não diz mais que as premissas e a dedução geométrica em que a conclusão diz mais dos que as premissas.
33-O pensamento analógico reúne os dois tipos de raciocínio com a finalidade de se descobrir a relação entre o objecto e a sua função lembrando-nos sempre que o que é análogo nem sempre é parecido.
34-A analogia permite dizer que o homem é percebido como o resumo do universo podendo-se acrescentar ao percebido a noção de vivido. É como realizar no tempo uma sucessão coerente de operações, operações estas que ao nível do comportamento são actos e ao nível do pensamento são ideias.
35-Visível: manifesto; conjunto de coisas. Invisível: conjunto de causas, finalidades e funções. A carta do pensamento analógico é a Tabua da Esmeralda (tabula smaragdina) atribuída a Hermes o Trismegisto, e que contém os preceitos da ciência hermética e a condensação do método alquímico.
36-Foram os pensadores herméticos que conservaram a filosofia tradicional e não os doutores das universidades que reduziram a filosofia à condição de escrava da teologia.
37-Para os herméticos, o visível e o invisível são análogos, ao contrário dos dualistas que acreditam que o bem e mal têm diferentes naturezas. A visão dualista do mundo é alienante porque aprisiona o homem num vocabulário que tenta explicar a percepção das aparências, ao inverso da visão analógica que é libertadora ao descodificar as contradições aparentes.
38-A vida é movimento e este alimenta-se da contradição. O apetite da unidade motiva o conhecimento com a distorção da linguagem herdada e a percepção de novas experiências a levarem-nos a questões de ordem epistemológica.
39-Os valores eternos que testemunham a dignidade do homem foram cultivados em círculos fechados e marginais, portanto, é errado dizer que a tradição antiga é secreta e ligada ao que é obscuro.
40-Reunir o que está esparso: finalidade da ciência que estabelece uma relação entre dois fenómenos aparentemente sem ligações. Como exemplos devemos lembrar que Newton ligou a queda das maçãs ao movimento dos astros, que Maxwell o fez com o magnetismo e a electricidade ou que Leibniz, Planck e Einstein ligaram o discurso matemático à explosão da Física.
41-Os dogmatismos revelam uma falsa concepção da espiritualidade, separando em vez de reunir, que conduz ao fanatismo e à morte.
42-O espírito de Geometria é o único antídoto para os venenos polimórficos que constituem os dogmatismos.
E-O SÍMBOLO
43-De acordo com Nathalie Sarrante, o símbolo é o elo indissolúvel entre a realidade desconhecida e a nova forma que se cria.
44-Designa uma representação sensível e convencional de um objecto concreto permitindo desenvolver a percepção real, na sua totalidade e com as suas contradições.
45-O estudo dos símbolos e rituais não pode ser entendido como uma memorização servil de catecismos mas como espírito crítico e sempre numa perspectiva histórica.
46-Qualquer formação, iniciática ou outra, pode ser ambígua, ou seja, traz um aporte suplementar do saber mas pode ser, também, uma técnica de manipulação e condicionamento, vale dizer, entre a aprendizagem do Despertar e uma lavagem ao cérebro a fronteira é ténue. O Despertar conduz à liberdade interior e a lavagem ao cérebro à servidão, e ambos usam os mesmos livros, palavras, rituais e estruturas.
47-Todo o sinal que serve de símbolo tem um senso próprio e independente, e por tal, para ser compreendido necessita de uma convenção que não é apreendida por intuição ou reflexão.
48-Todas as associações de ideias são contingentes segundo o gosto e a moda das respectivas épocas. Qualquer símbolo representa uma ideia ou emoção com o significante e o significado a serem estranhos um ao outro.
49-A imaginação dinâmica vai deformando as cópias pragmáticas fornecidas pela percepção, cabendo ao símbolo associar aquela a esta para que a coerência da vida fique assegurada.
50-A operação mental que decifra o símbolo (indo do um ao múltiplo e deste ao um) é o reflexo do ciclo cósmico: unidade, explosão, diversificação, expansão e retorno à unidade. É um exercício mental que reúne as faculdades no mesmo espaço de análise e síntese, ou seja, interpreta sem delirar.
51-O símbolo deve estar integrado num conjunto coerente e associado a um ritual praticado. Se um símbolo é demasiado claro não é senão a expressão de uma ideia cuja abordagem é intelectual.
52-Mostrar e esconder (como faz o símbolo) é um dos fundamentos da pedagogia iniciática. Relacionando-se uns com os outros, os símbolos são, à vez, o conjunto e a parte do conjunto.
53-Na Franco-Maçonaria, os símbolos centram-se sobre a ideia da construção, quer dizer, a Geometria é a entrada real no mundo imaginário mas submetida a um rigor esmerado pelo raciocínio e suas regras.
54-A alegoria é a representação de uma situação ou ideia abstracta, ou seja, uma coisa que pode ser conhecida de outra maneira sem implicar manobras mentais superlativas. Aqui, o elo entre o que ela significa e o que representa não é forçosamente evidente.
55-O atributo é algo que serve para caracterizar uma pessoa não havendo atributo sem a pessoa que caracteriza.
56-O emblema é uma figura destinada a representar uma ideia reduzindo as concepções intelectuais a imagens sensíveis mas sem reflexão profunda.
57-A anagogia é uma forma particular de simbolismo religioso. A personificação é o procedimento que representa uma qualidade para uma pessoa. A parábola é um ditado com fins didácticos e edificantes.
58-A reflexão sobre os símbolos é o trabalho mais importante que se efectua na Franco-Maçonaria não esquecendo que a leitura e a escrita são formas superficiais de uma conversação.
59-Os trabalhos simbólicos tornam-se vãos se repousarem sobre uma compilação livresca ou se um programa da Loja impuser tal regra. Para se ter proveito do ensino iniciático é necessário trabalhar muito para lá das imposições.
F-O PENSAMENTO OCIDENTAL E O “CORPUS HERMETICUS”
60-O “Corpus Hermeticus” é um conjunto de textos que reclamam a tradição hermética sendo o Hermetismo um conjunto coerente de ideias filosófico-religiosas e constituindo a especulação grega dos ensinamentos egípcios da Antiguidade. Associa Hermes o Mensageiro a Toth o escriba de Osíris, rei dos signos e números e inventor da magia, artes e ciências. De assinalar que o Egipto é a origem comum das tradições Helénica e Judaico-Cristã.
61-Os estóicos viam Hermes (Hermeneus) como o verbo incarnado e os gnósticos como o verdadeiro Logos. Historicamente há a referência a Hermes o Trismegisto ou três vezes grande que terá relacionado, com harmonia, a terminologia e o simbolismo pitagórico.
62-Hoje, a Hermética, não é senão um testamento filosófico do paganismo. Os Gnósticos Alexandrinos promoveram uma religião universal pelo sincretismo, em que a verdade não é exclusiva de nenhuma tese e em que se pré-figura uma lógica dialéctica. Esta entende as contradições como complementaridades de modo a que a síntese integre a tese e antítese.
63-O Esoterismo é um sincretismo aberto, quer dizer, não escolhe entre o preto e o branco, apenas descobre o conjunto invisível que contém as contradições que são atributos da aparência. O Exoterismo (pode ler-se dogmatismo) escolhe entre o preto e o branco construindo uma doutrina para decidir a escolha.
64-Reunir o que está esparso é ir da aparência ao real considerando os neoplatónicos que a contradição entre a unidade e a dualidade é a base de todo o pensamento. Para eles o Um torna-se o Não-Ser que é a divindade.
65-Os sinais, símbolos e chaves da alquimia, das cabalas, rosas-cruzes e da magia não são senão os segredos geométricos dos pitagóricos que mais tarde se perpetuaram nas corporações gregas e nas Guildas da Idade Média.
66-Estas chaves são as Proporções apresentando-se como uma lei generalizada que se estende da música à moral passando pela arquitectura e aritmética sendo a Geometria a entrada real no mundo imaginário.
67-O ritmo obedece às mesmas leis da simetria. O Templo é o mediador entre o homem (microcosmos) e o universo (macrocosmos) ou o que está em baixo é igual ao que está em cima, são constatações que têm por base a analogia.
68- A Arquitectura (arte de construir pelos números) é tão antiga como a humanidade mas a primeira compilação dedicada a ela só surgiu no Séc. I a.C. e foi coligida por Vitrúvio.
69-O Arquitecto é o homem universal por dominar a geometria, música, filosofia, história e a medicina. É o Mestre do espaço e do movimento. Domina a Proporção que é a relação do todo com as partes dependendo da analogia.
70-A Guematria originou-se na cabala judaica e utiliza o valor numérico para associar frases e palavras com a intenção de penetrar no sentido escondido das mesmas. Para os eruditos conduz às verdades sublimes e para o povo é um instrumento que fornece amuletos para adivinhar o futuro ou exercer algum tipo de influências (base da magia).
G-O ESPÍRITO GEOMÉTRICO
71-Foi graças a Boécio (480-524 d.C.) que o neopitagorismo, geometria de Euclides e a astronomia de Ptolomeu foram divulgados.
72-Os conhecimentos revelados por Boécio foram de uma influência enorme tendo dado origem aos célebres Trivium (gramática, retórica e dialéctica e Quadrivium (geometria, aritmética, astronomia e música).
73-A Geometria é a arte da medida por excelência transcendendo todo o conhecimento. É a Vida e a Arte Real.
74-Os números reúnem o que está esparso integrando o real no imaginário, ao contrário dos maçons ditos especulativos que se ficaram pela componente mística (os símbolos tornaram-se alegorias moralistas).
75-No Séc. XVIII, o pastor Anderson e os seus amigos (alegados autores da franco-maçonaria moderna) destruíram, sem vergonha, os velhos documentos maçónicos ocultando a mais velha definição de Maçonaria que se chama Geometria. Esta foi substituída por conceitos político-morais que reduziram e confinaram a espiritualidade.
76-Erguer muros entre o imaginário e o real (lê-se intuição e razão) é construir prisões aos humanos pois não se deve separar esoterismo, ciência e técnica para se não perder a visão intuitiva do universo.
77-O segredo para os Construtores antigos consistia em guardar truques e historietas que regulavam as construções (por exemplo a estrela de cinco pontas ilustra a proporção dourada-1,618).
78-As tradições (pitagórica e platónica) atravessaram a Idade Média sempre sob controlo da teologia cristã (detentora do monopólio do saber) com a finalidade de conciliar a razão e a Fé, ou seja, a escolástica medieval não era senão uma tentativa de síntese entre teologia, ciência e filosofia.
79-Por questões políticas, a igreja ortodoxa rendeu-se à hierarquia do Vaticano (Concílio de Ferrare em 1435) mas as questões ideológicas ficaram sempre pendentes pois os ortodoxos nunca perderam o exoterismo com a consequente dificuldade em entender as tradições antigas.
80-Foi a Academia Platónica dos Médicis, em Florença, quem melhor expressou a noção de Fraternidade por o acto de Fé ser apenas o amor profundo que dominava as paixões e onde ninguém era recusado pelas suas convicções religiosas, origens sociais ou pátrias diferentes. Foram eles que recuperaram o espírito geométrico no Renascimento. Para eles, o saber e a verdade (como escola laica e livre onde o prazer não era culpabilizado) não eram conceitos apenas memorizáveis pois tinham como missão essencial transformar o homem.
H-O NÚMERO 3, O TRIÂNGULO E AS TRÍADES MAÇÓNICAS
81-O número 3 foi fundamental em todas as Civilizações por exprimir uma ordem que é a soma do 1 (unidade) com o 2 (diferenciação).
82-O tempo é triplo (passado, presente e futuro); o mundo é triplo (terra, atmosfera e céu); as manifestações divinas são triplas; a obra alquímica é tripla (enxofre, sal e mercúrio); o triplo representa o equilíbrio.
83-Nas tradição iranianas a tríade moral (bom pensamento, boa palavra e boa acção) salva o homem do mal. As práticas divinatórias (antes da invenção das religiões) traduziam a vontade de fazer participar o mundo invisível na vida quotidiana fazendo o apelo ao inconsciente e subconsciente para socorrerem o consciente.
84-Todo o acto tem três partes: o sujeito da acção, o verbo e o objecto da acção, por exemplo, a criação implica um criador, o acto de criar e a criatura.
85-A solicitação exercida pelo ternário sobre o espírito é instintiva pois o 3 corresponde ao ritmo que é uma estrutura essencial ao homem e ao universo. Foi desta estrutura que nasceu o silogismo e a relação tese/antítese/síntese.
86-O triângulo é o primeiro dos polígonos, ou seja, é a figura mais económica que delimita um espaço. Todas as figuras podem ser divididas em triângulos. Estes são os mais simples polígonos de sustentação pois para se delimitar um espaço são precisos, um círculo ou três rectas tornando-se os elementos privilegiados da geometria.
87-O esquadro e o compasso não são apenas simples objectos de culto ou de referências memorizadas, antes devem tornar-se sinais de trabalho e de reconhecimento.
88-O simbolismo maçónico conduz ao Despertar, à sabedoria e à arte de julgar (colocar qualquer coisa ou ideia no seu lugar), exactamente o que faz a geometria.
89-Foi graças ao Sol que o génio humano originou o conceito universal de templo (homem-templo-universo), ou seja, o templo é uma espécie de domesticação do universo pelo homem e ao mesmo tempo a tradução material da vocação espiritual da humanidade. A utilização das sombras foi a primeira orientação para a construção dos templos.
90-Foi a partir das reflexões sobre as relações entre os lados e os ângulos do triângulo que surgiu o pensamento matemático. Só se atribui a fundação da matemática aos gregos porque egípcios e babilónicos não deixaram nada escrito.
91-Foi Euclides, o primeiro a deixar escritas as relações entre os elementos (linhas, ângulos e superfícies). Num triângulo, se se conhecerem dois lados e um ângulo ou dois ângulos e um lado, a parte que falta traça-se por dedução. A arte de traçar resolveu o problema da trissecção do ângulo.
92-O conhecimento do triângulo e dos ângulos permitiu ao homem estabelecer a arte das proporções e das comparações. Por ter sido através do triângulo que o homem evoluiu, compreende-se que esteja, simbolicamente, associado ao Sol, à vida, à fecundidade e ao fogo.
93-Na Franco-Maçonaria, o triângulo é o Delta (que significa porta em Hebreu), simbolicamente, um convite à viagem e ao lugar de passagem entre dois estádios (material e espiritual).
94-As Tríades Maçónicas (por exemplo, o Livro da Lei, Esquadro e Compasso) são um conjunto de três símbolos que possuem um significado suplementar para além dos significados de cada um. Foram os maçons Aceitos (vindos do hermetismo, alquimia e rosa-cruzes) que implantaram as tríades na Franco-Maçonaria.
95-É curioso que o Livro da Lei Sagrada foi uma imposição da maçonaria dita especulativa (cristã e protestante) pois nos Velhos Deveres maçónicos (as Old Charges) nada se encontra a impô-lo. Curioso também é que as correntes esotéricas foram dirigidas para a religião em Inglaterra e para o racionalismo/positivismo no resto da Europa. Também se deve referir que a Bíblia (o Livro Sagrado) não só revela uma grande imaginação da sabedoria como também esconde elementos de um conhecimento perdido pelas várias versões canónicas.
I-APRESENTAÇÃO SUCINTA DOS RITOS MAIS PRATICADOS
96-Um Rito é um conjunto de cerimónias estruturado segundo um sistema particular de progressão (em Graus). Surgiram após as divergências das práticas rituais no Séc. XVIII tornando-se um caderno-memória que contém as cerimónias específicas de cada Rito.
97-Em 1717, quatro Lojas de Londres fundaram a Grande Loja de Inglaterra que passou a exercer o controlo de todas as outras lojas. Mas em 1751, uma outra Grande Loja acusa a primeira de ter pervertido os Ritos Antigos nascendo assim a divisão Antigos/Modernos com a curiosidade de o mais antigo ter ficado com o adjectivo de Moderno e o mais recente ter ficado como Antigo. Foram, precisamente, os inovadores que mais ficaram agarrados à tradição.
98-Nenhum Rito foi criado do nada. Todos vinculam uma parte do Ensino Tradicional; todos têm em comum os três primeiros Graus (Aprendiz, Companheiro e Mestre); em todos, o ensino transmite-se por perguntas e respostas; sinais, toques e palavras têm um valor simbólico e de reconhecimento; simbolismo de base idêntico: templo de Salomão, utensílios de construção, presença das três Luzes da Loja e a direcção da Loja exercida por um Venerável, Oficiais e Dignitários.
99-Os Ritos foram elaborados a partir de elementos pré-existentes, ou seja, dos conhecimentos antigos, nomeadamente, a ossatura da pedagogia iniciática que passou de degraus a graus. Não esquecer que foi o sistema rosa-cruciano (com sete graus) que influenciou toda a estrutura dos Ritos.
100-O sistema rosa-cruciano tinha como finalidade o estudo das ciências-naturais para, através do pensamento analógico, se atingir a grande obra com um triplo ensino: operativo ou alquímico, moral ou humanitário e teosófico.
101-Em todos os Ritos, a Loja constitui uma comunidade que, simbolicamente, assume os problemas da vida comunitária. A Loja designa, à vez, o Templo e um conjunto de Irmãos que se reúnem.
102-Os Oficiais (que variam em número e qualidades nos diferentes Ritos) têm todos uma função idêntica, ou seja, o Venerável preside, Os Vigilantes ajudam a presidir, o Orador é o guardião da Lei, o Secretário é a memória da Loja, o Experto é o guardião do Ritual, o Mestre-de-Cerimónias o condutor dos movimentos e o Guarda Interno o verificador da autenticidade dos maçons.
103-Os principais Ritos são: Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), Francês, Emulação (erradamente chamado de York ou Norte-Americano) e o Regime Escocês Rectificado. Num breve resumo pode dizer-se que todos se iniciaram no fim do Séc. XVIII e início do Séc. XIX: o Regime Escocês Rectificado em 1778 em França e de origem Alemã; o Francês foi estabelecido em 1786 pelo GOF e de origem Inglesa; o REAA foi fixado definitivamente em 1801 nos EUA na sequência do Rito de Perfeição que o procedeu com origem em França; o de Emulação foi fixado em 1813 através da reconciliação dos Antigos e modernos em Inglaterra.
104-Com excepção do Rito de Emulação (que ignora os Altos Graus), não é suficiente possuir só os graus iniciáticos (os três primeiros) pois é preciso aperfeiçoá-los nos chamados Altos Graus.
J-AS PALAVRAS E AS COLUNAS DO TEMPLO
105-As palavras constituem as chaves do Ensino, servem para os maçons se reconhecerem mas, sobretudo, são um suporte para a meditação e reflexão.
106-Os nomes das Colunas foram copiados da Bíblia ficando com os nomes das Colunas do templo de Salomão: Jakin e Boaz (nomes hebreus de origem babilónica).
107-As características e as medidas das Colunas seguem também o que está escrito na Bíblia sabendo-se que estão à entrada do templo por ser o lugar destinado a favorecer a passagem a um estádio de consciência superior.
108-No Egipto, Mesopotâmia e Chipre (do Séc. XII ao III a.C.), os templos tinham Colunas à entrada como referência astronómica, ou seja, representavam a posição do Sol nos dois solstícios (Culto Solar) tendo os Hebreus associado as Colunas às Árvores da Vida.
109-As duas Colunas tiveram sempre uma representação simbólica representando a dualidade poder/autoridade. Também podem ser interpretadas como separar ou dividir o espaço que, como se sabe, foi a primeira operação intelectual pela qual o homem domesticou o mundo dando início ao direito, ciência e técnicas.
110-Na cabala judaica, as duas colunas, somados os valores numéricos chega-se o número 819 composto por números privilegiados, o 1 (unidade) está situado entre o número da matéria (8) e o do espírito (9), ou seja, a própria criação (8+9=17, que é o número do Cosmos) onde, através da copulação, se seguem os frutos do amor que, alegoricamente, são a Terra e o Céu ou, filosoficamente o visível e o invisível. Para os Hebreus também são símbolos fálicos e solares (o pau ou obelisco espetado na Terra projecta uma sombra que permite calcular as distâncias e as medidas para uma construção).
111-No simbolismo maçónico, o par de Colunas está associado ao par Sol/Lua e à dualidade masculino-activo/feminino-passivo.
L-OS PASSOS E OS SINAIS. OS GESTOS RITUAIS
112-A descodificação dos símbolos maçónicos deve ser vista como um sistema de interacção com a natureza. Nas escolas iniciáticas, a interpretação faz-se por analogia, ou seja, não por uma reacção instintiva mas para tornar consciente o que está inconsciente. O discurso é sempre descontínuo, quer dizer, vai-se de uma proposição a outra através da indução e dedução.
113-O pensamento só pode ser contínuo (transcende as categorias abstractas) através do símbolo em que corpo e espírito se unem para atingirem um estádio de consciência superior – o Despertar, ou melhor, apreende-se directamente o real com a analogia a torna-lo inteligente.
114-No estado de Despertar pretende-se retirar a hegemonia ao intelecto complementando-o com a intuição e imaginação. A falsa erudição é a via diametralmente oposta à iniciática, e só esta conduz ao Despertar.
115-Na pedagogia iniciática é preciso descer aos infernos mas também é preciso saber sair dele domesticando o irracional. O pensamento simbólico e o código de Sinais e Gestos constituem o meio de o aprisionar.
116-No Ocidente o mais comum dos gestos rituais é a oração ajoelhando-se com a cabeça levantada nas Civilizações Antigas e baixando-a no cristianismo (sinal de submissão). No Oriente são as mudras a principal linguagem gestual tradicional.
117-A reflexão sobre um símbolo é uma técnica de introspecção.
118- A Circulação mimética do Sol está na origem dos passos. Os passos representam a acção da intuição e da razão pura, atribuindo-se ao pé esquerdo a intuição e ao direito a razão. O Aprendiz dá 3 passos com os pés em esquadria que para os operativos significava que tinham conhecimento do triângulo equilátero e que possuíam capacidade física para o executar.
119-Sinais (Chakras para os Orientais) são centros de força numa ginástica que associa o corpo à mente. É a velha relação entre o Psiché e o Soma a sofrer grandes progressos com a demonstração da evidência de centros de força psíquicos que não são senão o ponto de contacto entre a troca das energias celulares.
120-No Grau de Aprendiz o sentimento está relacionado com o perjúrio, daí o Sinal estar focado na garganta que é o local de cruzamento entre a respiração, alimentação, audição e da fala. O pescoço na mitologia arcaica representa a origem da energia, da alma e da beleza.
M-O PAVIMENTO MOSAICO E O PAINEL DE LOJA DO APRENDIZ
121-O Pavimento Mosaico é a complementaridade dos contrários. Não esquecer que uma compreensão literal dos símbolos opõe-se à aquisição de conhecimentos posteriores, quer dizer, o profano opõe o branco ao preto e o Iniciado, reunindo o que está esparso, entende, para lá das contradições aparentes, a necessidade da oposição.
122-É a partir da reflexão dos contrários que o Iniciado (com perspicácia e entendimento) recusa os sistemas e entende o antidogmatismo, ou seja, não vai a correr atrás da unidade porque é mais simples ou atrás de um chefe imaginário providencial que tudo resolve aplacando o mal.
123-Do ponto de vista lógico não se pode exprimir uma proposição sem haver uma contrária. O Pavimento Mosaico convida-nos, com um só olhar, a abarcar o real e as suas contradições, e a ver, nestas contradições aparentes, os elementos necessários e complementares do conjunto.
124-Meditar sobre o Pavimento da Loja alarga o espírito, diminui o preconceito e liberta a reflexão- é uma das chaves para a reflexão simbólica.
125-Os termos antinómicos são como os polos de uma pilha que se não destroem e apenas são irredutíveis, ou seja, são eles a causa geradora do movimento, da vida ou do progresso. O que se deve fazer não é fundi-los porque provocariam a morte, mas sim procurar o equilíbrio que é variável.
126-Reflectir sobre as contradições e integrá-las num pensamento aberto e evolutivo é responder ao apelo da vida e não à pulsão da morte.
127-Não conseguir desenhar de memória o Painel da Loja é um sinal de decadência. Ao substituir a memória por um painel estandardizado constata-se que nem sempre a máxima moderna de obter resultados com um mínimo de esforço, é a melhor pois, deste modo, a moral e o espírito não se elevam.
128-O Painel da Loja refere-se ao Templo de Salomão representando os utensílios usados na construção e orientação (a orientação judaica é de Este-Oeste com a porta a Este e o altar a Oeste mas por influência cristã o templo maçónico inverteu as posições) do mesmo.
129-A orientação dos templos tem uma provável origem grega em que a sombra projectada do Sol sobre um obelisco determina a posição futura, mas esta atitude grega parece estar em consequência das tradições muito mais antigas que praticavam o Culto do Sol que, numa perspectiva simbólica, revela a percepção unitária com a orientação a mostrar uma maneira de estar no mundo porque situarmo-nos é a finalidade do percurso introspectivo.
130-Viajando dentro do Painel de Loja encontra-se: o Cordão Nodoso que contorna todo o painel sem se fechar. Além de decorativo é um instrumento para medir (o espaço entre os nós é a unidade de medida), é um símbolo de união e força, devido à sua flexibilidade permite passar de figuras rectas a curvas (lemniscato), e esta característica representa a passagem do quadrado ao círculo ou da terra ao céu ou da matéria ao espírito. Os lemniscatos lembram aos obreiros a passagem de um estádio de consciência inferior a um superior, imitam o estudo matemático do movimento dos Planetas e simbolizam a união com a sua cadeia a marcar o veículo de influência espiritual pleno de amor fraternal que sem ele a vida seria inútil, ineficaz e absurda.
131-Continuando a viagem pelo Painel constata-se a prancheta dos traçados (com o planeamento da construção), o nível (horizontalidade), o prumo (verticalidade), o malho e o cinzel (força e habilidade, ou a morte e a ressurreição, quer dizer, transforma o Caos em Ordem-pedra bruta em cúbica) e evoca a modelação da matéria pelo espírito que simbolicamente é o trabalho sobre Si-mesmo.
N-CÂMARA DE REFLEXÃO
132-Rabelais escreveu que o Saber vem de uma região onde não se ouve senão o canto dos galos. Antes de qualquer Iniciação, em todos os tempos de todas as épocas, isola-se o candidato numa estreita cabine ou outro espaço decorado com símbolos específicos.
133-A Iniciação é, à vez, pedagógica e terapêutica, ou seja, melhora o homem transformando-o e purificando-o para se curar. A Arte Real (pronuncia-se Iniciação) propõe-se criar um homem novo libertando-o dos constrangimentos do subconsciente que ele não controla, melhor dizendo, extrai o profano do seu ambiente patogénico usando a introspecção dirigida por símbolos.
134-A renúncia ao mundo temporal é estritamente simbólica e não real. Apenas pretende ensinar a abstrairmo-nos das contingências profanas que é uma condição essencial para a reflexão sobre Si-mesmo (interiorização), ou seja, indica a direcção espiritual e a via real que, simbolicamente, está representado pelo despojamento dos metais.
135-A Arte Real é, pura e simplesmente, a arte de dar a todos os valores o seu verdadeiro lugar. Não deve haver preponderância de valores materiais ou espirituais, apenas um equilíbrio (o que está em baixo é igual ao que está em cima dos Hermetistas) como na Alquimia em que a transformação é, aqui, assegurada pelo trabalho, estudo e reflexão.
136-Os metais são sinais, representantes materiais de uma realidade abstracta com a vantagem de se exprimirem rapidamente por uma simplificação gráfica fácil de reter (iguais aos sinais da linguagem matemática).
137- A sociedade vive num mundo de sinais que traduzem mensagens mais ou menos precisas. Mas sinais não são símbolos, estes exigem a interpretação do pensador, ou seja, têm uma dupla função: serem lidos objectivamente (como os sinais) e serem interpretados pela reflexão de cada um. O símbolo não impõe nada, apenas incita o pensamento.
138-Ao elaborarem-se os elos de causalidade entre os fenómenos é necessária ajuda. Símbolos e Sinais são pedaços dessa ajuda mas, atenção, o símbolo destaca-se do Sinal pela pluralidade dos seus significados tendo uma vocação metafísica e ontológica ou como escreveu Goethe…são uma janela aberta sobre o mundo…
139-A realidade é complexa e quanto mais nos aproximamos dela mais difícil será contê-la numa definição (que é uma simplificação feita por abstracção). Na filosofia as definições são mais incompletas que nas ciências objectivas, e a ideia de abandonar os termos do discurso e de o representar por uma simplificação gráfica num sistema de regras, é um dos princípios que está na origem da simbologia.
140-O símbolo só passa a merecer esse nome quando a simplificação não é percebida pela memória mas como aporte da imaginação criativa e da intuição. No ensino profano usa-se a inteligência racional e a memória e no Iniciático acrescenta-se-lhe a imaginação e a intuição.
141-O símbolo é uma necessidade essencial ao espírito humano pois encerra a realidade inacessível, coloca o imenso no que é perceptível e o complicado no que é simples, vale dizer, reúne o que está esparso. A Franco-Maçonaria exalta o amor pelo trabalho dando origem à dignidade e ao progresso individual e colectivo, não é portanto uma igreja estática que exalta o voto de pobreza.
142-Também em Loja, antes dos trabalhos, dever-se-ia despojar os metais pois as pedras são talhadas antes de se iniciar a construção, e uma vez dentro do Templo só os instrumentos de medida deveriam ter cabimento, ou seja, instrumentos silenciosos permitindo usar a inteligência rigorosa em vez dos músculos.
143-A finalidade da Câmara de Reflexão é provocar um choque psicológico de maneira que se desperte e se convide à meditação. Pretende-se a descoberta dos meios que desenvolvem as faculdades intelectuais adormecidas pelas actividades quotidianas.
144-As letras V.I.T.R.I.O.L. em destaque não são senão um sinal que exprime a fórmula alquímica: Visitae Interiora Terrae, Rectificando Invenies Occultum Lapidem, quer dizer, visita o interior da Terra, rectifica-te (purifica-te) e encontrarás a pedra escondida. Esta não é representada pela pedra cúbica da F-M, pois a alquimia é pré-existente à humanidade e a pedra cúbica é o resultado da força, habilidade e dos conhecimentos de geometria que se aplicam à pedra bruta.
145-O Sal (ligado às transmutações morais e espirituais) e o Enxofre (princípio activo da alquimia) fazem parte da Câmara representando o primeiro o que é indestrutível, incorruptível, eterno mas também a esterilidade. O mesmo com o enxofre que está para o corpo como o Sol para o universo, mas também associado à anti luz satânica.
146-A ambivalência dos símbolos da Câmara é expressa pela Luz e pela destruição, ou seja, nenhuma coisa em si é boa ou má, só o homem, o construtor, pelo uso que faz das coisas é que as torna boas ou más.
147-A Ampulheta representa a fuga do tempo, o efémero e o retorno às origens (analogia entre o alto e o baixo dos Herméticos). Pode mudar-se de posição invertendo-a mas a lei da gravidade é mais forte. Simboliza, portanto, as relações baseadas na mudança, vale dizer, do que se dá e do que se recebe.
148-O Pão e a Água: o primeiro é o alimento essencial e este obtém-se graças ao saber adquirido (técnica, engenho e trabalho) mas o saber também não se desenvolve sem que o alimento seja assegurado sendo este símbolo a grande revolução agrícola a partir da qual foram elaborados os mitos e os valores morais tradicionais de que a Franco-Maçonaria é depositária. É, portanto, o testemunho da acção do homem sobre a natureza. A água está intimamente ligada à purificação e fecundidade.
149- A ideia do Pão associado à Água pode, erradamente, levar à noção da ascese (concepção do mundo baseada na oposição espírito/matéria) que é contrária aos princípios maçónicos pois estes premeiam a complementaridade entre os opostos e não a sua negação. É o caso do Pão que precisa da Água que faz crescer o trigo e do fogo para cozer a farinha.
150-O Galo revela-se o advento da Luz Iniciática ligado que está ao Sol e à Luz simbolizando os deuses lunares e solares que são voláteis. Também está ligado à condução das almas dos defuntos tomando, então, o significado simbólico da morte do mundo profano que conduzirá à nova Luz. A Foice, também presente, é a alegoria da morte ou a colheita do trigo que morrendo irá dar origem a uma nova vida.
151-O Crânio é o símbolo da mortalidade humana e do que sobrevive após a morte, logo, um signo de vitória da vida. É tido como a abóboda celeste do corpo representando o conceito de que a imortalidade passa pelos frutos do trabalho, ou seja, simboliza o facto de o homem não poder praticar a introspecção sem correr riscos e adquirindo conhecimentos precisos guiados e sustentados pelos símbolos que o iniciarão na construção do espírito.
152-A interpretação dos Símbolos na Câmara de Reflexão não pode ser levada à letra devendo expurgar-se os desenvolvimentos ingénuos para se chegar ao essencial: no universo tudo está ligado e obedece às mesmas leis. Partindo do princípio Hermético, ao conhecermo-nos a nós próprios estamos a conhecer o universo lembrando-nos que as mesmas coisas produzem, por vezes, os mesmos efeitos-princípio essencial da ciência e do conhecimento objectivo.
O-O SILÊNCIO E A CÂMARA DO MEIO
153-O homem vulgar apresenta-se sob três formas (não despertado, profano e que reage em vez de agir) que não suportam o silêncio, mobilidade e solidão por estas situações lhes evocarem a morte.
154-O medo é o sofrimento do não Iniciado, é o desgosto daquele que recusa trabalhar sobre Si-mesmo. A estes, a serenidade e alegria estão interditas por os não Iniciados procurarem ser considerados cultivando princípios convencionais e tomando o não-infortúnio como felicidade.
155-Enfrentar o medo é uma constante de todos os Ritos Iniciáticos de todos os tempos sendo a sua abolição a primeira etapa para o Despertar. Moral, conhecimento e amor são indissociáveis deste processo.
156-O Silêncio na Franco-Maçonaria não significa submissão mas sim aprender a escutar e refrear o desejo de intervir.
157-A Via do Meio permite dominar o inconsciente, ou seja, sair vitorioso do combate entre a Luz e a escuridão. Mas ninguém nasce ensinado, é preciso aprender, nem ninguém consegue governar outrem sem saber governar-se a si próprio. O ensino não se improvisa não havendo fórmulas mágicas alertando-se que nada se parece mais à Iniciação que a Contra Iniciação.
158-Se quem procura a Luz não está preparado, arrisca-se a encontrar o contrário daquilo que procura acreditando que não. Aprende-se melhor pela crítica sistemática do que pela confiança beata ou pela aprendizagem efémera.
159-A Franco-Maçonaria pode veicular incompletamente os instrumentos da Iniciação mas pelo menos teve o mérito de os conservar.
160-Não se reconhecem os verdadeiros Mestres pela sua Obediência, Graus ou Funções mas apenas pelo facto de não estarem ávidos de considerações, pelos sorrisos tranquilos, pelo que não julgam nem intrigam, pelo falar sem atropelar ninguém e por não procurarem honrarias. O verdadeiro Mestre (que nunca deixa de ser Aprendiz) é aquele que deseja ser ultrapassado pelos seus alunos.
P-A FRANCO-MAÇONARIA É UM VEÍCULO DE ENSINO MAS…
161-O objectivo do ensino do Despertar é: através do trabalho em Loja permite-se aceder ao seu próprio Eu. É uma psicoterapia de grupo onde se adquire o saber transmitido. O ensino do Despertar versa sobre o processo da destruição/reestruturação, ou seja, tábua rasa (não ter preconceitos), descida aos infernos e ressurreição. É o único antídoto contra o veneno do egoísmo, estupidez e mentira. Ensina a Ser e não a Ter para acabar com a dicotomia dominador/dominado.
162-Todas as Epopeias de todas as Épocas e de todas as Etnias tiveram sempre um objectivo: resolver o problema do mal saindo da confusão, injustiça e do vício.
163-Aqueles que, em Loja, reagem em vez de agirem nunca conseguirão a Liberdade interior pois o que procuram é serem reconfortados pela cumplicidade e não pela Fraternidade.
Termino este longo Traçado com duas citações de Epicteto (digníssimo representante dos Estóicos no seu estado mais puro) que dizem…quando se ensina, não adianta propor análises brilhantes e originais, trata-se, isso sim, de considerar uma página como a porta de entrada a uma doutrina, ou doutrinas, cuja razão de ser é transformarmo-nos…ou …o livro é dispensável para o filósofo que encontra em Si-Mesmo o seu próprio pensamento…
Que adequadas citações estas ao espírito iniciático.
Diógenes de Sínope M.’.M.’.
Bibliographia
-Béresniak, Daniel – «L’Apprentissage Maçonnique-Une École de L’éveil», Éditions Detard aVs- 2009
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