Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

23 de junho de 2016

A Loja e o Templo- Dicotomias


Ao decidir-me por este traçado, tive como principal preocupação esclarecer a dicotomia que é repetidamente feita entre Loja e TemploMaçónicos, e que, como é referido por René Désaguliers, na sua obra “Les Trois Grands Peliers de la Franc-Maçonerie”, é de tal forma que, atravessa graus e ritos.

Por isso, meus queridos irmãos, apesar deste tema já ter sido tratado por partes de alguns dos principais autores maçónicos de referência, como Jules Boucher, Irene Mainguy, Patrick Négrier e René Désaguliers, entre outros, pretendo com este meu trabalho, contribuir para o esclarecimento desta matéria, esclarecendo que este meu contributo, é resultado da conjugação da doutrina defendida por várias autoridades nesta matéria, em especial pelos que citei.

É da natureza humana encontrar um lugar ao qual possamos pertencer e sentir-nos úteis, mas é de vital importância que, também nos agrupemos espiritualmente, e nos ajudemos uns aos outros.

A principal distinção que deve desde logo fazer-se entre Templo e Loja, é a de que, o “Templo” é o local de reunião, a “Loja”, a corporação maçónica. Por isso, no final de uma sessão, a Loja é considerada fechada, mas o Templo, continua aberto, inclusivamente para outras Lojas.

Quando os irmãos se reúnem, agrupam-se como Loja, sendo por isso errado, dizer que se estão a reunir numa Loja. Embora os seus membros possam de facto estar reunidos numa estrutura a que chamam de “Loja”, são os membros que são considerados a Loja, e não o edifício onde se encontram. Aliás, as primeiras lojas reuniam-se em tabernas e em lugares públicos.
A Loja, é assim formada pelo conjunto de membros, e possui a representatividade jurídica perante os diversos órgãos de nossa sociedade, podendo fazer-se representar socialmente no mundo profano, participando e promovendo eventos.   
 
Loja Maçónica é pois, MM∴QQ∴IIr∴ o retiro silencioso dos homens de boa vontade, onde se congregam os espíritos honrados, para elaborarem a redenção dos povos, e o progresso da humanidade, em todas as suas manifestações, sendo por isso considerada como o esteio da maçonaria.

Loja, simboliza o mundo ou o universo. Numa Loja maçónica reúnem-se Homens jovens e maduros, todos convergindo espontaneamente à volta de um ideal comum, como que atraídos por afinidades, tal como a agulha de uma bússola, apontando para o Norte.

Em Loja esquecem-se as preocupações, calam-se os receios, perdoam-se as ofensas, as injúrias, as afrontas, consolam-se os sofrimentos, educam-se os caracteres e aviva-se a inteligência, as esperanças e cultiva-se o espírito. EmLoja caminha-se sem curvas, dedicam-se recordações a grandes feitos, derrama-se uma lágrima por todo o prazer legítimo, envia-se um prémio ou um aplauso a toda ação que seja nobre.

Na Loja, as discrepâncias, os contrastes, as oposições, as divergências de opiniões ou de interesses, os conflitos - quando existem - servirão para esclarecer e engrandecer. Nela estão presentes Irmãos que, mesmo na divergência, se apoiam e nas lutas se solidarizam.

Na Loja sonhamos juntos. Ali devem plantar-se sorrisos e haverá sempre lugar para a alegria.

Ela é um refúgio, é um ninho que aconchega e onde vamos em busca da paz da alma. É a escola misteriosa que conduz aos céus sem nuvens e em toda a grandeza íntima.

A Loja é o mundo. O Maçon é o Homem em toda a sua plenitude: a família, a honra, a ciência, a liberdade; todas as grandes conceções, todos os amores e todas as esperanças. Trabalha-se sob a inspiração da consciência coletiva da humanidade; ou, melhor ainda, trabalha-se de acordo com o princípio que orienta para o Progresso, para a Evolução do Mundo e da Humanidade.

Em Loja, almejamos criar um mundo que seja próspero, onde nos reconhecemos uns aos outros como iguais; onde cooperamos e partilhamos momentos de mágoa, pesar, aflição, mas também os de glória, de ações extraordinárias, e de grandes serviços prestados à humanidade.

Os maçons são Homens com aspirações, como quaisquer outros, que se realizam através da compreensão, da tolerância, da prática das virtudes; homens que chegaram à conclusão de que a FRATERNIDADE ENTRE OS HOMENS começa com o HOMEM NA FRATERNIDADE.

As Lojas de primeiros graus de maçonaria são chamadas de “lojas de S. João”, tal como esta a que pertencem MM∴QQ∴IIr∴ .

Determinado que foi o conceito e o alcance de Loja, vejamos agora MM∴QQ∴IIr∴ o que a distingue do Templo.

O Templo maçónico é o local onde os obreiros Maçons se reúnem periodicamente para realizar os seus trabalhos. O edifício/estrutura utilizada para funcionamento das Lojas, ao abrigo das chuvas, do frio, do calor, e a coberto dos profanos. É o local de reunião pacífica e feliz, onde homens livres e de bons costumes se reúnem em Loja, despidos de títulos e honrarias, decididos a promover boas causas. É o lugar onde o Maçon comparece para, junto com os seus irmãos “recarregar” as suas baterias, refazer as suas energias, alimentar-se de afeto e encontrar acolhimento, onde se liberta das asperezas do mundo profano, que são deixadas de lado, e há um verdadeiro revigoramento moral e intelectual vivido na sua plenitude.

O Templo simboliza o cosmos, e esse é o motivo pelo qual, as suas dimensões não podem ser definidas. Como refere Jules Boucher, na sua obra “Simbólica Maçónica”, quando se pergunta a um Maçon a respeito das dimensões do templo, ele deve responder: “seu comprimento vai do Ocidente ao Oriente, do Setentrião ao Meio-Dia, e do Nadir ao Zénite”.

A contemplação do cosmos reproduzido no Templo através da abóbada celeste, dá uma grande quietude, serenidade de espírito, e incita à meditação. 

A importância do Templo nos trabalhos maçónicos está bem patente quando o Maçom o compara ao próprio Homem, tal como ele, alvo de um progresso eternamente inacabado.

Por isso, MM∴QQ∴IIr∴, trabalhar na construção do Templo, significa, trabalhar para o bem e para o progresso da Humanidade, na construção do Homem perfeito e ideal.

O Templo Maçónico é uma projeção simbólica e espiritual do Templo do rei Salomão, cuja construção é referida pormenorizadamente na Bíblia Sagrada.

O primeiro dos cinco livros que formavam as Constituições de Anderson e que hoje têm um mero interesse histórico, tratava da história lendária e fantástica da Maçonaria Operativa e Especulativa Inglesa. Ali já era feita uma abordagem especial ao Templo de Salomão.

Aliás, já antes das Constituições de Anderson, no mais primitivo dos catecismos maçónicos – no “Manuscrito Edinburgh Register House – de 1696, se encontravam referências a Templo e Loja.

Um Templo pode ser erguido em qualquer local onde os trabalhos possam ser realizados a coberto do olhar profano. No passado, muitas sessões realizaram-se nos fundos de tabernas e de “casas de pasto”. A primeira Grande Loja de Londres ergueu colunas na sala de uma taberna - a do “Ganso Grelhado”, e as primeiras lojas em território português, efetuavam os seus trabalhos numa casa de pasto da Rua dos Remolares, ao Cais do Sodré. O traçado do painel do grau no chão do respetivo recinto, era suficiente para, maçonicamente, os trabalhos se desenvolverem.

Simbolicamente, o Templo deve ser instalado numa sala retangular, em que a maior dimensão deverá ser o dobro da menor constituindo assim a designação de “quadrado oblongo”. O Templo é a realização material do Quadro da Loja. Simbolicamente, ele é orientado como as igrejas: a entrada a Ocidente e a cadeira do venerável a Oriente, o lado direito voltado para Sul (Coluna do Sul) e o lado Esquerdo para o Norte (Coluna do Norte), e deve ter uma antecâmara, para que a entrada não se faça diretamente do exterior.

No caso de haver um corredor, como no caso do Grande Oriente Lusitano, esse espaço designa-se de “Passos Perdidos”.

Dentro do Templo e na zona designada de Oriente sentar-se-ão o Venerável, o Orador, o Secretário e os OObr∴ de grau igual ou superior ao 18º e os Veneráveis visitantes, quando convidados pelo Venerável Mestre. Na coluna Norte sentam-se os aprendizes e os mestres que assim o queiram, e na Coluna Sul, aqueles que já receberam a luz, os companheiros e os mestres maçons.

O Oriente é delimitado por uma balaustrada cujo acesso se faz por meio de uma escada com um número de degraus consoante o grau de trabalhos a que o Templo se destine.

Se o Templo se destinar a trabalhos do 1º grau a escada terá três degraus. Se for de Companheiro serão cinco os degraus e se for para a reunião de Mestres, isto é, para a Câmara do Meio, então deverá possuir sete degraus.

Também a decoração das paredes do Templo terão cores e símbolos dependentes do grau dos trabalhos que aí se realizem.

No 1º grau as paredes serão vermelhas e o teto azul. No segundo grau as cores são as mesmas variando apenas os símbolos que as ornamentam. No terceiro grau, ou de Mestre, os trabalhos realizam-se em Templo sob a designação de Câmara do Meio. O Oriente chamar-se-á Dehbir (mansão da imortalidade) e a restante área do Templo toma o nome de Hikal (asilo da Morte). As paredes serão pintadas ou forradas de preto, com decoração própria, correspondente à liturgia do grau, toda ela fundamentada na lenda de Hiram.

Ao transformar-se em lugar de trabalho, o Templo toma a designação de oficina, com o uso de símbolos e alegorias, de ferramentas de construção, com a finalidade de guiar o maçom no aperfeiçoamento moral e espiritual, através de ensinamentos que nos foram legados de várias fraternidades antigas. A oficina é o lugar da Força.

MM∴QQ∴IIr∴, feita esta exposição, para terminar, cumpre ainda referir que, para além desta dicotomia entre Loja e Templo, outras se discutem em seu torno como: O Templo é o Externo, a Loja o Interno; o Templo é o Físico, a Loja o Mental; o Templo é a Matéria, a Loja oEspírito.

Um dos maiores pensadores da Franco-Maçonaria, que se debruça sobre a dicotomia Interno e Externo, ou seja, sobre o local onde está aLoja – se dentro, ou se fora do Templo, é o autor maçónico René Désaguliers, que defende que a Loja não é o Templo, ela está a leste, antes do Templo, e consequentemente as duas colunas encontram-se normalmente no exterior do Templo, quer dizer, no interior da Loja.A lógica tradicional e histórica desta conclusão parece difícil de contornar. Deveríamos então, por rigor, e numa ordem de coerência, proibir de modo absoluto dos nossos rituais e da nossa linguagem, um certo número de frases correntes, tais como “o Templo está a coberto”, “cobrir o Templo”, dar entrada no Templo”. Seria melhor dizer, “a Loja está aberta”, “cobrir a Loja”, “Dar entrada na Loja”.

Montesquieu, M∴M∴

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