Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

13 de maio de 2012

Pires Jorge


Um nome que significa Responsabilidade, Tolerância e Solidariedade.

A escolha de um nome simbólico, que nos acompanhará em toda a nossa vida maçónica, tem um significado equivalente ao dos pais quando escolhem o nome dos seus filhos.
A minha opção foi PIRES JORGE. Porquê?
JOAQUIM PIRES JORGE nasceu em Lisboa, em 1907, filho de Pais Camponeses oriundos da região de Castelo Branco (Beira) que, entretanto, tinham migrado para a Capital ficando a viver na Ajuda. 1*
Integrado numa família de fracos recursos económicos começou a trabalhar com 11 anos de idade numa “Fábrica de Cortiça” donde saiu meses depois para ser “Aprendiz de Torneiro numa Oficina de Serralharia” tendo, com essa “profissão”, percorrido mais duas ou três outras oficinas. 2*
Posteriormente, após várias outras peripécias, concorreu à “Banda de Música da Armada” (dados os seus conhecimentos musicais desde os 10 anos,  idade com a qual começou a tocar bandolim) onde foi “1º Clarinete e Saxofonista solista”; usufruiu, mais tarde, duma Pensão de Reforma pelo seu trabalho nessa Banda. 3*

• Da Responsabilidade na organização da luta pela Democracia

Nesse enquadramento militar acabou por participar na “Revolta de 7 de Fevereiro de 1927” na sequência da qual foi deportado para Angola (à data fazendo parte do chamado “Ultramar Português”) durante dois anos. Aí empregou-se na “Banda Municipal” (como Clarinete), deu aulas de música e jogou futebol. 4*



Regressado a Portugal (dito à época “Metrópole”) manteve contactos regulares com o Almirante Sarmento de Beires e, simultaneamente, ligou-se à “ORA” (Organização Revolucionária da Armada) enquadrada pelo Partido Comunista Português. 5*
Em 1932-1933 foi preso, num contexto de Oposição ao Regime político resultante do “Golpe de 28 de Maio de 1926”, ficando ligado ao putschisismo e aos chamados Budas, o que o levou a Espanha e, finalmente, ao desengano desse tipo de luta e à adesão, em 1934, ao Partido Comunista Português. 6,7*
Enquadrado partidariamente, com Lyon de Castro, Dolores Ebarruri, Pepe Diaz, trabalhou no “Comité Provincial de Madrid” do PCE no “aparelho de agitação e propaganda”. 8*
Em 1936, após ter sido preso em Espanha e extraditado para Portugal, foi transferido para Angra do Heroismo / Açores onde ficou de 1937 a 1940. 9*

• Da Tolerância no contacto com diferentes maneiras de pensar de forma a congregar esforços na luta contra a Ditadura

Em 1943 encontramos Pires Jorge como “Responsável da Zona Norte do PCP”, que ia de Coimbra a Bragança, percorrendo mensalmente toda essa zona de Bicicleta. 10* Nessas voltas conheceu a intelectualidade coimbrã assim como Beatriz Cal Brandão, à época Directora duma Fábrica de Cerâmica, e que não só arranjava a louça necessária para montar as Casas clandestinas do PCP como disponibilizava o “Palacete da Família Cal Brandão”, na avenida principal de Gaia, para todas as reuniões do MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista) e várias reuniões do PCP onde o próprio Pires Jorge participou por várias ocasiões 11* pondo à prova as suas qualidades, inatas, de Tolerância.

• Da Solidariedade para com quem assumia uma missão de liderança na luta anti-colonial em Angola ou para com compatriotas a residir fora de Portugal

a) Ajudou  a preparar a saída de Portugal do Dr. Agostinho Neto (Presidente da República Popular de Angola após a Independência desse território, através da aquisição dum pequeno barco por Pires Jorge e José Magro, comunistas pertencentes ao “aparelho de Fronteira do PCP”, por intermédio dum Capitão-Tenente, militante do PCP, dos Serviços Administrativos da Armada. 12*
b) Esteve novamente preso de 1961 a 1971 e, em 1972, foi enviado pelo PCP para Paris / França e, seguidamente, para Moscovo / União Soviética onde trabalhou junto dos portugueses aí residentes, antes e depois do 25 de Abril de 1974, desempenhando um papel muito ativo de apoio e enquadramento a esses compatriotas designadamente aos Estudantes para aí deslocados para frequentar Cursos no Ensino Universitário Soviético. 13*
Em 1983, aquando do conjunto de entrevistas ao jornalista João Paulo Guerra cuja compilação deu origem à publicação do Livro “Com uma imensa Alegria – Notas autobiográficas de Joaquim Pires Jorge”, encontramo-lo em Lisboa, na Secção Internacional do PCP, e afirmava:

“…enquanto puder, cá estou no meu lugar. Tudo o que faço, ainda o faço com a mesma Alegria.” 14*

Morreu em 1984.

A propósito deste exemplo de vida gostaria de citar uma peça de Arquitetura traçada a 7 de Junho de 1930, pelo Ir:. Heliodoro Salgado, de seu nome profano José da Costa Pina 16*, entretanto passado ao Oriente Eterno, durante a “Instalação da Respeitável Loja Invicta, nº 446, ao Vale do Porto”.

16* José da Costa Pina, nascido em Melo, Guarda, 5/9/1874 – 8/2/1963; Comerciante e Agente comercial. Participou na Revolução de 5 de Outubro de 1910. Iniciado em 1906 com o nome simbólico de Heliodoro Salgado na Loja “O Futuro”, em Lisboa, de que foi Venerável, atingiu em 1919 o grau 33º do REAA, de cujo Supremo Conselho fez parte desde 1924. Desempenhou altos cargos no Grande Oriente Lusitano Unido, nomeadamente o de Presidente do Conselho da Ordem de 1929-1930. Durante a clandestinidade desempenhou o cargo de Grande Secretário-Geral. Pertenceu também à Carbonária.

Aí foi dito que “…a primeira qualidade a exigir dos Maçons, ou dos que a tal se propõem, é saber vencer as suas paixões. E, meus queridos Irmãos, forçoso é confessar, que bem poucos são aqueles que as sabem vencer…” e  “…Que belo organismo não seria a nossa Ordem se todos os seus adeptos soubessem compreender e cumprir a primeira obrigação a que se comprometem quando nos batem à porta do Templo  - vencer as suas paixões.
Seria a sociedade ideal preconizada pelos pioneiros dos novos horizontes.
Seria a Igualdade sobre a Terra, seria o enlace fraterno de todos os Homens, abraçando em toda a sua pujança a Fraternidade Universal. Era, enfim, a efetivação da sublime trilogia que temos por divisa.” 17*
E, mais à frente, continua o Irmão Heliodoro Salgado: “…confiemos que o futuro consolide nas verdadeiras bases a Maçonaria e faça desta Ordem o que ela deve ser: - Um selecionado de Homens que, cônscios da sua força e do seu direito, busca, para a Humanidade, todo o bem a que ela tem jus…”. 18*
“… essa aristocracia é criada pela dedicação, zelo, mérito e qualidades pessoais de que fizeram prova os Maçons que os tentam…” e não as “… fitas multicores e os títulos pomposos…”.
“…O que se torna preciso, meus Irmãos, é sentir as impressões que se destacam de cada iniciado que se atinge e ver, entender e nelas compreender o profundo exoterismo que encerram. 19*
O exemplo de JOAQUIM PIRES JORGE, de Responsabilidade, de Tolerância e de Solidariedade, levou-me a escolher PIRES JORGE como nome simbólico na minha vida Maçónica, iniciada em 2004.

Espero não o desmerecer.

Pires Jorge M:.M:.
Abril de 2012

Pires Jorge, ilustração de Álvaro Cunhal

1* Guerra, João Paulo, Com uma imensa Alegria - notas autobiográficas de Joaquim Pires Jorge, Edições Avante, Lisboa, 1984, págs. 11-12
2*   idem, págs. 12-13
3*   idem, págs. 14-15
4*     idem, pág.19
5*     idem, págs. 21-22
6,7* idem, págs. 21-26
8*     idem, págs. 26-27
9*     idem, pág. 34
10* idem, págs. 44-45
11*   idem, pág. 65
12 idem, pág. 73
13*   idem, págs. 91-92
14* idem, pág. 93
15* Marques, A. H. de Oliveira, Dicionário da Maçonaria Portuguesa, vol. I, Editorial Delta, Lisboa 1986, pág. 728
16*   idem , Vol. II, pág. 1120
17* Publicações da Resp:. Loj:. Cap:. INVICTA, nº 446 ao Val:. do Porto”, Gr:. Or:. Lus:. Unid:. – Sup:. Cons:. da Mac:. Port:., 1930-1933, pág. 23 
18*   idem, pág. 24
19*   idem, pág. 26

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