2. Sobre esta
matéria, a verdade é que a Igreja não tem sido omissa. Já em 1738, com a
Constituição Apostólica In eminenti, de Clemente XII, a Maçonaria foi formal e
expressamente proibida aos católicos, sob pena de excomunhão. Desde então,
todos os papas confirmaram a radical e insolúvel incompatibilidade entre as
duas instituições. Leão XIII, na Encíclica Humanum genus, de 1884, reafirmou a
interdição dos fiéis aderirem à Maçonaria e, em mais 225 documentos, reiterou
até à saciedade esta condenação. O diagnóstico foi sempre o mesmo: são duas
visões insanavelmente divergentes no que respeita a Deus, ao homem, à verdade e
à liberdade. Também os papas actuais, nomeadamente o beato João Paulo II e
Bento XVI, mantiveram o mesmo veredicto que, portanto, se deve considerar
doutrina definitiva e irreformável da Igreja. Pelo menos enquanto a Igreja e a
Maçonaria forem o que são.
3. Também, do ponto
de vista canónico, não há lugar para dúvidas. O anterior Código, de 1917,
previa a pena máxima, ou seja, a excomunhão automática, para o católico que se
inscrevesse numa qualquer loja maçónica. O Código actual, de 1983, embora não
imponha de forma imediata essa sanção, que contudo também não exclui, esclarece
que um cristão que pertença à Maçonaria fica, ipso facto, em situação de pecado
grave ou mortal e, em consequência, privado da comunhão sacramental.
4. Como entender,
então, que alguém se afirme publicamente como católico e maçon? A expressão,
contraditória nos seus termos, só admite duas possíveis explicações.
A primeira hipótese é a de que o dito crente ignore, de boa-fé, a doutrina da Igreja sobre o particular, bem como a natureza intrinsecamente anticristã da Maçonaria.
Alguns cristãos –
crianças, analfabetos, etc. – talvez desconheçam esta incompatibilidade, mas
seria estranho que entre os maçons, uma elite supostamente tão ilustrada, se
desse uma tal ignorância. É, no mínimo, curioso que, em pleno séc. XXI, haja
ainda intelectuais, como os ditos pedreiros-livres, que desconheçam uma
doutrina reafirmada repetidamente, há quase três séculos, pela Igreja, e
atestada por nada menos do que 598 declarações unânimes do seu magistério!
Se a boa-fé for
autêntica e tão crassa a ignorância, o crente maçon é inocente de uma tal
incoerência. Mas deixará de o ser se, esclarecido sobre a impossibilidade de
pertencer às duas entidades, não deixar a Maçonaria.
5. A outra hipótese
é a de que o cristão, que publicamente se diz maçon, aja de má-fé. Com efeito,
um fiel que, conhecendo minimamente a doutrina cristã, adere consciente e
voluntariamente a uma ideologia que sabe ininterrupta e fundadamente proibida
por todos os papas, de fiel só tem o nome. De facto, um soldado, que desobedece
a quase seiscentas ordens dos seus legítimos superiores, não é apenas um
refractário, mas um desertor, ou um traidor. Talvez fosse pensando nestes tais
“cristãos” que Paulo VI afirmou que o fumo de Satanás se infiltrou na Igreja de
Deus…
Quem, de forma tão
acintosa, desrespeita um mandato formal da máxima autoridade religiosa e disso
faz público alarde, ofende gravemente a Igreja, que devia amar e servir. Aliás,
estes “cristãos”, que são tão solícitos no apoio à “sua” Maçonaria, nunca vêm a
público defender a Igreja, ou o seu magistério, que amiúde contradizem. Não em
vão Cristo disse que é pelas obras que se conhecem os seus verdadeiros
discípulos e, ainda, que ninguém pode servir a dois senhores.
6. Talvez seja esta
a prova que faltava para poder concluir, na verdade da caridade, que a
Maçonaria – não obstante a eventual boa-fé, por ignorância invencível, de
alguns dos seus membros – continua fiel, apesar das suas campanhas de
desinformação e de branqueamento do seu passado, ao seu ideário anticristão e
anticlerical.
Afinal de contas,
“católico maçon” não é apenas uma contradição, mas uma dupla mentira: nem
católico… nem pedreiro!
Gonçalo
Portocarrero de Almada
Licenciado
em Direito e doutorado em Filosofia Vice presidente da CNAF
in Público 2012-03-08
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