Fiquem vocês sabendo que, muito mais cedo que tarde, abrir-se-ão de novo as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

(Últimas declarações de Salvador Allende ao povo chileno a 11 de Setembro de 1973, quando os aviões dos generais fascistas já bombardeavam o Palácio de La Moneda)

22 de dezembro de 2024

Solstício Inverno 2024

 


 O solstício de Inverno ocorreu ontem, às 9h21 (horário de Lisboa), no Hemisfério Norte – este momento é mais do que apenas um evento astronómico: é o ponto de viragem da nossa viagem anual em torno do Sol. 

Celebra-se a renovação, o renascimento, a entrada do novo ano. Também é um bom momento para pensar em tudo o que aconteceu no ano que termina".

10 de dezembro de 2024

A Relevância da Cadeia de União no Ritual

 

A Relevância da Cadeia de União no Ritual

I – Acerca do Ritual

A palavra Ritual tem origem no adjectivo latino «liber ritualis», sendo contudo um substantivo em português. Nas religiões (como na católica, p. ex.) é um livro litúrgico onde residem o conjunto das cerimónias do culto, de cariz essencialmente dogmático. Na Maçonaria designa semelhantemente um conjunto de instruções com determinado significado e coerência simbólicas,  que se utilizam para coordenar, estruturando, a  realização de uma Sessão.

A grande diferença é que na Maçonaria Liberal (ou Adogmática) o Ritual é interpretado sob uma perspectiva não dogmática, devendo ser seguido  como auxiliar ao aperfeiçoamento maçónico individual, dando coesão e sentido de unidade ao trabalho em Loja. Este é motivo mais do que suficiente para que cada Apr:. deva seguir atentamente o ritual em cada Sessão,  tentando perceber os ensinamentos e o simbolismo nele contido. Não é contudo obrigatório sabê-los de cor, contrariamente ao que acontece no ramo da Maçonaria dogmática ou anglo-saxónica, como por exemplo no Ritos Inglês de Emulação ou no de York. 

Os Rituais são publicados (pelo menos nos graus simbólicos) pelas Obediências e o seu cumprimento coerente e rigoroso deve ser exigido às Lojas que as compõem, devendo em nossa opinião (contrariamente ao que defendem alguns Irmãos), ser uniforme em todas elas, ou seja as LLoj:. não devem «inventar» derivações sobre o ritual oficial. Se existirem dúvidas ou propostas de alteração, desde que devidamente fundamentadas,  deve ser solicitado superiormente ao Conselho da Ordem, a correcção de eventuais erros ou desactualizações. Estas no entanto só terão validade após a aprovação da potência (ou Câmara de Administração) respectiva, ou seja no que ao R.E.A.A. diz respeito, o «Supremo Conselho do Grau 33 para Portugal e sua jurisdição»,  corpo que é responsável pela  gestão do Rito. O mesmo acontecerá, pelas mesmas razões, para o Rito Francês, agora com o Grande Capítulo Geral de Portugal-R.F. 

O Ritual é o fio condutor, o agregador e o unificador dos trabalhos em cada Sessão e, ao mesmo tempo, o guardião da identidade e solidariedade  maçónica entre todos os Irmãos, pelo que deve ser cumprido com rigor, pois  sob o comando do malhete do VM:., secundado pelos VVIg:. ele organiza e dá resposta aos objectivos iniciáticos que cada Grau tem por finalidade, em cada Sessão,  através da intervenção disciplinada e ritmada dos quadros da loja.

24 de outubro de 2024

Reinterpretar a Maçonaria ampliando o foco

 Com a devida vénia e respectiva autorização se transcreve este artigo do blogue Comp&Esq  

Reinterpretar a Maçonaria ampliando o foco

Autor:  Ivan Herrera Michel

Atendendo a que, como refere o autor: "a Maçonaria é um espaço de verdadeira construção para todas as pessoas sem qualquer distinção" o pequeno texto deste conhecido autor e dirigente maçónico sul-americano, é deveras oportuno e conciso para ajudar a pensar o modo como o tricentenário passado maçónico poderá ser  (re)visitado  por forma a  melhor preparar a Maçonaria para a resistência e simultaneamente  adequação às profundas mudanças tecnológicas, sociais, filosóficas e culturais ao longo do Séc. XXI. O caminho já foi iniciado (não sem dificuldades) pelas mais importantes Obediências do ramo liberal/adogmático em pleno início do Sév.XX, resta agora seguir o caminho, aprendendo eventualmente com os erros. Se até a sempre rígida  e dogmática corrente anglo-saxónica, liderada pela Grande Loja Unida de Inglaterra já se começou a movimentar, só nos resta seguir em frente com o processo inclusivo e filosófico, adequando os cuidados necessários para não subverter os princípios filosóficos e simbólicos fundamentais da Maçonaria, no nosso caso da corrente liberal (em particular).

(seleccionado do Blog «FreeMason.pt» de 09.Set.2024, por «Comp&Esq»)

Sei por experiência própria que é sempre um tema de debate fazer da interpretação da herança maçónica uma ponte entre o seu passado tricentenário e o futuro que se aproxima, num mundo cuja evolução filosófica e tecnológica parece mover-se num carro de corrida, mas a verdade é que a Ordem exige na maioria das suas instituições uma abordagem mais inclusiva e um maior respeito pela diversidade, mantendo inalterada a sua integridade ideológica, sem parecer que está a tentar forçar um elefante a entrar num Volkswagen.

Em suma, quando falamos dos rituais, símbolos e alegorias utilizados na Maçonaria, estamos a referir-nos a uma certa arte de luz e sombra que transmite os seus ensinamentos. Na verdade, a ideia principal é que sejam capazes de comunicar princípios filosóficos e morais que promovam, a nível psicológico, uma metamorfose construtiva ajustada a um princípio de realidade com complexidades infinitas.

15 de outubro de 2024

Grau de Mestre na consolidação da Maç∴ especulativa – uma nova abordagem

 

 Grau de Mestre na consolidação da Maç∴ especulativa – 

uma nova abordagem 

 I – Introdução 

O Grau de M∴ M∴ representa o patamar superior da Maç∴ simbólica, já que é com ele que o Maç∴

atinge a plenitude dos direitos. Todavia apesar da documentação produzida e do ritual (na forma a que 

chegou até nós, nas suas versões mais correntes – R.E.A.A e Rito Francês), tem sido alvo de enorme dispersão e contradição de fontes e sobretudo de muitas interrogações quanto às origens e objectivos, 

apesar de amplamente tratado relativamente ao simbolismo. Algumas das notas que se seguem resultam duma tentativa adicional de pesquisa, com o objectivo de obtenção de eventuais esclarecimentos ou 

respostas complementares, face às dúvidas ou interrogações ainda persistentes quanto às origens, bem 

como ao período da história da Ord∴ e objectivos com que terá surgido (a anterior tentava sintetizar as pesquisas iniciadas a partir do final dos anos 1980). 

Segundo R. Dachez [17], “podemos já medir a que ponto a história deste «terceiro» grau – que não merece talvez este nome, mas preferencialmente o de «primeiro dos Altos Graus» - era singularmente mais complexo do que (não) tínhamos imaginado, talvez afirmado imprudentemente. Longe de ser um seguimento «lógico» dos dois primeiros, ele deu á jovem maçonaria especulativa uma impulsão e uma direcção inteiramente novas, que os próprios fundadores, alguns anos mais tarde, não haviam sem nenhuma dúvida, previsto” 

Para grande parte dos historiadores e estudiosos maçónicos mais conhecidos, p. ex: Alviella [5] e Dachez 

[6] e [17], a estruturação do grau de MM∴, tal como o conhecemos, terá decorrido em Inglaterra ao longo da primeira metade do séc. XVIII (e logo de seguida em França), aproximadamente durante meio século. As suas origens, lenda e ritual, têm sido alvo de diversas análises e outras tantas interpretações, não se conseguindo determinar com precisão as origens, para além de diferentes dados historicamente determinados, já que ao longo deste período existem indícios por vezes contraditórios e/ou confusos, o que constitui obviamente um forte aliciante para os estudiosos e historiadores [18]. 

A consulta da documentação disponível (sites de «M:.M:.» adjacentes ao Blog pessoal – ver Bibliografia), numa primeira fase da abordagem inicial e posterior investigação maçónica, foi importante para obtenção duma perspectiva mais consistente desta etapa relevante da maçonaria e da historiografia maçónica, sem que contudo muitas dúvidas e incertezas se tenham dissipado. 

30 de setembro de 2024

APÓLOGO para APRENDIZES

 

APÓLOGO para APRENDIZES

PERSONAGENS: PORTA; JARRO; COPO DE UÍSQUE; BENGALIM; CACHIMBO; MAÇANETA; CABIDE DE CHAPÉUS; SUPORTE DE LEITURA E MAIS UMAS QUANTAS COISAS;

TEMA: IMBECILIDADE/ADORMECIMENTO


Para Umberto Eco deve-se pôr em cena o que se não pode ver. Assim, e como introdução, vou pedir desculpa aos eruditos capazes de colocar em objectos inanimados, um discurso moral. Vou ensaiar fazê-lo, não a bem da Ordem em geral nem desta Oficina em particular, mas apenas para comprometer e entreter os obreiros neste novo inicio do ano maçónico. Não o farei como os mercadores do oculto (do tipo Cagliostro) que manifestam o gosto pela imprecisão e pela credulidade indiscriminada usando um testemunho que se demonstra intraduzível, antes o farei em tom de brincadeira para cativar a reflexão de cada um. Assim:

A porta, gigante e majestosa estava toda trabalhada com repiques e rococós. Aparentava ser feita a partir da frondosa madeira das florestas do Maiombe na Cabinda ainda portuguesa.

O que poderá estar por detrás dela, perguntava a maçaneta reluzente e de tons dourados, colocada a meio do lado esquerdo? Provavelmente esconde cabeças, perdão, objectos pois isto é um apólogo, capazes de guardar os momentos maiores da virtude e de condenar o pior dos vícios.

Espera aí, - diz o cachimbo de porte garboso, altivo e também trabalhado finamente a partir de marfim-, as coisas podem hierarquizar vícios e virtudes, o mal e o bem ou caracterizar lugares de perdição e de salvação? Estou a ver que queres imitar as bestas que se julgam os reis da Criação apesar de terem uma rectidão moral menos filosoficamente justificada, mas dogmaticamente estabelecida por uma aliança à base da confiança num ser superior que nunca ninguém viu, cheirou ou palpou?

A maçaneta, coitada, pouco habituada a dialécticas exclamou: para aí! pois não entendo as tuas xico-espertices que me parecem, apenas, turvar o que já é suficientemente turvo. Querem ver que te dá jeito repetir as velhas querelas e tensões entre agnósticos e Crentes que o Grande Cisma de 1504 estabeleceu ad eternun entre ortodoxos e canónicos?

24 de setembro de 2024

Stpoicism, Freemansonary and the Modern Man

 

Transcreve-se esta reflexão do sitio  the squaremagazyne.com. Artigo por: Chacón-Lozsán Francisco

(Chacón iniciou-se na maçonaria em 2014 na Loja Renacimiento (Renascimento) nº 222.

Depois, durante três anos, aprendeu os mistérios do primeiro grau lá no Oriente de Barquisimeto - Venezuela antes de viajar para a capital (Caracas) onde foi recebido para continuar a jornada maçônica nas Lojas Libertad Española Nr 101 e Lautaro Nr 197, em 2017.

Por causa da situação política na Venezuela, Chacón migrou para Budapeste-Hungria, aqui os Irmãos o receberam de braços abertos e ele pôde continuar seus trabalhos na Loja Nyugati Kapu (Portão Oeste) Nr 10 e obteve seu terceiro grau em 2023.)

Queridos irmãos, hoje gostaria de trazer-vos  o conhecimento sobre uma interessante forma de pensar filosófica antiga e como essas antigas centelhas de sabedoria poderiam caber na nossa prática da Maçonaria e nas nossas vidas modernas.

Primeiro, gostaria de apresentar o autor, Zenão de Citium, Zeno foi um filósofo grego antigo nascido por volta de 334 a.C. em Citium, Chipre. Ele é mais conhecido como o fundador do estoicismo, uma escola filosófica que se tornou uma das mais influentes nos períodos helenístico e romano. Ele pertencia a uma próspera família de comerciantes e provavelmente era bem educado em vários assuntos, incluindo filosofia. No entanto, a vida de Zenão sofreu uma reviravolta significativa quando ele sofreu um naufrágio, resultando na perda de sua carga e pertences pessoais. Após este evento, mudou-se para Atenas, onde começou a estudar filosofia com vários professores, incluindo Crates de Tebas, um filósofo cínico. A jornada filosófica de Zenão acabou levando-o a desenvolver sua escola de pensamento, que veio a ser conhecida como estoicismo. Começou a ensinar na Stoa Poikile ou Stoa Pintada, uma colunata pública em Atenas, que deu nome à escola estóica. Os ensinamentos de Zenão atraíram muitos seguidores, e sua escola se tornou um dos movimentos filosóficos mais influentes no mundo helenístico.

O estilo de vida de Zenão como filósofo era caracterizado pela simplicidade, autodisciplina e devoção aos seus princípios filosóficos. Seus ensinamentos enfatizavam viver de acordo com a natureza, cultivar a virtude e alcançar a paz interior através do autocontrole e da racionalidade. Leccionou em Atenas, onde atraiu muitos seguidores, e as suas ideias lançaram as bases para a filosofia estóica, que se desenvolveu através de figuras posteriores como Cleanthes, Crisipo, Epicteto, Séneca e Marco Aurélio.

As bases do estoicismo estão enraizadas em vários princípios e ensinamentos fundamentais:

Natureza: Os estóicos acreditavam em viver de acordo com a natureza, que viam como racional e ordenada. Isto implica aceitar a ordem natural do universo e reconhecer o seu lugar dentro dele.

Virtude: A virtude, particularmente a sabedoria, a coragem, a justiça e a temperança, é central para a ética estóica. Os estóicos acreditavam que cultivar traços virtuosos de carácter leva a uma vida eudaimônica – uma vida de florescimento e realização.

Controle: enfatiza focar no que está sob seu controle e aceitar o que não está. Isso envolve distinguir entre coisas que podemos mudar (nossos pensamentos, acções e atitudes) e coisas que não podemos (eventos externos, acções de outras pessoas).

Aceitação: Ensina a aceitação de eventos externos, reconhecendo que, embora não possamos controlar o que acontece connosco, podemos controlar nossas respostas e atitudes em relação a esses eventos. Isso leva a uma maior resiliência e paz interior.

Resistência e Resiliência: O estoicismo defende suportar as dificuldades com coragem e resiliência, vendo os desafios como oportunidades de crescimento e aprendizagem e não como obstáculos à felicidade.

Atenção Plena  e Atenção: Os estóicos praticaram a atenção plena e autoconsciência, esforçando-se para viver o momento presente e prestar atenção aos seus pensamentos, julgamentos e impulsos. Isso ajuda a manter o controle sobre as reacções e emoções.

Indiferença aos bens externos: os estóicos acreditavam na valorização das virtudes internas sobre os bens externos, como riqueza, fama ou status social. Embora não rejeitando totalmente esses externos, os estóicos defendiam uma mentalidade de indiferença para com eles, reconhecendo que eles não garantem felicidade ou realização.