Com a devida Vénia e repectiva autorização se transcreve esta reflexão do João Soares
A Loja Maçónica como espaço de coexistência entre crentes,
agnósticos e ateus
Uma reflexão sobre a sua coexistência
Como abordar o tema? Numa sistemática comparação socorrendo-nos a uma disputa proporcionada pelo argumentário filosófico e científico das diferentes formas de se estar, ou identificando a plataforma comum de coexistência proporcionada pelos valores subjacentes que a nossa vivência Maç nos oferece?
A segunda opção arrasta consigo os alicerces que nos unem, seguramente, mas ficará manca e desprezaria toda a riqueza do pensamento e reflexão filosófica humana se por aqui ficássemos. Aliás, será destas diferentes formas de se estar, intimamente ligadas à nossa natureza e diversidade biológica que emanará a riqueza colectiva da humanidade.
Por norma a consequência, diz-nos todo o processo histórico, não é este, mas o seu contrário: lutas fratricidas, processos bélicos, divisões e a consequente intolerância, ausência de fraternidade, de esperança e de caridade, só para citar alguns dos nossos azimutes valorativos.
Assim sendo, talvez o propósito da nossa vivência Maç seja este mesmo, isto é, não menosprezar a dialéctica associada à temática, mas sim, promovendo-a e, de forma inteligentemente modulada tentarmos chegar a corolários, não disruptivos, mas agregadores.
Tarefa aparentemente difícil se reduzirmos esta reflexão a um campo de batalha argumentativa onde o dogma e a sua aceitação ou o seu repudio sorva toda a riqueza da reflexão filosófica.
Tentemos, portanto, contrariar esta propensão e descerremos o nosso espírito e potencial intelectual à globalidade do assunto em apreço. É isto que nos propomos nesta reflexão. Comecemos então pela nossa natureza já que ela nos ilumina e abre mundos no potencial que encerra, mas que também nos limita à realidade biológica a que estamos agrilhoados. E reforço a ideia de acorrentados já que, na perspectiva original cartesiana que nos ofereceu o método científico, tudo para além do resultado das interacções neuronais dificilmente tem espaço na dialéctica, a arte de raciocinar com método. Ficamos, portanto, vedados fechando todas as portas à consideração de realidades para além desta limitação biológica, ou seja, nesta perspectiva, o homem dificilmente se poderá sublimar para além da sua natureza embora encontremos inúmeros exemplos desta tentativa nas artes, na literatura e na poesia quase como que em grito desesperante de libertação da sua limitação biológica.
Isto para dizer que na actualidade um dos limites do conhecimento humano se encontra na mente humana. O outro encontra-se na física teórica, mas quanto a este lá chegaremos.
Duas fronteiras que não podem ser menosprezadas nesta reflexão, ainda que o tema possa evoluir espontaneamente para a temática do transumanismo; mas isto seria outra discussão ainda que e seguramente necessária de se ter. Voltemos à nossa natureza, à nossa biologia e como referido, ao limite do conhecimento nesta área, o cérebro, a mente e a consciência numa abordagem epistemológica já que a ciência é um produto da mente humana e tenta dar esta explicação.
Esta reflexão para ser séria carece de rigor semântico, já que sem ele abrimos uma potencial vereda à discórdia estéril pelo que, alinhemos os nossos entendimentos relativamente ao cérebro, à mente e à consciência. Cérebro, estrutura biológica parte integrante do encéfalo cujo elemento básico estrutural é o neurónio. Este tecido biológico não é autónomo, já que requer os necessários substratos á sua existência designadamente, que o sistema vascular proporcione o necessário aporte de oxigénio ao seu funcionamento. Temos, portanto, uma definição cartesiana que é suficiente para o explicar, não havendo a necessidade de mais e elaboradas reflexões de natureza filosófica.
Mente, muitas vezes tido como significado de cognição. Por outras palavras, o produto funcional da actividade cerebral na sua dimensão de raciocínio e reflexão.
Consciência, componente da mente a que se atribui o potencial de subjectividade e autoconsciência. Sem ela simplesmente não existiríamos enquanto homo sapiens sapiens e seriamos remetidos para outros patamares da evolução biológica. Tal como a mente, também a consciência requer um suporte físico para existir e, neste caso em apreço algo que, aparentemente não sendo a única resposta, é produto de milhares de anos de evolução biológica dos sistemas neuronais. A este propósito cito António Damásio: